A Loira



Os dias que se seguiram Jimmy e Fred passaram pregando peças nos outros alunos (principalmente os da Sonserina) e no zelador Filch (o alvo preferido) e bolando armadilhas para capturar Madame Nora, sempre a soltando pintada de uma cor diferente e algumas vezes acrescentado chifres ou antenas ao animal. Rose e Agatha, que já se tornaram melhores amigas, também tinham se enturmado com todas as alunas dos primeiro ano e elas andavam juntas pra cima e pra baixo aos risos. Já Albus e Jay passavam quase todo o tempo lendo revistas de quadribol ou falando sobre isso e jogando xadrez de bruxo.

Era uma aula de poções e Fred e Jimmy, obviamente, estavam sentados juntos, preparando uma poção do sono como o professor os havia mandado fazer (na verdade eles estavam fazendo uma bomba de mau-cheiro, idéia genial bolada pelo ruivo). Quase todos os colegas já tinham terminado e agora o professor Stapleton passava de mesa inspecionando os resultados. Ele era um homem de estatura média, mas muito magro, com os cabelos cor de palha ligeiramente grisalhos partidos ao meio, um fino bigode e uma barbicha, que o fazia lembrar um bode velho e mal-alimentado.

O caldeirão dos dois começou a soltar uma fumaça amarelada muito fedorenta e o professor veio furioso até a carteira onde estavam e soltou um gemido de desaprovação.

- Mas que porcaria vocês pensam estar fazendo? – a voz desagradável do professor chamou a atenção de todos os alunos que, conhecendo bem seus dois colegas de turma, sabiam que uma discussão muito divertida estava a caminho.

- Uma bem fedida – Jimmy responde em meio a um careta, fazendo os alunos em volta rirem e os olhos de Stapleton se semicerrarem, numa expressão de ódio.

- Se nós realmente precisássemos de uma poção do sono o professor Binns seria demitido porque as aulas dele teriam perdido toda a serventia - completa Fred, com um sorriso debochado, rompendo em gargalhadas toda a sala.

- Será que vocês são tão inúteis que não conseguem me obedecer nem uma só vez? Ou será que sua incapacidade não permite que vocês atinjam o nível do resto da sala?

- Pois saiba que sou um bruxo muito capaz. Quer ver? – Fred se levanta e com um movimento da varinha, faz com que o bigode do professor comece a crescer sem parar.

Instantes depois o professo , vermelho de raiva e agora com o bigode quase quilométrico jogado sobre o ombro, leva o jovem Weasley aos empurrões até a diretoria. Os outros alunos foram dispensados da aula (até mesmo Jimmy), o que os deixou quase tão felizes quanto ao verem o efeito do feitiço empregado em Stapleton. Ele bate com força na porta, mandando que o garoto o espere do lado de fora.

- Entre – fala Minerva, com um mau pressentimento: uma certa dupla de alunos estava quieta demais, pelo menos até agora. Ela se levanta e tem de fazer muita força para conter o riso ao ver o professor de poções tentando puxar o seu bigode que ficara preso na porta, mas recupera o ar sério antes que ele perceba. Não necessitando de explicações, ela apenas pede uma confirmação – Potter e Weasley?

- Dessa vez só o Weasley! Eu sei que a senhora me pediu para ter paciência, mas essas pestes são insuportáveis. Não é a primeira que me aprontam e eu não sei mais o que fazer. Não há uma só aula que eles não tumultuem e o pior deles é justamente Fred Weasley!

- Acalme-se, lembre-se que eles são apenas crianças – ela fala, fingindo não ver que alguns quadros na parede estavam rindo o mais silenciosamente que podiam, cobrindo a boca com as mãos. Ela própria fazia muita força para esquecer a comicidade da situação.

- São uns monstros, isso sim! – ele levanta as mãos num gesto teatral de raiva, mas um dos baços se enrosca no bigode, e então prossegue bufando ainda mais irritado e tentando soltá-lo - Se a senhora não tomar uma atitude drástica vou ter que me demitir, pois já não suporto mais. E não sou só eu: todos os professores estão reclamando.

- Vou fazer o possível, Bernard. Agora se acalme e mande-o entrar – o professor, agora com os dois braços enroscados de tal forma que ele quase não consegue abrir a porta, sai cuspindo fogo e o garoto entra com uma expressão humilde e ao mesmo tempo compenetrada. – Explique-se, por favor.

- Não há o que explicar, diretora. Tudo o que aquele bode velho disse é verdade. Confesso que aprontei uma boa com ele, mas ele mereceu: esse cara me chamou de incapaz e inútil.

- Mas não é o primeiro professor que o senhor e o seu primo atormentam.

- Dessa vez o Jimmy não tem nada a ver com isso. Eu fiz sozinho, pra mostrar pra ele o quanto eu sou capaz. E sinceramente não estou nem um pouco arrependido.

- Então o senhor terá que arcar com as conseqüências sozinho também - ela afirma balançando negativamente a cabeça, novamente sentada em seu lugar atrás da escrivaninha.

- Perfeitamente – ele responde muito sério e a diretora arqueia as sobrancelhas, levemente surpresa.

- Ótimo, porque o senhor vai receber uma detenção recorde. Weasley, você vai passar duas horas diárias arrumando a biblioteca – sentencia McGonagall.

- Até quando? – pergunta Fred, arregalando os olhos.

- Até as férias e, levando em conta seus precedentes, acredite que eu lhe dei um castigo relativamente leve. Pensa que eu já me esqueci de quando o senhor deu a Poção dos Soluços para o zelador Filch beber (ele ficou soluçando três dias seguidos) e de quando o senhor e o seu primo viraram metade dos quadros da escola de cabeça para abaixo? Isso só para citar alguns casos...

- Mas é que ainda estamos na primeira semana de aula.

- Tanto melhor. Assim o senhor se ocupará com alguma coisa útil e vai parar de fazer besteiras.

- Isso, com todo o respeito, eu já não posso lhe garantir.

- Saia, Weasley. Vá direto para a biblioteca e se eu receber mais uma reclamação do senhor serão três horas diárias.

- Sim senhora – ele saiu pensando se poderia aproveitar o tempo da detenção para dar uma espiada na Sessão Restrita.

Fred caminhou até o fim do corredor, onde seu parceiro no mundo do crime já o aguardava. Ele contou ao primo sua detenção e este ouviu fazendo com uma careta.

- Vi o Stapleton saindo da sala. Ele até tropeçou no bigodão – Jimmy fala e começa a rir, acompanhado do primo. – Se você quiser, eu posso ir lhe fazer companhia.

- Não cara, não precisa.

- Ufa, ainda bem! Eu detesto bibliotecas.

- Eu também, elas me dão medo.

- É, elas são tão sinistras e silenciosas...

- Não é isso não. São os livros, eles me dão arrepios.

[...]

Nesse momento Jimmy estava só, sentado sob uma árvore lendo “Quadribol através dos Séculos”, já que as únicas coisas que ele lia tinham de estar obrigatoriamente relacionadas ao esporte. Albus estava colocando suas lições atrasadíssimas em dia, Jay tinha sumido novamente (agora ele tinha dado pra desaparecer do nada), Fred estava cumprindo seu castigo e Rose devia estar fofocando com as amigas em algum canto. O ruivo estava tão entretido que não percebeu que uma garota loira da Corvinal, se aproximava.

- Oi, desculpe eu te interromper, mas é que eu preciso desse livro urgentemente e não tem nenhum outro livre na biblioteca. Será que quando você terminar, podia me emprestar? – ela sorriu lindamente, fazendo brilhar os seus olhos cor de âmbar.

- Tudo bem, eu já estou terminando mesmo. Se você quiser esperar, só faltam três páginas. – ele sorriu pensando “Que gata!”, e ela se sentou ao seu lado.

- Meu nome é Crystal McGinty – ela lhe estendeu a mão que ele beijou, fazendo-a corar. - Você é o Potter, certo?

- É, e você tem um lindo nome – ele falou, dirigindo novamente o olhar para a página em que estava. Durante a leitura fez-se um silêncio educado, quebrado por um Jimmy sorridente que bagunçava os cabelos já bastante revoltos. – Pronto, pode ficar. Mas eu tenho que devolvê-lo na sexta.

- Acho que vai dar tempo, valeu.

- Você é do primeiro ano, certo? Eu teria te visto se você já estudasse aqui antes.

- Não, sou do segundo, mas é que eu mudei pra cá esse ano. Tive até que fazer a Seleção junto com os garotos do primeiro.

- Está explicado então... Aposto que você é ianque.

- Como você adivinhou? Será que é tão obvio assim?

- É que você tem cara de norte-americana, sei lá, é diferente das garotas inglesas – responde o ruivo, lançando seu melhor olhar sedutor.

- Ah tá – fala a garota meio sem graça, se levantando –, então eu já vou indo. Muito obrigada, Potter. A gente se vê por aí – ela sai, e Jimmy fica admirando como os longos cabelos encaracolados balançam, enquanto ela caminha graciosamente. Ele ficara maravilhado.

- Potter... A gente se vê por aí... - repetindo para si mesmo as palavras que ela proferira tão belamente, ele se levanta e ruma para o salão comunal, encontrando seu irmão sentado em sua poltrona habitual, fazendo suas lições com uma cara de poucos amigos, o que era perfeitamente normal, considerando que tarefa de casa é uma coisa que acaba com o humor de qualquer um. – Cara, acabei de conhecer mãe dos meus filhos.

- Já vi que você quer me falar sobre ela – Al conhecia suficientemente bem o irmão para saber que ele não lhe daria sossego até terminar de lhe contar tudo o que quisesse. Ou seja, ele seria obrigado a escutar - Como é a garota?

- Linda. E ela é do segundo ano da Corvinal.

- Cara, como seu amor é profundo! Você sabe tuuuuudo sobre ela. Não é a toa que vocês vão se casar e me encher de sobrinhos – ele revira os olhos e faz uma careta, pensando na pilha de exercícios acumulados que não daria tempo de terminar.

- Deve ser por causa dessa ironia toda que você não tem namorada – o ruivo joga uma almofada no irmão.

- E você, não tem por quê? – o moreno fecha o livro, marcando-o com as folhas de pergaminho em que antes escrevia, pronto para escutar uma longa narrativa sobre a tal garota. – Não vai me falar mais nada sobre minha futura cunhada?

- Al, como ela é linda! O nome dela é lindo. Seus cabelos, olhos, seu sorriso: tudo nela é tão lindo...

- Ainda bem que a Rose não está aqui, porque se ela visse como seu vocabulário é rico em adjetivos, ia pirar.

- Nossa, que mau humor! Mas não importa – Albus abrira a boca para falar algo, quando seu irmão o interrompe levantando uma das mãos e prosseguindo autoritariamente. - Cala a boca e escuta: ela se chama Crystal e...

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