A Nova Aposta



McGonagall terrivelmente aborrecida ainda cumpria a aposta de, sempre que Barker desejasse, ir jogar xadrez com ele. Agora eles estavam na sala do professor, terminando mais uma partida incrivelmente longa para a inépcia que ele demonstrara até agora. A tarde toda fora gasta nessa competição nem um pouco empolgante.

- Xeque-mate – fala a diretora, pela sexta vez seguida. – Eu não sei por que você insiste em continuar jogando se sempre perde. Não tem a mínima graça nem pra mim que estou ganhando.

- Estou aqui por causa da sua agradabilíssima companhia, Minervinha. E olhe que eu já estou até melhorando, quase venci dessa vez.

- Eu estava deixando você ganhar, mas desisti. Você tão ruim que nem assim conseguiu.

- Se você não ficasse me distraindo eu seria bem melhor.

- Mas eu nem sequer abri a boca!

- Só o fato de você existir já é distração o bastante pra mim.

- Já chega, Barker! Eu não te agüento mais – enquanto fala nervosamente ela massageia as têmporas. – Por que não fazemos outra aposta? Se eu vencer a próxima partida não jogo nunca mais com você.

- De jeito nenhum. Eu não aposto quando não tenho nenhuma chance de ganhar.

- Não sabia que você era covarde – ela levanta uma sobrancelha tentando instigá-lo a jogar.

- Não sou covarde coisa nenhuma. É só que... – ele pondera por um momento e prossegue hesitante. – Está bem. Mas se eu vencer, você vai ter que me dar um beijo. De língua. E bem demorado.

- Nem morta! Ao contrário de você, eu não sou estúpida.

- Quem é covarde aqui, hein Minie? E é melhor mesmo que não apostemos, porque eu adoro jogar com você. Por falar nisso, amanhã vamos repetir is...

- Ok, mas saiba que é só porque eu sei o quanto você é medíocre no xadrez – ela o interrompe, falando com o dedo em riste e uma cara de pouquíssimos amigos. - E se eu vencer você também vai ter parar de se referir a minha pessoa com esses apelidos ridículos pra sempre.

- Ótimo, eu acabo inventando outros mesmo.

- Nenhum! Só vai poder me chamar de diretora McGonagall.

- Tá bom, nervosinha.

Cerca de quinze minutos depois Arthur vence com relativa facilidade, apesar dos esforços sobre-humanos da diretora. Enquanto as peças que sobraram do professor faziam sua costumeira dançinha da vitória, o que Minerva estava achando extremamente irritante, ele gargalhava como se aquilo fosse a piada mais engraçada do século.

- E não é que eu venci! ?! Acho que desconheço meu próprio talento.

- Eu não acredito que você perdeu de propósito esse tempo todo?!? – ela exclama entre os dentes. -Fez tudo isso só pra me enganar, seu canalha miserável de uma figa.

- É que eu sabia que mais cedo ou mais tarde você ia apostar comigo e eu estava certo, aliás, como sempre – ele continua debochando. – Sei bem o quanto você é competitiva, Miniezinha.

- Eu te odeio profundamente. Cada mínima partícula do meu ser te detesta. Se dependesse de mim você morreria sendo pisoteado por trasgos, devorado por quimeras ou coberto por milhões de mordidas de fadas mordentes...

- Não seja uma má perdedora, você é maior do que isso.

- Não há outra coisa que eu possa fazer em troca? Qualquer coisa, mas não me obrigue a... – ela sacode a cabeça, tentando espantar a visão de ter que beijá-lo – isso.

- Tem uma coisinha - ele sorri maliciosamente -, mas se eu disser você vai me bater de novo.

- Então vamos acabar logo com isso – furiosa é uma palavra muito leve para descrever o estado de espírito de McGonagall. Basta dizer que se olhares matassem haveria um professor a menos na escola

Ele se posiciona à frente dela, levanta os braços da diretora e os coloca em volta de seu pescoço e após um longo instante contemplando-a ele encosta os lábios nos dela, roçando-os suavemente. Delicada mais firmemente ele a segura pela cintura e a beija, enquanto ela se amaldiçoa por ser tão burra. Ela sente aquele beijo completamente diferente dos anteriores: mais doce, mais carinhoso, mais sincero... Minerva leva as mãos ao peito dele com a intenção de empurrá-lo, mas acaba adiando essa idéia “Afinal ele venceu a aposta e eu acho que sou obrigada a agüentar mais um pouquinho”. Ele aprofunda ainda mais o beijo e, quando as mãos iam descendo mais do que deveriam, ela se solta.

Arthur queria dizer algo engraçado ou inteligente, mas a visão da atordoada diretora muito vermelha, com os óculos embaçados e os lábios levemente inchados o deixara sem palavras. Involuntariamente ele sorri achando graça do próprio embaraço.

Ela não lembrava de já ter se sentido tão estranha antes. Era como se aquilo não tivesse acontecido com ela e o homem a sua frente também não era o mesmo professor insuportável de antes. Mas então ele abriu seu costumeiro sorriso arrogante e ela pareceu despertar desse breve devaneio. Antes que desse conta do que estava fazendo ela dá mais um de seus sonoros tabefes na cara do professor. Ela não sabe se por causa da intensidade exagerada do ato ou pela cara-de-pau do professor, mas sua mão até ficara doendo.

- Acho que isso está se tornando um mau hábito, Minervinha – ele debocha, levando a mão à face agredida.

- Você não falou nada quanto a não poder te estapear depois, certo? Agora, se o senhor me der licença, tenho der ir vomitar.

- Tudo bem, valeu a pena – sorri vitorioso, esfregando a marca vermelha na bochecha. - Não se esqueça de vir amanhã depois da aula jogar novamente. De repente esse jogo ficou muito mais interessante.

- Vá pro inferno – fala antes de sair batendo a porta.

- Se tivesse sua companhia, eu ia – grita, sendo ouvido por ela já no corredor.

McGonagall se dirige pisando forte até o banheiro mais próximo e, após se certificar de que ele estava completamente vazio, começa a chorar em frente ao espelho. Estava tão confusa quanto surpresa pelas próprias lágrimas porque quase nunca chorava. Descontrolar-se era algo absurdo e indigno para a diretora, mas que infelizmente estava se tornando cada vez mais freqüente graças a insistente e irritante presença do professor.

Cassie entra no banheiro e se depara com aquela cena, no mínimo, muito improvável. Ela não era muito íntima de Minerva, mas simpatizava muito com ela desde o tempo que tivera aulas com a então professora de Transfiguração em seu tempo de aluna. Cassie lutou consigo mesma por alguns segundos tentando se convencer a sair dali sem fazer barulho respeitando assim a privacidade da diretora, mas acabou se decidindo a ficar e conversar. Talvez ela precisasse de ajuda.

- Está tudo bem? – a diretora assentiu em resposta, secando rapidamente o rosto e tentando se recompor o mais rápido possível. – Eu posso ajudar em alguma coisa?

- Não. Obrigada, você é muito gentil – ela fala, reprimindo um soluço. Estava visivelmente envergonhada pela situação.

- O que houve?

- Nada, eu apenas fiquei nervosa.

- Foi o Barker, não foi?

- Por que ele não me deixa em paz?! ? – Minerva cai no choro novamente, se espantando pelas palavras que saem de sua boca. Ela precisava desabafar com alguém e Cassie aparecera na hora certa. – Por que ele simplesmente não desiste de me importunar?

- Já passou pela sua cabeça que ele pode estar realmente gostando de você? – as palavras de Cassie pareceram chocá-la. - Quer dizer, conheço o Arthur há muito tempo e ele nunca foi muito sutil com essas coisas...

- Ele está zombando de mim, isso sim!

- Eu não teria tanta certeza disso se fosse você. Não quero ser indiscreta, mas Jack me contou que ele está apaixonado de verdade – McGonagall olhou-a incrédula e então começou a rir.

- Mas era só o que me faltava mesmo! – ela fala garganhando e Cassie começa a rir junto. – Ah, Cassandra, você é muito engraçada. Mas que mau juízo você deve estar fazendo de mim! Me pegar numa situação ridícula dessas...

- De maneira alguma. E devo acrescentar que minha boca é um túmulo, caso queira conversar.

- Então por que não saímos daqui e vamos tomar um chá?

- Eu adoraria. Mas me chame de Cassie, por favor.

- Ótimo, Cassie.

[...]

Jimmy e Fred compraram durantes as férias um bom estoque de “Fusão da Fadiga” concentrada e agora pretendiam usá-la. Adivinhe em quem? Nos professores, é claro! Eles acordaram cedo e não havia ninguém acordado nos corredores quando entraram na ponta dos pés na sala dos professores e, como sabiam que mais cedo ou mais tarde seriam descobertos, colocaram tudo de uma só vez na garrafa de chá deles.

- Aí, tô cansadão! – fala Jimmy em meio a um bocejo quando os dois retornam ao dormitório onde os alunos já estavam começando a se levantar, menos Jay que já estava de pé desde antes da dupla de primos se levantar. O ruivo se espreguiça e deita para aproveitar alguns minutos de descanso, já que perdera parte de seu sono na aventura matutina. - Pelo menos vamos perder as primeiras aulas...

- Mais que isso, meu caro: seremos heróis na escola! Ficaremos famosos por nossa ousadia! Bateremos os marotos originais! – exclama o jovem Weasley, batendo orgulhosamente a mão no peito, enquanto Al dá um gemido muito parecido com “calem-a-boca...” e cobre a cabeça com o travesseiro.

- E vamos receber uma baita detenção – completa o outro e os dois se põem a rir, imaginando os professores desmaiados de cansaço.

Todos os professores tomaram, exceto Hagrid (se ele tomasse não sobraria nada pra mais ninguém) e Mallory (que nunca antes na vida gostou tanto do fato de detestar chá), e as primeiras aulas não ocorreram porque os únicos dois que permaneceram acordados e dispostos tiveram de ajudar Madame Pomfrey a preparar uma considerável quantidade de Poção Revigorante para dar aos demais. Levou um bom tempo até conseguirem administrar a poção para todos e mais tempo ainda até que fizesse efeito. Por fim, já era hora do almoço quando o último professor se levantou, ainda que meio sonolento.

McGonagall não precisou pensar muito para descobrir quem eram os criminosos e já foi logo interrogando os quadros que ficavam próximos ao local, apenas para confirmar suas suspeitas. E nem é preciso acrescentar que ninguém se surpreender com o que as pinturas disseram.

Ela intimou a dupla de primos para uma conversinha em sua sala e ficou os esperando enquanto massageava as têmporas com uma expressão cansada. Meio dia de aula perdido! Inevitavelmente a bruxa se lembrou dos gêmeos Weasley quase com saudades. Pelo menos eles respeitavam (um pouco) mais os professores.

- Posso saber por que vocês fizeram isso? – perguntou a diretora, furiosa, assim que os dois se sentaram em seus habituais lugares nas cadeiras em frente a escrivaninha desta.

- Fizemos o que exatamente? – Jimmy rebate com um sorriso debochado, quase idêntico ao que o primo mostrava.

- Não tente me fazer de boba, Potter! Sei que os dois foram responsáveis pelo que aconteceu aos professores esta manhã.

- Mas nós só estávamos querendo ajudar! Os coitados trabalham tanto e pareciam tão casados... – ironiza Fred, deixando a diretora vermelha de raiva e uma boa quantidade dos quadros na parede indignados. – Achamos que um cochilo lhes faria bem.

- Pois então vocês irão ajudar os elfos domésticos na cozinha durante um mês! Os coitadinhos também estão cansados, sabe?

- Mas diretora... – falam os dois ao mesmo tempo, com olhares suplicantes.

- Ah, não vão debochar disso também? Melhor assim. Agora saiam da minha sala e ai de vocês se eu ouvir mais uma só reclamação dos dois!

O boato do ocorrido correu rápido pelo castelo e, na manhã seguinte, Fred e Jimmy foram saudados e cumprimentados por alunos de todas as casas e se aproveitando da fama alcançada o ruivo tomou coragem e foi falar com Crystal, tendo o apenas Fred o observando de longe, já que os outros amigos estavam em aula. Ambos estavam com o horário livre a loira estava, como sempre, numa roda de amigas que ao verem o garoto se aproximar cochicharam algo que ele não pôde ouvir, soltando risadinhas maliciosas.

- Oi Crystal.

- Oi.

- Será que nós poderíamos conversar um pouco?

- Claro – responde a loira sorrindo, enquanto suas amigas não disfarçam nem um pouco o olhar fixo em Jimmy.

- A sós – ele fala e o grupo em volta dela se dispersa, todas com uma expressão decepcionada no rosto. – Bem, é que vai ter um passeio a Hogsmead depois de amanhã e eu queria saber se você gostaria de vir comigo.

- Eu adoraria, mas somos do segundo ano e mesmo que tivéssemos permissão dos nossos pais não poderíamos ir.

- Não se preocupe com isso, eu vou dar um jeito.

- Sério? – ele pergunta exultante e o garoto assente com um sorriso. - Que ótimo! E posso saber aonde o senhor pretende me levar?

- Na Madame Puddifoot, - as faces de Jimmy ficam mais vermelhas que seu cabelo enquanto a garota abre mais um sorriso, maior que os anteriores - se você quiser, é claro.

- Eu vou adorar – ela é interrompida pelo sinal que avisa o início da próxima aula. – Agora eu tenho que ir. Até mais.

- Até – fala o garoto, recebendo um beijo no rosto na despedida e corando ainda mais violentamente.

Jimmy sentia que ia explodir de tanta alegria, no seu rosto se abrira involuntariamente um sorriso tão grande que sua boca já estava começando a doer. O ruivo estava imóvel, ainda sentindo o perfume doce de Crystal e observando-a distanciar enquanto pensava em como depois de amanhã seria o melhor dia de sua vida, quando recebe um tapa na nuca de Fred, que já estava ao seu lado há algum tempo e o garoto ainda não tinha percebido.

- Ai! – fala Jimmy, “acordando”.

- É que eu estava falando com você, mas acho que cê tava fora do ar.

- Falando o quê?

- Eu perguntei o que ela respondeu, mas pela sua cara de bobo já deu pra perceber. Como é que você vai fazer pra levar ela até Hogsmead?

- Vou usar a capa de invisibilidade até chegar lá. Depois é só tomar cuidado pra nenhum professor reparar na gente.

- É, vai dar certo. Quem diria, hein? Você e a senhorita corvinal perfeitinha! E ainda dizem que coisas boas só acontecem com pessoas boas...

- Fala sério Fred, comparado a você eu sou um anjo.

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