As Justas e o Natal
Estavam nos jardins do castelo os professores Hagrid, Barker e Mallory e um grande grupo formado de alunos de todas as casas. Todos (com a exceção de Hagrid) estavam segurando algo que se parecia com o cabo de uma lança e vestindo um capacete e uma espécie de armadura reluzente que lhes cobria o busto e os braços, tudo no melhor estilo medieval. Ao lado deles pastavam felizes os dezoito cavalos alados que Jack arrumara para o Torneio de Justas, e que já tinham virado o mais novo xodó do professor de Trato com as Criaturas Mágicas.
Após pedir por silêncio diversas vezes e só chamar a atenção dos alunos muito agitados devido a um assovio altíssimo de Barker, o professor de DCAT começou a explicação sobre as justas. Ele, assim como os outros dois professores, parecia extremamente feliz com a animação dos garotos.
- Como vocês já devem saber, a justa é um esporte muito antigo e já foi o mais popular entre as criaturas mágicas. Bom, ela é feita de três combates que se consistem basicamente em derrubar o oponente de seu cavalo usando a lança, assim – Jack movimentou o cabo que estava em sua mão para frente, que cresceu com uma força assustadora, transformando-se numa lança completa com a ponta em forma de punho fechado. – Cada combate vale um ponto e quebrar a lança ao acertar o oponente vale dois. E essas armaduras que vocês estão vestindo servem para, além de lhes proteger do impacto, não deixar que atinjam o solo ao caírem.
- Elas estão enfeitiçadas para pararem a cerca de um metro e meio do chão – completa o professor de Transfiguração, exultante. Se tinha uma coisa que ele gostava tanto quanto quadribol eram as justas – Agora o professor Mallory e eu faremos uma pequena demonstração para que vocês possam entender melhor.
Os dois montam em seus respectivos cavalos e se distanciaram um do outro, ganhando altitude. Após um grito de “Já!” de Hagrid, eles se põem a voar em toda a velocidade, um contra o outro. Quando a distância se torna pequena, ambos “soltam” (é assim que se chama o movimento feito antes) suas lanças, acertando em cheio os oponentes. Jack se segura com alguma dificuldade e Barker cai do cavalo (nesse momento os alunos prendem a respiração, observando-o despencar de uma altura bastante considerável), mais pára pouco antes de atingir o solo.
- Alguma pergunta, garotos? – ele fala, após bater com a varinha no peito da armadura e, com isso, ser pousado suavemente no chão.
- Posso tentar? – Pergunta Jimmy, super excitado.
- Claro. Todos, formem duplas. – fala o professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, descendo de seu cavalo. - Não temos cavalos pra todo mundo, por isso formem uma fila, que para irmos tentando.
Todas as duplas vão treinando, sob a supervisão atenta dos professores. A cada minuto um aluno despencava até bem perto do solo, sendo em seguida apanhada por Hagrid, côo se fossem maçãs retiradas da árvore.
- Por hoje está bom – fala Jack, após duas horas em que todos já haviam caído e derrubado colegas o suficiente. – Antes do natal, teremos um torneio individual e no próximo semestre uma competição entre as casas – viu os alunos se entreolharem animados e então prosseguiu. – É, a competição de times não é muito diferente da individual, só que é formada por dois grupos de oito pessoas e ganha o time que derrubar todos os oponentes do inimigo. A competição individual também servirá de seleção para os times das casas.
[...]
Os alunos voltaram muito felizes para suas respectivas salas comunais, onde nos quadros de avisar já haviam sido fixadas as listas de inscrições, rodeadas de dezenas de adolescentes querendo se inscrever para a competição. Os cinco estavam acomodados em suas poltronas preferidas na sala comunal da Grifinória, esperando pacientemente a enorme e tumultuada fila formada em volta da lista diminuir.
- Foi muito legal! – fala Albus, sorridente, esfregando a perna machucada pela própria lança numa jogada mais desastrada.
- Não disse que justa era o máximo? – Jay diz, animado.
- Só não é mais legal que quadribol – completa Jimmy.
- É bacana mesmo, só meio violento – Rose responde, enquanto aplica uma poção curativa num hematoma em seu braço. Não sabia como tinha se deixado convencer a participar daquela fábrica de machucados, mas desconfiava que isso estava relacionado com a presença um certo par de olhos azuis.
- Meninas! – Fred fala e revira os olhos. – Priminha, o mais legal do jogo é a violência, a ação. Por falar nisso, adorei quando o tal Marcus acertou a lança bem na cara do metido do Drebber. Acho que faleceram mais alguns deles.
- Acho que não vou me inscrever pro torneio, vou ficar só torcendo por vocês – ela continua falando, como se não tivesse ouvido o comentário do primo.
- Eu também não vou jogar – enquanto Jay fala, os rostos de seus amigos se viram para ele com uma expressão perplexa. – Papai não deixou, pra variar.
- Cara, isso é tão injusto! – exclama Al, dando um soco na almofada e fingindo não ver o sorriso discreto que Rose abriu.
- É, seu pai não te deixa fazer nada – completa Fred.
- Pelo menos ele te disse o porque? – pergunta Jimmy.
- Ele também acha muito violento – responde Jay, mas muda rapidamente de assunto ao notar como sua desculpa fora muito fraca. – Mas eu vou torcer muito por vocês. Papai me falou que o melhor jogador de cada casa será o capitão do seu time.
- De qualquer forma eu também não vou participar porque não daria para conciliar com os treinos de quadribol – afirma o ruivo, parecendo ligeiramente chateado.
- Você não se cansa de ficar se gabando por ser do time? Todo mundo já sabe! – Fred diz, prosseguindo com uma voz falsamente ameaçadora. - Então somos só nós dois, priminho. Duelando de homem pra pirralho.
- Não se preocupe, eu não pretendo te humilhar... muito – responde Al, levantando uma sobrancelha.
- É, parece que entre os garotos qualquer tipo de competição acaba sempre virando uma semente de discórdia – brinca Rose, revirando os olhos. Quando ela pensava que os primos não tinham como ser mais infantis, eis que eles se superavam novmente.
- Se você está se referindo ao nosso pequeno desentendimento no outro dia, foi tudo culpa do Jay – responde Jimmy, dando língua para o amigo.
- Só porque eu disse que torço pelo Ballycastle Bats? Pois saibam que ele é um grande time e do qual eu me orgulho muito – Jay bate no peito enquanto fala.
- Que nada! Vocês só fala isso porque seu pai é irlandês. Daqui a pouco vai dizer que o Kenmare Kestrels é melhor que o Appleby Arrows – Fred zomba fazendo todos rirem, menos Rose que se levanta a sobe para o dormitório feminino sem dizer mais nada.
O Torneio de Justas começou no primeiro fim de semana de novembro e terminou na última semana de aula, durante esse período os fins de semana eram totalmente preenchidos com partidas nas quais Hogwarts comparecia em peso. Parecia que um novo esporte tinha realmente conquistado os alunos, que adoraram a idéia de competir sem ter sido pré-selecionados. As únicas pessoas que não gostaram muito da novidade foram Madame Pomfrey, que viu sua enfermaria cheia de alunos feridos, e Filch, que não gostava de nada mesmo.
Ben Watson, aluno mais alto e forte do sexto ano da Grifinória, foi o grande campeão conseguindo cem pontos para sua casa, além de receber um lindo troféu com a imagem de um cavaleiro montado segurando uma lança, bem posicionado num belo cavalo alado cujas asas se moviam sem parar, como se este estivesse deveras voando. E Fred foi o mais jovem grifinório a integrar o time de Justas, fato do qual se gabava pelo menos uma vez a cada dez minutos. Al infelizmente ficou de fora do time, mas fora muito bem colocado para a sua idade.
[...]
O natal se aproximava rapidamente e quase todos os alunos iam passar as férias em suas casas, e com o quinteto não foi diferente. Hoje mesmo eles partiriam, levando consigo os presentes trocados na noite anterior. Os quatro Weasley se despediram de Jay (que passaria o natal com os pais) usando seus novos suéteres, porque se Molly Weasley não visse seus netos chegando vestidos com seus presentes a coisa ia ficar feia pro lado deles.
Durante toda a última semana de aula, todos os funcionários da escola foram obrigados a usarem gorros vermelhos, exceto o professor Barker, que teve de usar fantasia completa de Papai Noel. Segundo Minerva McGonagall, porque seu biótipo ajudava na caracterização, mas na verdade era uma vingança pessoal (muito bem merecida, por sinal) da diretora.
Nesse momento ela estava no corredor, conversando com Filch, que
reclamava por ter encontrado sua gata vestida de bailarina e presa dentro de uma jaula, pendurada ao teto de um corredor no segundo andar.
- Não há provas de que Potter e Weasley estejam metidos nisso – ela argumenta, impaciente.
- E no que eles não estão metidos? Isso só acontece porque as punições são muito brandas e...
- Arrume provas e então conversamos – ela corta o assunto e se apressa, ao avistar um certo vulto vermelho vindo em sua direção. Mas para sua infelicidade ela não é rápida o bastante e logo é alcançada por Barker.
- Correndo de mim? Assim vou achar que você está me evitando, Minie.
- É que eu não fui uma boa menina esse ano – ela debocha, ostentando um sorriso vitorioso.
- Hou, hou, hou, que engraçado! Pode tirar sarro. Você tinha ver o que os outros professores me falaram por causa dessa palhaçada. Você não precisava implantar esse gorrinho como uniforme só pra me obrigar a vestir essa roupa, era só me falar que tinha uma quedinha por vermelho. Ou será isso uma indireta para eu deixar minha barba crescer? Sei muito bem que os barbudos fazem o seu tipo...
- Quanta pretensão sua. E espere só para ver o que estou preparando para a páscoa. Acho que você dará um ótimo coelho!
- Que maldade – a expressão alegre do professor murcha. – Mas, mesmo que não esteja merecendo, isso aqui é pra você – ele retira um embrulho vermelho com um laço prateado do saco que carregava nas costas. – É um tabuleiro de xadrez em mogno, as peças do time vencedor fazem até uma dançinha da vitória. Achei a sua cara.
- Obrigada, eu não comprei nada pra você – ela fala, embaraçada, sentindo nascer uma leve pontada de simpatia por Barker.
- Eu posso pensar em algo para você me dar assim, de última hora – ele fala maliciosamente, olha para cima e vê um peculiar galhinho verde. – Visgo! Que conveniente...
- Ah! – a migalha de simpatia dentro da diretora se transformou numa enorme onda de aversão. - Já entendi: você quer levar um chute nas partes de presente de natal?
- Nossa! Como a Mamãe Noel está agressiva hoje.
- Se me chamar assim de novo, vai desejar ter levado só um chute.
- Então acho melhor eu ir andando – “Se eu ficar aqui, com ela brava desse jeito, vou acabar beijando-a de novo...”, ele pensa - Vou passar o natal com meus filhos, vai ter uma grande festa na casa da Susan. Gostaria de vir comigo?
- Não, obrigada. Quero ter um natal agradável, algo que seria impossível ao seu lado. Vou passar as festas aqui como sempre.
- É uma pena. Em todo caso, não acenda a lareira. Eu posso querer fazer uma visitinha noturna. – ele sorri debochado, retira o gorro com uma reverência e se retira.
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