O Neto



Minerva estava apreensiva por ter que ir até a sala de Barker, “Aquele sujeitinho intragável”, mas não tinha outra escolha. Havia uma série de documentos que ele teria de assinar ainda hoje para serem mandados ao Ministério, e ela já tinha adiado o máximo que podia.

A diretora parou na porta aberta da sala do professor realmente surpresa ao vê-lo rodopiando como se dançasse, com a cara mais alegre do mundo, com uma senhora loira e baixinha, usando um elegante vestido azul-claro e também aparentando muita felicidade. Barker, por sua vez, pára ao ver a diretora atônita, segurando um monte de pergaminho, e sorri mais ainda.

- Oi, Minervinha. Essa é Susan, minha ex-esposa – ele fala apontando para a baixinha ligeiramente envergonhada. – Sue, essa é a diretora Minerva McGonagall.

- Encantada – Susan falou cordialmente, sorrindo.

- Igualmente – Minerva respondeu, não sorrindo de volta.

- Não precisa ficar com ciúmes, meu bem. Apesar de algumas recaídas ocasionais, eu e Susan somos apenas bons amigos – ele debocha, fazendo com que ela se irrite ainda mais.

- Arthie, você é insuportável – Susan dá um tapinha no ombro do professor e se vira amavelmente para McGonagall. - Não se preocupe, eu não acredito numa palavra do que ele diz e sugiro que a senhora faça o mesmo. Desculpe-me não poder ficar mais, mas eu realmente tenho que ir. Você janta conosco?

- Claro. Avise aos meninos que me atrasarei um pouco, mas estarei lá.

- Então eu já vou indo. Foi um prazer conhecê-la, Minerva – a baixinha se despede e a diretora faz um cordial aceno com a cabeça – Até mais então!

Barker dá um beijo estalado na bochecha da ex-esposa, que fica muito vermelha e sai com seus passinhos rápidos ecoando pelo corredor. Ele conseguira, somente com a sua presença, estragar completamente o dia de McGonagall. Ela estava respirando profundamente, se controlando para não dar uns bons gritos com ele, que tinha voltado a dançar, mas dessa vez sozinho, pela sala.

- Eu estou tão feliz!

- É, eu percebi, Arthie – ela tem um profundo tom de ironia em sua voz. – Agora, assine esses papéis imediatamente.

-Tudo bem. Mas você não quer saber por que eu estou feliz?

- Não – ela lhe entrega os pergaminhos e ele se senta, começando a assiná-los. – e sinceramente não me interessa nem um pouco. A única coisa que me importa é que cena como essa não ocorram novamente em seu ambiente de trabalho. Algum aluno pode chegar e...

- Minha filha mais velha está grávida. Vou ser vovô de novo, meu quinto neto! Isso não é genial? Se eu não soubesse que ia apanhar, te daria um beijo agora.

- Parabéns. E, se você se aproximar de mim, vou fazer algo muito pior do que te bater.

- É uma pena você não saber o que é isso: ter filhos, netos... É a melhor coisa do mundo! – os olhos dele brilham, enquanto a pena desliza sobre mais um papel. – Você nunca quis ter filhos?

- Isso seria impossível. E também não é da sua conta.

- Você não pode ter filhos? Então poderia ter adotado. Sabe, eu já adotei um.

- Não, eu posso ter filhos. Apenas... é que... Não te interessa – ela aperta os olhos, intrigada. – Você adotou um? Pensei que seus três filhos fossem biológicos.

- E são. Andrew morreu três anos atrás. Ele foi ajudar uma senhora que estava sendo assaltada e levou um tiro. O garoto podia não saber fazer magia, mas era muito corajoso – o velho tem um visível tom orgulhoso na voz. - Andrew era trouxa e seus pais biológicos morreram num dos ataques de Voldemort.

- Eu sinto muito.

- Tudo bem. Eu o salvei quando ele ainda era bem pequeno e, como ele não tinha mais ninguém, o levei pra casa... – ele suspira, com um olhar perdido. – Susan nunca mais foi a mesma, desde então ela foi se afastando cada vez mais de mim, até que nosso casamento acabou.

- Aí vocês se separaram?

- Não, ela me largou – ele continua a assinar, com um sorriso amargo. - Eu fiz a besteira de ter um caso e ela descobriu – ele assina a última folha. – Mas mudemos de assunto porque hoje é um dia muito feliz! E eu vou ver minha filha...

- Dê os parabéns a ela por mim então. Tchau, Arthur.

Ela recolheu os papéis e saiu o mais rápido que pôde, pensativa. Ao chegar no corredor se deu conta de que, pela primeira vez, o tinha chamado pelo primeiro nome. “Numa coisa ela está certa: ele é insuportável!”.

[...]

A tarde caia suave sobre o campo de quadribol, onde estavam ocorrendo os teste para selecionar o novo artilheiro do time da Grifinória. Quase todos os alunos da casa queriam entrar pro time, e a enorme fila de candidatos denunciava que aquilo levaria, no mínimo, o resto do dia. Fred e os irmãos Potter esperavam ansiosos pela sua vez.

Rose o observava de cima da arquibancada já algum tempo, tomando coragem para ir falar com ele. Como era mais fácil conversar quando os primos estavam por perto! Normalmente ela evitava ficar a sós com o amigo, mas ultimamente ele parecia tão preocupado... E ela tinha que saber o porque.

Ela se levantou e, ajeitando os longos cabelos, começou a descer. Jay estava sentado no primeiro banco, com uma expressão tensa e o olhar fixo no gramado a frente. Ele estava tão perdido em seus próprios pensamentos que só notou a amiga sentada ao seu lado, quando sentiu o aroma de seu perfume doce e frutado (e delicioso).

- Por que você não está fazendo o teste? – ela perguntou, puxando assunto.

- Papai me proibiu, disse que faz parte do meu castigo. Mas e você?

- Não me dou muito bem com os esportes. E quabribol pode ser ótimo de se assistir, mas é muito agressivo pra mim.

- Acho que você prefere os livros, certo?

- É, sei lidar melhor com eles. Isso é tão ruim assim? Que dizer, todos me vêem de um jeito estranho como se eu fosse um alien só porque eu tenho um gosto meio... diferente.

- Não, isso é ótimo. E você não é “estranha”, é especial. E eu admiro isso em você – ele deixa escapar, ficando muito vermelho. – E, não conte pros seus primos, mas eu também adoro ler.

- Que bom – ela está ainda mais vermelha que ele. – Só você e o Al não me criticam. Sabe, já que você não está competindo, estou torcendo por ele.

- Eu também – ele sussurra.

Como Jay se sentia bobo perto dela! Continha-se o tempo todo para não fazer algum elogio mais exagerado e teve umas duas vezes em se pegou quase babando. A maneira com que ele falava, com que seus lábios se mexiam, parecia hipnotizá-lo. Ele tinha de fazer muita força para não dar bandeira, mas estava maravilhado com a garota.

- Sem querer me intrometer, mas aconteceu alguma coisa? Você anda meio preocupado e... Se quiser conversar... – ela perguntou tentando manter o ar casual que a conversa tinha até agora.

- Não é nada, só uns probleminhas em família. Você sabe como é.

- Se sei!

- Pelo visto ainda vai demorar pra chegar a vez deles – ele desconversou. - Você quer tomar um suco? Depois a gente volta pra cá e...

- Claro!

Eles passam o resto da tarde conversando, à espera do resultado. Ao entardecer, Gus Drake (artilheiro e capitão do time) anunciou que Jimmy conseguira a vaga, mas Fred e Albus, como amigos e bons oponentes, ficam muito felizes por ele assim como Rose e Jay.

[...]

Minerva McGonagall teria um dia particularmente cheio hoje. Ela entra e se senta, olha ao redor, sentindo falta de algo em sua sala. Especialmente chateada, nota que o quadro de Albus Dumbledore não estava em seu lugar na parede.

Ela se levanta, furiosa, e ruma diretamente para a sala do professor Barker. “Só pode ter sido aquele imbecil!”, pensa. Entra sem bater na porta e pega o professor, aos risos, conversando com o ex-diretor.

- Mas é verdade – Dumbledore afirma, ainda rindo.

- Eu não acredito que ela disse isso mesmo... Ah, bom dia, Minervinha! Estávamos falando justamente de você. O Albus aqui tem umas histórias ótimas.

- O que você pensa que está fazendo? – ela fala e bate de leve com a varinha na moldura, fazendo com que o quadro volte imediatamente para seu lugar de origem.

- Ora, eu estava batendo um papinho com meu novo amigo Dumby. O coitado fica o dia inteiro trancado naquele escritório.

- Deixe de palhaçadas, Barker!

- Senão você vai fazer o quê? Me dar uma detenção?

- Até que isso não é uma má idéia... – responde a diretora levantando uma sobrancelha, acabara de lhe ocorrer uma ótima idéia, mas ela prosseguiu no mesmo tom que adquiria ao dar uma bronca. – Mas por que raios você fez isso?

- Digamos que eu queria saber como era o relacionamento de vocês quando trabalhavam juntos. E confesso que estou bem mais tranqüilo agora. Acho que faço mais o tipo dele do que você – fala Barker, gargalhando.

- O que você quer dizer com isso? – ela entendera perfeitamente, mas fazia questão de ouvir o disparate da boca do professor letra por letra.

- Que pra um cara solteiro e uma mulher solteira que tem uma quedinha por esse cara trabalharem juntos durante décadas sem rolar nada, só ele sendo muito babaca ou gay. E ele não é babaca, na verdade até que é bem legal.

- E quem disse que nunca “rolou nada” ? – ela mente, sorrindo misteriosamente. Estava começando a gostar de provocá-lo, só pra que ele pudesse provar do próprio veneno.

- Como assim? – ele fala entre os dentes, enquanto seus punhos se fecham.

- Tenha um bom dia, professor Barker – a diretora responde e se vira, indo embora.

- Volta aqui, Minerva! Me explique essa história direitinho – ele a alcança no corredor e se põe a sua frente, barrando-lhe o caminho.

- Não lhe devo satisfações. E se o senhor puder me dar licença eu gostaria de ir trabalhar.

- Você está mentindo pra mim, não está? – Arthur pergunta com uma expressão impaciente, que se torna furiosa enquanto McGonagall vai embora sem responder.

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