Capitulo XVI




Harry logo descobriu que não era fácil ter um relacio¬namento quando se tinha um filho. Na verdade nada mu¬dara, mas era preciso muito malabarismo para satisfazer as demandas de pai e de amante.
Sentia-se feliz por ver que Gina gostava de James e não ficava aborrecida com o menino por perto. E claro que isso era imprescindível, pensou Harry. Não poderia manter um envolvimento se ela não apreciasse James.
Estava tendo o primeiro caso amoroso na vida, concluiu. Com Cho, as coisas tinham sido diferentes. Jovens de vinte anos não tinham envolvimentos, e sim romances. E precisa¬va lembrar-se de que a situação com Gina não era romântica.
Gostavam um do outro. Nenhum dos dois se compro¬metera além das demonstrações de afeto e desejo sexual. E isso era o melhor que podia acontecer, concluiu.
Ele era, em primeiro lugar, pai. Não conseguia imagi¬nar uma jovem mulher de carreira querendo passar a vida com um homem e seu filho de seis anos, quando haveria tantas opções à sua frente.
De qualquer modo, um homem adulto podia dar-se ao luxo de ter um relacionamento com uma mulher compatí¬vel sem pensar em compromissos eternos. Todos estavam felizes desse jeito.
Harry deu um passo atrás, mergulhado nos próprios pensamentos, e examinou o remate que acabara de fazer na porta do escritório de Gina. Era elegante, e digno da dona.
Imaginou onde ela estaria, o que estava fazendo, e se poderiam encontrar-se por uma hora, antes de ele voltar para casa e ajudar James a fazer o cartaz de dinossauros para a escola.
Sexo, carpintaria e escola primária, pensou, sorrindo, en¬quanto começava a trabalhar na janela. Um homem nunca sabe o que vai acontecer na sua vida, pensou.

Gina examinou a mandíbula aterrorizadora do predador de plástico.
— James vai adorar este.
— Quem escolhe dinossauros para presentear nunca falha. — Luna arrumou alguns brinquedos na prateleira por força do hábito e olhou para Gina. — James Potter é uma criança adorável. E o pai não fica atrás.
Gina sorriu, compreendendo a curiosidade da ajudante de sua mãe.
- Tem razão, Luna, ambos são lindos, e ainda estou saindo com Harry.
- Eu não disse nada. Meus lábios estão selados. Jamais faço fofocas.
- Não, apenas especula — redargüiu Gina de bom hu¬mor, pondo o dinossauro debaixo do braço. — É por isso que eu amo você. Bem, vou me despedir de mamãe antes de ir embora.
— Quer que embrulhe a fera?
— Não. Se embrulhar vai virar um presente. Assim como está poderei apresentar como uma ferramenta para seu pro¬jeto da escola.
— Você sempre foi esperta, Gina.
O suficiente para saber o que queria e como obter, con¬cluiu Gina para si mesma. Já haviam transcorrido duas se¬manas desde que fizera amor com Harry pela primeira vez. Desde então, aconteceram breves encontros, aqui e ali.
Desejava mais do que isso, decidiu.
Os encontros que tiveram incluíram levar James ao cine¬ma, jantar juntos os três e travar uma grande batalha de neve no sábado anterior.
Gina queria muito mais, também em relação a James.
Bateu na porta do escritório de Molly e enfiou a cabe¬ça pelo vão. A mãe estava à mesa, falando ao telefone. Fez um gesto indicando a Gina que podia entrar.
- Sim, obrigada. Vou esperar a entrega para a próxima semana.
Digitou alguma coisa no computador e desligou com um suspiro.
— Preciso de uma xícara de chá e conversar sobre algo que não envolva bonecas.
— Fico feliz em ajudar. Vou fazer o chá — disse Gina, apoiando o dinossauro na mesa.
Molly olhou para o brinquedo e depois para a filha.
— É para James?
— Sim. Para um trabalho da escola. Achei que isso lhe dará mais pontos, além de ser divertido.
— Ele é uma graça de menino.
— Sim, também acho. — Gina pôs água fervendo nas xí¬caras. — Harry fez um bom trabalho como pai, embora a personalidade do garoto ajude muito.
— Concordo. Mas não é fácil educar sozinho uma criança.
— Não pretendo que Harry continue só por muito tem¬po — redargüiu Gina, apoiando as xícaras na mesa. — Eu o amo, mamãe, e vou me casar com ele.
— Oh, querida! — Molly começou a chorar, levantan¬do e dando um abraço na filha. — Que maravilha! Estou tão feliz! Todos estamos! Minha caçula vai casar! — Incli¬nou-se para beijar Gina no rosto. — Será a noiva mais lin¬da! Já marcaram a data? Temos tanta coisa para planejar... Espere até contarmos ao seu pai...
— Um momento, mamãe. — Rindo, Gina deixou de lado o chá e segurou a mão de Molly. — Harry ainda não me pediu em casamento.
— Mas...
— Estou certa de que um homem tradicional como ele deseja formalizar o relacionamento. Tudo que tenho a fazer é dar um ligeiro empurrão para o próximo estágio, de modo que me peça em casamento.
A preocupação substituiu o entusiasmo no rosto de Molly, que voltou a sentar-se.
— Gina, Harry não é um projeto em andamento.
- Não quis dizer isso ao pé da letra, mãe. Mas os rela¬cionamentos têm estágios, não têm? Eles vão evoluindo, e as duas partes se esforçam para ir passando de uma fase para a outra.
— Querida — começou Molly, erguendo-se e sentan¬do na beira da mesa —, eu sempre admirei a sua lógica. É uma moça prática e determinada quando decide o que quer. Mas amor, casamento e família... essas coisas nem sempre caminham ao lado do racional. Na verdade, poucas vezes isso acontece.
- Mamãe, eu amo Harry — retrucou Gina com simpli¬cidade, fazendo as lágrimas voltarem aos olhos de Molly.
— Sim, sei disso. Já percebi. Pode acreditar, se você o quer, estou torcendo para que tudo dê certo. Porém...
- Quero ser a mãe de James — cortou Gina com determi¬nação na voz. — Nunca pensei que desejaria tanto uma coisa assim. A princípio, foi apenas um menino encantador, como você mesma disse. Gostei dele, como gosto de todas as crian¬ças. Mas passei a amá-lo de todo coração. Adoro aquele garotinho, como se fosse da minha família!
Molly segurou o dinossauro e sorriu.
— Sei o que é amar uma criança que não nasceu de seu ventre. Um filho que entra na sua vida já criado e faz uma diferença enorme. Quando me casei com seu pai ele Já ti¬nha Freddie, e eu a amo tanto quanto a você e Rony. Não duvido que você ame James como se fosse seu próprio filho.
— Então, por que está preocupada?
- Porque é minha filha — respondeu Molly, deixan¬do o brinquedo de lado. — Não quero que seja magoada. Está pronta a abrir seu coração e sua vida, mas isso não sig¬nifica que Harry também esteja.
—Ele gosta de mim — disse Gina, em tom de certeza, mas demonstrando uma ponta de hesitação. — É apenas cauteloso.
— É um bom homem e não duvido um só segundo que queira bem a você. Mas será que ele a ama?
— Não sei — replicou Gina, frustrada. — Talvez nem ele mesmo saiba. É por isso que tento ser paciente e prática. Porém devo confessar que estou sofrendo.
Molly tomou a filha nos braços e acarinhou-a como a um bebê.
— Querida, o amor não é uma obrigação.
— Posso esperar... um pouco — replicou Gina soltando uma risada. — Vou fazer com que dê certo. — Fechou os olhos com força. — Tem que dar certo!

Foi difícil não ceder à tentação de ir visitar a obra. Ela queria ver Harry. Tentou distrair-se e passou a tarde dan¬do e recebendo telefonemas a respeito do anúncio que man¬dara publicar sobre a escola de bale.
A Escola de Dança Weasley seria inaugurada em abril, e já tinha seis alunas em potencial. Haveria uma entrevista com o jornal local na semana seguinte. Isso, Gina tinha cer¬teza, geraria mais interesse e mais alunas.
Dentro de algumas semanas, pensou, estacionando jun¬to à picape de Harry, em frente à casa dele, uma nova fase começaria em sua vida profissional. E não pretendia deixar o lado pessoal para trás, concluiu.
Harry veio abrir a porta descalço e com a mão suja de lápis de cera, e o fato de Gina achar isso adorável e sexy demonstrava o quanto estava apaixonada.

Continua [...]

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