O Aniversário



Era o aniversário de Crystal e Jimmy preparara para a namorada, com a ajuda de seus amigos e das amigas da garota, uma festa surpresa no salão comunal da Grifinória (porque se fizessem no da Corvinal ela acabaria descobrindo). Os alunos da casa dos leões até gostaram, pois já estavam acostumados com a presença da loira, que ultimamente ficara grande amiga de Rose a Agatha.

Após a festa, na qual Jay tocou violão e Fred organizou um pequeno show de fogos enquanto paquerava as amigas da aniversariante, o ruivo saiu com a namorada para passear pelos jardins. O sol poente recortava a sombra do jovem casal na luz laranjada que emanava contra o local e os dois se sentaram na beira do lago, que agora refletia as cores que o céu e as nuvens assumiam belamente. Ele a abraçou enquanto acariciava os cabelos da garota e esta se recostava, suspirando, no peito dele.

- Muito obrigada pela festa, foi fantástica.

- Eu só tive a idéia, todo mundo ajudou.

- Eu sei, mas mesmo assim foi o melhor presente que você poderia me dar.

- E quem disse que esse foi o meu presente? – responde o garoto, com um sorriso misterioso.

- Ah, não?

- Não, meu presente está aqui – ele se solta da dela para retirar um embrulho pequeno de dentro do casaco, que entrega para Crystal ainda com o mesmo sorriso. – Encomendei por reembolso coruja. Deu um bocado de trabalho, mas pensei que fosse a sua cara.

- É lindo! – responde a garota, retirando da caixinha a fina corrente de prata com um pingente que era um pequeno cadeado em forma de coração.

- É, eu sei. E o presente não é nada mal também – ele puxa de debaixo da camisa uma correntinha idêntica, mas com um pingente em forma de chave. – Agora eu tenho literalmente a chave do seu coração.

- Você está ficando cada vez mais modesto. Se não fosse tão incrivelmente romântico eu estaria zangada com isso – ela brinca, dando-lhe um beijo e colocando o presente, cuja corrente se ajusta magicamente ao pescoço da garota.

- Como eu posso ser modesto quando sou o cara mais sortudo do mundo?

- Continue assim e vai receber o prêmio de melhor namorado do ano.

- Eu já tenho o meu prêmio: você – agora é ele que a beija, com as mãos afundando nas madeixas loiras e perfumadas do cabelo dela, ao mesmo tempo em que a garota se perguntava se aquilo era mesmo real ou só um sonho.

Depois que todos se retiraram e as amigas de Crystal levaram os presentes dela para o dormitório feminino Fred sumira (muito bem acompanhado por sinal) deixando Al, Jay, Rose e Agatha arrumando toda a bagunça deixada pela festa sozinhos. É impressionante como as pessoas somem rapidamente quando se trata de trabalhar, ainda mais com a barriga cheia de bolo e suco de abóbora.

- Não sabia que você tocava violão – Rose comenta, sumindo com o último copo sujo.

- Sei tocar guitarra também, foi o tio Victor que me ensinou. Ele sabe tocar qualquer coisa! – disse Jay, sentando-se numa poltrona com o violão no colo.

- Você me ensinaria? – pergunta Al, enquanto as garotas se acomodam no sofá ao lado.

- Claro – responde o vampiro, dedilhando a esmo no instrumento.

- É, mas faça isso depois. Agora toque, por favor – pede Rose e o garoto obedece prontamente enquanto o outro casal de amigos troca um olhar significativo.

Agatha deu uma desculpa qualquer e sobe para o dormitório feminino, já Al esperou alguns minutos e saiu de fininho sem que os amigos percebam. Jay continuou tocando por um bom tempo e a garota fechou os olhos e se deitou no sofá, movimentando os dedos pousados sobre a barriga ao som da música, enquanto o jovem Mallory aproveitava para observá-la melhor.

O garoto fez muita força para se concentrar na canção, já que seus pensamentos teimavam em se perder no efeito que o cabelo ruivo dela causava sobre o sofá vermelho. Ele podia notar a respiração suave e a expressão plácida no rosto da garota, cujas sobrancelhas e a boca se arqueavam levemente nas partes em que ela mais gostava da música, e Jay teve vontade de ficar ali tocando para sempre.

Aí Jay olha para os lados e só então se dá conta de que está sozinho com ela, e isso lhe dá certas idéias que lhe abrem um sorriso maroto nos lábios. Talvez essa fosse a hora de ele se abrir, afinal. Com o coração acelerado ele abre a boca para falar algo, mas é interrompido pelo retrato que se abre bruscamente, fazendo a garota levantar imediatamente.

- Cadê o povo daqui? – pergunta Fred chegando com as roupas amassadas e os lábios levemente inchados e sendo fuzilado por dois pares de olhos bem conhecidos.

[...]

O castelo estava bastante quieto naquela noite, isso porque o toque de recolher já havia sido dado há um bom tempo. Arthur e Minerva tiveram um agradável jantar na Sala Precisa, que convenientemente tinha se transformado num salão decorado romanticamente para a ocasião. Agora eles apenas conversavam. Era a primeira vez que Barker a via de cabelos soltos.

- Estava tudo delicioso – a diretora perguntou depois de beber um pequeno gole de vinho. - Foi você quem cozinhou?

- Não, eu não sou muito bom com isso então pedi para os elfos domésticos. E não precisa ter medo porque eu não coloquei aí nem uma gota de amotentia – o professor debocha e ela se segura pra não rir se lembrando da enorme quantidade de alunos que ela já repreendera pelo uso de poções do amor. Nem ele seria tão infantil assim - Quer mais vinho?

- Não, obrigada. Acho que já bebi demais – ela responde, surpresa por estar se divertindo tanto na companhia daquele homem que antes ela julgava intragável. Talvez essa mudança de perspectiva se devesse ao fato de ser extremamente fraca para bebida e a segunda taça já lhe bastara para deixá-la um pouco alta.

- É uma pena, porque eu estava pensando seriamente em te embebedar e me aproveitar de você. – ele fala sorri maliciosamente, a Minerva brinca fazendo uma cara zangada e balançando a cabeça negativamente. - Quer dançar? – diz o professor, movimentando sua varinha em direção ao gramofone no canto da sala, que se põe a tocar.

Someday \Algum dia
When i'm awfully low \ Quando eu estou terrivelmente triste,
When the world is cold \ Quando o mundo está frio,
I will feel a glow just thinking of you \ Eu sinto um calor só de pensar em você,
And the way you look tonight \ E o jeito como você está essa noite


- Isso eu aceito. Mas nada de gracinhas – ela fala e se levanta.

Minerva aceita a mão estendida por ele e se deixa guiar até uma parte de sala que se transfigurou imediatamente numa pista de dança. Ela está levemente tonta e não sabe se é por causa o vinho, da dança o do perfume do professor. É claro que ela não admitiria a terceira hipótese nem sob tortura, então preferiu pensar apenas no vinho.

Já Barker mantinha-se um tanto nervoso, tentando controlar-se ao máximo possível porque queria que tudo saísse perfeito dessa vez. Não se perdoaria se voltasse a estragar tudo, justo agora que perecia ter progredido tanto. Mesmo assim tinha certeza de que a qualquer momento levaria um soco ou algo do tipo, e isso nem lhe parecia tão desagradável assim.

Oh, but you're lovely \ Oh, mas você é linda
With your smile so warm \ com seu sorriso caloroso
And your cheeks so soft \ e sua pele tão macia
There is nothing for me but to love you \ Não há nada a fazer, a não ser amá-la
Just the way you look tonight \ Exatamente da maneira que você está essa noite...


- Sim senhora. Parece que as coisas sempre saem como você quer.

- É, e eu gosto que seja assim – agora é ela que, puxando-o pela gravata, beija o atônito professor de transfiguração. E passado susto ele corresponde muito animado enquanto eles se balançam lentamente, acompanhando a música.

McGonagall não sabia desde quando, mas estava irreversivelmente apaixonada por Arthur. Adorava toque de barba em seu rosto, o senso de humor muitas vezes inoportuno e a exagerada teimosia do outro. Ora, ela também era teimosa, mas admitia que ele a vencera com persistência e muito charme. Sem dúvida que tinha quase certeza de que se arrependeria mais tarde, mas deixou-se levar.

With each word your tenderness grows \ A cada palavra sua ternura cresce,
Tearing my fear apart \ Rasgando meus medos,
And that laugh \ E esse sorriso que
That wrinkles your nose \ que enruga seu nariz
Touches my foolish heart \ toca meu coração bobo


Ele não esperava que ela tomasse uma atitude tão maravilhosa e inesperada. Estava acostumado a vê-la tão ponderada e até tímida que não pôde conter sua surpresa, que nem por isso deixou de ser devidamente apreciada. “Hum... parece que consegui conquistar esse coração de pedra”. Passaram-se alguns segundos até que ele se certificasse de que não corria nenhum perigo fisicamente e pudesse esboçar alguma reação.

- Acho que agora eu deveria te dar um tapa, certo?– Barker brinca e faz a diretora rir, com os olhos brilhando.

- Tá bom, eu mereço esse tipo de piada.

- Você fica ainda mais linda sorrindo do que quando está nervosa. Só que é bem mais fácil te deixar nervosa.

- É que você tem um dom natural pra isso.

Lovely never ever change \ Adorável, nunca mude
Keep that breathless charm \ mantenha esse charme incrível
Won't you please arrange it \ por favor, faça isso?

Cause i love you \ Por que eu te amo
Just the way you look tonight \ Exatamente do jeito que você está esta noite


- Não fale como se fosse algo ruim, te irritar ainda é a melhor parte do meu dia.

- Pensei que poderíamos negociar isso – Minerva propõe.

- É algo a se pensar, principalmente porque você beija muito melhor quando não está tentando me agredir.
- E você também não é nada mal.

- Mas tem outras coisas que eu sei fazer bem melhor – ele levanta uma sobrancelha com um sorriso malicioso, rodopiando-a.

- E jogar xadrez de bruxo com certeza não é uma delas.

And that laugh \ E esse sorriso que
That wrinkles your nose \ que enruga seu nariz
It touches my foolish heart \ toca meu coração bobo


- Te mostro qualquer dia desses – é a vez dele beijá-la, dessa vez mais profundamente. E a aperta mais contra si, enquanto ela afunda a mão nos cabelos grisalhos do outro. – Gostaria de namorar comigo?

- Não acha que está sendo um pouco apressado?

- Pelo contrário, nunca fui tão paciente em toda minha vida. Sinceramente eu gosto de mulheres difíceis, mas você é quase impossível. Já estava quase desistindo.

- Ainda bem que não desistiu – ela completou, voltando a sorrir amavelmente.

Lovely \ Adorável
Don't you ever change \ nunca mude
Keep that breathless charm \ mantenha esse charme incrível
Won't you please arrange it \ por favor, faça isso?

Cause i love you \ Por que eu te amo
Just the way you look tonight \ Exatamente do jeito que você está esta noite


- Quem é você e o que você fez com a minha Minie? Sério, eu queria saber como se operou esse milagre.

- Acho que foi quando eu te vi preso naquela cama, tão frágil. Nunca me preocupei tanto com alguém antes.

- Mentira, isso é culpa do excesso de álcool.

- Palhaço! – ela bronqueou e deu um tapa no ombro dele e então voltou a abraçá-lo, prosseguindo num tom mais brando - Acho que tive medo de te perder e, ao mesmo tempo, me dei conta do quanto você é importante pra mim.

- Você é que é uma mulher maravilhosa, e eu só queria poder te fazer tão feliz quanto merece ser – ao falar, ele a afasta um pouco, para poder contemplá-la melhor.

- Prometo pensar no seu caso – agora ela o abraça, recostando sua cabeça em seu ombro.

Hmm...
Hmm...
Just the way you look tonight \ Exatamente do jeito que você está esta noite.


[...]

Na mesma noite, mas em um cenário muito menos feliz, John Hayter mais uma vez investiu furiosamente contra as grades, gritando. Os prisioneiros das celas em volta mandaram que ele se calasse e ele respondeu gritando palavrões. Aquele cubículo sujo e escuro era uma das celas especiais de Askaban, reservada apenas aos lobisomens como ele. Já cansado e ofegante, ele se encostou na parede e deslizou até o chão, olhando pela janela minúscula o brilho das estrelas naquela noite sem lua.

Então rosto do bruxo sofreu uma mudança, se desfigurando de medo ao ver o vulto de um morcego entrar pela janela e se transformar na figura imponente de Alexander Mallory. Ele começou a gritar novamente, dessa vez implorando por socorro, mas os outros presos riram e o xingaram, mandando que e calasse.

- Olá John – Alex falou com a voz aparentemente impassível. - Tendo uma boa noite?
- Vá para o inferno!

- Não John, você é quem vai – o imperador responde emergindo das sombras, os olhos claros brilhando assustadoramente.

- Pelo menos levarei seu neto comigo – o prisioneiro disse, forçando um sorriso sarcástico.
- Não, você não teve competência nem para atacar uma criança – o vampiro abre a camisa, mostrando o ferimento ao outro, que permanece perplexo encolhido num canto. – Mas hoje você aprenderá uma valiosa lição.

O vampiro se aproximou ameaçadoramente enquanto abotoava novamente a camisa e o outro se encolhia de pavor. Gritando e implorando por socorro, Hayter é surrado até não poder mais.
Agora o lobisomem estava estendido no chão numa poça do próprio sangue e com os dentes que ele cuspira espalhados pelo piso imundo. Seus braços e pernas, assim como algumas costelas, estavam quebrados com algumas fraturas expostas.

- Quero que saiba que eu só vou mantê-lo vivo para que você dê um recado ao seu chefe: ninguém encosta num Mallory e sai ileso – ele dá alguns passos em direção à janela e se vira com uma expressão de nojo. - E se eu tiver mais uma só notícia dessa sua existência medíocre você vai desejar ter morrido esta noite. Agora vou ver como andam seus amiguinhos...

Alex cospe no outro, já desacordado, se transforma num morcego e some na escuridão da noite.
Os guardas chegaram ao local dos gritos, que já haviam cessado, poucos minutos depois. Ao contemplar a cena, um deles vomita. Outras seis celas são visitadas naquela noite e seus prisioneiros ficam em condições ainda mais lamentáveis.

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