Capitulo V
Deus! Todos a conheciam, pensou, e estariam observan¬do seu progresso ou derrocada. Por que não abrira a escola no Estado de Utah ou do Novo México? Algum lugar onde fosse uma completa desconhecida e onde ninguém tivesse expectativas a seu respeito?
Gina concluiu que o pensamento era tolo. Adquirira o prédio ali porque era sua cidade natal, onde desejava ficar.
Não haveria fracassos, prometeu a si mesma ao estacio¬nar o carro. Teria sucesso porque iria tomar conta de tudo pessoalmente. Daria um passo de cada vez, do modo pon¬derado e seguro de sempre. E trabalharia como uma escra¬va até ver tudo perfeito.
Não iria desapontar os pais, concluiu. O importante era que a propriedade já era sua... e do banco.
Subiu os poucos degraus da entrada, abriu a porta e pe¬netrou no futuro.
Mas o futuro cheirava a poeira e tinha teias de aranha.
Isso iria mudar, pensou, e em breve. Logo iria sentir no ar da casa o odor agradável de madeira e tinta fresca...
Isso a fez lembrar que precisava contratar uma equipe de trabalho.
Atravessou o salão, os passos ecoando no vazio, e avis¬tou um pequeno aparelho de som no centro. Surpresa, cor¬reu e pegou o cartão ao lado do equipamento, sorrindo ao reconhecer a caligrafia da mãe.
Abriu o envelope e leu o cartão com o desenho de uma bailarina se exercitando na barra:
Parabéns, Gina!
Este é um pequeno
presente dado com carinho para
que sempre tenha música em sua vida.
Com amor,
Mamãe, Papai e Rony.
— Meus queridos — murmurou. — Nunca se esquecem de mim.
Com lágrimas no olhos, abaixou-se e ligou o som. Os acordes de uma de suas composições favoritas ecoaram no salão vazio, fazendo-a lembrar-se de como se sentira emo¬cionada e orgulhosa quando dançara pela primeira vez no palco em Nova York.
Gina alongou-se, os nervos vibrando. Depois começou a fazer piruetas pela sala, entrando no ritmo da música.
Os movimentos eram feitos com suavidade. Envolta pela música, a tiara que usava nos cabelos deslizou para o chão, e Gina sentiu que voava, livre e feliz. Finalizou a dança com um rápido volteio, e um braço estendido no ar.
— Deveria atirar-lhe rosas, mas não trouxe nenhuma. O coração de Gina, já acelerado, pareceu que iria estou¬rar. Respirou fundo, voltou-se e encarou Harry.
Lá estava, parado junto à porta, as mãos nos bolsos, e uma caixa de ferramentas aos pés.
— Vai ficar me devendo — Gina conseguiu dizer com esforço. — Gosto das vermelhas. Nossa! Você me assustou!
— Desculpe. A porta não estava fechada e não me ou¬viu bater.
Na verdade, quando a vira pela janela, decidira não bater. Ela nem mesmo ouviria se o fizesse... Apenas ficara parado no batente da porta, encantado. Uma mulher com aquela aparência e feminilidade deixava um homem louco. E tinha certeza de que ela sabia disso.
— Tudo bem. — Gina desligou o aparelho de som. — Estava me iniciando neste lugar. Embora a dança pareça melhor com muitas luzes e as roupas certas. — Segurou os cabelos, puxando-os para trás, e desejando que as batidas do coração voltassem ao normal. — Então, o que posso fa¬zer por você?
Harry veio ao seu encontro, parando para pegar a tiara do chão.
— Perdeu isto quando fazia uma pirueta — murmurou.
— Obrigada. — Gina guardou o adorno no bolso. Harry gostaria de vê-la outra vez com os cabelos bem presos, pois a visão que apresentava no momento, as faces escaldantes, a cabeleira solta, era muito perturbadora... como a de uma mulher que acabara de fazer amor. Tratou de falar:
— Não esperava visitas, não é?
— É verdade, mas gosto de surpresas. — Principalmen¬te, ela pensou, quando tinham olhos verdes e um sorriso sexy.
— Sua mãe pediu-me para passar por aqui e dar uma olhada no prédio.
— Bem, e o que acha?
— É um belo prédio antigo. Tem potencial. Fundações sólidas. Foi construído para durar.
— Que bom ouvir isso de você, que entende dessas coi¬sas. Todos pensam que sou louca para despender tanto di¬nheiro e tempo neste prédio velho.
— É um bom investimento, se fizer a coisa certa e tiver paciência.
— E como farei isso? Vontade não me falta.
— A primeira coisa será examinar o sistema de calefação. Está gelado aqui dentro.
Ela sorriu.
— Acho que vamos no entender bem. O sistema de aque¬cimento fica no porão. Quer dar uma olhada?
Gina o acompanhou ao porão, o que Harry não espera¬va que ela fizesse. Não gritou nem pulou quando um camundongo passou correndo por eles, nem quando viram uma cobra morta há muito tempo que, por certo, viera de¬vorar os parentes do ratinho.
Sabia que as mulheres do tipo frágil em geral soltavam gritinhos ou se retraíam, apavoradas, diante de qualquer animal que rastejasse ou corresse. Porém, Gina apenas fran¬ziu o nariz, pegou um caderninho no bolso da jaqueta e fez umas anotações.
Harry anunciou que a velha caldeira estava arruinada e passou a desfiar os prós e os contras de usar gás ou eletricida¬de, embora achasse que, para Gina, estivesse falando grego e fosse melhor passar as informações para o pai dela. Quando externou essa idéia, ela respondeu com frieza educada:
— Meu pai é compositor e professor universitário. Crê que entenderia mais do que eu só porque é homem?
Harry pareceu pensar por um instante e respondeu:
— Sim.
— Então sua opinião é incorreta. Pode me enviar as in¬formações, mas pelo que me explicou, estou inclinada a optar pelo aquecimento a vapor. Parece mais simples e mais eficiente, já que os canos e radiadores já estão instalados. Desejo conservar o máximo possível da aparência original do prédio e, ao mesmo tempo, torná-lo habitável e atraen¬te. Também quero que verifique as chaminés e faça os re¬paros que achar necessários.
Harry não ligou muito para o tom de voz gelado, pois concordou com a opinião. Disse:
— Você é quem manda...
— Certo.
— Está com teias de aranha nos cabelos, patroa.
— Você também. Por favor, providencie uma dedetização e a limpeza do porão. Precisa de uma iluminação me¬lhor. Poderá ser utilizado como adega e despensa. Precisa¬mos aproveitar todos os recursos.
— Ótimo — aprovou Harry, pegando uma caderneta e um lápis e fazendo suas próprias anotações.
Gina dirigiu-se à escada, sacudiu o corrimão vacilante e acrescentou:
— Não é preciso embelezá-la, mas quero que seja segu¬ra para ninguém correr o risco de cair e rolar os degraus.
— Tudo será feito dentro dos preceitos de segurança. Não trabalho de outra forma.
— É bom saber disso. Agora deixe-me mostrar-lhe o que desejo fazer no andar principal.
E sabia mesmo o que queria, concluiu Harry. Talvez fosse até um pouco detalhista demais para o seu gosto. Entretanto, precisava dar-lhe crédito pela intenção de mo¬dernizar o edifício e conservar suas excentricidades e charme de épocas passadas. Não conseguia visualizar uma escola de bale ali, mas, sem dúvida, ela sim.
Gina continuou falando sobre a iluminação e os reparos que desejava. Queria que a cozinha fosse reformada, tornan¬do-a menor e mais eficiente e usando o espaço extra para fazer um escritório.
Os outros cômodos que, ao longo dos anos, haviam tido diversas utilidades, seriam vestiários, com balcões e armários.
— Parece muita sofisticação para uma escola de bale de cidade pequena.
Gina ergueu as sobrancelhas.
— Não é, não. É o correto. Agora, estes dois banheiros... Parou diante de duas portas contíguas.
— Se quer aumentar, posso abrir uma parede entre os dois.
— Não. É melhor deixar dois banheiros. Harry baixou o caderno de notas e encarou-a.
— Pretende matricular meninos? — Sorriu de modo ma¬licioso. — Acha que as mães da cidade vão deixar os filhos fazer piruetas e volteios?
— Já ouviu falar em Barishnikov? Davidov? — Gina estava muito acostumada com o preconceito machista so¬bre o bale e não ficou irritada. — Aposto em um dançarino bem treinado contra qualquer atleta em um teste de força e resistência.
— E quem usa o tutu? — brincou Harry, referindo-se ao saiote das bailarinas.
Gina suspirou com paciência, sabendo que teria de enfren¬tar aquele tipo de comentário em uma cidade do interior.
— Para sua informação, os bailarinos são homens de ver¬dade. Quer saber de uma coisa? Meu primeiro namorado foi premier danseur, que quer dizer primeiro bailarino de um corpo de bale, dirigia uma Harley e pulava mais alto do que Michael Jordan. Mas Jordan não usa malhas, não é mesmo? Só shorts.
— Uniforme de basquete — corrigiu Harry.
— É tudo convenção, não acha? Quanto aos banheiros, ficam os dois, mas totalmente reformados, desde azulejos nas paredes até pias baixas para crianças. E quero tudo branco.
— Entendi.
— Vamos prosseguir — comandou Gina, acenando para a escada no final do corredor. — Próximo andar. Meu apar¬tamento.
— Vai morar aqui? Em cima da escola?
— Morar, respirar, comer e trabalhar aqui. É assim que se transforma um sonho em realidade. E tenho idéias bem definidas sobre meu cantinho particular.
— Tenho certeza disso — resmungou Harry.
Idéias específicas e boas, concluiu Harry uma hora mais tarde. Podia não concordar com certos detalhes do andar principal, mas sem dúvida precisava admitir o bom gosto no outro andar. Gina queria conservar os moldes originais e restaurar os entalhes de madeira, declarando que se des¬cobrisse quem os pintara de branco, arrastaria para o meio da rua e daria um açoites.
Harry não teve escolha senão concordar.
Certas partes da madeira estavam danificadas e ele gos¬tou da perspectiva de restaurá-las sozinho, fazendo-as ficar novas como as demais. Gina desejava conservar as enormes tábuas do assoalho, e Harry faria o mesmo, se a casa fosse sua. A medida que fazia a vistoria, viu-se invadido pela mesma excitação da proprietária em ressaltar de novo todo o grande potencial do velho prédio. Deixar sua marca em um imóvel que lá estava, firme, passando de uma geração para a outra.
Houvera um tempo, pensou Harry, em que só trabalha¬ra com as mãos e o cérebro, deixando o coração de lado. Fazia um serviço bem-feito e recebia o pagamento. Mas o amor-próprio e o orgulho tinham surgido depois, e isso o fizera aprimorar-se e tornar-se um verdadeiro artesão. Fa¬zer algo bonito para durar era seu objetivo. Construir uma vida.
Voltando o pensamento para o trabalho atual, concluiu que tinha nas mãos uma grande oportunidade e não via a hora de começar a trabalhar. Mesmo que isso significasse lidar com Gina Weasley e ficar irritado...
Esperava, caso fechassem o negócio, que ela não fosse uma dessas clientes que ficavam aparecendo e rondando toda hora, fazendo perguntas e bisbilhotando. Em especial, concluiu de má vontade, se estivesse usando aquele maldi¬to perfume tão sexy...
Lembrou-se do item "banheiros". As antigas banheiras iriam permanecer, e novas pias, brancas, seriam colocadas. Os ladrilhos ficariam para depois, quando ele trouxesse as amostras para serem escolhidas.
Porém, quando chegaram na parte da cozinha e Gina co¬meçou a dar as ordens, Harry foi firme:
— Pretende cozinhar de verdade aqui, ou apenas usar o microondas?
— Cozinhar. Sei fazer isso muito bem.
— Então será preciso um trabalho sólido — retrucou ele com brusquidão. — Vai precisar de um ambiente eficiente. A pia deverá ficar sob a janela, e não nessa parede. — Apon¬tou para o local. — A geladeira e o fogão ficarão ali para não precisar correr de um lado para o outro.
— Sim, mas... — ela tentou interrompê-lo.
— Ali ficará a copa — continuou Harry, como se não estivesse ouvindo —, com um belo balcão ligado à cozinha. Vamos colocá-lo ali... — Pegou uma trena no bolso. — Sim! E terá espaço para alguns tamboretes, de modo a ter lugar para trabalhar, sentar e circular sem desperdiçar espaço.
— Estava pensando em pôr uma mesa...
— Então vai ficar sempre dando voltas nela, sem neces¬sidade.
— Talvez.
Gina lembrou-se da mesa na copa dos pais, onde sem¬pre conversavam pela manhã. Estava sendo sentimental, concluiu, precisava ser mais prática.
— Deixe-me tomar todas as medidas e da próxima vez trarei desenhos. Poderá estudá-los e tomar sua decisão de¬pois.
— Certo, Potter! Temos tempo. O andar principal é meu maior interesse.
— Vou levar algum tempo para fazer o projeto e trazer um orçamento. Mas já vou avisando que vai ser caro, e um trabalho de quatro meses.
Gina já chegara a essa conclusão, mas ouvir aquilo do empreiteiro foi um choque. Pensou um instante e acabou suspirando.
— Está bem. Faça o que for necessário e, caso decida contratá-lo, quando estará disponível?
— Em pouco tempo. Conseguirei a licença na prefeitu¬ra para a reforma e comprarei uma parte do material. E provável que comece a reforma na primeira semana do ano.
— Que beleza! Apresente o orçamento, Sr. Potter, e verei se fecharemos negócio.
Ela o deixou tomando medidas e fazendo cálculos, e desceu para ficar no alpendre. Podia ouvir o rumor do tráfego na rua principal, a menos de um quarteirão da casa. E sentia também o odor agradável da fumaça que saía de al¬guma lareira ou fogão a lenha na vizinhança. O gramado na frente da casa estava um desastre, com ervas daninhas por todos os lados e uma árvore quase morta.
Do outro lado da rua estreita erguia-se um outro edifí¬cio de tijolos que fora transformado em prédio de aparta¬mentos. Era antigo, bem cuidado e muito quieto, àquela hora da tarde.
Pensou no que Harry dissera sobre o trabalho sair caro. Ainda bem que economizara bastante na época dos espetá¬culos de bale. Por sorte não levara uma vida extravagante nos últimos anos. E tinha o jeito da mãe para os negócios, sem dúvida. As economias haviam crescido, e ainda tinha o dinheiro da herança dos avós. E se sentisse que os recur¬sos estavam diminuindo muito depressa, poderia fazer al¬gumas apresentações com a companhia de bale, porque essa porta ficara aberta.
Na verdade, pensou Gina, com todas as semanas de re¬forma pela frente, até que seria aconselhável trabalhar e ganhar mais algum dinheiro. Estava acostumada a ter uma vida agitada e produtiva. Uma vez iniciadas as obras, nada haveria a fazer ali, enquanto os operários transitassem o tempo todo.
Seria fácil, pensou, ir à Nova York para trabalhar e vol¬tar para a casa dos pais, onde ficaria instalada até o término das obras. Ensaiar, atuar e regressar para sua cidade. Sim, sorriu consigo mesma, essa talvez fosse a melhor solução no momento.
Mas, de imediato, queria ver seu plano começar a tor¬nar-se realidade.
— Gina? — Harry surgiu com a jaqueta na mão. — Está frio aqui fora.
— Um pouco. Esperava que nevasse. Quase aconteceu no outro dia.
— Contanto que a neve não chegue a um metro.
— O quê?
— Nada. Continue a pensar em seus projetos.
Com um gesto automático, colocou a jaqueta sobre os ombros de Gina, erguendo os longos cabelos para ajeitar a gola. Pareciam fios de seda em suas mãos, pensou consigo mesmo.
Ainda sentia a maciez da cabeleira ruiva, quando ela voltou a cabeça e o encarou.
Bem, pensou Gina com os olhos brilhantes, afinal ele estava interessado. E sentiu o coração acelerar.
— Por que não vamos até a esquina tomar um café? — Voltou a dar o primeiro passo, como se fosse um teste para os dois. — Podemos discutir... o tamanho do balcão da co¬zinha.
Harry voltou a sentir a mesma excitação sensual que ela provocara na loja de brinquedos.
— É a mulher mais bonita que já conheci.
— Como me pareço muito com minha mãe, agradeço em meu nome e no dela. Quanto a você... também é muito bonito. Mal consigo tirar os olhos de seu rosto — acrescen¬tou com ousadia.
Harry sentiu a garganta seca. O que acontecera com as mulheres desde que saíra de circulação? Quando haviam começado a seduzir os homens em alpendres no meio da tarde? Seus pensamentos ficaram sem resposta.
Sentia o vento frio de dezembro fustigar-lhe o rosto, mis¬turado ao calor intenso nas veias.
Tentando proteger-se, segurou-a pelos braços. A jaque¬ta deslizou dos ombros delicados, e ele sentiu a rigidez dos músculos bem exercitados sob o tecido da blusa.
Os olhos de Gina eram da cor de grafite, pensou Harry. Misteriosos como uma noite sem luar. Bastaria inclinar a cabeça ou, ainda melhor, erguê-la do chão, e encontraria a maciez dos lábios sensuais e arrogantes. Mas ocorreu-lhe a idéia fantástica de que poderia queimar a boca como se a encostasse em ferro em brasa, e isso era muito perigoso.
— Não estou acostumado a receber elogios.
Gina ergueu-se na ponta dos pés e deu-lhe um leve e rápido beijo nos lábios. As mãos fortes apertaram-lhe os braços, quase fazendo-a gritar. Achando graça da tensão dele, voltou a tocar o solo com o pés.
— Você não pode fazer isso.
Assim dizendo, Harry a soltou e abaixou-se para pegar a caixa de ferramentas, maldizendo o tremor nas mãos, que não conseguia controlar.
— Não concordo, mas não vou forçar mais. Gostaria de reencontrá-lo, se lhe convier. Mas independente disso, como ambos gostamos deste prédio e aprovo quase todas as suas idéias, espero que possamos trabalhar juntos.
Harry soltou o ar dos pulmões.
— Você é uma figura e tanto, Gina!
— E verdade, sou mesmo. Não me desculpo por ser assim. Vou esperar ansiosa para ver os desenhos e ouvir o preço. Se precisar voltar para tirar mais medidas, sabe onde me encontrar.
— Sim, sei.
Gina permaneceu onde estava, vendo-o caminhar para a calçada e entrar na picape. Ficaria surpreso se ouvisse o som trêmulo do suspiro que deixou escapar, pensou, assim que ele partiu. E se assustaria também se a visse, de modo lento, sentar no degrau do alpendre e ficar sonhando acordada.
Gina sentiu um frio intenso. Mas era devido à emoção. Esperou até se acalmar e sentir as batidas do coração volta¬rem ao normal.
Harry Potter.
Capitulo enormee õ/
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