O Dragão




As aulas transcorriam normalmente, exceto um leve murmúrio dos alunos, principalmente durante a chamada quando escutavam Weasley e Potter, já que não se falava em outra coisa na escola. O próprio professor Barker fez uma pausa e os olhou intrigado pra eles após chamá-los. Jimmy e Fred até gostavam: aproveitavam para sorrir e piscar para as meninas quando chamavam seus nomes. Os dois tinham combinado de tumultuar todas as aulas que pudessem e o novo professor teve o azar de ser a primeira vítima do dia. A “dupla maléfica” estava sentada lado a lado com as caras mais inocentes do mundo, se preparando para atacar.

Arthur tinha uma já conhecida sensação de embrulho no estômago e surpreendeu-se ao notar que, mesmo após décadas na profissão, ele ainda se sentia nervoso ao se deparar com uma nova turma de alunos. Ele adorava dar aulas e se interessava especialmente por desafios e, pelo que Jack lhe avisara, aquela turma trazia um bem interessante, ou melhor, dois. Foi sorrindo que terminou a chamada e encarou os jovens alunos.

- Bom dia! Muito prazer, eu sou o professor Arthur Barker e vou lecionar... – Fred interrompeu-o levantando a mão – Senhor Weasley?

- De que é o “S” no seu nome? – O menino apontou para o Arthur S. Barker escrito no quadro negro.

- De Simon, mas eu não gosto muito que me chamem assim...

- Por que? – perguntou Jimmy, pensando “Esse aí está no papo”.

- Isso não tem a mínima importância – ele percebera a tática dos meninos e ignorou quando os dois voltaram a levantar a mão. – Mas, como eu dizia, vou lecionar Transfiguração que é uma matéria muito importante... Mas o que é afinal? – Ele perdera a paciência porque agora Fred balançava o braço sem parar, se levantando levemente da carteira.

- É verdade que o senhor é um animago? – Ele já sabia a resposta, mas este era um ótimo assunto para enrolar a aula.

- Sim, eu sou – todo o resto da sala levantou a mão também, e ele escolhera uma aluna qualquer para lhe perguntar. Era provável que perdesse todo o resto da aula tentando se desviar de tão interessante assunto, então decidiu esgotá-lo antes de prosseguir. Suspira, já adivinhando o que a garota dirá. – Senhorita Jones?

- Em que o senhor se transforma? – Amanda fala e todas a outras mãos se abaixam. No lugar delas surgem ouvidos atentos.

- Num dragão – ele responde, de certa forma feliz pela curiosidade dos alunos. Aquilo poderia ser um trunfo para incentivá-los posteriormente.

- Ooooooooooooooohhhhhhhhhhhh – até os dois que já sabiam responderam com os demais e logo toda a sala se rompeu num falatório. Aquilo era legal demais para não se comentado com seja lá quem estiver ao lado.

- Potter? – Barker pergunta, já agora era o ruivo que levantava o mais alto que podia o braço, balançando-o de maneira cômica.

- O senhor pode nos mostrar? – dezenas de sorrisos pidões voltaram-se para o professor.

- Eu fico meio grande pra sala de aula e... Bom, – ele encontrara um pequeno tesouro, já que agora todos mantinham os olhos fixos nele, ansiando por sua resposta – isso vai depender dessa aula: se vocês se comportarem bem, vou pedir a diretora para me deixar levar vocês para uma aula ao ar livre para eu fazer uma demonstração. Quem sabe eu não leve alguns de vocês para dar um passeio nas minhas costas? – os alunos se entreolharam animados e sorrindo. A próxima aula de transfiguração, para a felicidade dos alunos do segundo ano da Grifinória, ocorreria no dia seguinte. – Agora, quem de vocês poderia me falar algo a respeito da Lei de Gamp sobre a Transfiguração Elementar? – todos levantaram a mão novamente, mas dessa vez para responder.

Pelo resto da aula, não houve mais nem um pio vindo dos alunos que estavam doidos pela tal demonstração e, já que Barker passara a ignorar as perguntas da dupla de primos, também não houve mais nenhuma interrupção. Quando Fred ou Jimmy tentava puxar assunto com alguém logo ganhava um “Psiu!” dos colegas ao lado.

E na saída a dupla foi chamada para ter uma conversinha com o professor. “Coisa boa não deve ser”, pensaram. Eles, desconfiados, já estavam se preparando para tomar o professor como alvo permanente.

- Já vi que tenho dois engraçadinhos aqui – Barker fala, mas pelo tom de voz dava para notar que aquilo não era uma bronca.

- Quem? – o ruivo teve de fazer muito esforço para não rir da cara-de-pau que o primo fez ao responder.

- Vocês, é claro. Tenho anos de experiência em sala de aula e já ouvi falar maravilhas de vocês dos outros professores. Mas vocês se esquecem que eu também já fui um aluno – ele deu uma piscadela, mas ao prosseguir retomou a ar sério de educador. – Por isso lhes chamei aqui: para lhes avisar que exijo o máximo de meus alunos, principalmente dos filhos de grandes bruxos como vocês são – ele tocou no ponto fraco dos meninos: o orgulho que eles tinham de seus pais. - Ah, e o Jay me falou do interesse de vocês por uma certa área da minha matéria que por sinal ficou bem visível na aula de hoje.

- E? – os olhos dos dois brilharam enquanto falavam, e o homem a sua frente se divertia tentando criar um quê de mistério antes de responder.

- Vamos combinar umas aulinhas. Mas isso fica só entre nós, ok?

- Muito obrigado! Isso vai ser genial – Fred lhe estendeu a mão, que este apertou prontamente.

- É, o senhor vai ver como aprendemos rápido – Jimmy repetiu o gesto do primo.

- Ótimo, mas em troca quero vocês bem aplicados na minha matéria e se comportando bem, ao menos durante as minhas aulas. Agora vão e tenham um bom dia, meninos – ele, sorrindo, sentiu que acabara de conquistar os dois, que pareciam muito felizes sob a expectativa de se tornarem animagos.

- Combinado. O senhor não vai se arrepender – o ruivo lhe acena, saindo acompanhado do primo.

- Tchau, professor. E valeu mesmo!

Durante o almoço na mesa dos professores a primeira pergunta que Jack Mallory fez ao amigo foi justamente sobre a aula com a dupla de primos que já eram temidos pelos professores. E eles até já estavam apostando entre si quanto tempo mais Neville Longbottom agüentaria dar suas aulas de Herbologia sem ter um ataque dos nervos (isso que os dois pegavam leve com ele, por ser amigo de seus pais).

- Tudo sob controle. Eles são bons meninos, só precisam de um pequeno incentivo.

- Arthur, você deve estar brincando! Até mesmo eu já sofri um bocado nas mãos deles ano passado – responde Mallory e o outro levanta uma sobrancelha, curioso. – Eu os peguei colando numas das minhas provas e por causa disso eles colaram os meus sapatos enquanto eu jantava. Levei um baita tombo na frente da escola inteira quando fui me levantar...

- Isso deve ter sido hilário – Barker não contém o riso.

- É, e por causa disso a diretora os colocou para ajudarem Madame Pomfrey como castigo durante uma semana. Coitada, uma semana com a “ajuda” de Fred e Jimmy. Isso é de enlouquecer qualquer um!

- E por falar na Minerva, qual é a dela? – cochicha o professor Barker, abaixando-se para falar com o amigo, sentado ao seu lado.

- Quê? Acho que não entendi direito – Mallory responde, com um meio sorriso irônico.

- A diretora McGonagall, ela tem alguém?

- Você está... afim dela – Jack fala e começa a gargalhar gostosamente, só parando quando percebe que está chamando a atenção das pessoas em volta. – Ela é solteira, mas, não me leve a mal, você não tem a menor chance.

- E posso saber por que não?

- É que ela só pensa em trabalho, não me lembro dela ter namorado alguém.

- Nunca?

- Bom, da outra vez que eu dei aula aqui como substituto corria um boato de que ela tinha uma quedinha pelo diretor Dumbledore, mas eu duvido muito que tenha acontecido alguma coisa entre eles. Falando sério, desista. Desse mato não sai coelho.

- De qualquer forma não custa tentar.

- Estou começando a me arrepender de ter te indicado pra esse cargo. Arthur, prometa-me que não vai fazer nenhuma besteira.

- Não seja chato, Jack! – ele tinha um sorriso maroto enquanto falava – Além do mais, a vida seria um tédio se não cometêssemos umas besteirinhas de vez em quando.

- Tudo bem, mas depois não diga que eu não te avisei!

[...]

Numa manhã gloriosa nos jardins de Hogwarts, as turmas do segundo ano da Grifinória e da Corvinal, sorviam cada palavra dita pelo professor de Transfiguração como se disso dependessem suas vidas. A cada pergunta feita por Barker todas as mãos se agitavam em busca de poder respondê-la e, quem sabe, ser o primeiro a cruzar os céus nas costas do professor. Silenciosamente, os jovens consultavam seus relógios constantemente, a espera da tão prometida (e comentada) demonstração.

- ...Por isso a transfiguração humana é tão importante, seja ela temporária ou permanente. Há diversos feitiços e poções para fazê-la e espero que mais futuramente tenhamos tempo de ver com calma ao menos os essenciais – ele sorriu para dezenas de olhos atentos e prosseguiu. – Uma das transfigurações mais interessantes sem dúvida é a animomagia – os alunos, sorrindo, prenderam a respiração e Fred cutucou o primo com mais força do que deveria, mas Jimmy conteve o impulso de chamá-lo de imbecil para não atrapalhar a aula. – Nós não vamos nos aprofundar muito nesse assunto, na verdade só veremos um pouquinho da teoria, mas acho que vocês merecem uma... ãn... recompensa por se mostrarem tão interessados. Os que quiserem dar um passeio comigo formem uma fila, que a diversão vai começar.

Então, na frente dos alunos boquiabertos, Arthur Barker se transformou num enorme dragão Verde-Galês, que da antiga forma mantinha apenas os olhos negros, mas muito aumentados, que pareciam sorrir para eles. Esquecido de que não podia falar, Barker tentou dizer algo, mas de sua enorme boca saiu apenas um rugido que fez com que uma dúzia de alunos (todos da Corvinal) saíssem da fila correndo. Hagrid, que tinha esse horário vago, ao ouvir o rugido saiu de sua cabana com os olhos brilhando e se pôs a caminho deles numa quase corrida, agitando os braços.

O dragão-professor abaixou a cabeça e um grupo de cinco estudantes corajosos (Fred e Jimmy estavam no meio, é claro) subiu por seu pescoço. Eles se posicionaram nas costas da criatura cujas escamas pareciam ser feitas de chapas de ferro e se seguraram firmemente. Depois de voar um pouco em círculos sob gritos e aplausos dos demais, Arthur pousou e os garotos desceram, descabelados e muito contentes. Hagrid correu ao encontro do gigantesco animal sorrindo.

- Mas que criatura maravilhosa! – disse o meio gigante, se aproximando com os braços abertos, como se tivesse a intenção de abraçá-lo.

- Se me chamar assim de novo vou esquecer que sou seu amigo – respondeu Barker já de volta a sua forma humana e fingindo estar zangado, fazendo todos os alunos rirem.

- Mas eu pensei... Parecia que... – fala Hagrid, visivelmente confuso.

- O professor é um animago! – explica uma corvinal com pena do embaraço de Hagrid.

- Acho que mais um pouquinho e ele ia beijar na boca do Barker – cochicha Jimmy para o primo, que rompe numa uma crise de risos a muito custo silenciada.

- Ah sim... Me desculpe, é que eu gosto um bocado de dragões – agora sob o emaranhado de cabelos era visível um tom muito avermelhado cobrindo as faces dos professor de Trato com as Criaturas Mágicas.

- É, eu percebi – agora Barker também estava rindo. – Bom, prossigamos.

O dragão voltou a surgir no lugar do professor e Hagrid chegou a dar uns pulinhos de contentamento. Os enormes olhos negros reviraram em direção ao céu, a cabeçorra do animal balançou negativamente e então voltou a descer até o chão, para que mais um grupo de alunos subisse. Desde então Barker se tornou o professor preferido de ambas as turmas.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.