O Teste



O professor Longbottom entra na sala sorridente, carregando uma grande pilha de pergaminhos, recém recolhida do chão (ele a derrubara duas ou três vezes no caminho). Ele bate com a varinha os papéis e as folhas voam, pousando uma em cada carteira e as carinhas sonolentas e desanimadas dos jovens alunos olham perplexas para seus respectivos papéis. Al esfrega os olhos, como s esperasse acordar em sua cama macia e quentinha a qualquer momento em vez de se confrontar com um teste.

- Bom dia! Meninos, agora vou lhes dar um teste surpresa – era um costume do professor de, pelo menos uma vez por mês, aplicar um teste mais fácil ou simples exercícios individuas para ver se os alunos estavam mesmo acompanhando o ritmo da matéria. Esse mesmo costume já lhe rendera muitas travessuras de Jimmy e Fred, como a notória vez em que eles colocaram um diabrete dentro do armário do professor.

- Ãããããããããããhhhhhhhhhhhnnnnnn – respondem em coro os alunos, menos Rose que estava preparadíssima, como sempre.

- Não se preocupem, não vai valer pontos na média, é só pra eu poder medir como anda o conhecimento geral de herbologia de vocês. Mas, para tornar as coisas mais interessantes, a melhor nota vai ganhar vinte pontos para sua casa – ele já tinha dado o mesmo teste para todas as outras.

Os cinco amigos se encontraram na saída da aula e só agora Jimmy e Fred se lembraram de avisar os outros três do teste, que os dois segundanistas já tinham feito e conseguiram ir mais ou menos bem, colando é claro. Jay e Albus não tinham certeza de todas das respostas, mas mal também não tinha ido. Já Rose, pelo sorriso de orelha a orelha estampado no rosto devia ter tirado a nota máxima, o que não surpreenderia ninguém.

- Nossa Jay, como você está pálido! – Rose fala, parecendo preocupada com o amigo. – É por causa do teste?

- Não é por causa do teste, acho até que fui bem. Eu só não estou me sentindo muito bem hoje – ele responde, forçando um sorriso que o faz parecer ainda mais cansado do que suas profundas olheiras.

- Tá mais branco que de costume! Licença gente, eu já vou. Avisem pro Hagrid que, para a felicidade de meu estômago, vou declinar seu convite para o chá – diz Fred, indo em direção de alguns meninos do terceiro ano, para quem ele estava vendendo escondido alguns kits mata-aula da loja de seu pai (eles constavam na lista do Filch, é claro). Estava cada vez mais difícil contrabandear mercadorias da Gemialidades Weasley pra dentro do castelo, mas o garoto quase sempre conseguia fazê-lo com sucesso.

- Você não quer que a gente te acompanhe até a enfermaria? – pergunta Rose, retomando o assunto que o amigo parecia querer contornar.

- Obrigado, mas não precisa. Não estou doente, só tenho insônia mesmo. Vou falar com meu pai e depois vou tirar um cochilo – Jay responde.

- Cara, você vai acabar ficando doente mesmo se não começar a dormir direito. Sempre que eu acordo durante a noite você não está na cama – Al também não era muito bom para dormir, mas ultimamente permanecer horas insone era cada vez mais constante.

- Não se preocupem.Vou ver se consigo uma poção pra dormir com o papai. Tchau! – despedindo-se, Jay some rapidamente atrás de um grupo de alunos mais velhos virando o corredor.

- Sabe Jimmy, eu sei o que vocês fizeram. Se o professor Longbottom pegasse, ia tirar pontos da casa e vocês ainda iam pegar detenção – a garota o repreende.

- Se isso tivesse acontecido não importaria. De todo jeito a minha priminha vai ganhar os vinte pontos pra Grifinória mesmo, o que acabaria compensando esse meu deslize – o ruivo responde, sorrindo. Não devia ter contado para ela que havia colado.

- Não seria nenhuma surpresa, você é a melhor aluna da turma – completa Albus, muito ocupado em retirar o livro da mochila para conferir a resposta da questão três, que ele resolveu chutando e milagrosamente acertou.

- Tomara! – ela responde, muito envaidecida.

Os três escutam um barulho, muito parecido com um choro, vindo de uma sala fechada e como curiosidade não lhes falta, entram. Eles vêem que, sentado em uma das cadeiras mais ao fundo, estava um garoto loiro com a cabeça entre as mãos, soluçando e sangrando através de uma corte na sobrancelha. Imediatamente reconheceram o rosto pálido de Scorpius Malfoy, que Jimmy achou especialmente desagradável.

- Está tudo bem? – perguntou Rose, indo até ele.

- Está... sim – ele responde e se levanta imediatamente, enxugando o rosto com a manga do uniforme. Era a única humilhação que faltava: agora estavam vendo ele chorar.

- Nós podemos ajudar? – pergunta Al, olhando feio para o irmão que parecia se recusar a sequer conversar com o sonserino.

- Não precisa, está tudo bem. Foi só uma briga, não vou nem passar na enfermaria... – e Scorpius responde com um tom frio, olhando-os desconfiado.

- Pra que ninguém saiba o que estão fazendo com você. Não está certo e você tem que denunciar isso para alguém – fala Rose, exaltada com a injustiça. – Eu vi como as pessoas te tratam, não é justo.

Todos na escola implicavam com os filhos de Comensais da Morte, até mesmo Fred e Jimmy e Rose detestava isso. Não era a primeira vez que o via machucado, mas era a primeira em que conversava com o garoto. Apesar do que seu pai sempre lhe dissera sobre os Malfoy, nunca deixara de ouvir com muita admiração a maneira como seu tio Harry perdoava e relevava tudo. Além do mais, não era certo julgar as pessoas pelos atos de seus pais e pior ainda sair por aí batendo nas pessoas sem motivo.

- E ficou com pena? – o loiro pergunta, com o orgulho ferido. – Olha, eu sei que sou filho de um ex-comensal e vocês não precisam ter piedade de mim só porque o mundo está cheio de idiotas que pensam que eu tenho culpa disso.

- Ótimo, então nós já va... – fala Jimmy, visivelmente contrariado. O ruivo tenta dar meia volta, mas o irmão o segura pelo braço.

- Nós íamos tomar um chá com o Hagrid, se quiser vir com a gente – interrompe Al.

- Obrigado, mas eu não quero manchar a boa reputação de vocês – ele responde, irônico.

- Estão vendo? Ele não quer vir com a gente – insiste o ruivo, impaciente.

- É uma pena, mas de qualquer forma – ela levanta a varinha a e aponta para o ferimento de Scorpius – Episkey!

- Valeu – ele responde timidamente, passando a mão pela sobrancelha.

O corte se fecha enquanto Jimmy sai bufando da sala. “Espera só o tio Rony saber os amiguinhos que a filha dele está fazendo” pensa ele, jogando os braços pra cima. A rivalidade típica entre grifinórios e sonserinos aumentara muito desde o fim da Guerra e agora os integrantes de ambas as casas se hostilizavam o tempo todo, e Jimmy era um dos que mais detestava os alunos de uniforme verde e prata.

- Falou, Malfoy! Se precisar de ajuda com esses idiotas, eu conheço as pessoas certas – fala Al, saindo no encalço do irmão.

- Se cuida – diz a garota acenando e se põe a correr para alcançar os primos. Teria que conversar seriamente com Jimmy. Onde já se vi fazer uma grosseria dessas por causa de um preconceito besta?

O loiro se senta novamente, ainda digerindo o que acabara de lhe acontecer. Dois dos garotos mais legais da escola tinham convidado ele, que era odiado até por boa parte de sua própria casa, para ir tomar chá e ele não aceitara. Claro, porque eles só podiam estar zoando com a sua cara! Provavelmente no dia seguinte toda escola estaria rindo dele por ter sido visto chorando, mas pelo menos seu rosto já não doía mais.

- Você não devia tratar ele assim, ele estava sofrendo – repreende Rose. - Custava ter sido legal só pra variar?

- Vocês querem que eu fique paparicando aquele... Vocês sabem bem quem é o pai dele e o que ele fez com meu pai – quase grita Jimmy.

- É, mas a avó dele também salvou a vida do papai – contra-argumenta Al, muito decepcionado com o irmão. Seus pais sempre lhes ensinaram a serem justos, mas parecia que Jimmy compartilhava mais da opinião do tio Rony de que todos os Malfoy não prestavam.

- Olha, não fui eu que bati nele e não tenho a mínima obrigação de... – o ruivo fala, bastante irritado.

- É fácil ser mau, mas é infinitamente mais fácil ser indiferente – interrompe Rose. – E não ligar não faz de você uma pessoa melhor.

- É, e onde você leu isso? – Jimmy responde furioso, se separando dos dois e rumando para a torre da Grifinória. Quem aquela metida pensa que é para ficar lhe dando lição de moral?

- Deixa ele, vamos ver o Hagrid – diz o moreno, quase alegre, passando o braço sobre os ombros da prima. – Aposto como ele preparou algo delicioso pra nós.

Os dois começam a rir porque a comida de Hagrid era qualquer coisa no mundo, menos deliciosa.

[...]

Jay bateu na porta já aberta da sala de Jack, que gesticulou para que ele entrasse e se sentasse. O garoto observou a expressão zangada do pai enquanto terminava de escrever uma carta, dobrava-a, e guardava num envelope que em seguida enfiou no bolso. Ele muda completamente suas feições e sorri ao virar-se para o filho.

Era estranho como a simples presença de Jay o acalmava, por mais triste e desapontado que estivesse. O garoto enchia Jack de orgulho e alegria, apagando qualquer coisa ruim que pudesse passar por sua mente.

- E aí, como você está se sentindo? – o pai falou, se sentou, passou seu braço em volta dos ombros de Jay e lhe ofereceu uma garrafa de prata que o garoto recebeu desanimado.

- Meio fraco, como sempre... – o filho toma um grande gole. – E com o senhor, tudo bem?

- Nada de novo. É só o seu avô, me tratando como criança – ele viu Jay reparar numa carta amassada dentro da lixeira, que provavelmente seu avô teria mandado, causando a irritação de Jack. – Também tem uma carta pra você, está em cima da mesa. É da sua mãe, chegou faz pouco tempo.

Jack observou sorrindo o filho se levantar com um pulo e pegar a carta, rasgando duma vez o envelope que o separava das tão desejadas palavras de sua mãe. Era óbvio o quanto Jay sentia falta dela, já que nunca tinha passado tanto tempo longe da mãe. Imagine ele, que não via sua amada Cassie há mais de um ano! Ele mais uma vez se amaldiçoou por tê-la afastado de si, jurando que falaria com ela assim que possível. Céus, como a simples idéia de falar com ela já era maravilhosa...

- Que legal! – Jay abriu um largo sorriso, que só parecia aumentar a cada linha lida. – Mamãe diz que está com saudades e quer saber se ela pode me visitar no domingo.

- Diga a ela pra vir – o pai corresponde à felicidade do filho, se controlando para não soltar um “imediatamente!”.

- Mas e o nosso passeio por Hogsmead? Você disse que queria me mostrar uma coisa...

- Não tem problema, fica para outro dia.

Jack estava planejando apresentar Marie ao filho, mas preferiu não fazê-lo ao menos por enquanto. Quem sabe as coisas não mudariam radicalmente antes disso? Pelo menos era isso o que o professor de DCAT desejava.

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