Capitulo XVII



— Olá. Desculpe vir sem avisar, mas tenho uma coisa para James.
— Tudo bem — replicou Harry, limpando as manchas de lápis nas mãos. — Estamos no meio... Venha para a co¬zinha que mostro. Mas aviso que está uma bagunça,
— Trabalhos de escola são sempre assim.
Harry ficou surpreso ao ver que Gina se lembrava que James tinha um trabalho de escola. Será que falara demais a respeito? Não se lembrava, achava que apenas mencionara o dever de casa.
Gina entrou na cozinha primeiro e relanceou o olhar em volta.
James estava ajoelhado em uma cadeira junto à mesa, in¬clinado sobre uma grande folha de cartolina e preenchendo com lápis de cera o contorno de um bicho que parecia um porco... segundo o conceito de Salvador Dali ou Picasso. Vários livros estavam abertos sobre a mesa, mostrando fi¬guras de dinossauros, além de outras tiradas do computa¬dor. Havia também uma série de pequenos bonecos de plás¬tico e de borracha, e uma infinidade multicolorida de lápis e canetas.
Um par de botas de trabalho e outro de tênis infantis estavam jogados a um canto.
Uma jarra com um líquido vermelho-vivo estava sobre o balcão, e o mesmo tom borrava os lábios de James, o que fez Gina concluir que não se tratava de tinta, mas de suco.
O menino ergueu o olhar, e saudou:
— Olá, Gina. Estou fazendo dinossauros.
— Já percebi. E de que tipo?
— É um... sauro não sei o quê. Está aqui no livro. Viu? Eu e o papai não desenhamos muito bem.
— Mas o colorido está ótimo — replicou ela, admiran¬do a cabeça verde do desenho.
— Preciso pintar dentro das linhas, senão vai borrar. Gina apoiou o queixo no alto da cabeça de James e anali¬sou o cartaz.
O menino intitulara o tema de Parada dos Dinossauros, e as bestas seguiam em uma espécie de procissão, como se dançassem.
— Está fazendo um trabalho tão bem-feito que nem sei se vai precisar da ferramenta que eu trouxe.
— É um martelo?
— Não — respondeu Gina, enfiando a mão na sacola que trouxera e retirando o brinquedo. — É um predador mortal.
— É um tiranossauro! Olhe, papai! Esse come todo mundo!
— Assustador — concordou Harry, pousando a mão no ombro do filho.
— Posso levá-lo para a escola? Olhe! Mexe os braços, as pernas e a cabeça! A boca também abre! Posso? E aqui está um livrinho.
— Um manual que explica onde, como e quando viveu, e como comia tudo que encontrava pela frente — apressou-se Gina a dizer.
— Ótimo. Não vai agradecer?
— Obrigado, Gina. É demais!
— De nada. Que tal me dar um beijo? James riu e cobriu o rosto com as mãos.
— Não...
— Então vou beijar seu pai.
Assim dizendo, voltou-se para Harry antes que tivesse tempo de reagir e beijou-o na boca com firmeza.
Harry evitava beijá-la ou tocá-la sempre que o menino estava por perto, e isso, pensou Gina, precisava acabar. Assim raciocinando, enlaçou-o pela cintura -
— Uma moça precisa beijar um rapaz quando o outro a rejeita — provocou Gina, afastando-se de Harry que estava vermelho como um camarão. — Terminei minha missão e vou embora.
— Não quer ficar? Pode ajudar a pintar o dinossauro. Vamos comer hambúrguer.
— Por mais que me sinta tentada a aceitar, não posso, James. Tenho um compromisso na cidade. — Era verdade, mas, de qualquer modo, pensou Gina, uma visita rápida teria mais efeito. — Talvez neste fim de semana, se não estive¬rem ocupados, possamos ir ao cinema.
— Certo! — concordou James.
— Vejo você amanhã, Harry. Não precisa me acompa¬nhar. Volte aos dinossauros.
— Obrigado pela visita — retrucou ele, sem dizer mais nada, nem mesmo acompanhando-a à porta.
— Pai? — chamou James, depois que ela saiu.
— Sim?
— Você gosta de beijar Gina?
— Sim. Quero dizer... — Harry concluiu que os aconte¬cimentos se precipitavam, o que era inevitável. James come¬çava a observar seu relacionamento com Gina. — E difícil explicar, mas quando você crescer... A maioria dos rapazes gosta de beijar garotas.
— Só as bonitas?
— Não. As de quem se gosta.
— E nós gostamos de Gina, não é?
— Claro.
Harry respirou fundo, aliviado por ver que a conversa não enveredara para uma aula de educação sexual. Ainda era cedo, pensou.
— Papai?
— Sim?
— Você vai se casar com Gina?
O choque foi tão grande como se James o tivesse derru¬bado da cadeira.
— De onde tirou essa idéia, filho?
— Porque você gosta dela e não tem esposa. Às vezes o pai e a mãe de Rod se beijam na cozinha também.
— As pessoas... beijam-se sem precisar casar. Casamen¬to é algo muito sério. É preciso conhecer a outra pessoa muito bem.
— Você conhece Gina bem.
Harry sentiu um filete de suor escorrendo pelas costas.
— Sem dúvida! Mas também conheço outras pessoas de quem gosto, James, e não pretendo me casar com elas. É ne¬cessário amar para casar.
Sentindo-se encurralado, deixou a mesa e foi pegar dois copos no armário.
— Você não ama Gina, papai?
Harry abriu e fechou a boca, sem saber o que respon¬der. A verdade era que não sabia. Nada era definido quan¬do se tratava de Gina Weasley.
— É complicado, James...
— Como assim?
Harry concluiu que teria sido mais fácil falar sobre sexo. Pôs os copos sobre a mesa e voltou a sentar-se.
— Eu amava sua mãe. Sabe disso, não?
— Sim, mamãe era bonita, e você tomou conta de nós dois até que ela foi para o céu. Gostaria que não tivesse ido.
— Sei disso. Eu também. E a questão é que, como sua mãe precisou partir, fiquei muito feliz por ter você e amá-lo. Deu muito certo, não acha?
— Sim. Somos uma dupla, não é, papai?
— Claro! — Harry estendeu a mão, que o menino aper¬tou. — Agora vamos ver o que esta dupla faz com os dinos¬sauros.
— Está bem. — James pegou um lápis de cera. Gostava de formar uma dupla com o pai, mas gostava de fazer de conta que eram um trio... com Gina.

Continua [...]

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