Capitulo XXXII



 jason mraz - I'm Yours




Harry parou para comprar leite, pão e ovos. James desen¬volvera uma obsessão por torradas. Ao virar a esquina, con¬sultou o relógio de pulso. Faltavam ainda dez minutos para o ônibus chegar. Saíra cedo demais, concluiu.
Resignado a esperar, soltou Mike para que corresse um pouco. A primavera estava maravilhosa, pensou, olhando ao redor. Os arvoredos com folhas muito verdes, e as flores desabrochando. Havia algo de mágico no ar, pensou. Tal¬vez fosse a esperança.
Sua casa começava a adquirir ares de verdadeiro lar. Em breve penduraria uma rede no alpendre, quem sabe um balanço no quintal. E trataria de comprar uma piscina inflável para James.
James e Mike poderiam brincar ao ar livre, rolar na gra¬ma e brincar no balanço nas noites quentes de verão. Ele sentaria na varanda e ficaria observando. Ou sentaria no balanço com Gina. Estranho, pensou, mas já não conseguia deixar de incluí-la em todos os seus planos e sonhos. Só admitia a vida com ela, concluiu.
Precisava ter tempo para pensar e analisar a posição de Jámes em tudo isso. Depois seria apenas uma questão de sa¬ber se Gina estava disposta a prosseguir
o caminho com eles.
Talvez fosse a hora de dar um empurrãozinho, pensou. Nada era perfeito. Tudo na vida requeria esforço, tudo ti¬nha um tempo para acontecer.
Era como construir uma casa. Harry concluiu que as fun¬dações de seu relacionamento eram sólidas. E já tinha uma planta desenhada na mente. Ele, Gina, James e os filhos que teriam depois. Uma casa precisava de muitas crianças. En¬tão, era hora de começar a tirar o desenho do papel, por assim dizer, e arregaçar as mangas.
Talvez Gina não estivesse pronta para casar ainda, pen¬sou, com a escola de bale abrindo as portas. Quem sabe precisasse de certo tempo para pôr as idéias em ordem e ajustar-se ao plano de ser mãe de um menino de seis anos. Podia dar-lhe mais um tempo, refletiu Harry.
Ficou imóvel, olhando para sua casa que surgia na coli¬na à frente e que parecia estar esperando pelo próximo pas¬so do dono. Não podia esperar demais, ponderou. Quando começava a construir, gostava de ir até o fim. E queria Gina ao seu lado, no projeto mais importante de sua vida.
A primeira coisa a fazer, decidiu, enquanto caminhava até a caixa do correio, era conversar com James a respeito. O filho precisava sentir-se seguro, confortável e feliz. O meni¬no adorava Gina, e talvez ficasse um pouco apreensivo so¬bre as mudanças que aconteceriam com o casamento, mas poderia tranqüilizá-lo, pensou Harry.
Conversariam à noite, depois do jantar, decidiu. Não agüentava mais a necessidade de acelerar os acontecimen¬tos. Quando tivesse se entendido com James, pensaria no modo de revelar seus planos a Gina.
Retirou a correspondência da caixa, e ia lê-la no cami¬nho de volta para a picape, quando Gina o interceptou.
— Não esperava vê-la por aqui a esta hora do dia — dis¬se, surpreso, jogando as cartas no banco da caminhonete.
Gina saiu do próprio carro e inclinou-se para pegar do chão o pedaço de corda que Mike depositara a seus pés. Simulou uma breve luta com o cão, do tipo cabo-de-guerra, onde cada um puxava para um lado, e depois atirou o obje¬to para longe, a fim de manter o animalzinho ocupado por um certo tempo.
Observando-a brincar com tanta alegria e simplicidade, Harry mal conseguia esperar para despejar tudo que lhe ia no coração.
— Senti sua falta na escola — disse ela.
— Algum problema?
— De jeito nenhum! Sem problemas. — Aproximou-se e deslizou as mãos pelo peito de Harry, um gesto habitual que nunca deixava de excitá-lo. — Nem me deu um beijo de despedida.
— A porta de seu escritório estava fechada. Imaginei que estivesse ocupada.
— Então me dê um beijo agora. — Encostou os lábios nos dele, mas arqueou as sobrancelhas ao notar que Harry não se empenhava na carícia. — Poderia caprichar mais...
— Gina, o ônibus escolar vai chegar dentro de instantes.
— Mas pode fazer melhor — repetiu ela, encostando-se ao seu corpo com força.
Harry segurou-a pelas costas e beijou-a de modo apai¬xonado.
— Gostei mais assim — murmurou Gina ao final do beijo. — É primavera, e sabe o que os homens gostam de fazer na primavera, além de jogar beisebol?
Harry sorriu, fingindo inocência:
— Cortar a grama?
Gina soltou uma gargalhada, trançando os dedos atrás da nuca de Harry, enquanto sentia diminuir o mal-estar que a perseguira durante várias horas.
— Vou reformular a pergunta — disse, sorrindo. — Sabe o que uma moça gosta de fazer na primavera? Esta aqui, na sua frente, em especial?
— O que está tentando me dizer?
— Harry... — Gina mordiscou-lhe o lábio. — Quero que se case comigo.
Harry ficou imóvel, como se estivesse congelado. Um zumbido tomou conta de seus ouvidos, como centenas de abelhas furiosas. Chegou à conclusão de que ouvira mal, tinha que ser isso. Gina não podia simplesmente tê-lo pedi¬do em casamento, quando ele passara os últimos minutos planejando como e quando abordar o assunto com ela.
Deu um passo atrás, para ganhar tempo.
— Não é muito lisonjeiro ficar me olhando desse modo, como se eu o tivesse ofendido — comentou Gina com ex¬pressão séria.
— De onde tirou essa idéia? — perguntou Harry, ainda achando que sonhava. Mas ali estava Gina a sua frente, e os batimentos descompassados de seu coração eram bastante reais. Além do mais, nos seus sonhos, era ele quem a pedia em casamento!
— Droga! Uma mulher não intercepta um homem no meio do dia e o pede em casamento, sem mais nem menos!
— Por que não?
— Porque.. — Como podia raciocinar com aquele zum¬bido em sua cabeça? — Porque não, ora!
— Bem, eu fiz. — Gina começou a sentir raiva e engoliu em seco. Ergueu a mão trêmula e começou a enumerar nos dedos. — Estamos namorando há meses. Não somos crian¬ças. Gostamos da companhia um do outro e nos respeitamos. É muito natural e lógico, nessa fase, pensar em casamento.
Harry tentou controlar-se. Precisava recuperar a calma sem perda de tempo, pensou.
— Mas você não disse para pensarmos em casamento, conversarmos a respeito. Há muitos fatores a serem discu¬tidos além da realidade de duas pessoas que gostam da companhia uma da outra e se respeitam.
E que se amam, acrescentou para si mesmo. Deus! Como a amava! Mas precisava saber o que ambos desejavam para o futuro, separados ou juntos, como uma família. Havia coisas a serem resolvidas, de uma vez por todas.
— Claro que sim — concordou Gina —, mas...
— Vamos começar por você. Neste momento está livre para recomeçar sua carreira de bailarina a qualquer instan¬te. Nada a impede de voltar a Nova York e ao palco.
— Minha escola é um impedimento. E tomei essa deci¬são antes de conhecê-lo.
— Gina, vi você dançar no teatro e foi algo... indescrití¬vel. Ensinar bale nunca lhe dará a mesma satisfação que dançar no palco.
— Sim, não é a mesma coisa, mas vai me dar algo novo e é o que desejo agora. Não sou pessoa de tomar decisões de modo leviano, Harry. Hoje isso, amanhã aquilo... Quan¬do deixei a companhia de bale para voltar para Shepherdstown, sabia o que estava fazendo. Tinha plena consciência do que deixava para trás e o que se descortina¬va à frente. Se não acredita que sou capaz de me compro¬meter com alguma coisa e ficar firme na decisão, então não me conhece.
— Não é uma questão de confiança. Mas foi bom ouvi-la dizer essas coisas. Nunca conheci alguém tão determina¬da quanto você.
Pensara, minutos antes, que saberia manejar tal situa¬ção. Imaginara-se propondo casamento a Gina, e não o con¬trário. Começara a delinear um plano para convencê-la a compartilhar a vida a seu lado e construírem um futuro juntos. Mas ela tomara a iniciativa e o fizera sentir-se con¬fuso, vulnerável e despreparado. Gina não podia ser tão atirada, pensou. Tornara-se um homem de decisões ponde¬radas e duradouras.
— Para mim — disse em voz alta —, o problema é maior do que decidir que caminho profissional seguir. Tenho mais do que uma carreira em que pensar. Tenho James. Tudo que faço ou deixo de fazer envolve meu filho.
— Estou perfeitamente ciente disso, Harry. Sabe muito bem.
— Sei que James gosta de você, mas está acostumado com as coisas do jeito que estão, e precisa sentir-se seguro. Afi¬nal, Gina, sempre fui o centro de sua vida. Cho adoeceu quando era ainda um bebê. Entre médicos, hospitais e tra¬tamento...
— Oh! Harry!
A exclamação soou em tom dolorido. Ela bem podia ima¬ginar como tudo se passara. O medo, a insegurança, a dor... Harry continuou:
— Cho não pôde acompanhar seu crescimento, e tive de ser pai e mãe. O mundo se desintegrava à minha volta, e precisava cuidar de meu filho. Os primeiros dois anos de sua vida foram um verdadeiro pesadelo.
— E você fez e faz tudo que é possível para proporcio¬nar-lhe uma vida normal e feliz. Não percebe o quanto ad¬miro isso? Como o respeito?
Harry sentiu que corava, e nada podia fazer. Jamais pensara na paternidade como algo admirável.
— Faço o que devo fazer. Sempre penso em James em primeiro lugar. É assim que deve ser. Não se trata apenas de você e eu, Gina. Se assim fosse., mas não é. Uma mudan¬ça tão radical vai interferir na vida de James.
— E quem está dizendo o contrário? — perguntou ela.
— Ora! Entenda, por favor! Não posso chegar para James e dizer, sem mais nem menos, que vou me casar! Preciso conversar com ele primeiro, prepará-lo. E você também. É o tipo de responsabilidade que terá de assumir de hoje em diante, caso cheguemos a um acordo. James precisa sentir-se seguro comigo e com você.
— Pelo amor de Deus, Potter! Não acha que já pen¬sei em tudo isso? Já me conhece há vários meses. Deveria me dar um voto de confiança.
— Não se trata de...
— Para princípio de conversa, foi James quem me pediu para casar com você!
Harry ficou olhando para o rosto corado e enfurecido de Gina e depois ergueu as mãos, em um gesto confuso.
— Preciso me sentar... — De modo automático, deixou-se cair sobre um toco de árvore. Mike balançou a corda na sua frente, e ele a atirou longe, sem prestar atenção no que fazia. — O que foi que disse?
— Estou por acaso falando grego? James me fez uma pro¬posta de casamento ontem — repetiu ela. — Parece que não tem tanta dificuldade em tomar decisões como o pai. Pediu para que me casasse com vocês dois. E eu nunca recebi uma proposta tão adorável em toda minha vida. É evidente que não vou receber o mesmo de você.
— Receberia se tivesse a paciência de esperar mais al¬guns dias — redargüiu Harry quase sem fôlego. — Então, fez isso para deixar James feliz?
— Escute aqui, Potter! Por mais que adore aquele menino, não me casaria com seu pai cabeça-dura a menos que desejasse. Acontece que James acha que o casamento será bom para todos nós. E acontece que concordo com ele. Mas pode continuar sentado aí como um bobo, nesse tronco de árvore!
Não apenas Gina o surpreendera, deixando-o zonzo e sem ação, como também seu filho de seis anos de idade passara a sua frente. Harry não sabia se estava feliz ou aborrecido.
— Talvez não estivesse parecendo um bobo, se você não tivesse me chocado tanto.
— Chocar? — repetiu Gina, sem conseguir acreditar no que ouvia. — Fiz de tudo para chamar sua atenção, só fal¬tou pintar um coração vermelho na testa! Por que acha que não tirei minhas coisas do guarda-móveis e levei para o apartamento novo? Uma mulher organizada e prática como eu não se esquece de um detalhe como esse, a não ser que não tivesse intenção de morar ali.
Harry levantou-se, de modo lento.
— Pensei que quisesse... sei lá o que pensei.
— E por que reservei cada minuto livre que tinha para ficar com você e com James? Por que correria atrás de você no meio da tarde, esquecendo o amor-próprio e pedindo para se casar comigo? Por que teria feito qualquer uma dessas coisas se não o amasse? Que tolo você é, Harry!
Gina deu meia-volta e afastou-se, pisando duro, em dire¬ção ao carro, enquanto lágrimas de mágoa e fúria teimavam em rolar-lhe dos olhos. Uma barra de ferro parecia apertar-lhe o peito de modo brutal, impedindo-a de respirar.
— Gina, se entrar nesse carro serei forçado a arrastá-la para fora pelos cabelos! Não terminamos de conversar!



Continua...


Obrigado a todos que comentaram!
Espero que gostem do capitulo :D

Um super beijo e não deixem de comentar

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