O Flagra



Já fazia algum tempo que os quatro marotos iam à noite (Rose se recusava a acompanhá-los depois de terem sido pegos pelo monitor), munidos da capa de invisibilidade e de seus mapas, até a Sessão Reservada pesquisar sobre animomagia, além de terem algumas aulas particulares com o professor Barker, que tinha combinado de lhes ensinar desde que eles não contassem para ninguém. E naquela noite em especial Rose tinha ficado no salão comunal fazendo as lições de casa, que provavelmente os outros copiariam enquanto eles se esgueiravam pelo castelo. Agora os quatro estavam voltando da biblioteca e passavam em frente à sala do professor Mallory, cuja porta estava aberta e, infelizmente, ele próprio estava com uma cópia do mapa em mãos, parencendo não estar muito satisfeito.

- Sabe garotos, há um motivo para a Sessão Reservada ter esse nome. Por que vocês não entram para conversarmos um pouco sobre isso? – ele os olhava severamente enquanto os três obedeciam em silêncio, já visíveis. - Por favor, me entregue isso sr. Potter – o professor leu, surpreso, as anotações que Jimmy lhe passara. - Então é isso: os senhores querem se tornar animagos! E muito me surpreende o meu filho estar quebrando regras quando deveria estar dando bons exemplos para seus colegas.

- Mas papai...

- Que atitude vocês acham que eu, como professor, vou tomar?

- Detenção – responderam os quatro ao mesmo tempo, quase num sussurro.

- Nossa! Vocês são mesmo muito espertos. Passem aqui depois da aula de amanhã para saberem de seu castigo. E quanto a você, Jay, nós conversaremos melhor mais tarde. Ah, espero que não se importem se eu ficar com isso aqui – ele sorria ironicamente com os pergaminhos na mão. - Boa noite e vão direto ao salão comunal.

Eles obedeceram e foram andando sem proferir mais nenhuma palavra até chegarem no quadro da mulher gorda. Falaram a senha, desanimados, e entraram.

- Eu vi tudo pelo mapa. Ainda bem que não estava com vocês! – Rose já os esperava, armada com sua melhor cara de “eu-não-disse?”.

- Estamos ferrados – fala Jay, se jogando na poltrona ao lado da de Rose - E eu mais que vocês. Aposto até que minha detenção vai ser maior, vou ficar sem mesada e ele vai contar pra mamãe.

- Não faz drama, cara. Pelo menos nós só estávamos com as anotações de hoje. Qual detenção você acha que seu pai vai nos dar? – disse Fred despreocupado, como sempre, dando um grande bocejo.

- Prefiro nem pensar nisso. Boa noite, gente – Albus sobe para seu dormitório, sendo seguido pelos outros quatro.

- Boa noite – falam uníssonos e um tanto desanimados.

[...]

Depois que os meninos se retiraram de sua sala, Jack se levanta e vai até a sala do professor de transfiguração, que estava sentado no sofá, lendo alguns pergaminhos em seu colo, meio sonolento. Barker só notou o amigo quando este já estava parado em sua frente, com os olhos semicerrados e uma expressão perigosa.

– Artur, tem alguma coisa que você queira me contar? – falou alto e em tom sério, assustando o amigo.

- Eu juro que não ia falar, mas ela me forçou... – ele fica de pé imediatamente.

- Falar o que exatamente?– agora Jack parecia furioso.

- Afinal, do que você está falando? – Barker aperta as sobrancelhas, confuso.

- Dessa história do Jay querer virar animago! Mas o que você andou contando? E pra quem?

- Sem querer, eu falei daquilo sobre você e o Jay pra Minerva – Jack fecha os olhos e aperta os punhos enquanto escutava. – Ela ia acabar descobrindo, já estava desconfiada e ficou fazendo umas insinuações... E eu deixei escapar sem querer – agora seu amigo estava bufando. – Mas ela prometeu não contar pra ninguém.

O vampiro teve de fazer muita força para não gritar uns bons palavrões ou coisa pior. Era um segredo muito grave para ser revelado assim, e isso poderia prejudicar seu filho e ele próprio. Felizmente McGonagall era infinitamente mais discreta que o senhor aflito que agora lhe pedia desculpas atrapalhadamente e, com um pouco de sorte, as coisas ficariam sob controle.

- Grande coisa, você também prometeu que não contaria! E parece que isso não adiantou muito.

- Foi sem querer, você sabe que eu fico meio besta perto da Minerva. Ainda mais depois do que aconteceu, achei que ela nunca mais ia querer falar comigo...

- Pois era isso mesmo que ela deveria fazer, e eu também!

- Me desculpe, prometo fazer alguma coisa pra compensar.

- Vou pensar em alguma coisa. E até lá: fique de boca fechada! – Arthur faz uma careta, enquanto seu amigo sai cuspindo fogo.

- Ele até esqueceu das aulas de animomagia – o velho fala para si mesmo e se senta novamente com uma careta assustada. – Espero que ele não lembre tão cedo...

[...]

Os Marotos voltavam da aula de Transfigurações animados, apesar do castigo e que enfrentariam mais tarde. Isso porque na saída da aula Barker lhes contara que levou uma bronca por causa disso e, em vez de parar de lhes dar "aulas extra", pediu-lhes para ter mais cuidado e disse que arrumaria um modo mais práticos deles conseguirem o resto da teoria da animomagia que lhes faltava.

- Oi, Potter – Crystal cumprimenta Jimmy, passando em meio a um grupinho de garotas da Corvinal.

- Oi... – o ruivo fala, e prossegue vendo a garota se afastar. – amor da minha vida!

- Essa é a tal Crystal, né? – pergunta Jay, enquanto Fred imita a cara de bobo de Jimmy, com direito a língua pra fora e baba escorrendo.

- Só pode ser. – Rose mal pode falar, de tanto que ri das palhaçadas de Fred.

- Como vocês sabem? – Jimmy questiona, voltando a si.

- É que você só descreveu a “futura mãe dos seus filhos” umas duzentas vezes – o irmão mais novo responde, fazendo os amigos gargalharem. - Mas eu não acho que “o sorriso dela ofusca o sol” nem que “ela faz a Jessica Alba parecer feia”, segundo suas próprias palavras.

- Vamos logo pra sala do papai, porque ele detesta ficar esperando – lembra-lhes Jay, substituindo o sorriso dos amigos por uma expressão de desânimo. Ele sabia que se eles demorassem a bronca seria bem maior.

- Vejo vocês depois, então – Rose se despede e se dirige para a biblioteca com seu costumeiro ar de sabe-tudo, pensando em como era bom se dar bem por estar certa de vez em quando.

Eles prosseguiram e se apresentam na hora marcada na sala do professor de defesa contra as artes das trevas com toda a humildade que a ocasião exigia e quatro pares de olhares de coitadinho também.

- Aprecio a pontualidade de vocês, meninos. Mas vamos direto ao assunto: eu convenci a diretora Minerva a me deixar organizar um torneio de justas.

- Legal! –Jay exclama e recebe um olhar severo do pai.

- E eu preciso de alguém para cuidar dos cavalos alados... – os garotos sorriem, achando a detenção fácil - e limpar os estábulos durante duas semanas – os sorrisos se apagam, dando lugar a uma incontrolável careta de nojo.

- Mas pro... - Fred tenta argumentar.

- Mas nada, senhor Weasley! – Jack interrompe, visivelmente impaciente. - Hagrid vai mostrar para os senhores onde ficam os estábulos. E depois que terminar eu espero você, filho, aqui para termos aquela conversinha. Andem, e espero que isso seja o bastante. E, se eu vir vocês andando por aí de noite, os quatro serão os limpadores oficiais de excremento de cavalo alado até o fim do ano.

- Sabe, se ele não fosse sei pai, isso não ia ficar sem resposta – Fred fala pra Jay, quando eles já tinham ganhado distância suficiente da sala do professor para conversar a vontade. Já podia imaginar várias vinganças muito divertidas, mas que não usaria.

- É, o professor Mallory não sabe a sorte que tem – completa Jimmy, com um sorriso forçado, pensando a terrível tarefa que os aguardava.

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