A Discussão
As aulas daquele dia já haviam acabado e um clima agradável de reencontro ainda vagava pelos ares do castelo. A maioria dos alunos se dividia em inúmeros grupinhos, muito ocupados em dividir a experiência das férias com os amigos. Jimmy e Fred estavam passando pela entrada do castelo, conversando sobre a bronca que o senhor e a senhora Potter tinha dado em seu filho mais velho por causa das muitas detenções que este recebia (George e Angelina Weasley nem se importavam mais com as de Fred, de tão acostumados que estavam), quando um homem alto e com barba e cabelos castanhos escuros, curtos e já com alguns fios grisalhos nas têmporas, vestido totalmente de negro passa por eles e, ao reparar em seu uniforme da Grifinória, os chama.
- Hei, meninos! Vocês conhecem Jay Mallory? – os dois confirmam com a cabeça. – Ótimo. Então, por favor, avisem-no de que o avô dele o está esperando na sala do Jack.
- Tudo bem, estávamos indo encontrar com ele agora mesmo... – fala Fred.
- Muito obrigado – ele mal termina a frase e já caminha apressadamente para as escadas.
- Esse cara é o avô do Jay? Meio jovem pra isso. Não lhe daria nem quarenta anos.
- Sei lá, pelo menos parece bastante com o professor Mallory. Ms vamos logo dar o recado, Fred. Acho que o negócio aí é urgente.
Tomados da típica curiosidade da idade, a dupla de primos se dirige rapidamente até seu dormitório. Assim que encontram Jay, eles se apressam em relatar o acontecido e se surpreendem com a confirmação de que o sujeito que eles conheceram era mesmo pai do professor Mallory apesar de se parecer mais com um irmão um pouco mais velho.
- Meu avô? Que estranho, ele não disse que viria... – Jay se levanta num pulo de sua cama onde estava ledo, pra variar, uma revista sobre quadribol.
- E parece que ele está com pressa. – Jimmy se senta em sua cama e abre a mesma revista que o outro abandonara.
- Até mais então – ele responde, já alcançando as escadas.
- Até! – responde Jimmy, enquanto Fred acena e depois que o amigo sai, começa a fuçar em suas gavetas – O que você está procurando aí nas coisas do Jay?
- Aquela garrafinha prateada, quero saber o que tem dentro dela.
- É a tal poção do sono dele, oras!
- Então por que ele toma o tempo todo e, mesmo assim, não dorme direito? E o pai dele tem uma igualzinha, já o vi tomando várias vezes. Você não acha isso meio estranho?
- Sabe que eu nunca tinha pensado nisso... – fala Jimmy, parecendo concentrado. Realmente a atitude do amigo era bastante suspeita. – Sei lá, talvez o professor também tenha insônia.
- Duvido... Achei! Droga, está vazia.
- Mas por que você não pergunta direto pra ele?
- Se ele quisesse contar, já teria dito – diz Fred, colocando a garrafa de volta em seu lugar. – Acho que está relacionado com esses sumiços constantes dele. O que poderia ser?
- Talvez seja alguma outra poção. Uma que ele, por algum motivo, queira esconder de nós.
- Mas tinha que ser alguma que precisa ser tomada com freqüência – completa Fred.
- Polissuco, quem sabe? – pergunta o ruivo.
- Nãããão! – respondem os dois ao mesmo tempo, se olhando com expressões incrédulas. Eles sorriem, achando a idéia engraçada de tão absurda.
[...]
Alexander Mallory bate duas vezes na porta antes de abri-la, sem esperar a resposta do filho. Seus olhos azuis e frios vão de encontro aos do filho, mas se desviam ao mesmo tempo que surge um sorriso educado, porém impaciente. O professor abandona o livro que estava lendo e o observa por alguns segundos, sem esboçar nenhuma reação.
- Pai? O que o senhor está fazendo aqui? Pensei que já tivéssemos conversado... - Jack estava surpreso, nunca imaginara ver seu pai em Hogwarts, ainda mais aparecendo assim, sem avisar.
- É bom ver você também, filho – o mais velho corta e se senta, meio nervoso, contemplando com desprezo a sala. – Quanto tempo mais você vai ficar perdendo nesse lugar?
Jack percebera pelo seu tom de voz que ele ainda não desistira, não que ele já tivesse visto o pai desistir de qualquer coisa. Alex estava sempre tentando convencer os filhos a se afastar o máximo possível dos mortais, coisa que exasperava o professor.
Não havia uma só vez em que ele não se referisse aos bruxos com depreciação, o que ofendia profundamente a Jack. E a coisa era ainda pior quando o assunto era Hogwarts, o patriarca detestava aquele lugar quase tanto quanto seus inimigos políticos.
- Se o senhor está falando das minhas aulas em Hogwarts, pelo menos até o fim do ano letivo. E eu não estou perdendo tempo, estou aqui por causa do Jay.
- Então os dois estão perdendo tempo! – fala Alex ironicamente e Jack fecha os punhos, lutando pra não responder com grosseria. - Você sabe o quanto eu respeito a sua dedicação ao meu neto e valorizo sua postura de pai. Mas a minha opinião sobre esse lugar não mudou. Você está expondo Jay sem motivos, os dois estariam bem mais seguros...
- É por isso que eu estou aqui, pra protegê-lo – o professor interrompe, mostrando-se mais impaciente do que gostaria.
- E por que ele está aqui?
- Porque ele é um bruxo, assim como a mãe dele e eu.
Jack sempre culpara seu dom pela falta de atenção que o pai lhe dera durante toda sua vida. Não lembrava de ter tido uma só conversa amigável a sós com Alex, olhos nos olhos. Ele estava eternamente ocupado com outra coisa, nunca dava importância a nada do que ele dissesse ou fizesse. Mas as coisas não eram assim com seus irmãos: Thomas, Victor e até mesmo o caçula William sempre conviveram mais com o pai.
Talvez seja por isso que ele tenha se afastado do clã, porque acreditada que a falta de interesse de Alex só podia ser algum tipo de vergonha ou desprezo latente. E a coisa só piorara desde seu casamento com Cassie, ao qual o patriarca fora extremamente contra desde o princípio. Desde então em quase todas as vezes em que se viram ocorreram brigas causadas pelo preconceito dele, que Jack já não fazia a mínima questão de tolerar.
- Vocês são meio bruxos e, acima de tudo, vampiros! E ele devia ser criado como tal.
- Eu não estou negando isso, pai. Apenas quero que ele tenha a oportunidade de estudar magia se ele quiser, coisa que eu não tive.
- É, e como vai ser quando os outros alunos descobrirem? Você vai ser demitido e ele vai perder todos os amigos. E também acho que vocês dois estão desprotegidos aqui. Podem tentar atacar vocês como fizeram com o Thomas – ele suspira tristemente ao falar do filho mais velho, que recentemente se ferira num dos constantes ataques que o clã dos Mallory vinha sofrendo.
- Ninguém sabe que estamos aqui...
- Por enquanto – ele coloca a mão no ombro do filho carinhosamente e Jack se surpreende com esse gesto. – Mas e se descobrirem? Não me perdoaria se acontecesse algo com vocês.
Alex estava realmente preocupado com ele, e isso era muito comovente para o professor. Por um instante ele pensou notar um olhar de carinho vindo do velho, mas que imediatamente se virou, fixando-se num ponto indeterminado do chão.
- Estamos bem, pai. Sério. Eu juro que, se qualquer coisa acontecer, nós vamos embora.
- Posso entrar? Me disseram que o vovô estava aqui– Jay fala, abrindo a porta. Ele caminha até Alex e recebe deste um abraço. – Oi, como estão as coisas? E o tio Thomas?
- Tudo bem, seu tio está bem melhor. E você, está bem? – Alex perguntou e o garoto assentiu enquanto era carinhosamente descabelado pelo avô. – Eu estava falando com seu pai sobre Hogwarts...
- Eu não quero parar de estudar – a determinação com que Jay interrompeu surpreende o avô. – Eu sei que todos corremos perigo, mas o papai sabe o que está fazendo. E eu confio nele.
- Eu também, mas temo pelos dois. Preferia que ficassem perto de mim – ele suspira longamente, sentado entre o filho e o neto. Abraça os dois rapida, mas carinhosamente e se levanta. – Bom, já vi que vocês estão irredutíveis e eu infelizmente não posso me dar ao luxo de ficar aqui tentando convencê-los. Tenho uma guerra pra vencer e não vai ser nada fácil, com todos esses ataques de lobisomens e a pressão política que estão fazendo em cima de mim...
- O senhor não vai pelo menos passar a noite aqui? – pergunta Jack. Um sorriso sarcástico surgira na boca do pai o escutar idéia absurda de pernoitar em Hogwarts, mas ele parecia tentar se conter para não demonstrar o quanto isso o incomodava.
- Não filho, tenho que voltar imediatamente. Ah! Estou me esquecendo de uma coisa – ele retira um pequeno embrulho do bolso, e entrega ao neto – Sei que já te dei seu presente de natal, mas achei esse mais a sua cara. Espero que goste. Foi a melhor invenção que os bruxos já fizeram.
Jay abre o pacote, já meio amassado, envolto em papel vermelho e enfeitado com um laço dourado (provavelmente uma homenagem discreta à casa do garoto), enquanto Alex e Jack observam atentamente a reação do garoto. De dentro sai, em alta velocidade, algo que ele mal se pôde distinguir como um borrão dourado. Jay estende instantaneamente a mão, capturando o presente antes que ele fuja. Ao abri-la, com um grande sorriso, ele reconhece o objeto.
- Um pomo de ouro! Muito obrigado mesmo.
- Que bom que você gostou. Então eu já vou indo. Cuidem-se e me mandem notícias todos os dias. Se precisarem, eu venho correndo.
- Pode deixar, papai – responde Jack, emocionado. Aquela conversa, apesar da contrariedade do velho, havia sido de longe a melhor que já tivera com o pai.
O patriarca dos Mallory sai silenciosa e rapidamente, deixando os dois se entreolhando com expressões confusas.
- O vovô tá estranho, né?
- Muito... – o professor contempla a porta por alguns instantes, pensativo. – Mas o pior é que ele está certo.
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