Capitulo XIV




— Sim — respondeu Harry, ao mesmo tempo que pen¬sava que Gina sempre tinha a palavra certa. — Entretanto, continuava sendo um operário. Não tinha um diploma su¬perior. Os pais de Cho fizeram severas objeções ao casa¬mento.
Gina brincou com a batata no prato, mais interessada na conversa do que na comida.
— Eram limitados, e Cho não.
— Não foi fácil para ela convencê-los, mas conseguiu ir estudar Direito em Georgetown. Nessa época eu trabalha¬va o dia inteiro e freqüentava a escola de comércio à noite. Começamos a fazer planos. Mais uns dois anos e nos casa ríamos. Ela ficaria na universidade até se formar, e eu co¬meçaria meu próprio negócio. Então Gina engravidou. Harry fez uma pausa, virando o copo entre as mãos.
— Queríamos o bebê, a princípio mais ela do que eu, porque fiquei em estado de choque. Casamos. Cho con¬tinuou a estudar, consegui mais uns trabalhos extras. Os pais dela ficaram furiosos. Romperam relações, o que a deixou muito triste.
Gina podia imaginar. Agradeceu aos céus por ter uma família bem diferente.
— Não a mereciam — falou. Harry ergueu o olhar e fitou-a.
— Claro que não. Mas quanto mais os problemas au¬mentavam, mais reagíamos. Conseguimos vencer. Centenas de vezes entrei em pânico e pensei em ir embora, para que Cho pudesse retornar ao lar da família, onde teria todo o conforto.
— Mas não fez isso. Permaneceu firme.
— Cho me amava — replicou Harry com simplici¬dade. — O dia em que James nasceu fiquei na sala de espera, desejando estar a quilômetros de distância. Mas era muito importante para minha esposa que estivesse ali ao seu lado. O bebê mudou tudo. Nunca imaginei que se pudesse amar tanto um ser tão pequeno. James completou o trabalho de me transformar em um homem. Cho e James mudaram mi¬nha vida.
Os olhos de Gina se marejaram de lágrimas e ela não conseguiu conter o choro.
— Desculpe-me — disse Harry, um tanto aborrecido. — Não sei o que aconteceu comigo para falar tanto assim.
— Não. — Gina balançou a cabeça, sem conseguir dizer mais nada.
No íntimo se amaldiçoava, pois sabia que se apaixona¬ra por Harry Potter. O que fazer?, questionou-se, inquie¬ta. Por fim, conseguiu dizer:
— Pode me dar licença um instante?
Correu para o banheiro, a fim de lavar o rosto.
Com vontade de bater a cabeça na parede, Harry levan¬tou-se e começou a andar de um lado para o outro. Sentia-se um perfeito idiota. Abusara do gesto generoso e meigo de Gina, fizera com que lhe preparasse um jantar românti¬co, e ele transformara o encontro em uma maratona depres¬siva sobre seus problemas do passado. Fizera-a chorar.
— Muito esperto, Potter! Talvez possa encerrar a noite com chave de ouro, contando como seu cachorro morreu quando tinha dez anos. Isso seria um encanto! — falou em voz baixa, com raiva.
Imaginou que Gina iria se despedir logo. Então come¬çou a tirar a mesa a fim de facilitar-lhe a saída.
— Me perdoe — disse ao ouvir os passo leves de volta. — Sou um imbecil, despejando toda essa amargura em você. Pode deixar que lavarei tudo e...
Parou de falar e ficou imóvel quando sentiu os braços de Gina enlaçando-o por trás, e a cabeça graciosa repousan¬do em suas costas.
— Potter, tenho o sangue forte dos eslavos. Forte e sentimental. Gostamos de chorar. Sabia que meus avós es¬caparam da União Soviética quando minha mãe era crian¬ça? Minha tia Rachel foi a única que nasceu nos Estados Unidos. Caminharam a pé pelas montanhas, com três filhos pequenos, até chegarem à Hungria.
— Não sabia disso.
Harry voltou-se devagar e fitou-a.
— Estavam com frio, fome e medo. E quando vieram para os Estados Unidos, um país estranho, com uma língua e costumes diferentes, estavam pobres e sozinhos. Mas ti¬nham um objetivo por que lutar. Já ouvi essa história cente¬nas de vezes, e sempre me faz chorar. E me faz sentir orgu¬lhosa também.
Afastou-se e foi colocar os pratos na pia.
— Por que está me contando essas coisas, Gina?
— A coragem tem diferentes formas, Harry. Existe a força dos músculos e a do amor, que vem do coração. E com esta, pode-se fazer tudo na vida. E vale algumas lágrimas sentimentais.
— Sabe de uma coisa? Até há pouco imaginava que esse seria um dia que nunca mais iria querer lembrar, mas você mudou tudo, Gina.
— Obrigada. Vamos fazer o seguinte: depois de lavar a louça podemos dançar. — Era hora de clarear o ambiente, pensou. — O modo de um homem dançar explica muito a seu respeito, e ainda não o testei nessa área.
Harry tomou-lhe os pratos das mãos e disse:
— Vamos dançar agora.
— Não posso. Pode chamar de mania, porém, se não deixo tudo em ordem, vou ficar vendo a louça suja e não conseguirei fazer nada.
Mas Harry colocou os pratos sobre a pia, e a fez sair da cozinha, murmurando:
— Isso é bobagem.
— Não. É o hábito de ser organizada. As pessoas como eu têm menos problemas. — Gina olhou sobre o ombro. — Verdade, só levarei alguns minutos.
— Pode fazer isso mais tarde.
Talvez fosse meio tosco em questão de romance, con¬cluiu Harry, mas ainda lembrava-se de alguma coisa.
— Então vamos fazer o seguinte: você escolhe a música e eu lavo os pratos — insistiu Gina.
Harry soltou uma risada e a puxou para a sala.
— Você é mesmo compulsiva! — Ligou o aparelho de som. — Engraçado... Estava ouvindo essa música na outra noite, e pensando em você.
A música fluiu, lenta e sensual, fazendo o sangue de Gina ferver. Harry tomou-a nos braços.
— Deve ter sido o destino — murmurou. O coração de Gina acelerou.
— Acredito muito no destino — disse, relaxando entre os braços fortes, envolvendo-se neles e repousando o rosto contra o de Harry — Muito suave, Potter — murmu¬rou. — Um ponto para você.
— Há coisas que nunca se esquece.
Assim dizendo, ergueu-a no ar e abaixou-a de novo, fa¬zendo-a perder o fôlego.
Gina achou que precisava pensar com seriedade a res¬peito de seu envolvimento com Harry. Para onde tudo aqui¬lo a levaria?
Precisava estar no controle da situação, senão perderia as estribeiras. Não esperava que ele dançasse tão bem. Se pisasse nos seus pés, iria sentir-se mais segura e guiá-lo. Mas havia muitas coisas a respeito de Harry Potter que ain¬da ignorava. E era tudo fascinante. Era uma sensação ma¬ravilhosa rodopiar nos braços dele no meio da sala.
Harry estava deliciado com o perfume dos cabelos de Gina. Quase se esquecera desses detalhes femininos. As formas, a maciez, os aromas... Já não lembrava direito como era dançar com uma mulher, de rosto colado e ao som de uma música lenta.
Seus lábios acariciaram-lhe os cabelos, deslizando até o rosto e fazendo-a suspirar, entregue e lânguida. Então, quan¬do a música terminou e outra começou, ficaram ali, movendo-se ao ritmo suave.
— Foi maravilhoso — murmurou Gina, sentindo a ca¬beça rodar e o coração bater de modo descompassado. Pa¬recia estar perdendo o controle. — Devo ir embora.
— Por quê?
— Porque hoje à noite você precisava de um ombro amigo. — Acariciou-lhe o rosto e afastou-se. — Não é hora para outras coisas.
— Tem razão. — Harry deslizou os braços até entrela¬çar os dedos com os dela. — Vamos agir com calma.
— Creio ser o certo.
Harry levou-a até a porta e fez com que Gina o encarasse.
— Tenho tomado cuidado para não estragar tudo. Pre¬cisava mesmo de um ombro amigo hoje. E ainda preciso. — Ele abraçou-a e depois beijou-lhe delicadamente os lábios. — Fique comigo, Gina.

Continua [...]

Próximo capitulo com NC ;D

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