A Armadilha
Nesse fim de tarde (como não tinha aula) Jimmy, Fred, Al, Rose e Jay faziam um piquenique perto do lago. Eles estavam muito felizes e não faziam a menor idéia do atentado de lobisomem que ocorrera na noite anterior. Interrompendo um papo muito animado sobre quadribol, Cassie se aproxima parecendo meio nervosa e sendo cumprimentada animadamente pelo grupo.
- Olá, crianças. Estamos com um probleminha, filho... Tenho que te levar a um lugar imediatamente.
- Tudo bem, nós já terminamos – fala Albus, enquanto eles se levantam e começam a recolher as coisas para ir embora.
- Não precisam vir, garotos. Só o meu filho.
- Mas nós insistimos em ir com vocês. Se não incomodar, é claro – completa uma Rose sorridente.
- Algum problema? – pergunta Fred - Você tá tão esquisita, senhora Mallory...
- Não, não, está tudo bem. Vamos logo então – ela põe-se a caminhar apressada e para a surpresa deles, ruma para o lado da floresta em vez de ir para o castelo. Ela pára numa distancia considerável e surgem em volta deles meia dúzia de vampiros – Fiquem quietos e vai ficar tudo bem.
- Quem é você? – grita Jay enquanto os garotos, ainda meio surpresos, colocam as varinhas em riste.
- Eu sou quem vai te levar daqui, senão sua amiguinha vai morrer – responde a falsa bruxa com um sorriso sarcástico.
Ela puxa Rose retirando a varinha de sua mão e enlaçando seu pescoço com o braço, mas a garota se transforma numa borboleta e foge no ar. Os outros aproveitam a distração para lançar feitiços estuporantes contra seus oponentes e correrem mais para dentro da floresta, separando-se para dificultar o trabalho dos vampiros. Fred tropeça em alguma coisa e cai de cara no chão, virando-se, ele grita assustado ao perceber que tropeçou na verdadeira Cassie inconsciente. Obviamente, ela já havia sido pega, quando estava vigiando o filho. Uma mão tapa a boca do garoto e o arrasta até uma clareira enquanto ele se debate para se soltar, em vão.
Ao mesmo tempo, quatro pessoas estavam numa masmorra escura e úmida, que cheirava muito mal. Um deles era um lobisomem acorrentado à parede, sangrando e ofegando. Outros já haviam tentado de tudo para fazê-lo falar e agora Victor estava dando mais uma seqüência de socos em sua barriga e controlando-se o bastante para não deixá-lo inconsciente.
- Abre logo essa boca, seu desgraçado! Senão eu juro que acabo com essa sua vida medíocre – grita Victor, rosnando e mostrando os dentes.
- Não vai... adiantar mais... agora – responde o prisioneiro pausadamente, com a voz fraca e um sorriso vitorioso.
- O que você quer dizer com isso? – pergunta Barker perplexo.
- Há essa hora... ele já deve estar... bem longe... E o pirralho também.
- Uma armadilha! – grita Jack desesperado e os três desembestam porta afora.
Em poucos instantes eles saem correndo para fora do castelo e, já do lado de fora, ouvem um grito vindo da floresta e vêem luzes de feitiços sendo lançados entre as árvores. Os irmãos se transformam em morcegos e Arthur em dragão e, juntos, voam procurando pelos meninos.
Enquanto isso o efeito da poção polissuco já passara e John Hayter demonstrava sua real forma, alta e corpulenta, com os ralos cabelos castanhos claros emplastados a cabeça devido ao abundante suor e os olhos líquidos saltados nas órbitas. Para completar a sua figura assustadora ele vestia apenas os trapos das roupas que formavam seu disfarce de Cassie, quase que completamente rasgadas.
Durante meses ele se escondera em sua forma animaga (o testrálio) no meio daquela floresta, só esperando o momento certo de pegar o garoto que valeria muito como moeda de troca para sua causa: o velho Mallory entregaria o trono pela vida do moleque sem pestanejar. Desde que se tornara lobisomem sempre alvejara alcançar tal glória e agora por suas mãos a guerra teria fim, com seu lado saindo vitorioso. Ele ficaria rico e poderoso e sua paciência e obediência finalmente seriam recompensadas.
- Se você não vier comigo agora, esse neguinho aqui já era! – John grita, com os dentes muito afiados quase encostando no pescoço Fred e sorri ao ver Jay sair detrás de um arbusto, poucos metros a sua frente.
O garoto se aproxima lentamente, mas de repente uma coruja cinzenta dá um rasante, atacando Hayter no rosto. Seu olho esquerdo é perfurado pelas garras do animal que, ao receber um forte soco, bate numa árvore. Com o impacto do golpe Al volta a sua forma humana, mas completamente inconsciente e com um pequeno filete de sangue escorrendo da cabeça. John cai no chão gritando e dor e Jay aproveita para se transformar num cavalo alado e levantar vôo.
Num outro ponto da floresta Victor e Jack ajudavam Rose e Jimmy que até então lutavam sozinhos com os demais vampiros e Barker avista o lugar onde ocorria o outro embate. Hayter se levanta com uma mão sobre a ferida no rosto e lança um feitiço em direção de Jay, mas Arthur se põe na frente, salvando-o. O professor de trasfiguração, ainda transformado em dragão, é atingido em cheio desmaiando na mesma hora e o garoto aproveita para fugir. Jay, ainda com Hayter em seu encalço, corre para a mesma direção em que pensara ter ouvido a voz de seu pai.
John olhara para o céu, notando a lua cheia e começando sua transformação, com o pouco de lucidez que lhe restara percebera que a situação estava ficando crítica. Ele já não conseguiria fugir dali a menos que causasse uma grande distração. Sem pensar melhor, ele dá um forte impulso, alcançando o garoto e mordendo-o diretamente no peito e então sai correndo, deixando o corpo ensangüentado de Jay no solo. Mesmo completamente irracional, os instintos da criatura o mandam deixar aquele local imediatamente se quisesse sobreviver.
Os irmãos Mallory se separam e Victor continua protegendo Rose e Jimmy do último vampiro ainda em combate e Jack alcança John, atingindo-o com um soco tão forte que este cai inconsciente. Ele se vira para trás e só então nota o filho caído, com um grande buraco no peito. Jack abre um grande corte no próprio pulso esquerdo com os dentes e, com a mão direita, mantém o corte aberto enquanto uma enorme quantidade de sangue cai sobre o filho. O ferimento parece começar a fechar sob a pequena cascata de sangue.
[...]
Jack estava fraco pela falta de sangue com cortes profundos, mas que sumiam lentamente e Albus já acordara, mas com muita dor na parte de trás da cabeça. McGonagall e Longbottom carregavam Barker para a enfermaria enquanto Victor, após mandar um patrono contando o ocorrido para seu pai, se junta aos demais professores na capturara dos inimigos que restaram. Rose, Fred e Jimmy foram mandados para seus dormitórios pouco antes de Hayter ser enviado a Askaban.
Cassie sente um forte dor na cabeça quando acorda, em uma cama da enfermaria, já de volta ao castelo. Ela está tonta e enjoada e não faz a mínima idéia do que estava acontecendo, mas só tem uma coisa em mente: seu filho. Seu marido estava ao seu lado segurando sua mão, mas olhando para a cama ao lado.
- Jay... Eu devia estar cuidando dele... Onde ele está?
- Está bem aqui, sendo examinado – responde Jack, mais pálido do que de costume e visivelmente abatido e descomposto.
- O que houve com ele? - Ela se levanta e o vê com o peito envolto por bandagens, na cama que o marido observava, sendo examinado por Madame Pomfrey.
- Ele foi atacado – responde Jack e Cassie leva as mãos a boca, assustada e só então nota o enorme corte no pulso do marido. – Eu fiz o que pude, mas foi um corte muito profundo... Ele está muito mal.
- Como está o meu filho? – ela pergunta aflita para Madame Pomfrey, que já se aproximara deles com uma cara triste.
- Ele foi atingido no peito e não está se recuperando rápido o suficiente. Se ele fosse um vampiro completo talvez... – ela fala, recebendo um olhar surpreso do casal. - Sim, eu sei que ele é um vampiro. Minerva me contou. Mordida de lobisomem é uma das poucas coisas que pode ferir e até matar vampiros, e essa foi uma mordida bem feia.
- Ah, meu pobre filhinho – Cassie fala e começa chorar, encostando a cabeça no ombro do marido.
- Serei sincera: ele tem poucas chances.
- Quanto tempo? – Jack parece usar todas as suas forças para falar.
- Até amanhã talvez... – Madame Pomfrey também chora discretamente enquanto responde. Então ela vai em silêncio um pouco mais para o fundo da enfermaria aplicar essência de Ditamnio nas feridas de Barker, também em péssimo estado, que acabara de ser deitado num leito próximo.
- Cuide dele, Cassie. Eu vou dar um jeito – pede Jack com uma expressão surpreendentemente decidida.
- Aonde você vai?
- Não faça perguntas, apenas confie em mim. Nosso filho não vai morrer, eu juro – dito isso ele sai da enfermaria em silêncio.
Jack sente o corpo pesado e a mente rodando e, apesar de fraco, chega muito rapidamente ao laboratório de poções. Estava mortalmente pálido e com duas olheiras muito profundas sob os olhos agora vermelhos, dos quais corriam livremente grossas lágrimas e repetia para si mesmo suas próprias palavras “Não vai morrer... Não vai morrer... Não vai!”.
- Accio Segredos das Artes Mais Tenebrosas – com esse feitiço o velho livro de couro preto e desbotado entra voando na sala. O professor de DCAT o abre no capítulo Poções Proibidas e segue folheando até chagar numa poção chamada Sacrifício e salvação, que era simples, mas feita com ingredientes raros (que felizmente constavam nos armários do laboratório).
“...ela tem o poder de transferir a enfermidade de uma pessoa doente para outra saudável, desde que ambos a tomem...”, lia, enquanto se preparava para acrescentar o último ingrediente: o próprio sangue. Ele levou o braço esquerdo sobre o caldeirão que borbulhava e começou a reabrir o corte ainda não completamente fechado quando sentiu uma enorme dor em sua cabeça ao mesmo tempo em que um som de um forte impacto corta o ar.
- Me desculpe, mas eu não podia deixar você fazer isso – fala Alex, aparando o filho desmaiado, antes que ele caia devido ao forte do golpe que tinha recebido na cabeça. Sorte sua conhecer muito bem aquele castelo que com o tempo aprendera a odiar, senão provavelmente não teria chegado a tempo de evitar uma catástrofe.
O vampiro pousa o filho suavemente no chão, corta o dedo com os afiados dentes e deixa cair algumas gotas de sangue sobre o líquido, até então verde, que começa a soltar grossas nuvens de fumaça e assume um tom amarelo-fluorescente. Após consultar o livro aberto na mesa ele bebe metade, despeja o resto do líquido num frasco e ruma para a enfermaria.
A enfermaria estava abarrotada de gente: Cassie, McGonagall, Madame Pomfrey, Nick, Thomas, William, além dos desacordados Jay, Arthur e Albus, que já adormecera devido a uma poção do sono especialmente forte. Todos se viraram para as portas, escancaradas abruptamente por um resoluto Alexander Mallory.
- Trouxe o remédio – ele fala caminhando rapidamente até a cama do neto e administrando a poção ao garoto e empalidecendo mais a medida que os goles desciam pela garganta de Jay. – Agora você vai ficar bem, rapazinho. Nick, vá até o laboratório de Poções ajudar seu tio Jack, ele não está se sentindo muito bem.
O vampiro em questão obedece imediatamente, enquanto Madame Pomfrey corre até Alex preocupada com o que ele pudesse estar dando para o neto.
- Mas o que o senhor pensa que está fazendo? – ela pergunta com seu ar de mãe autoritária.
- Salvando uma vida, – ele responde sorrindo ao ver que Jay parece adquirir uma cor mais rosada, seu pulso aumentar e sua respiração fica mais forte. Pálido como um papel, Alex se deita no leito vazio mais próximo.
- O que o senhor fez? – pergunta Cassie muito emocionada, retirando as bandagens do filho e notando que milagrosamente não havia nem sinal de ferimento algum.
- Ele usou a Sacrifício e salvação, uma poção extremamente perigosa e proibida – responde Minerva comovida, enquanto todos os outros olhavam assustados o Imperador dos Vampiros. – Mas como a fez se não é um bruxo?
- Esperei Jack fazê-la – Alex responde num tom quase inaudível e, com um sorriso triste, prossegue se dirigindo ao filho mais velho, agora ao seu lado - Thomas, se eu morrer, confio que você cuide de tudo pra mim. Você é meu primogênito e assumirá o meu lugar e espero que fique de olho em todos por mim.
- Papai, o senhor não podia ter feito isso... – diz Thomas e grossas lágrimas escorrem dos olhos azuis-claros do vampiro.
- Entre perder um neto ou perder um filho, creio ter feito a escolha certa – o mais velho sussurra com uma careta de dor, levando a mão ao peito que se abria e começava a sangrar sob a camisa. Então ele fecha os olhos, inconsciente.
- Meu Deus! – fala Madame Pomfrey, segurando-lhe o pulso e depois conferindo a respiração. – Ele ainda está vivo.
- Pode ser que... – a frase de Cassie se cala no meio, enquanto ela chora abraçada ao cunhado.
- Sim, ele é muito forte e talvez sobreviva. Ele tem poucas chances, mas se tiver vontade de viver o bastante vai conseguir.
- Isso ele tem – Thomas responde, ainda chorando.
- Se ele sobreviver vai ter que ter cuidar ferimento para sempre, talvez nunca cicatrize completamente – diagnostica Pomfrey, com um ar cansado.
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