A Volta



*Atenção: este é um song-capítulo!
A música é “Turn me on”, da Norah Jones e quem não estiver querendo baixar é só entrar aqui http://br.youtube.com/watch?v=mHff55AeEAQ pra ler o cap com música, que fica bem melhor. *


O dia seguinte os quatro primos passaram no lago e Jay aproveitara para ficar com a mãe, que lhe trouxera pelo menos uma dúzia de presentes (roupas, é claro). Era muitíssimo agradável para ela voltar aquele castelo, que só lhe trazia ótimas lembranças, ainda mais num dia maravilhoso como fora este, partilhando a companhia da pessoa que ela mais amava no mundo. E depois que o filho foi dormir ela foi conversar com o ex-marido, que estava em sua sala elaborando uma prova.

Por mais que Jack tentasse se concentrar no trabalho sua mente sempre se desviava para Cassie, tão próxima. Durante todo o dia ele lutara contra a irresistível vontade de ir até ela e abrir seu coração, desengasgar todos os pedidos de desculpas do mundo e implorar que voltasse pra ele. E agora ele estava parado com a pena na mão, os pensamentos longe, quando ouviu alguém se aproximar e levantou a cabeça, se surpreendendo ao ver parada em sua porta aquela morena que ele conhecia tão bem, com seus olhos azuis e sua boca perfeita.

Ela parecia saída de um de seus sonhos, com um lindo vestido rosa e os cabelos soltos. O perfume suave da bruxa encheu a sala e ele teve de se controlar muito para não agarrá-la e cobri-la de beijos naquele instante. Jack daria um de seus braços para voltar a estar entre os dela.

- Boa noite, Jack – ela falou com a voz vacilante, estremecendo ao vê-lo tão bonito como no dia em que se conheceram. Era injusto que ele fosse incapaz de envelhecer um dia que fosse.

- Oi, Cassie. Entre, sente-se – ele fala meio sem jeito. Ela obedece e ele se senta ao seu lado, com a enorme dúvida do que deveria fazer com as mãos e se demonstrar toda a alegria que sentia não o faria parecer idiota. – Como foi com o Jay?

- Foi maravilhoso, eu estava morrendo de saudades dele. Nunca tinha ficado tanto tempo longe do meu filhinho – Jack sorri com as palavras dela. – Mas eu queria falar com você.

- Algum problema?

- Nenhum, eu só queria te agradecer por você estar cuidando dele. Eu sei a quanto você queria estar ao lado do seu pai e seus irmãos nesse momento difícil – ele ia falar algo, mas ela interrompe, levantando a mão num gesto delicado. – Sei que fui egoísta quando te pedi pra abandonar sua família quando ela mais precisava...

- Jay é minha família e eu fico feliz em poder protegê-lo – ele se levanta e vai até o outro lado da sala, ligando um aparelho de som (devidamente enfeitiçado para poder funcionar no castelo), que começa a tocar baixinho.

Like a flower waiting to bloom / Como uma flor esperando para florescer
Like a lightbulb in a dark room / Como uma lâmpada em um quarto escuro
I'm just sitting here waiting for you / Eu estou sentada aqui esperando por você
To come home and turn me on / Voltar para casa e me acender

- Mas você também foi egoísta, quando nos afastou você – ela fala, trêmula. Aquela música lhe trazia muitas recordações.

- Eu nunca tive que ser tão generoso na vida! Fiz aquilo pensando na segurança de vocês. Se tivesse escolha, nunca teria... – ele, já sentado ao seu lado novamente, suspira profundamente antes de prosseguir. – Mas essa guerra não é sua.

- Quem disse? Ela envolve aqueles que mais amo, e por isso é minha também. Mesmo que as coisas entre nós não sejam mais como antes...

Havia um tom de pesar em sua voz que ele conhecia bem demais, quase podia ouvir o coração dela bater tão acelerado quanto o seu. Ela também o amava então. Ela estava tão perto que Jack não podia mais se conter, tinha de lhe falar o que sentia senão explodiria.

Like the desert waiting for the rain / Como o deserto esperando pela chuva
Like a school kid waiting for the spring / Como crianças da escola esperando pela primavera
I'm just sitting here waiting for you / Eu estou sentada aqui esperando por você
To come on home and turn me on / Voltar para casa e me acender

- Mas eu ainda te amo, Cassie! Por mais que tenha tentado, eu nunca te esqueci. E quando eu te vi hoje no jardim com o Jay... Não sei explicar, acho que voltou tudo. Sinto tanto sua falta – ele pega suas mãos e as beija. – Tanto que chega a doer, parece que falta um pedaço de mim.

Ela estava realmente surpresa, depois de tanto tempo não esperava que ele dissesse uma coisa dessas. Pra falar a verdade, nunca tinha perdido a esperança de voltar atrás e continuar tudo de onde eles haviam parado. Sentia muito a falta do marido e aquilo que ele dissera parecia mentira de tão bom.

- Esperei três anos para ouvir isso – sua voz estava trêmula. – Se não fosse pelo Jay, nunca teria aceitado essa idiotice de separação. Como fomos tolos em acreditar que escondê-lo seria mais seguro.

My poor heart, it's been so dark since you been gone / Meu pobre coração, está tão escuro desde que você se foi
After all, you're the one who turns me off / Depois de tudo, você é o único que me apaga
You're the only one who can turn me back on / Você é o único que pode me acender novamente

Eles se beijam no início delicadamente, depois cada vez mais ávidos um do outro. As bocas só se separam quando já estavam sem fôlego e depois ficaram um longo tempo apenas se olhando em silêncio, com enormes sorrisos. Queriam apreciar totalmente aquele momento, guardar na memória cada gesto, cada palavra, cada sentimento.

- Como eu fui cego! Se pudesse voltar atrás... – ele toma as mãos dela nas suas novamente e as leva a seu rosto.

- Não se culpe, achávamos estar fazendo o certo pra ele.

- Prometa nunca mais me deixar fazer uma bobagem dessas – ele fala e a beija novamente, com urgência e necessidade, enquanto ela envolve seu pescoço.

Os braços do professor a seguram firmemente, como se ele tivesse medo de que ela sumisse no ar, e os olhos dela estavam turvos de lágrimas.

My hi-fi's waiting for a new tune / Meu som está esperando por uma nova sintonia
The glass is waiting for some fresh ice cubes / O copo esperando por alguns cubos de gelo
I'm just sitting here waiting for you / Eu estou sentada aqui esperando por você
To come on home and turn me on / Voltar para casa e me acender
Turn me on / Me acender

- Volta pra mim. Juro não deixar que nada de mal nos aconteça. Agora vou ser egoísta de verdade: preciso de você – ele sussurra no ouvido de Cassie enquanto a aperta ainda mais contra si. – Seja minha novamente.

- Pensei que não perguntaria nunca – ela responde, ainda sem fôlego, e eles se beijam novamente. E ainda estão se beijando quando se deitam no sofá. – Eu também te amo, Jack. Muito.

[...]

Jay estava sentado na sala de seu pai, esperando-o nervoso. O professor Mallory, quando mandara chamá-lo, não fizera a mínima menção do assunto, apenas mandou dizer que era urgente.

O garoto estava exasperado com a palavra “urgente”, aquilo podia significar qualquer coisa, inclusive a que ele mais temia: um novo ataque. Uma pontada de dor surgira em sua mente ao pensar no que poderia ter acontecido à sua família. Mas logo o alívio de ver seus pais entrarem na sala muito felizes dissipou qualquer pensamento ruim de sua mente.

O casal sorriu, ainda que meio sem jeito, e sentou-se no sofá, de mãos dadas (já tinham voltado a usar suas alianças). Não foi preciso mais nada parar que o grifinório entendesse a situação. Ele olhou de um para outro, com um enorme sorriso incrédulo.

- Não? – ele perguntou e os dois assentiram, sorrindo em resposta – Que legal!

- Bom... Nós decidimos voltar e queríamos saber sua opinião, filho – Jack fala, terrivelmente constrangido.

- Querido, você é a pessoa mais importante do mundo pra gente e queremos saber se você concorda – Cassie acaricia a cabeça do filho, falando com suavidade.

- Vocês devem estar brincando! Essa é a melhor notícia que eu poderia receber – ele quase grita, se levantando e virando de frente para os dois. – A mamãe vai vir morar conosco?

- Sim, eu já até... – ela responde.

- Legal! – Jay interrompe a mãe. – Vocês já contaram pro vovô? E pros meus tios?

- Ainda não, você é o primeiro a sab... – é a vez de Jack ser interrompido.

- Então eu quero contar pra eles agora!

- Seu avô deve estar ocupado, outra hora nós falamos com ele. Ou melhor, vou escrever pra ele agora mesmo. O que é que você acha? – pergunta o professor, radiante de felicidade.

- Perfeito! E eu posso contar pros meus amigos?

- Claro, querido – responde Cassie, num tom muito meigo.

- Cara, eles vão pirar – ele corre para porta, saindo. – Ah, e vocês são os melhores pais do mundo!

O casal se encara longamente, sorrindo.

- E você que estava achando que ele não reagiria bem – ele brinca.

- Cala a boca e me beija, Jack – ela fala enquanto passa os braços em volta do pescoço dele.

- Sim senhora!

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