O Susto
A turma do segundo ano da Grifinória estava tendo sua última prova escrita de transfiguração do ano, e reinava um silêncio absoluto na sala da aula, quebrado apenas pelo som das penas aranhando os pergaminhos. Não era uma prova muito difícil, mas exigia uma grande quantidade de atenção, principalmente de quem estava colando.
Esse era o caso de Fred, que estava terminando de copiar a questão número quatro de seu colador quando sente a mão de um irritadíssimo professor Barker em seu ombro. Ele levanta a cabeça lentamente, enquanto tenta encobrir com a mão esquerda o polegar da mão direita.
- O que é que você pensa que está fazendo, Weasley?
- Na-nada, professor.
- Deixa eu ver esse anel – Barker ordena e, sem que ele perceba, mais da metade da sala retira seus coladores e os esconde enquanto Fred lhe entrega o objeto. – Tenho de admitir que isso aqui é muito engenhoso. Mas o senhor deve estar ciente de que será severamente punido.
- Mas professor...
- Pra começar me entregue essa prova. Porque senhor vai fazê-la novamente amanhã. Ou melhor, vou elaborar outra mais difícil especialmente para ocasião.
- Ah, não. Fala sério!
- Depois eu lhe digo qual será a sua detenção, agora se retire da sala.
- Sim senhor. Mas e o meu anel?
- Isso aqui está confiscado, senhor Weasley! – o velho responde energicamente e guarda o objeto no bolso do casaco. - E, para todos vocês, eu não quero ver mais ninguém usando um desses. Ouviram?
- Sim senhor – toda a sala falou em uníssono, olhando com raiva para Fred.
O garoto, por sua vez, saiu da sala cuspindo fogo “Se o professor não tivesse sido tão legal nos ajudando a virarmos animagos, ele ia ver só!”. Mas amanhã de manhã ele teria prova de História da Magia e como, sem ter todo o conteúdo e não tendo estudado absolutamente nada até agora, ia fazê-la? Mesmo que pudesse, não teria tempo de arrumar outro e estudar estava totalmente fora de cogitação. Logo, o que Fred precisava mesmo era recuperar seu colador o quanto antes.
Por isso após o final das aulas, escondido sob a capa de invisibilidade, ele entrou furtivamente na sala de Barker e estava procurando o tão precioso objeto nas gavetas da escrivaninha quando o professor entra, fechando a porta atrás de si. “Saco, agora vou ter que esperar ele sair”, pensa o grifinório, se distanciando um pouco da escrivaninha para que não corresse o risco de ser descoberto.
O garoto se posiciona num canto onde não se poderia esbarrar nele, já que não havia outro remédio senão esperar que a porta se abrisse novamente. Pouco depois, sem bater na porta, entra McGonagall com uma cara sorridente, fechando a porta atrás de si antes mesmo que Fred pudesse chegar perto. “Que estranho”.
- Mandou me chamar? – Minerva pergunta com um ar de intimidade que deixa o maroto desconfiado.
- É, eu queria falar com você – Arthur fala, vai até a porta e, para decepção do garoto, a tranca. – É que eu estava morrendo se saudades, Minie.
O professor enlaça a diretora pela cintura e a beija. “Eles estão namorando escondido!?! Que nojo. E pensar que eu podia estar numa boa, cumprindo detenção, ardendo de febre numa cama da enfermaria, sendo atacado por lobisomens, assistindo aula... mas nããããããão! Eu estou aqui vendo esses sem-vergonhas fazendo isso”.
- Não seria melhor esperarmos até a noite, é meio arriscado... – diz a diretora, enquanto Fred faz careta.
- Ah amor, eu tô morrendo de saudades! Se não fosse por aqueles quadros chatos eu teria ido lá na sua sala te fazer uma visitinha – ele responde, beijando o pescoço da diretora e descendo a mão até a cocha dela. “Socorro!”, pensa Fred procurando uma saída qualquer. A idéia de pular pela janela lhe passou pela mente, mas ela infelizmente também estava fechada.
- Arthur, é melhor não. Isso aqui não é hora nem lugar.
Fred se desespera, “Mérlin, faça com que o professor obedeça ela!”. Bem, era melhor ter que ver aquilo do que ser cego. Ou não.
- Só um pouquinho, meu bem – ele insiste com uma voz meiga e, na opinião do garoto, ridícula.
Agora os dois estavam no maior amasso no sofá. “Ai meu Deus, eu preciso sair daqui imediatamente! Se eu conseguir sair são (duvido muito) e salvo daqui prometo nunca mais implicar com a Rose, deixar a madame Nora em paz, doar toda minha coleção de figurinhas pro Jimmy...”. Fred, agradecendo aos céus por ter tido uma idéia, caminha até a porta e bate nela com força.
O casal levanta num pulo, recompondo-se: o professor estava com uns botões da camisa abertos e ela, além de muito vermelha, estava com a roupa toda amassada. “Coroas safados! Vou ter pesadelos com isso pro resto da vida e gastar uma fortuna com psicólogos quando ficar mais velho”.
- Abre logo essa porta – Minerva sussurra.
- Mas e quanto a nós? – Barker pergunta com cara de pidão.
-
Continuamos depois – ela responde Fred dá mais três batidas na porta, querendo sair o mais rápido possível dessa situação.
- Mas Minie, eu não tenho mais idade pra...
- Pois então tome um banho frio – ela interrompe autoritária. - Vamos, abra logo!
Fred bate novamente na porta, com mais força ainda “Não acredito que eles iam... Eca, eca, eca, eca!”. Barker então finalmente abre a porta e fica furioso por não encontrar ninguém do lado de fora. E Minerva, muito corada, aproveita para sair.
- Hei, ande você pensa que vai?
- Tenho que resolver umas coisas. Até mais, Arthur! – diz a diretora, já no corredor, caminhando apressadamente.
- Mas e quanto a... – ele insiste.
- Depois! – Ela fala entre um sorriso, virando à direita.
Fred, por sua vez, corre o máximo que consegue na direção contrária e chega ofegante no dormitório, onde estavam Jay e os primos estudando para as próximas provas. Ao vê-lo chegar pálido e com os olhos esbugalhados, eles se assustam.
- Está tudo bem, cara? – pergunta Jimmy, preocupado.
- Vou te dar minha coleção de figurinhas – ele responde, ainda sem fôlego.
- Definitivamente ele não tá legal – comenta Al, rindo.
- O que foi que aconteceu? – pergunta Jay, que estava mais curioso do que preocupado com o amigo.
- Prefiro não falar sobre isso - os outros três abrem a boca para insistir na pergunta, mas ele levanta a mão para interrompê-los. – Acreditem, vocês não vão querer saber. Agora vou tomar um banho e lavar bem os meus olhos, muito bem mesmo.
[...]
Felizmente todos os Marotos conseguiram passar de ano, ainda que os dois mais velhos por um triz. E foi com pesar que eles se separaram, ainda que por pouco tempo. Isso porque o casamento de Jack e Cassie estava marcado para dois dias depois e os quatro não perderiam essa festa por nada desse mundo. Inclusive Fred e Jimmy já tinham bolado um mirabolante plano B para o caso de não conseguirem convencer Harry e Gina a levá-los. Mas acabou não sendo necessário porque o casal Potter foi muito compreensivo e prometeu levar os filhos e sobrinhos sem contar nada para o resto da família, já os garotos não tinham a mínima intenção de causar nenhum infarto na avó Molly. Não chegaram a contar nenhuma mentira, apenas omitiram o pequeno detalhe de que a festa de casamento ocorreria em meio a maior concentração de vampiros que já tinham ouvido falar.
Na data em questão eles chegaram atrasados e acabaram perdendo a cerimônia religiosa porque gastaram um tempão convencendo Rony a não ir junto. Então era tarde da noite quendo Harry e Gina cruzaram impressionados os portões do castelo dos Mallory na Irlanda, que era o maior que já haviam visto, cercado de belos jardins e localizado a uma curta distância de um pequeno vilarejo.
Eles foram recebidos na porta por Jay e seus pais e lá dentro se depararam com a maior festa que haviam visto na vida: o amplo salão principal (duas vezes maior que o de Hogwarts) estava luxuosamente decorado e repleto de vampiros e bruxos, alguns conversando nas muitas mesas mais ao fundo e a maioria dançando. Muitos garçons de máscaras e roupas negras transitavam oferecendo comida e bebida enquanto uma famosa banda bruxa tocava, animando os convidados.
Foi com um enorme alívio que Harry reconheceu a mesa onde estavam sentados os professores de Hogwarts em meio à multidão (fato devido unicamente a figura incomum de Hagrid, é claro) e se dirigiu pra lá com a esposa. Quando os dois se deram conta as crianças já haviam sumido, juntamente com o amigo. Agradecendo aos céus por terem deixado Lily e Hugo com Rony e Hermione, viram os cinco marotos correndo pela porta lateral que dava acesso ao jardim.
Depois de apresentar os amigos de Hogwarts a seus amigos vampiros, Jay passou a mostrar o castelo ao resto dos marotos, mas a essa altura Fred já desaparecera, provavelmente achando mais divertido voltar para a festa ou tentar entrar na cozinha para pegar um pouco da deliciosa e finíssima comida que seria servida no jantar. A pedido de Rose, agora eles se achavam na gigantesca biblioteca ricamente mobiliada de Alexander. Havia milhares de exemplares, a maioria de primeiras edições conservadas em excelente estado, sobre os mais variados temas e separadas em estantes que chagavam até o altíssimo teto. Seria preciso uma eternidade para ler tudo aquilo, logo só mesmo numa casa de imortais para encontrar semelhante coleção.
- Nossa, isso aqui perece um sonho! – fala a garota, com um entusiasmo que seus amigos não compartilhavam. A família do amigo vampiro acabara de ganhar dezenas de pontos com ela, pois havia mais livros ali do que na Sessão Restrita da escola, sem contar que os dali pareciam mais interessantes também.
Albus, por sua vez, teve sua atenção chamada por uma pintura que mostrava aquele mesmo castelo, só que muitos anos atrás e com um enorme exército de cavaleiros cavalgando pela estrada que levava ao vilarejo. Jay lhe explicou que se tratava de uma das batalhas que sua família tinha travado séculos antes contra outro clã rival, os mesmos com quem estavam em guerra atualmente.
Por ter se cansado rapidamente do local, Jimmy se sentou na poltrona atrás da escrivaninha e se pôs a imitar McGonagall:
- Potter, você aqui de novo! Eu já estou cansada de você e seu primo aprontando e como castigo vocês vão limpar sozinhos todas as vidraças de Hogwarts usando apenas uma escova de dentes cada um – ele falava imitando a voz da diretora, enquanto Jay e Al gargalhavam e Rose lhe lançava um olhar severo. – E o que vocês dois estão achando tão engraçado? Pois então terão de varrer toda a Floresta Proibida! Eu não quero achar nem uma folhinha seca caída no chão, ouviram mocinhos? E você, senhorita Weasley, vai subir as escadas da torre de astronomia carregando o professor Hagrid no colo.
Agora os quatro estavam tendo um ataque de risos. Pronto para continuar a brincadeira, Jimmy tirou o chiclete que mascava, mas ao colá-lo embaixo da cadeira notou algo estranho que chamou sua atenção.
- Jay, tem um botão aqui embaixo – fala o ruivo, enquanto os outros três ainda riam.
- Tá, mas não aper... – Jay não terminou de falar, porque Jimmy já apertara o botão, causando um ruído estranho como de uma grande pedra estivesse sendo deslocada.
Ao mesmo tempo que o estranho som crescia, a parte de baixo ( que ainda media mais de três metros de altura) de uma das enormes estantes cobertas de livros se movesse para trás, revelando uma passagem secreta. Estava tão escuro lá dentro que só dava pra ver que o lugar era enorme, aparentemente tão alto quanto a biblioteca.
- Ops! – exclama Jimmy, se levantando e se juntando aos outros três no portal, onde até a pouco havia uma estante. – Vamos dar uma olhada.
- Nem pensar! A gente não sabe o que tem aí dentro – repreende Rose e os três a olham não muito convencidos por seu fraco argumento.
- O Jay deve saber – rebate Al curiosíssimo.
- Não faço a menor idéia, pra falar a verdade nem sabia que tinha isso aí – responde Jay com um sorriso nervoso. Era estranho pensar que conhecia aquele castelo desde que nascera e nunca tinha sequer ouvido falar nisso.
- Então vamos entrar e descobrir – o mais velho decide, entra e os outros três o seguem.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!