Capitulo XXXI
Enquanto os Potter resolviam suas diferenças, Gina pas¬seava com a terceira geração masculina da família.
— Não pedi nada, pedi?
— Como disse? — Lançou um olhar de fingida surpre¬sa para James. — Ora! Eu e mamãe quase o forçamos a ficar com o avião! Tivemos que implorar!
James sorriu, satisfeito.
— Vai contar para o papai, não vai?
— Claro. E ele vai querer brincar também. É um lindo avião.
O menino fez movimentos circulares no ar com o brin¬quedo novo.
— Parece com aquele que me levou para Nova York e de volta para casa. Foi divertido. Mandei cartões-postais para todo mundo agradecendo. Gostou do seu? Fiz quase tudo sozinho.
— Adorei! — Gina passou a mão no bolso, onde guar¬dara o bilhete de agradecimento de James, todo colorido. — Foi muito educado de sua parte. Agiu como um perfeito cavalheiro e fez o mesmo com Freddie, Nick e meus avós.
— Disseram que posso voltar a Nova York sempre que quiser. Yuri falou que posso ficar na casa dele.
— Você gostaria?
— Sim. Ele sabe mexer as orelhas.
— Sei disso.
— Gina?
Ela se abaixara para afagar Mike e relanceou um olhar para James, que a fitava com expressão séria. A mesma ex¬pressão intensa e pensativa de Harry, pensou, voltando a sentir um estranho e absurdo mal-estar.
— O que é, meu querido?
— Podemos... sentar naquela mureta e conversar sobre... coisas?
— Sem dúvida! — Com gestos solenes, Gina levantou a criança e colocou-a sentada na mureta em frente ao prédio da faculdade. Ergueu o cachorro também, e em seguida, dan¬do impulso, sentou-se ao lado dos dois. — Do que se trata?
— Estava pensando...
James interrompeu-se, observando Mike soltar-se, pular para a grama e começar a farejar. Conversara com seus amigos. Em Nova York com Max, e na escola com Rod. Era um segredo. Tinham cuspido na palma da mão para selar o acordo. Continuou:
— Você gosta do meu pai?
— Sim. Gosto muito.
— E gosta de crianças como eu?
— Sim. Especialmente de você. — Gina passou um bra¬ço pelos ombros de James. — Somos amigos.
— Eu e papai também gostamos de você. Muito. Então, estava pensando... — Encarou-a com o olhar honesto e puro de um menino de seis anos. — Quer casar com a gente?
Gina sentiu um baque no coração. Era uma das maiores emoções de sua vida. Só conseguiu murmurar:
— James...
- Se casasse, poderia vir morar na nossa casa. Papai está arrumando tudo muito bem. E temos um quintal, e tudo mais, e vamos plantar um jardim em breve. Poderia tomar o café da manhã conosco, depois iria para a sua escola e ensinaria as pessoas a dançar. Então voltaria para casa. É tudo muito perto.
Envolta em um redemoinho de sentimentos e emoções, Gina apoiou o queixo no alto da cabecinha morena.
— Meu Deus...
— Papai é muito bom — continuou o garoto. — Quase nunca grita. Só não tem uma esposa porque minha mãe foi para o céu. Gostaria que tivesse ficado conosco, mas preci¬sou ir.
— Sei disso. Oh! Meu querido!
— Talvez o papai não a tenha pedido em casamento ainda porque tem medo que vá embora também, como a mamãe. É o que Rod acha. Talvez. Mas você não irá, não é mesmo?
Lutando contra as lágrimas, Gina disse:
— James, pretendo ficar nesta Terra por muitos anos. Já falou com seu pai sobre essas coisas?
— Não, porque é ele quem tem que falar com você e pedi-la em casamento. Foi o que Max me disse. O homem tem que pedir a moça. Eu e papai compraremos um anel porque as mulheres querem ganhar um. E quando for a esposa dele não me importarei se me beijar, e serei muito comportado. Você e papai poderão ter bebês como fazem os outros casais. Eu gostaria de ter um irmão, mas se for uma irmã, tudo bem. Vamos gostar um do outro e brincar juntos. — Tomou fôlego. — Então, quer casar com a gente?
Em todos os seus sonhos e fantasias, Gina jamais imagi¬nara receber uma proposta de casamento de um menino de seis anos, sentada em uma mureta em uma tarde primaveril. Nada poderia ser mais tocante, pensou, e maravilhoso.
— James, agora sou eu quem vai contar um segredo. Amo você há muito tempo.
— Sério?!
— Sim. E também amo seu pai. Vou pensar muito sobre tudo que me disse. Prometo. Portanto, se eu disser que sim, saberá com absoluta certeza que é o que mais desejo no mundo. Se concordar, saberá que não é apenas o filho de Harry, mas meu também. Compreende o que estou dizendo?
James aquiesceu, olhando-a com expressão solene.
— Vai ser minha mãe, certo?
— Isso mesmo.
— Ótimo. Quer ser?
— Vou pensar — sorriu Gina, beijando-o na testa e sal¬tando para a grama.
— E vai levar muito tempo para resolver? — quis saber James.
Ela ergueu os braços para ajudá-lo a descer.
— Dessa vez, não. — Segurou-o firme em um abraço, antes de recolocá-lo na grama. — Mas vamos manter essa conversa como nosso segredo. Só por mais um pouco de tempo, até eu me decidir.
Gina esperou quase vinte e quatro horas. Afinal, pen¬sou, era uma mulher crescida e sabia o que queria. Talvez não fosse a hora ideal, mas nada havia a fazer.
O rumo que as coisas estavam tomando não era bem o que esperara e que preferira. Sempre pensara em uma se¬qüência lógica de acontecimentos, mas precisava ser flexí¬vel. Quando desejava tanto alguma coisa, costumava fazer concessões.
Pensou em convidar Harry para um jantar romântico, só os dois, mas desistiu da idéia. Uma proposta em um lu¬gar público o deixaria encurralado, caso se mostrasse relu¬tante em aceitar.
Considerou então a possibilidade de esperar o fim de semana, com um jantar à luz de velas, regado com vinho e música suave na casa de Harry, porém acabou por afastar essa idéia também. Se James já não contara tudo ao pai sobre a conversa que tiveram, então ela mesma contaria.
Não seria como imaginara. Não haveria luar e música com Harry encarando-a no fundo dos olhos e dizendo que a amava e que desejava passar o resto da vida ao seu lado.
Talvez não fosse tão perfeito, mas seria correto. O am¬biente ideal não importava nessa altura dos acontecimen¬tos, disse a si mesma. Então, por que esperar?
Começou a subir a escada. O momento era propício, con¬cluiu. Harry estava terminando o trabalho que os unira. Por que não propor casamento no espaço que haviam construí¬do juntos, ela com muitas idéias, e ele com a execução? Era perfeito.
Convencida, Gina ficou muito frustrada ao ver que não havia ninguém no andar de cima. Pôs as mãos nos quadris, olhando ao redor e murmurando:
— Onde você se meteu, Potter?
De súbito lembrou-se do ônibus escolar que traria James de volta da escola e correu para a porta. Era dia de Harry buscar o menino. Gina relanceou o olhar para o relógio de pulso, enquanto descia a escada aos pulos. Harry devia ter acabado de sair.
— Olá! Onde é o incêndio? — perguntou Arthur quan¬do ela quase o derrubou.
— Desculpe, papai. Preciso correr. Tenho que alcançar Harry.
— Algum problema?
— Não. — Gina beijou-o depressa no rosto e livrou-se de seus braços. — Preciso pedir-lhe para casar comigo.
— Oh! Bem... — O choque foi grande, mas Arthur reteve-a. — Como disse?
— Vou pedir Harry em casamento. Já planejei tudo!
— Gina...
— Eu o amo, pai. E amo James. Não tenho tempo para explicar tudo, mas já pensei muito a respeito. Confie em mim.
— Tome fôlego e deixe-me... — Mas o Sr. Weasley enca¬rou a filha e percebeu que havia estrelas brilhando em seus olhos. — Vou torcer por vocês — finalizou.
— Obrigada. — Gina atirou os braços em volta do pes¬coço do pai. — Deseje-me sorte.
— Boa sorte. — Deixou-a partir e ficou observando-a sumir no final da rua. — Até logo, querida — murmurou.
Continua...
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