O Pedido



Naquela manhã o Três Vassouras estava apinhado de gente muito animada, como sempre ocorria nos dias de passeio de Hogwarts. Jack, Cassie e McGonagall (que tinham se tornado muito amigas) estavam sentados em uma mesa ao fundo e todas as outras mesas estavam ocupadas. Era até mesmo difícil escutar com a conversa muito alta que enchia o agradável ambiente.

- Ainda não me sinto bem em deixá-lo – se lamenta Cassie, muito desconfortável em sair de perto do filho por um instante que fosse. Se o marido e McGonagall não tivessem insistido tanto, provavelmente ela não teria pisado fora do castelo.

- O Jay vai ficar bem, o Victor está cuidando dele – Jack fala, entregando uma taça de hidromel para a esposa. A confiança que o vampiro demonstrava em relação ao irmão pareceu consolá-la bastante.

- Eu me preocuparia mais com o fato de Fred e Jimmy estarem lá com ele – Minerva contesta rindo, mas seu sorriso se apaga rapidamente porque Barker aparece na porta. Ela suspira desanimadamente enquanto cobre os olhos com uma das mãos. – Ah, não...

Arthur entra no bar cumprimentando um grupo de alunos do sétimo ano, que respondem muito animadamente erguendo suas canecas de cerveja amanteigada e gritando. Então ele se dirige ao balcão, se senta e passa a conversar com uma Madame Rosmerta muito sorridente. O velho cochicha algo no ouvido da dona do bar e recebe uns tapinhas no braço e uma piscadela marota como resposta.

A diretora observa a cena no balcão com um olhar furioso que não passa desapercebido por Cassie, que cutuca o marido e aponta com a cabeça para o balcão. Madame Rosmerta serve um uísque de fogo para o professor, que o bebe num gole só e pede outro.

- Hei Arthur, vem sentar conosco! – grita o professor de DCAT, não notando a expressão assassina que se forma no rosto de Minerva com seu convite. Enquanto o velho se aproxima, faíscas de ódio parecem sair dos olhos castanhos de McGonagall e Cassie se pergunta quando o desconfiometro do marido havia quebrado.

- Então isso é um encontro de casais? – fala Barker, sentando-se ao lado da diretora e tentando passar o braço por cima dos ombros dela, que se esquiva bem a tempo, aproveitando para dar uma cotovelada “acidental”nas costelas dele.

- Não seja desagradável – Minerva fala baixo o suficiente para que ninguém mais além deles escute e Jack troca com a esposa um olhar significativo. – E pensar eu que tinha ficado feliz por você ter encontrado outra pessoa para importunar – ela aponta com a cabeça para o balcão.

- Rosmerta? Ela também ficou feliz com isso... – ele provoca, sorrindo. - Sabe como é, há sempre um chinelo velho para um pé cansado.

- No seu caso uma ridícula pantufa de hipogrifo.

- Não fale de nossas intimidades em público, Minnie – Barker rebate e Jack na tentativa de não rir acaba cuspindo no chão metade do uísque de fogo que tinha bebido. – E aí, vocês querem comer alguma coisa?

- No momento, apenas o seu fígado – a diretora responde e o casal Mallory percebe que qualquer chance de conversar amigavelmente estava totalmente fora de cogitação.

- Ora! Com tantas outras partes mais interessantes da minha anatomia você vem falar logo do meu fígado – ele rebate, parecendo imensamente feliz com a crescente irritação dela.

- É, eu já ficaria satisfeita em arrancar essa sua língua afiada fora – ela procurava em vão por uma faca na mesa.

- Engraçado porque no outro dia não pareceu que você detestava tão assim a minha língua – mais uma vez Barker provoca. Os outros dois acompanhavam o duelo verbal movimentando as cabeças como se assistissem uma partida de pingue-pongue.

- Acho que detestar é uma palavra muito branda - ela fala entre os dentes. – Começo a lamentar que as Maldições Imperdoáveis sejam mesmo imperdoáveis.

- Então nós já vamos – Cassie fala pela primeira vez desde que a discussão começara, se levantando e tendo o gesto imitado pelo marido. Ambos forçam um sorriso, que acaba saindo constrangido.

- É, o Jay está lá sozinho... – ele completa, meio sem jeito.

- Isso mesmo, deixem-nos a sós – zomba o professor de transfiguração, dando mais uma golada no copo de uísque e fogo.

- Eu vou com vocês então – McGonagall interrompe e também se levanta, vermelha de raiva. – O ambiente aqui ficou insuportável.

- É uma pena. Eu até iria com vocês, mas marquei com a Rosmertinha mais tarde – ele prossegue, ignorando a indireta diretíssima que recebera, e o vermelho na face da diretora torna-se mais intenso. – É claro que você compreende, não é Minnie?

Sem mais nenhuma palavra, ela se retira pisando ruidosamente e deixando o professor de Transfiguração em meio a um ataque de risos. Felizmente as pessoas volta estavam entretidas o suficiente para não ter acompanhado nada do que acontecera. Cassie seguiu apressadamente a nova amiga, contendo-se para não rir também. Parece que com a idade Barker estava ficando cada vez mais incorrigível.

- Esse é você sendo sedutor? – pergunta Jack, se inclinando sobre a mesa com um sorriso debochado. – Não me parece estar surtindo muito efeito.

- Lembre-se de que eu sempre consigo o que eu quero. E quer apostar como dessa vez não vai ser diferente?

- Apostar contra você? Nunquinha! Mas que parecer impossível, ah parece.

- Vai me dizer que ela não está se mordendo de ciúmes?

- Mais um pouquinho e ela ia te morder verdade.

- Estou disposto a correr esse risco.

- Tchau, e boa sorte com a Rosmertinha.

- Vai logo, ou vai ficar para trás. E eu não ia querer que você perdesse a minha nervosinha preferida descontando sua raiva em quem estiver por perto – Arthur fala e o amigo sorri em resposta, se vira e sai apressado.

No vilarejo o clima estava agradável e havia uma boa quantidade de pessoas se espremendo na frente das vitrines, conversando alto e rindo. A algazarra era tamanha que ninguém notava uma certa massa invisível que ocasionalmente esbarrava em alguém na calçada.

Após ver McGonagall (com cara de que acabara de comer um feijãozinho com gosto de titica de dragão) Cassie e logo em seguida o professor Mallory saírem de vista no fim da rua, Jimmy puxa a capa de invisibilidade para o lado, revelando a si e a loira com seu casaco rosa claro que fazia suas faces rosadas perecerem ainda mais radiantemente belas. Eles estavam parados bem na frente do Madame Puddifoot.

- Meu cabelo tá bagunçado? – perguntou a garota ajeitando o topo da cabeça, onde um pequeno prendedor prateado em forma de flor prendia as franja partida de lado.

- Está perfeito – respondeu ele maravilhado. “O que nela poderia não ser perfeito?”, se peruntou, lembrando-se dos vinte minutos que passara tentando inutilmente dar um jeito na própria cabeleira ruiva antes de sair. – Vamos entrar?

Eles se acomodaram numa mesa mais distante, parecendo meio envergonhados pelo ambiente, coisa que não era necessária porque ninguém ali estava dando a mínima atenção para ninguém exceto seu respectivo par. Ambos comeram um pedaço de torta e tomaram chá olhando fixamente para a mesa e no mais completo silêncio.

- Não imaginei que esse lugar fosse tão... eargh – disse a garota quebrando o gelo, mas nem assim diminuindo o próprio constrangimento. – As outras meninas falam tão bem daqui. Pensei que isso aqui fosse romântico e não brega.

- Meio ameaçador, né?

- É tipo: se amem, isso é uma ordem! – ela brinca e eles começam a rir com gosto.

- Pra mim nada disso é necessário – ele joga uma “indireta” direta até demais.

- Pelo menos a torta é gostosa.

- É, mas ainda eu prefiro a da Dedos-de-mel. Te trouxe aqui mais para... – ele pára a frase no meio, fazendo um gesto vago e abrindo e fechando a boca como que esperando que as palavras que procurava fossem sair sozinhas com aquele movimento estranho. Estranhamente elas pareciam entrar ainda mais.

- Para? – a corvina encorajou.

- Teperguntarsevocêquernamorarcomigo – ele meio que resmunga, derrubando sem querer o garfo. Com a cabeça debaixo da mesa, ele recupera o fôlego antes de se levantar.

- Quê?

- Você quer ser minha namorada? – o ruivo novamente pergunta, dessa vez de forma audível, mas encarando firmemente o talher recém recolhido do chão.

- Si-sim – Crystal responde, muito vermelha.

Os olhares se encontram e ele se aproxima lentamente do rosto dela e a beija docemente. Era o primeiro beijo dos dois e apesar de meio desajeitado foi maravilhoso para ambos. Quando as bocas se separaram um pouco, ofegantes, eles foram cobertos por uma chuva de confetes cor-de-rosa e começam a rir.

- Quer ir até a Zonko’s? – ela pergunta ainda rindo.

- Você existe mesmo? – ele responde se levantando e lhe oferecendo o braço. – Vamos lá, minha namorada.

[...]

Já era bem tarde e os quatro garotos ainda estavam acordados. Jimmy estava há quase uma hora sentado na cama, olhando o mapa do maroto e cantando:

“Ela é minha menina
E eu sou o menino dela
Ela é o meu amor
E eu sou o amor todinho dela

A lua prateada se escondeu
E o sol dourado apareceu
Amanheceu um lindo dia
Cheirando a alegria
Pois eu sonhei
E acordei pensando nela

Pois ela é minha menina
E eu sou o menino dela
Ela é o meu amor
E eu sou o amor todinho dela

A roseira já deu rosas
E a rosa que eu ganhei foi ela
Por ela eu ponho o meu coração
Na frente da razão
E vou dizer
Pra todo mundo
Como gosto dela...”


- Será que dava para você calar a boca? Todo mundo já sabe que vocês estão namorando e ninguém agüenta mais escutar você cantar! – quase grita Fred, prosseguindo em seguida em tom mais brando, enquanto Jay e Al assentem. - Alguma novidade? – Ele pergunta, e o ruivo balança a cabeça negativamente, ainda murmurando a canção irritantemente. – Assim não dá! Seu pai fica montando guarda nos corredores e seu tio no jardim todas as noites. Como é que a gente vai conseguir sair pra treinar as transformações?

- E o que você esperava? Graças a sua idéia genial ele não tem mais o mapa pra nos vigiar. E papai tá careca de saber dos nossos passeios noturnos – responde Jay, abrindo uma revista de quadribol tão bruscamente que rasga um pedaço da página.

- E a sua mãe então: ela fica seguindo a gente o dia inteiro! Cara, seus pais são mais superprotetores que os meus – fala Al e em seguida boceja. – Já que não vai dar pra sair mesmo, acho melhor irmos dormir.

- E se nós treinássemos aqui dentro? – Os três olham Jimmy como se ele tivesse dito a maior besteira do mundo.

- Estão vendo? Foi só começar a namorar que ele ficou besta! – exclama Fred, emburrado, se jogando na cama.

- Pode falar o que quiser, hoje nada vai estragar o meu humor – responde o ruivo, sorrindo e guardando o mapa no malão. – Boa noite, então.

- Noite – respondem os três, impacientes.

Poucas horas depois, Victor novamente andava pelos gramados, respirando o ar úmido da noite. Enquanto vigiava seus pensamentos estavam bem longe. Ele tinha muita sede, mas não podia morder ninguém e isso o estava deixando louco. Contemplou o luar sentindo um enorme desejo de sair correndo, caçando qualquer coisa. Começava a detestar ainda mais o ócio do que a frente de batalha. Se não desse um jeito de sair logo dali ia enlouquecer.

Sentiu um cheiro estranho e se virou para o castelo, avistando um lobisomem escalando a parede exterior, próximo ao quarto dos meninos. Quase sorrindo, ele se transformou por completo em vampiro e, com suas grandes asas negras, voou agarrando-se ao inimigo e jogando-o com força em direção ao solo. Eles lutaram por alguns minutos e, tendo Victor vencido facilmente e o arrastado para uma masmorra, chamando o irmão em seguida.

O dia seguinte os irmãos Mallory e Arthur passaram interrogando o lobisomem já em sua forma humana, sem nenhum sucesso. Eles incumbiram Cassie de vigiar as crianças enquanto isso.

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