Capitulo VI




Não era estranho que um homem que só vira duas ve¬zes pudesse causar um efeito tão devastador? Não costu¬mava ser tímida com o sexo oposto, admitiu com franque¬za, mas era muito seletiva.
Entretanto, depois de dois encontros... Não! Precisava ser honesta consigo mesma, pensou. Depois de um encon¬tro, desejava fazer amor com Harry! A segunda vez que o vira só servira para reforçar essa idéia e aguçar o desejo que a deixava confusa.
Então, concluiu consigo mesma, faria a coisa certa. Iria se acalmar, clarear a mente, e começar a pensar na melhor maneira de satisfazer esse desejo.

James estava sentado na escrivaninha dupla que ele e o pai chamavam de "escritório", e, com cuidado, escrevia as le¬tras do alfabeto. Era seu trabalho. Do mesmo modo que o pai estava fazendo o dele, do outro lado da mesa, pensou.
Os papéis de rascunho, réguas e lápis pareciam bem mais divertidos que o alfabeto, matutou o menino. Mas o pai dissera que se fizesse seu dever direito, dar-lhe-ia os lápis coloridos para desenhar.
James imaginou que desenharia uma casa gigantesca, como a que tinham na colina, com o velho celeiro que o pai transformara em oficina. E a cobriria com muita neve. E poria um cachorro.
Seus avós tinham um cão, lembrou-se, embora Buddy já fosse bem velho. Mas era muito divertido. Entretanto ti¬nha que ficar com os avós... Um dia teria seu próprio ca¬chorro e o chamaria de Mike, decidiu. Atiraria bolas para o cão buscar e o deixaria dormir em sua cama.
Seu pai dissera que poderia ter um, assim que se tor¬nasse mais responsável. E isso poderia acontecer no dia seguinte, concluiu, feliz.
James ergueu o rostinho e olhou para Harry, imaginando se podia perguntar se já era responsável. Mas o pai estava com aquele olhar sério, a testa franzida... não aborrecido, mas o olhar de quando trabalhava, pensou o menino. E quando o interrompia no trabalho, a resposta era sempre a mesma: "Não posso falar sobre isso agora".
Porém, escrever o alfabeto começava a cansar. James que¬ria desenhar a casa, brincar com os caminhões ou com o computador... ou ainda, quem sabe, dar uma olhada pela janela e ver se começara a nevar.
Principiou a bater com o pé na parte de baixo da escri¬vaninha.
— James, não balance a mesa.
— Tenho que escrever o alfabeto inteiro?
— Sim.
— Por quê?
— Porque sim.
— Mas fui até o g...
— Se não escrever até o fim, não vai conhecer as pala¬vras que começam com as letras que deixou de fora.
— Mas...
— Viu? Não vai conseguir escrever "mas". M-A-S.
James suspirou da maneira profunda e sincera como fa¬zem os meninos de seis anos. Escreveu mais três letras e voltou a olhar para Harry.
— Pai...
— Humm...
— P-A-I.
Harryy ergueu o olhar e viu o filho sorrindo.
— Muito engraçado.
— Sei soletrar "James" também.
Harry estreitou os olhos, com expressão séria.
— E "concentração"?
— O que é isso? Leva mostarda? O pai não conteve o riso.
— Como consegue ser tão esperto, garoto?
— Vovó disse que sou igual a você. Posso ver o que está desenhando? Disse que é para a moça que dança. Posso ver?
— Sim, é para aquela moça, e não, só verá o desenho quando eu terminar.
Assim falando, Harry pensou que, por mais que dese¬jasse parar tudo e dar atenção ao filho, precisava ensinar-lhe a ser responsável, e só conseguiria isso demonstrando responsabilidade. Esse era um dos paradoxos em ser pai.
— O que acontece quando você não acaba o que come¬çou? — perguntou ao menino.
James ergueu o olhar com paciência.
— Nada.
— Isso mesmo.
James voltou a suspirar e a pegar o lápis, porque não vira o pai sorrir dessa vez.
Mas Harry estava louco para deixar os desenhos de lado e fazer o que o filho desejasse, pelo resto da noite. Ao infer¬no com o trabalho e a responsabilidade!
Porém, também estava ansioso por outra coisa: termi¬nar o que começara.
Enquanto fazia cálculos, imaginou se o próprio pai tam¬bém o observara cheio de preocupação quando era meni¬no. Era provável, concluiu com seus botões, embora jamais tivesse demonstrado. Tiago Potter nunca fora homem de ficar conversando. Ia e voltava do trabalho, dia após dia, e esperava que o jantar estivesse pronto às sete horas.
Esperava também que o filho cumprisse suas obrigações, não se metesse em encrencas, e, acima de tudo, fizesse o que lhe mandava sem questionar. Uma dessas expectativas con¬sistia em que o filho seguisse seus passos. E Harry sabia que decepcionara o pai em todas as áreas, e que fora decepcio¬nado também.
Não pretendia sobrecarregar James com o mesmo tipo de exigências e expectativas.
— Pronto — James ergueu o papel, sacudindo-o como uma bandeira da vitória. — Acabei!
— Pare de sacudir, garoto, para que eu possa ver. — Estava longe de ser um trabalho meticuloso, Harry observou, quando o menino lhe estendeu o papel, mas fizera tudo, do início até o fim. — Muito bem! Quer mais uma folha?
— Posso ficar ao seu lado e ajudar você, papai?
— Claro! — concordou Harry, prevendo que aquilo pro¬longaria seu trabalho em pelo menos mais uma hora. Mas valia a pena conceder algum tempo para o menino. Incli¬nou-se e pegou-o no colo. — Bem, o que vemos aqui é o apartamento que fica em cima da escola de bale.
— Por que as bailarinas usam aquelas roupas engraça¬das para dançar, papai?
— Não faço a menor idéia. E como sabe disso?
— Vi um desenho na televisão, e os elefantes dançavam com umas saias pequenas e gozadas. Faziam piruetas na ponta dos pés. Os elefantes tem dedões?
- Um dia iremos verificar isso na Enciclopédia dos Animais. Agora pegue o lápis. Desenhe uma linha aqui.
— Certo!
Pai e filho ficaram trabalhando, as cabeças unidas, a mão grande guiando a pequena. Quando James começou a bocejar, Harry o ergueu, apoiando-o no ombro.
— Não estou com sono — murmurou o menino, com a cabeça pendendo.
— Quando acordar amanhã, faltarão só cinco dias para o Natal.
— Posso ganhar o presente antes?
Harry sorriu. A voz da criança estava pastosa, e o corpo pesado, suspenso em seu ombro. Dirigiu-se à sala de estar e parou um instante, ninando-o, como fazia quando era um bebê e chorava no meio da noite.
Olhou para a árvore de Natal e achou que não era das mais bonitas. Mas apresentava um ar festivo. Os enfeites multicoloridos cobriam todos os galhos, e festões de prata circundavam as lâmpadas pequenas.
Em vez de um anjo ou uma estrela no topo, havia um Papai Noel sorridente e bonachão. James ainda acreditava no bom velhinho, e Harry perguntou-se se ainda teria aquela ilusão no ano seguinte.
Com o pensamento voltado para o passar dos anos, olhou o rosto do filho, aspirando o perfume dos cabelos pretos.
Depois que levou James para a cama, voltou para o andar térreo e preparou um bule de café. Talvez não devesse fa¬zer aquilo, pensou, já tomando a primeira xícara. O café provavelmente lhe tiraria o sono.
Postou-se à janela, bebericando, e olhando para a noite escura. A casa ficava no alto de uma colina, e muito silen¬ciosa quando James dormia. Havia horas, durante o dia, que ele fazia tanto barulho e bagunça que o pai chegava a pen¬sar que nunca teria um momento de paz e tranqüilidade. Mas quando isso acontecia, como naquele momento, pen¬sou, com um sorriso, ficava ansioso pela algazarra do filho. Mais um paradoxo na vida dos pais.
Entretanto, o que sentia no momento era inquietação, um sentimento que não experimentava havia muito tempo. Sendo pai, profissional e cuidando da casa não lhe sobrava tempo para experiências pessoais. E continuaria assim, pen¬sou, caminhando pela cozinha enquanto tomava o café.
Havia trabalho suficiente na casa para mantê-lo ocupa¬do pelo resto da vida. Deveria ter comprado uma menor, pensou, e mais prática. O pai o alertara sobre isso quando fizera o primeiro pagamento do casarão.
O problema era que se apaixonara pelo lugar, e James também. E estava dando certo, concluiu, olhando em torno da cozinha moderna, com os armários com portas de vidro e o balcão de granito.
Entretanto, seu trabalho continuava sendo a grande prio¬ridade, e continuava precisando conciliar os preparativos para o Natal e a incumbência que assumira na nova residência-escola de Gina Weasley.
Precisava apresentar a planta na tarde seguinte e con¬tratar uma babá para James, durante o período das férias. Mas nunca aprovava nenhuma, e sentia muito remorso por dei¬xar o filho entregue a uma pessoa estranha.
Sabia que Beth Skully não se importaria de ficar com o menino pelo menos parte do dia, mas depois de tantos fa¬vores, Harry receava incomodar os vizinhos.

Em uma emer¬gência podia chamar a mãe, mas sempre que fazia isso sen¬tia-se um fracasso em relação a James.
Procurava ocupar o tempo do filho, levando-o consigo ao trabalho de vez em quando e à casa do amigo Rod. Nos intervalos, James visitava a avó.
Mas naquele momento, Harry admitiu, não era esse o grande problema que atormentava sua mente cansada.
O problema era Gina Weasley.
Sentia-se muito atraído por ela.
Passou a mão pelos cabelos pretos e tentou ignorar a frustração sexual que o corroía.
Será que já sentira tanto desejo por uma mulher? Claro que sim. Só que não se lembrava. Não conseguia recordar uma única vez na vida em que tivesse experimentado as sensações que Gina lhe despertava.
E aquilo o estava perturbando muito. Por certo, porque fazia muito tempo que não tinha companhia feminina, e por Gina ser tão provocante e... linda.
Mas não devia entrar em um relacionamento sem pen¬sar nas conseqüências. Não era mais um homem livre para fazer o que bem entendesse, e estava muito feliz assim.
É claro que poderia ter um romance com Gina, se dese¬jasse, sem temer as conseqüências, a curto e médio prazo, pensou. Eram adultos e conheciam seus limites.
— Esse tipo de pensamento pode causar-lhe problemas, Potter — falou por entre os dentes cerrados.
Faça seu trabalho, receba o dinheiro, e mantenha distância, concluiu em pensamento.
— E pare de pensar naquele corpo maravilhoso — res¬mungou no silêncio da cozinha.
Serviu-se de mais uma xícara de café, sabendo que esta¬va se condenando a uma noite insone, da qual sairia exaus¬to. Então, voltou a sentar-se e mergulhou no trabalho.

Na tarde seguinte, Gina abriu a porta e deparou com Harry. O prazer dessa visão foi empanado pelo menino de olhos brilhantes ao seu lado.
— Ora, ora! Quem é este rapazinho bonito?
— Sou James.
— Muito prazer. Meu nome é Gina. Entrem. Mantendo uma das mãos no ombro do filho, Harry es¬tendeu alguns papéis, e disse:
— Só passei aqui para entregar os desenhos e o orça¬mento. Meu cartão de visitas está anexo. Se tiver alguma dúvida ou desejar discutir as plantas, e só telefonar.
— Vamos economizar tempo e olhar agora mesmo. Por que a pressa? — Gina mal o olhou, sorrindo para James. — Está frio, não está? O clima ideal para tomar um chocolate quente.
— Com creme de chantili? — perguntou James.
— Nesta casa é proibido tomar chocolate quente sem creme de chantili! — replicou Gina, estendendo uma mão para James, que apressou-se a segurá-la, já entrando no hall.
— Ouça, nós não podemos...
— Ora! Deixe disso, Potter! Relaxe! — ela interrom¬peu-o, voltando a dar atenção ao menino. — Então, em que série você está? Oitava?
— Não. — James riu, como se achasse a pergunta absur¬da, e era mesmo. — Primeira.
— Está brincando! Por uma incrível coincidência, hoje o lanche é especial para meninos morenos que cursam a pri¬meira série. Você prefere biscoitos de chocolate, de creme, ou manteiga de amendoim?
— Posso comer um pouco de cada?
— James!
- Oh! Finalmente encontrei minha alma gêmea! — ex¬clamou Gina, ignorando a reprovação de Harry.
— Você é a moça que dança?
Gina soltou uma risada, enquanto os conduzia para a cozinha da casa dos Weasleyl.
— Sim, sou eu mesma. — Lançou um sorriso por sobre o ombro, encarando Harry. Então, ele falara a seu respeito com o filho... — A cozinha é por aqui.
— Eu sei onde fica a droga da cozinha — resmungou Harry, aborrecido com a indiscrição do filho.
- Papai falou "droga" — anunciou James.
— Eu ouvi. Acho que ele não merece ganhar biscoitos.
— Os adultos podem dizer "droga", mas não podem dizer...
— James!
—...mas às vezes papai fala — finalizou James em um murmúrio de conspiração. — Uma vez, quando martelou o dedo, falou todas elas, uma porção de vezes.
— Verdade? — perguntou Gina, com um olhar cheio de admiração e surpresa. — Falou todas em seguida ou mis¬turadas?
— Misturadas. E repetiu muitas vezes. — O menino sorriu de modo encantador. — Posso comer três biscoitos de chocolate?
— Claro! — Gina voltou-se para Harry. — Pode tirar o casaco, se quiser.
Lançou-lhe um sorriso radiante e foi preparar um gran¬de bule de chocolate quente.
— Não queremos tomar seu tempo — murmurou Harry.
— Fique à vontade. Fui ajudar minha mãe na loja hoje de manhã, e Rony, meu irmão, vai ficar lá à tarde. Esta é a luva de beisebol dele — disse a James, que afastou de¬pressa a mão estendida para o objeto.
— Eu estava só olhando — explicou com voz culpada.
— Tudo bem, James. Pode segurá-la, meu irmão não vai se importar. Você gosta de beisebol?
— Vou entrar na Liga Infantil quando for mais velho.
— Rony fez a mesma coisa na sua idade, e hoje joga para um time oficial, o L.A. Kings.
Os olhos do menino se arregalaram, como duas bolas verdes e brilhantes.
— Sério?!
— Sim. — Gina enfiou a luva na mão do maravilhado James. — Quem sabe, quando crescer, jogará também.
— Nossa! Papai... É uma luva de beisebol de verdade!
— Sim — replicou Harry, incapaz de ficar indiferente a quem dava alegria ao seu filho. Passou a mão nos cabelos de James e sorriu para Gina. — Posso comer os biscoitos de chocolate também?
— Claro!


Enquanto preparava a bebida quente e as guloseimas, Gina pensava que o menino era um amor. Tinha um fraco por crianças, e aquele menino, como seu pai dissera, era um azougue.
E o mais interessante de tudo, pensou consigo mesma, era a união entre pai e filho. Forte como aço e doce como mel. Fazia-a desejar afagar os dois.
— Senhora?
— Gina — ela corrigiu o menino, estendendo-lhe a ca¬neca com chocolate. — Tome cuidado porque está quente.
— Certo. Gina, por que usa roupas engraçadas quando dança? O papai não sabe.
Harry pareceu soltar um suspiro desesperado e concen¬trou-se em escolher os biscoitos que queria.
Gina arqueou as sobrancelhas, colocou as outras cane¬cas sobre a mesa e sentou-se.
— Costumamos chamar de trajes de dança. Ajudam a explicar qualquer história que se conte através da música.
— Como pode contar histórias dançando? Eu sei que se pode ler e contar histórias.
— E como se falássemos, só que através de movimentos e de sons. O que lhe vem à cabeça quando ouve Jingle Bells sem a letra da canção?
— Natal. E só faltam cinco dias.
— Isso mesmo, e se fosse dançar Jingle Bells os movi¬mentos seriam alegres, rápidos e divertidos, para fazer pen¬sar em trenós e bolas de neve. Por outro lado, se a música fosse Noite Feliz, tudo seria lento e respeitoso.
— Como na igreja.
Gina percebeu que ele era um menino muito inteligente.
— Isso mesmo — respondeu. — Vá me visitar quando a escola for inaugurada e mostrarei como se conta uma histó¬ria dançando.
— Acho que o papai vai construir para você.
— Sim, talvez.
Interessada, Gina abriu a pasta com os desenhos, e Harry notou, curioso, que ela deixara o orçamento de lado. Procura¬va analisar o projeto e não o preço, concluiu para si mesmo.
James concentrou-se na tarefa de tomar o chocolate quen¬te, soprando, em atitude de alegre antecipação. Gina igno¬rou o lanche, e quando começou a fazer perguntas, Harry aproximou sua cadeira, esquecendo também de que estava na mesa para comer os biscoitos e tomar a bebida quente. A cabeça de ambos quase se encostou sobre os desenhos. Harry achou que ela tinha um perfume delicioso.
— O que é isto? — perguntou Gina.
— Uma porta corrediça. Economiza espaço. Este corre¬dor é estreito. Colocarei uma também no seu escritório. Pre¬cisa de privacidade, mas não deve sacrificar a área útil.
— Gostei. — Voltou a cabeça e encarou-o nos olhos. — Gostei muito. Fez um excelente trabalho. — De novo retor¬nou a atenção para os desenhos sobre a mesa, enquanto Harry lutava contra a excitação e o nervosismo.
Com total concentração, ela examinou cada desenho e sugestão, fazendo modificações, aceitando outras, ou colo¬cando de lado para futura análise. Conseguia visualizar tudo em sua imaginação e notava os detalhes que Harry acres¬centara ou alterara. No momento, pensou, não conseguia ver nenhuma falha.
Estava impressionada com a dedicação de Harry. Os de¬senhos eram limpos e profissionais. Duvidava de que con¬seguisse algo superior com um arquiteto.
Quando terminou de examinar, pegou o papel com o or¬çamento, também muito organizado, e correu o olhar pelas cifras. Engoliu em seco e disse:
— Bem, James — sorriu, pousando os papéis sobre a mesa. — Você e seu pai estão contratados.
James riu satisfeito e serviu-se de outro biscoito, sem ce¬rimônia.
Só então Harry percebeu que estivera prendendo o fôle¬go, e respirou, aliviado, tratando de se controlar. Era a maior empreitada que assumia, desde que voltara para a Virgínia.
O trabalho manteria sua equipe ocupada por todo o inverno, quando as construções em geral avançavam com maior lentidão. Teria que usar todos os operários disponí¬veis, e seriam muitas horas de serviço diário. E o dinheiro era uma benção dos céus.
Além do mais, desejava pôr as mãos naquele prédio. O problema seria mantê-las longe de Gina Weasley...
— Agradeço pela confiança — disse a ela.
— Lembre-se disso quando eu começar a infernizar sua vida.
— Tudo bem. Tem uma caneta?
Ela sorriu e levantou-se para pegar uma na gaveta. Vol¬tou, assinou e datou o contrato, passando a caneta para Harry.
— Sua vez.
Quando Harry assinou, Gina olhou para o menino.
— James?
— Sim, Gina? — Ele ergueu o rostinho do prato, as mi¬galhas caindo da boca rosada, e tratando de engolir tudo.
— Sabe escrever seu nome?
— Em letra de forma. Sei todo o alfabeto, e soletrar meu nome e o do papai, e mais algumas coisas.
— Ótimo. Dê a volta na mesa e oficialize o contrato. — Inclinou a cabeça, diante do olhar de dúvida do menino. — Fez algumas linhas nos desenhos de seu pai, não fez? Quer ser contratado também ou não?
Uma expressão de puro contentamento tomou conta do rosto de James.
— Está bem!
Ele desceu da cadeira como um raio, espalhando algu¬mas migalhas sobre o papel. Com a língua entre os dentes, escreveu com muito cuidado seu nome, sob a assinatura de Harry.
— Olhe, pai! Minha assinatura!
— Sem dúvida.
As palavras saíram num fio de voz. Harry sentia um tur¬bilhão de emoções inexplicáveis e ergueu o olhar para Gina. O que fazer? Ela o atingira no seu ponto fraco. Fora gentil e boa com seu filho.
— Vá lavar as mãos, James.
— Não estão sujas.
— Obedeça.
— No final do corredor — ajudou Gina com voz doce. — Conte duas portas, do lado da mão com que assinou seu nome.
Embora contrariado, James foi procurar o banheiro. Harry levantou-se, mas Gina não saiu do lugar. Esbarra¬ram um no outro, fazendo-o adotar uma atitude defensiva.
— Foi bonito de sua parte fazer o que fez com James. Obri¬gado.
— Ele faz parte de tudo. — Gina também sentia um es¬tranha emoção. — Não foi uma estratégia, Harry.
— Já disse que agradeço.
— Sim, mas também está pensando que pode ter sido uma manobra para agradar você. Não nego que desejo isso, mas não foi o caso.
Pegou a caneca vazia, mas Harry segurou-lhe o braço.
— Tudo bem. Talvez tenha me enganado. Desculpe.
— Está certo.
Mas Harry continuava a segurar-lhe o braço, fitando-a.
— Peço desculpas com sinceridade, Gina. Ela relaxou.
— E aceito com sinceridade também. Seu filho é lindo e muito inteligente. É difícil não ficar encantada.
— Também o acho formidável.
— E ele o adora. Dá para perceber. Gosto de crianças e admiro os pais que são bons. Isso é mais um ponto a seu favor.
Harry deslizou a mão pelo braço de Gina, libertando-a.
Ela percebia interesse em seu olhar. Enchendo-se de co¬ragem, pousou as mãos nos ombros fortes e depois desli¬zou-as para o pescoço.
Harry sentiu como se um raio lhe atravessasse o corpo, espalhando faíscas por todo seu sistema nervoso. Provou o hálito quente e sensual da boca macia junto à sua, e sensa¬ções indescritíveis o invadiram. Tinha intenção de segurá-la pelos ombros também, mas para afastá-la. Precisava manter distância entre os dois, entretanto, naquele momen¬to, isso era impossível. Não havia como resistir. Beijou-a com sofreguidão, e Gina deixou escapar um gemido suave.
Os lábios de Harry eram macios e quentes, as mãos for¬tes. Gina considerava a força física de um homem um atri¬buto muito sensual.
Sentiu que perdia noção da realidade. Desejara aquele beijo com todas as forças de seu ser e, tomada pelo desejo, pendeu a cabeça para trás.
— Foi bom — murmurou, quando os lábios se afasta¬ram, passando os dedos por entre os cabelos pretos de Harry. — Por que não fazemos isso de novo?
Era o que ele mais desejava. Ir até o fim e depressa. Mas seu filho estava a apenas alguns metros de distância.
— Impossível — murmurou.
— Acho que acabamos de provar que é possível.
Então Harry fez o que devia ter feito em primeiro lu¬gar, e afastou-a, segurando-a pelos ombros, observando os olhos cor de grafite e os lábios intumescidos pelo beijo.
— Você é capaz de fazer um homem perder a cabeça — falou com voz rouca.
— Pelo que estou vendo, não completamente, mas foi um começo.

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Obrigado a todos pelos comentarios e espero que gostem desse cap. e mais uma coisa se alguém tiver uma idéia de capa ou até mesmo uma, me avisa
preciso de tres uma pra essa fic e as outras para as fic:
-Cativado e -Coração rebelde.
Amanhã cap. novo
bjão :**

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