Capitulo XXXIII
Anteriormente:
— Gina, se entrar nesse carro serei forçado a arrastá-la para fora pelos cabelos! Não terminamos de conversar!
Ela parou, com a mão na maçaneta.
— Estou muito zangada para falar com você agora.
— Não precisa falar mais nada. Sente-se! — Harry apon¬tou para o toco de árvore que ocupara.
— Não quero sentar.
— Gina!
Ela ergueu os braços em um gesto de desespero, voltou para onde estava antes e sentou-se.
— Pronto! Está contente?
Harry ignorou a ironia e começou:
— Em primeiro lugar, não pretendo me casar apenas para dar uma mãe para James. Ao mesmo tempo, não me casarei com ninguém que não possa ser uma boa mãe. Agora vamos deixar isso de lado e falar sobre nós dois. Sei que está furiosa, mas não chore.
— Não gastaria uma lágrima sequer com você!
Como resposta, ele tirou um lenço do bolso e estendeu-o para ela.
— Trate de limpar o rosto. Já estou passando por maus bocados sem precisar vê-la debulhar-se em lágrimas.
Gina ignorou o lenço e limpou as faces molhadas com as costas da mão, em um gesto de rebeldia infantil. Harry recomeçou:
— Muito bem, vamos supor que haja uma caixa aqui no chão. — Apontou para o solo. — Tudo que dissemos até este momento irá para dentro dela, e vou fechar a tampa. Pode¬remos abri-la mais tarde, mas de agora em diante começa¬remos da estaca zero.
— No que me diz respeito, pode pôr um cadeado na tampa e jogar essa caixa no mar.
— Pretendia conversar com James hoje à noite — prosse¬guiu Harry, como se não a tivesse ouvido. — Observar como se sente a respeito de várias mudanças. Conheço meu filho muito bem. — Fez uma pausa e riu. — Por outro lado, tal¬vez não o conheça tão bem assim, já que sai por aí pedindo minha mulher em casamento quando não estou presente.
— Sua mulher?
— Fique quieta — pediu ele com bons modos. — Se ti¬vesse permanecido em silêncio um pouco mais, teríamos conversado a esse respeito com calma e serenidade.
Harry aproximou-se e segurou-a pelo queixo, fazendo-a erguer a cabeça e encará-lo.
-Gina, eu a amo. — Vendo que ela desejava se levan¬tar, apertou-lhe o ombro. — Não. Fique aí. Estava imagi¬nando como dizer isso quando você irrompeu no meu ca¬minho como um furacão.
— Quando eu... — Gina deixou escapar um longo sus¬piro, sentindo o coração disparar e olhando para o chão. — Tem certeza de que a tampa da caixa está bem fechada? Porque gostaria de voltar atrás no tempo e não ter tomado a iniciativa... como sempre.
— Sim, está fechada.
Ela fechou bem os olhos por um momento, tentando clarear as idéias. Mas a enorme excitação que tomara conta de todo seu ser não a deixava pensar direito. E sentia-se bem, concluiu. Muito bem.
— Importa-se de começar de novo? — pediu. — Na parte em que disse que me ama?
— Claro, sem problemas. Amo você. Comecei a me apai¬xonar no instante em que a vi tropeçando nos brinquedos na loja de sua mãe. Dali em diante sempre achava que iria voltar à razão, e que você não era para mim. Todas as vezes em que parecia estar mergulhando de cabeça no amor, ten¬tava me controlar. Tinha meus motivos para fazer isso, po¬rém agora, neste instante, não consigo me lembrar de ne¬nhum.
— Fui feita para você, Harry, como você foi feito para mim.
-Quando fomos a Nova York e ficamos na casa de sua irmã, percebi que era inútil continuar resistindo, e deixei-me levar pelos sentimentos. Até hoje, quando me lembro de vê-la dançando no palco, meu coração dispara. Foi a cena mais linda que já presenciei. Aliás, você é muitas mulheres em uma. Quando dança em um teatro é forte e poderosa. E quando a vi dançar para as crianças na sua futura escola, era delicada como uma fada em um sonho. — Harry tomou fôlego e disse com franqueza: — Isso sempre foi algo que me deixou confuso e inseguro.
Agachou-se ao lado de Gina, junto ao tronco caído da árvore onde ela estava sentada.
— Há alguns minutos estava aqui desenhando uma cena em minha mente. Costumo fazer isso. Eu e você, sentados em um balanço que ainda vou comprar.
As lágrimas ameaçavam rolar de novo, mas Gina fez força para não chorar e murmurou:
— Gostei dessa cena.
— Eu também. Sabe, imaginava que estávamos cons¬truindo uma morada. Não como a casa que tenho no alto da colina, de cimento e cal, mas uma morada feita de afeto, compreensão e carinho. Tenho tempo e muita paciência para construir porque é importante que as paredes sejam sólidas para durar para sempre.
— E eu o apressei — interrompeu Gina, em tom de re¬morso.
— Sim, é verdade. Mas também já imaginei outra coisa. Duas pessoas não precisam caminhar no mesmo ritmo para chegar no mesmo lugar. Uma vai correndo, a outra mais devagar...
Uma lágrima conseguiu furar o bloqueio mental, desli¬zando pelo rosto de Gina.
— Este é o lugar feito para mim. — Acariciou-lhe o ros¬to com meiguice. — Eu o amo, Harry, quero...
— Não quer nada! Quem toma a dianteira aqui sou eu! — Ele a fez levantar do tronco de árvore. — Vê a casa na colina?
— Sim.
-Precisa de reparos, mas tem potencial. Esse cachorrinho que está aí, perseguindo o próprio rabo, foi quase domesticado. Tenho um filho que está voltando da escola em um ônibus atrasado. E quero ir até a sua escola de bale de vez em quando, só para vê-la dançar e ensinar suas alunas. Quero ter filhos com você. Acho que sei lidar bem com crian¬ças pequenas.
— Oh! Harry...
— Quieta! Ainda não terminei. Quando chegar o verão, quero sentar com você no jardim que vamos plantar juntos. E é só com você que desejo fazer todas essas coisas.
— Por favor, peça-me logo em casamento, antes que eu desmaie e não consiga dizer que sim.
— E você é apressada e mandona — concluiu Harry com expressão de fingido aborrecimento, mas sorrindo em se¬guida. — Mas eu gosto disso. Case-se comigo, Gina.
Um nó na garganta a impedia de responder, mas abra¬çou-o com força. O beijo que lhe deu pareceu entregar-lhe seu coração e valeu mais que mil palavras. Mike começou a latir e a dar voltas desesperadas ao redor dos dois, agarrando-se em suas pernas e fazendo Gina rir.
— Estou tão feliz, querido...
— Mesmo assim não me importaria de ouvi-la dizer que sim.
Ela inclinou a cabeça para trás e abriu a boca para falar, quando o ruído do ônibus e crianças tagarelando e rindo abafaram sua voz.
Gina voltou-se, segurando Harry pela cintura, e viu James descer correndo do veículo escolar. O cão saltou ao seu encontro, abanando o rabo.
— Deixe que eu falo — murmurou Gina para Harry. — Olá, James bonitão.
O menino viu as lágrimas em seu rosto e lançou um olhar preocupado para o pai.
— Você está machucada, Gina?
— Não. Às vezes gente grande chora porque está tão feliz que parece que vai explodir. Assim é que me sinto neste instante. Lembra-se do que me disse ontem, James?
O menino mordeu o lábio, relanceando um olhar de viés para Harry.
— Sim...
— Bem, eis minha resposta para vocês dois... — Abra¬çou pai e filho ao mesmo tempo. — Sim!
Os olhos de James arregalaram-se como se não conseguis¬se acreditar.
— Verdade?!
— Sem dúvida!
— Papai, adivinhe!
— O quê?
— Gina vai casar com nós dois! Isso é bom, não é?
— É maravilhoso! Vamos para casa.
Deixaram o carro de Gina e a picape estacionados onde estavam e começaram a subir a colina a pé, em direção à casa. Junto ao gramado, Harry parou e beijou-a, fazendo-a refletir que não era tudo maravilhoso, mas sim, perfeito.
Continua...
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O próximo cap. ja é o epílogo :/
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