Victor
Seis da manhã. O professor Mallory entra em seu quarto, senta-se na cama onde Cassie dormia profundamente, e retira um velho pedaço de pergaminho das vestes. Estava com a intenção de ver se não havia ninguém novo no castelo. O professor Mallory entra silenciosamente na enfermaria, indo até eles com as feições um pouco mais cansadas, porém não menos preocupadas.
- Juro solenemente que não pretendo fazer nada de bom. – ele se surpreende ao ver que o mapa lhe responde: “O senhor Pontas se recusa a colaborar com um professor. O senhor Aluado só mostra o mapa aos Marotos. O senhor Almofadinhas manda o professor Mallory não se meter no que não é da sua conta. O senhor Rabicho lhe deseja um bom dia.” – Mas era só o que me faltava!
- O que houve? – pergunta a bruxa, sonolenta.
- Nada, amor. Volte a dormir, tivemos uma noite longa.
- Quem está com o Jay?
- Victor, ele veio ficar conosco. Agora descanse, eu só vou tomar um banho e voltar pra enfermaria. Logo começam as aulas.
[...]
Victor estava sentado numa cadeira, junto ao sobrinho, olhando pela janela a floresta lá fora. Ainda hoje começaria a vasculhar todo o terreno em volta do castelo, e isso ia dar trabalho.
- Como ele está? – pergunta Jack ao irmão mais velho, que sempre fora dos outros três com quem ele se dava melhor.
- Dormindo como um bebê. Como esse garoto cresceu rápido, está a sua cara.
- É, está mesmo – Jack responde com um bocado de orgulho. – Eu cuido dele agora, você já pode ir tomar seu banho. Suas coisas já estão no quarto.
- Ok. Passo aqui mais tarde pra vê-lo, e depois vou dar umas voltas por aí. Tenho que ver uma coisas pra saber se está tudo bem.
- Victor – o irmão já estava na porta e se vira. – Obrigado por vir.
- Não precisa agradecer.
Os outros quatro marotos acordaram bem mais cedo para ir ver Jay na enfermaria. Eles esbarraram com um sujeito muito parecido com o professor Mallory, só que mais pálido, com cabelos e barba compridos e os olhos mais penetrantes e de um azul muito claro, usando uma camisa azul-escura de mangas curtas, que deixava à mostra as duas tatuagens: uma em cada braço, de dragões negros que olhavam curiosos para os meninos, enquanto se movimentavam rastejando entre o ombro e o cutuvelo. Ele olhou para os três e sorriu aristocraticamente.
- Jay ainda está dormindo. Por que vocês não voltam depois de tomarem um café? – falou o homem de porte altivo, recebendo como resposta um olhar muito confuso. – Eu sou tio dele, Victor Mallory – fez uma leve reverência. – E vocês são James, Albus, Fred e Rose, certo? – eles assentiram. – Então é isso... Nos vemos por aí. Tenham um bom dia, crianças!
- Como ele sabia quem somos? – Fred fala, curiosíssimo, depois que Victor se distancia.
- O Jay deve ter contado pra ele. – constata o moreno, enquanto se punham á caminho do salão principal.
- Duvido. Ele deve ter usado legilimência vampírica – Rose constata, com cara de sabe-tudo.
- O vampiros tem isso? – Só então Jimmy se dera conta que esse tio do amigo também era vampiro.
- Se tem! E a legilimencia deles é bem melhor que a dos bruxos. Eles são capazes de ler mentes e hipnotizar pessoas apenas olhando-as nos olhos. Só naquele olhar que ele nos deu deve ter lido parte de nossas mentes. A do Fred deve ter lido inteira, se é que tem alguma coisa lá dentro.
- Rá! Se eu me importasse com o que você diz, priminha, talvez até estivesse ofendido - ele responde.
- Se forem começar a brigar, é melhor esperar até o Jay acordar. Ele não gostaria de perder o Fred apanhando de uma garota – fala Albus, enquanto seu irmão procurava por uma certa loira na multidão de alunos.
[...]
Quando o vampiro retorna à enfermaria, Jay ainda estava na cama, conversando com os pais. Os dois estavam sentados ao lado do leito, de mãos dadas e visivelmente abatidos, mas falando o mais alegremente possível com o filho.
- Oi, tio Victor! O senhor veio nos visitar?
- Melhor que isso, vou ficar uns tempos por aqui. O seu avô me mandou pra cuidar de vocês, porque você nos pregou m belo susto – ele coloca a mão no ombro do sobrinho, que o olha encabulado como quem quer pedir desculpas mas está com vergonha. – Como você está?
- Ótimo, nunca estive melhor. Nem sei mais o que eu estou fazendo deitado aqui.
- Se é assim, pode ir. Mas prometa que vai se comportar – fala Cassie, parecendo um pouco menos preocupada.
- Isso mesmo. Nada de estripulias, ok? – completa Jack e Jay assente efusivamente.
- Seus amigos estiveram procurando por você – Victor deixa o garoto interessado -, mas como você estava dormindo ficaram de voltar mais tarde. Se você correr, ainda pega eles antes da segunda aula.
- Beleza – ele pula da cama sorridente. – Fui.
Os três se olham enquanto o menino vai embora feliz.
- Alguém suspeito? – o vampiro mais velho pergunta quase em tom de sussurro.
- Não. Nem dentro do castelo nem na floresta. E sem a mínima chance de ter alguém sob o efeito de um Imperius.
- E eu andei verificando Hogsmead, definitivamente não tem nada lá – completa a bruxa.
- Vocês não acham que seria melhor contar pro garoto o perigo que ele corre?
- Ninguém mais do que eu quer proteger o meu filho. Mas Victor, ele é só uma criança – ela começa a chorar, encostando a cabeça no ombro do marido.
- Vocês estão certos, ele é muito novo. Mas, em todo caso, temos que impedir que ele saia sozinho por aí e eu vou rondar os jardins durante a noite e vocês continuam cuidando dos corredores. Se alguém tentar alguma coisa, nós saberemos. Mas agora vou tranqüilizar o papai, ele me pediu notícias assim que eu pudesse.
Victor retira de dentro do bolso das vestes uma varinha de mogno e, sob o olhar surpreso do irmão e da cunhada, fala “Expecto patronum!”, fazendo um morcego prateado-luminoso sair de sua varinha voando pra fora do castelo.
- Nós podemos conversar um pouco a sós? Na minha sala? – pergunta Jack, puxando o irmão pra fora da enfermaria.
- Claro, maninho.
Os dois caminham apressadamente até o gabinete do professor de DCAT, com Jack bufando impaciente a cada dois passos. Ele estava estarrecido, como podia não saber que o irmão também era bruxo? Como ele guardara isso em segredo por mais de um século? E por quê? Mas o que mais incomodava era ser enganado por um de seus irmãos, em que confiara plenamente desde o primeiro momento de sua vida.
Doía-lhe saber que compartilhava com o irmão o que o tornara tão diferente do resto da família e o fazia se sentir excluído. E nem por um só momento desconfiara disso. Como sua vida teria sido mais fácil se ele soubesse!
- Você também é bruxo? Desde quando? – Pergunta Jack, chocado com a novidade.
- Desde antes de você. Foi por isso que papai me mandou aqui, ele achou que seria mais fácil pra mim me misturar nesse castelo – responde o vampiro mais velho, guardando a varinha com uma risada sem graça. – Me desculpe, tinha me esquecido de que você não sabia.
- Todos esses anos eu pensei que fosse o único de nós quatro! Por que você nunca me contou?
- E que graça teria? O mais legal era poder colocar a culpa em você e nos seus feitiços acidentais todas as vezes que eu aprontava alguma. Sem contar que o Thomas e o William ficavam chateados por não poder fazer aqueles troques de que você tanto se gabava quando era pequeno e eu não queria magoá-los mais ainda. E também eu fiquei com vergonha de que as outras pessoas soubessem, você sabe o quanto os outros vampiros acham desonroso ser mestiço.
“Então eu deixei de lado essa coisa ser bruxo. Contei pros nossos irmãos faz pouco tempo, mas me esqueci de contar pra você. Não usava essa varinha há décadas!”
- E papai, ele sabe?
- Ele sempre soube.
- Mas se ele sabia, por que ele não gostava de mim?
- Do que você está falado? Papai te adora, ele não pára falar de como se orgulha de você de do Jay.
- Eu não entendo, ele sempre preferiu vocês...
- Isso não é verdade.
- Papai nunca me deu atenção, estava sempre me evitando...
- Ah! Mas isso é compreensível.
- Não estou entendendo.
- Deixa eu ver como explicar... Você se lembra quando eu e o Thomas começamos a tocar piano? O papai logo sumiu com o piano lá de casa. E teve também quando o William decidiu ser pintor e papai proibiu, dizendo que pintar era coisa de mulher e desocupado. E tem esse castelo também...
- E o que isso tudo tem a ver? – Jack interrompe, impaciente.
- Mamãe tocava piano e pintava e adorava Hogwarts, vivia nos contando histórias daqui. Ele evita tudo que o faz se lembrar dela. E também é por isso que ele não gosta dos bruxos. Papai não admite, mas ainda sofre muito com a morte dela.
- Mas... Então o que há de errado comigo?
- Jack, você tem os olhos dela. De todos nós, é o que mais se parece com a mamãe.
Jack estava chocado. Ele sabia que seus olhos eram cor de mel como os de sua mãe, mas nunca os havia visto porque não tinha reflexo. Sentiu um nó na garganta, culpa e, ao mesmo tempo, um imenso pesar pelo pai. Sua mãe morrera há quase duzentos anos... E todo esse tempo ele pensava que era tratado diferente por ser bruxo!
- Eu não tinha como imaginar. Ele nunca me disse nada.
- Nem pra mim, por isso não conte nada pra ele. Você sabe como ele é fechadão.
- Obrigado.
- Pelo que dessa vez?
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