Dois Jogos e Uma Aposta



O clima estava bom e o campo de quadribol completamente lotado. Isso porque acontecia um jogo entre Grifinória e Corvinal, desafortunadamente empatado nos cento e dez pontos e as torcidas estavam muito exaltadas com o placar. Al, Rose, Jay e Fred principalmente. Fred conseguira (não se sabe como) uma carga de fogos bem grande para usar hoje quando seu time vencesse e ficaria terrivelmente chateado se não pudesse gastá-los. Mas a competição estava muito difícil, apesar de Jimmy estar jogando excepcionalmente bem (o ruivo marcara sozinho setenta pontos!). Agora os quatro gritavam “Potter não nega aos seus!”, em coro com o resto da torcida, parando ocasionalmente para vaiar algum adversário.

Também na arquibancada, Minerva estava sentada com os olhos fixos no jogo. Sua postura rígida e os lábios apertados num sinal concentração denunciavam o quanto ela estava absorta na partida. Observava atentamente a tudo tentando mostrar-se imparcial, mas tinha a casa de Gryffindor no coração e estava se segurando pra não gritar com o batedor não muito eficiente do time dos leões.

- Esse lugar está ocupado? – Arthur, de pé e com um sorriso amável, fala apontando para a poltrona vazia ao lado da diretora.

McGonagall então fecha os olhos, como se esperasse que ele sumisse quando voltasse a abri-los, Barker era a única coisa que faltava para estragar seu dia completamente. Respirou profundamente antes de responder e, ao fazê-lo, fez questão de não mover os olhos nem um centímetro da direção do jogo.

- Está sim, a minha enorme aversão por você está sentada nele – não é preciso nem dizer que ela estava de péssimo humor.

- Ai, essa doeu mais do que o soco – ele se senta, falando debochadamente. - Por que tanta amargura nesse coraçãozinho, Minie?

- Não me chame assim! – Ela lhe lança um olhar furioso, ponderando se tentar ignorá-lo surtiria algum efeito. Provavelmente não. – Será que dava pra você fingir só por um dia que não é tão detestável?

- Mas isso não teria graça nenhuma! Eu perderia metade do meu charme...

Nesse momento a conversa é interrompida quando o apanhador da Corvinal captura o pomo e a torcida explode em gritos, alguns contendo sonoros palavrões. Com o jogo encerrado, Jimmy desce de sua vassoura dando socos no ar enquanto os alunos começam a deixar as arquibancadas.

- Droga! Não acredito que perdemos – Barker, que também era grifinório roxo, grita exasperado. - Não é pra menos, nosso apanhador é uma mulher – ele resmunga imitando gesto do garoto.

- Sabe, das centenas de asneiras que você já disse essa é a maior – ela disfarça o próprio aborrecimento quanto ao resultado na raiva que sente do professor. – Qual é o problema de ela ser mulher?

- Asneira por quê? O único campo onde superamos as mulheres é no esporte, e isso é um fato incontestável.

- É? Aposto que eu capturaria o pomo bem mais rápido que você.

- Aposta aceita! – Ele aperta a mão dela efusivamente e se levanta. – Sábado a tarde, e se prepare para perder feio.

- O quê? Eu não estava falando sério – ela responde enquanto os dois são empurrados pela multidão que desce das arquibancadas aos berros.

- Mas eu estou. Se você vencer eu passo a “fingir que não sou tão detestável” – ele falou ironicamente, mas ela pareceu se interessar. – Mas se eu vencer, você volta a jogar xadrez comigo. Feito?

- Sim, mas... – antes que ela pudesse terminar a frase, ele já tinha sumido no meio de dezenas de alunos, que formavam um enorme tumulto se espremendo na tentativa de passar.

Jimmy, apesar de ter jogado muito bem, não tinha gostado nada do resultado da partida e, juntamente com seu primo maligno, tinha bolado uma vingança a altura: os dois cobriram o vestiário do time da Corvinal de bombas de bosta, gastando todo o seu estoque pessoal. Fato que fez com que eles passassem a ser detestados por essa casa, além de receberem mais uma longa [e bota longa nisso] detenção.

- Valeu a pena – fala Jimmy, tentando não parecer muito chateado com o castigo ao voltar com Fred da sala da diretoria, encontrando o resto dos amigos no salão comunal.

- É bem feito pra aqueles idiotas – Fred não estava nem ligando, já tinha se acostumado com as detenções e até achava que aquela tinha sido relativamente leve se comparada ao resto da sua enorme coleção.

- Pena que a Crystal também é da Corvinal, né? – Insinua Rose, com sarcasmo.

- Eu não tinha pensado nisso! Ela vai me odiar. Eu sou um completo idiota – o ruivo dá um tapa na testa enquanto fala, visivelmente preocupado.

- Já isso não é novidade – o primo debocha.

- Cala a boca, Fred! Ela não vai querer olhar mais na minha cara.

- Então não vai ficar muito pior de que era antes – brinca Albus, satisfeito por não ter ajudado os dois dessa vez. Quase sempre que eles se metiam em encrenca também sobrava pra ele.

- Mas veja pelo lado bom: não tem como piorar – Jay também brinca, se divertindo com o desespero do amigo.

- Vocês não estão me ajudando muito desse jeito.

- E quem aqui está querendo ajudar? Por mim essa nerdzinha, sem ofensas prima, e a casa dela podem ir pro espaço – repentinamente Fred usa seu “sorriso diabólico” (nome dado por Rose para a expressão do primo), como sempre faz quando tem uma idéia maldosa. – E falando em ir pro espaço, acabei de ter uma idéia de uma brincadeirinha pra fazer com a Madame Nora. Espero que essa história de “os gatos sempre caem de pé” seja verdade.

Um brilho malicioso surge nos olhos de Jimmy, já mais animado.

No dia seguinte, para o desespero de Filch, a pobre gata amanhece pendurada por uma croda prateada no alto da torre de astronomia, fantasiada de astronauta trouxa.

[...]

Agora os cinco estavam sentados em seus lugares habituais na mesa, jantando e conversando trivialidades. Então Crystal emerge de um grupo grande de meninas, caminha até eles e se senta sem a menor cerimônia ao lado do ruivo, que (pasmem!) fica completamente corado.

- Oi, Jimmy!

- Oi – ele responde, agradecendo a Deus por ter conseguido falar aquela mísera palavra sem gaguejar.

- Eu queria falar com você sobre o que vocês fizeram no vestiário – Crystal fala e Fred engasga com o suco, enquanto os outros estão tentando segurar o riso. – Eu achei muito bem feito! Aqueles metidos do time se acham o máximo – agora os cinco arregalam os olhos. Aquela não era nem de longe a reação que eles esperavam da garota.

- Sério? – pergunta o ruivo, incrédulo com a própria sorte.

- É, foi hilário! E eu queria te pedir uma opinião. É que tenho uma amiga, a Jane, ela tá arrasada porque uma garota da Sonserina roubou o namorado dela, e eu queria fazer algo a respeito – diz a loira, enquanto Rose vira os olhos para o teto que mostrava o céu limpo de nuvens.

- Hum... Uma vingança, certo? – pergunta o mais velho dos irmãos Potter, feliz porque sua fama de pestinha finalmente lhe serviria para alguma coisa.

- É, algo leve, só pra ela aprender a não mexer com as minhas amigas – Crystal completa, com um sorriso travesso. Fred esfrega uma das orelhas num gesto cômico de quem parece não acreditar no que está escutando.

- Ok! Eu vou te ajudar – responde Jimmy, pensando “Te daria um dos meus rins se você quisesse...”.

- Obrigada, você é um amor! – ela fala e dá um beijo na bochecha de Jimmy, que fica ainda mais vermelho e nesse momento despencam os queixos dos quatro observadores atentos. – Agora eu tenho que ir, mas a gente se vê depois pra combinar o plano, certo?

- Certíssimo! Que tal amanhã, depois da aula? Sabe, depois a gente pode tomar um suco, dar um passeio por aí – ele responde, demonstrando mais ânimo do que gostaria.

- Par mim tá ótimo. A gente se vê – ela se despede, sorrindo.

- Até amanhã – ela volta para sua mesa e ele suspira. – Alguém me belisque. Aaaaaaaaaaaaai, não precisava ser os quatro ao mesmo tempo!

- É, ela á doida – comenta Fred e todos assentem, menos Jimmy que a esta altura já estava em outro planeta.

[...]

Dias depois, Barker estava sentado na arquibancada do campo de quadribol, segurando o pomo com uma das mãos e a vassoura com a outra enquanto esperava e adversária. Observava os tons diferentes de laranja que começavam a surgir nas nuvens demonstrando o fim da tarde e ocasionalmente alguns alunos que passeavam em grupinhos perto do lago e nos jardins. Ao ver que a diretora se aproxima, ele se levanta e os dois se cumprimentam com um leve aceno de cabeça.

- Não achei que o senhor tivesse levado a sério essa bobagem de aposta, me surpreendi quando mandou me chamar – ela argumenta, num tom cético. Mesmo assim ela tinha sua vassoura, porque aquilo parecia bem com o tipo de brincadeira sem graça de que o professor tanto gostava.

- Ainda dá tempo de desistir, Minervinha querida – ele se inclina um pouco para frente, de modo a olhá-la nos olhos, com seu sorriso debochado de sempre. - De qualquer forma, não ficaria bem para mim, como cavalheiro, lhe infligir uma derrota vergonhosa.

- E perder a chance de calar essa sua arrogância? Nem pensar.

A diretora e o professor, já no campo e devidamente montados, se posicionam e então ele solta o pomo e os dois se põem a perseguir o pequeno brilho dourado incansavelmente. Alguns alunos se juntam para ver a cena bastante peculiar e depois de algum tempo observando, começam a também apostar entre si sobre quem seria o vencedor.

Agora ambos estavam voando baixo. Ela estava à esquerda dele e apenas duas polegadas à frente. Subitamente o pomo se vira para a direita e, como eles estavam emparelhados, na virada brusca de Minerva o cabo de sua vassoura atinge o professor direto na cabeça com bastante força, e este se desequilibra e cai sobre a arquibancada.

Arthur acorda cerca de uma hora depois na enfermaria com uma baita dor de cabeça. Após se autocensurar por estar fazendo idiotices como essas mesmo já sendo um homem de certa idade, ele se senta na cama. O movimento lhe causa certa dor e ele faz uma careta enquanto olha em volta tentando entender o motivo de estar ali. Minerva, que estava conversando com madame Pomfrey, nota que ele acordou e se aproxima.

- Como você se sente? – ela pergunta, aparentando apreensão enquanto se sentava num leito vazio ao lado.

- O que eu estou fazendo aqui?

- Bom, sem querer eu te acertei quando ia pegar o pomo, você caiu e acabou ficando inconsciente – ela fica ligeiramente vermelha enquanto fala. – Os alunos me ajudaram a trazê-lo.

- Alunos? Que alunos? E quem é você? – Ele tem uma expressão confusa enquanto fala. – Aliás, quem sou eu?

- Ah! Mas era só o que me faltava – agora estava realmente nervosa. “Amnésia não, por favor, qualquer coisa menos isso”. - Você não se lembra mesmo?

- Brincadeirinha, Minie – ela parece não ter gostado nada da piada, nem do uso o apelido. - Como eu poderia me esquecer de alguém tão “delicada” – ele aponta para a própria cabeça, irônico - como você? Quando formos jogar xadrez, acho melhor eu ir usando capacete.

- Como assim irmos jogar xadrez?

Ele retira do bolso do casaco, com seu costumeiro ar debochado, a bolinha dourada que tinha capturado um instante antes de cair. Quando ela o trouxera, nem lembrara de procurar pelo pomo e só agora se dava conta de que ele tinha vencido a aposta.

- Se você preferir podemos jogar streap pôquer, meu bem.

Ela se levanta e sai bufando enquanto Barker começa a rir.

[...]

Naquela noite, os quatro grifinórios estavam em seu dormitório se preparando para dormir e conversando sobre a condição de vampiro de Jay.

- Eu tenho uma dúvida. O sol não deveria machucar você? – indaga Jimmy.

- Não, ele só me enfraquece. Não viramos pó, se é nisso que você estava pensando - O garoto sorri, divertido. - E também podemos atravessar água corrente e não precisamos dormir num caixão nem sob a terra na qual nascemos.

- Que? – o ruivo estava visivelmente confuso. – Tá, o lance do caixão eu já conhecia, mas o resto... Como é que é mesmo?

- Só lendas bobas, assim como aquelas que dizem que somos capazes de causar tempestades e tudo mais. Mas prata de lei e mordida de lobisomem realmente nos ferem e ,se uma estaca ou algo do tipo atravessar nosso coração, já era.

- E quanto aos nascidos assim, por que são tão raros? - agora é Al que demonstra curiosidade.

- Porque a grande maioria de nós é estéril. É isso que diferencia a nobreza do resto dos vampiros: podemos nos reproduzir, mas ainda assim somos menos férteis que os mortais.

- E por que vocês não são bobões como os vampiros que conhecemos? – pergunta Fred, indiscreto como sempre.

- Porque provavelmente aqueles que vocês viram não eram vampiros de verdade. Isso ocorre quando se bebe sangue demais de alguém: o sujeito vira uma espécie de vampiro-zumbi, burro e sem poderes. Um bruxo ou trouxa só se torna vampiro quando bebe sangue de vampiro – responde Jay em tom casual -, é assim que transmitimos nosso veneno.

- Quer dizer que todo mundo que vocês mordem fica daquele jeito? – pergunta Jimmy, com os olhos arregalados.

- Não, aquilo só acontece quando se bebe quase todo o sangue da vítima, porque se bebermos todo ela morre. Mas nós normalmente tomamos só um ou dois litro por vez. E quando bebemos pouco não faz diferença, na verdade nem dá pra saber se você foi mordido ou não – o jovem vampiro fala e percebe as caras de assustados dos amigos. – Não se preocupem! Se eu for morder alguém, certamente não será um menino (essa última palavra ele fala com cara de nojo). Boa noite pra vocês, vou dar uma volta por aí.

- Tchau – respondem os três ao mesmo tempo, trocando olhares significativos.

Assim que o amigo sai, Jimmy vai até a porta dar uma espiada, faz um sinal afirmativo para os outros dois e então faz um sinal-da-cruz, voltando para sua cama.

- Nós precisamos de um crucifixo urgente – diz Fred, com os olhos arregalados. – Só pra garantir.

- Isso só funciona em filme de trouxa. Na verdade eles não têm medo de cruzes – corrige Al, como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

- Meu maninho tá ficando igual a Rose! E posso saber como você sabe disso? – pergunta o ruivo, cobrindo-se e ajeitando os travesseiros.

- A Rose me falou – o moreno responde e os três riem. – E também porque o professor Mallory usa um crucifixo no pescoço. Vocês não notaram?

- E alho? – pergunta Fred.

- Nem pensar! Daí nós vamos espantar o Jay e as meninas também – o ruivo mal termina de falar e já pega no sono, já Fred demora um pouco mais (dois, talvez três minutos) para começar a roncar. Só Albus não consegue dormir muito bem naquela noite e, nas poucas ocasiões em que pega no sono, tem horríveis pesadelos com dentes anormalmente grandes e com provas para qual ele não estudara.

O dia seguinte chegou trazendo o Fred mais animado que seus quatro amigos já haviam visto, isso porque era o dia da final do campeonato de Justas entre as casas, que seria um clássico GrifinóriaXSonserina. Todos os alunos a casa de Griffindor passavam por ele dando tapinhas em suas costas e lhe desejando boa sorte, o que ele respondia com “Vamos esmagar esses babacas!”, dando um soco no ar. Nada poderia dar mais prazer ao jovem Weasley do que a perspectiva de acertar uma lança nos seus arquiinimigos sonserinos, especialmente Kevin Soquinho de Moça Drebber (o apelido pegou mesmo).

Jimmy organizara a torcida grifinória, distribuindo fogos, apitos e bandeirolas escritas com “Viva a Grifinória” e “Sonserina fede” além de puxar o grito de “Grifinóóóóória, Grifinóóóóória!”, cantado até mesmo por alguns lufos e corvinais quando os times vestidos de vermelho e verde entraram em campo montando seus respectivos cavalos alados.

A partida só durara cerca de quarenta minutos, com Drebber sendo o primeiro a cair, derrubado por uma exagerada investida de Fred que, sorrindo, recebeu as vivas da torcida que gritava “Weasley bateu, Drebber se f*” (outra criação genial de Jimmy), que fez com que a diretora fosse até a plataforma onde a lufa Meg Cole narrava a partida para pedir que a torcida se calasse. Fred foi o terceiro de seu time a cair, sob vaias dos torcedores, mas ficou muito feliz porque seu time vencera com dois jogadores de vantagem sobre o adversário, conquistando mais duzentos pontos para a Grifinória, que já estava bem na frente na disputa da taça das casas, além do indescritível prazer de derrotar os arrogantes sonserinos.

A disputa terminou com Meg dizendo “Os leões deram um banho nas serpentes” e um colorido vermelho de centenas de pequenos leões feitos de fogos surgindo sobre o campo, onde os vencedores eram carregados por uma pequena multidão de alunos.

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