Capítulo 2
James quase engasgou com uísque ao ouvir aquelas palavras.
─ Seu pai? Por que não disse desde o começo? Está se divertindo a minha custa ─ ele acusou.
─ E você está me insultando desde o momento que me conheceu ─ Lílian retrucou. ─ Como se atreve insinuar que tenho um romance com um homem casado? Você não sabe nada sobre mim e muito menos Sirius!
─ Mas eu o vi beijando-a ─ ele se defendeu.
─ Está delirando! Nunca tinha visto Sirius em minha vida, até esta tarde!
James continuou sem entender.
─ Você podia ter me dito antes.
Lílian o encarou com firmeza.
─ Você teria acreditado? E agora, acredita?
─ Sim, pois é algo que pode ser provado. Fico imaginando por que resolveu me contar agora, por que não guardou o segredo durante toda a noite. Poderia ter se divertido a valer.
─ Não tenho o habito de me divertir as custas dos outros.
─ Então por que decidiu me contar agora?
─ Porque está muito preocupado com Sirius. Está ansioso em relação a ele, e acho que não há motivo para se preocupar. Achei que ficaria mais tranqüilo.
Ele balançou a cabeça.
─ Não é bem assim. É obvio que uma mulher em algum lugar está tentando substituir o amante casado por Sirius. Ele é uma pessoa com muitas posses.
─ Eu lhe falei que era outra pessoa.
─ Só posso dizer que lamento toda confusão que causei. Amanhã devo falar com seu pai. Ele deve ser informado da situação antes que Sirius venha perturbá-la outra vez.
Lílian ficou apreensiva.
─ Acredita que ele me fará outra visita?
─Pode ter certeza.
─Bem, acho que vai ser difícil encontrar-se com meu pai amanhã. Ele e minha mãe estão fora do país, visitando parentes na Escócia. Só voltam mês que vem.
─ Não quis ir com eles?
Ela hesitou, depois admitiu.
─ Preferi ficar em casa e acabar de montar meu pequeno negócio. Posso viajar depois, quando tiver dinheiro suficiente.
─ Seu pai não pode ajudá-la?
─ Ele já gastou muito com a compra do imóvel, quando vendeu a fazenda. E eu também. E é por isso que eu não pago aluguel.
─ As propriedades nessa região são muito caras.
─ É verdade. Não somos uma família de muitas posses, mas minha mãe não está muito bem de saúde e papai prometeu esta viagem.
“Por que ela estava contando detalhes da família para aquele estranho? Quando se deu conta, esforçou-se para mudar de assunto.”
─ Que tal me falar sobre Sirius?
─Durante o jantar. Já é hora de irmos para o restaurante.
Enquanto caminhavam, ele segurou levemente pelo braço. O gesto demonstrou uma certa mudança de atitude em relação a ela, e Lílian sentiu-se bem. Sentaram em uma agradável mesa iluminada por velas.
Logo depois o garçom surgiu com certa de vinhos. Lílian o reconheceu imediatamente.
─ Olá, Peter. Ainda está satisfeito com o emprego? ─ ele perguntou, com um sorriso amável.
O garçom sorriu.
─ Muito. Sempre serei grato a seu pai por ter me dado tão boas referências. Espero que esteja aproveitando a viagem, e sua mãe também, é claro.
Quando o garçom se afastou, Lílian explicou.
─ Peter era nosso vizinho antes de nos mudarmos. Quer ter seu próprio hotel. É sua grande chance de confirmar onde meu pai mora.
─ Não tenho intenção de fazer isso.
Mas uma onda de determinação tomou conta de Lílian. Quando Peter voltou com o vinho, ela disse:
─ Fico imaginando se Cathy conseguirá me encontrar quando vier a Napier.
─ Pode ter certeza que ela já sabe que você esta no pequeno apartamento do térreo, e que seus pais estão no andar de cima. ─ Peter respondeu.
Lílian sorriu, sentido-se satisfeita com a resposta de Peter. Reparou então que uma ponta de sorriso surgiu no rosto de James.
─ Cathy é irmã de Peter ─ ela explicou, quando o garçom se afastou após servir o vinho.
Houve uma pequena pausa na conversa.
─ Agora, você me prometeu falar sobre Sirius. Afinal, não é por isso que estamos aqui?
─ É difícil saber por onde começar. Sirius é filho da irmã mais velha da minha mãe. Nunca se casou. É o tipo de pessoa que podemos dizer, não tem sorte no amor.
─ Mas ele nunca teve namoradas? ─ Lílian perguntou, observando a preocupação no rosto de James.
James sorriu.
─ Claro, já teve varias namoradas. Seu primeiro amor largou-o quando estava acabando a faculdade, e ainda não tinha condições financeiras para sustentá-la. Ele ficou muito magoado, mas tentou se recuperar.
─ E conseguiu? ─ perguntou Lílian.
─ Oh, sim, ele conseguiu se recuperar, mas é claro que levou um certo tempo. Bem, seu segundo amor saía com ele durante os fins de semana e durante a semana saía com outro. Quando ele descobriu, entrou em desespero outra vez.
─ Pobre Sirius! ─ ele murmurou.
─ Dessa vez levou muito tempo para superar. Mas, no fundo, acho que foi bom. Elas não serviam para ele.
─ Como sabe o tipo de pessoa adequada para Sirius? ─ Lílian perguntou. ─ Como podemos ter certeza quando se trata de amor de verdade?
─ Não é preciso ser um gênio para perceber que o terceiro amor na vida de Sirius seria ainda mais inadequado. Ela era casada, mas pensou em largar o marido para fica com ele.
─ E fez isso? ─ perguntou Lílian cheia de curiosidade.
─ Felizmente para Sirius o marido ganhou uma razoável quantia na loteria, ela desistiu da idéia da noite para o dia.
Lílian riu, e James continuou a contar.
─ Logo Sirius começou a ganhar dinheiro. Quando juntou-se a nós, na firma que meu avô fundou há muitos anos, ele provou ser um excelente advogado. E recebeu parte da herança de nossa avó materna. Porem, agora que atingiu um grau de segurança material, parece que não ajudou quando se trata de mulheres. Há essa tal ruiva, por exemplo.
─ Como sabe que ela não serve para Sirius? Ainda não a conheceu.
─ E nem preciso conhecer. Por favor, entenda, só quero o bem de Sirius. As aparências indicam que ele está se relacionando com uma mulher cujas credencias não são, digamos, grande coisa.
─ Mas se ele ama...
─A questão é: será que ela o ama? Ou quer apenas o dinheiro?
─Não acho que tem o direito de se intrometer na vida de Sirius dessa maneira.
─Isso seria correto se Sirius pudesse ver claramente as coisas por si próprio ─ James devolveu com certa rispidez. ─ Infelizmente, desde o acidente ele é incapaz de raciocinar com clareza.
─ Acidente?
─Foi nas montanhas. Ele estava dirigindo a toda velocidade como sempre, quando o carro derrapou e caiu em uma encosta. Capotou várias vezes e só Deus sabe como ele saiu vivo.
─Ficou muito ferido?
─Quebrou alguns ossos, e teve alguns ferimentos que são a causa de todo o problema. Na verdade, ele ainda não voltou ao trabalho.
─ Que tipo de seqüela ele teve? ─ perguntou, lembrado do olhar vago de Sirius.
─ Dores terríveis de cabeça, associadas à perda de memória. Às vezes, ele volta ao passado, como hoje. Estávamos passeando na praia e me distrai. Quando percebi, Sirius havia desaparecido.
─ Ele disse que estava cansado e entrou para descansar ─ Lílian recordou a cena. ─ Deve ter sido quando saí para fazer compras.
─ Ele pensou que ainda morava lá. Entrou pela porta dos fundos, e foi até o quanto.
─ Alguma dessas mulheres na vida de Sirius foi ruiva?
─ Só a primeira. ─ Algo de repente iluminou o rosto de James. ─ Sim, é claro por isso se sentiu atraído por essa mulher. Agora você entende porque preciso ficar o tempo inteiro de olho nele? Não gostaria de vê-lo casado durante uma dessas crises de amnésia.
Ela lançou um olhar compreensivo, dando-se conta das conseqüências do problema.
─ Agora entende por que está tão preocupado ─ ela admitiu.
─ E entende também por que ele deve voltar ao seu apartamento?
─ Pelo menos saberei por que está lá, e não o expulsarei.
─ Não? ─ ele lançou um olhar penetrante. ─ E o que fará?
─ Eu... Eu farei com que se sente e descanse. Serei gentil e...
─ Gentil? Como assim? ─ o tom era irônico.
─ Bem farei uma xícara de chá.
─ E se ele tentar beijá-la?
─ É improvável que isso aconteça. Em todo caso, tentarei lidar com a situação. Se acontecer, é claro. ─ E encarou-o com firmeza. ─ Hei, está com medo que eu me torne o próximo amor de Sirius?
─ Lembrei que ele a beijou hoje à tarde. Da próxima vez pode ir mais além.
─ Quem sabe nem haverá próxima vez? Vamos ter pensamento positivo. Odeio homens que não confiam em mulheres.
James ergueu a sobrancelha.
─ É algum tipo de feminista? Não posso acreditar que uma mulher que passa seu tempo fazendo roupas para crianças não tenha instinto maternal. Não tem intenção de se casar e costurar para seus próprios filhos?
─ Oh, sim. Mas não antes de meu sucesso profissional. Preciso provar que posso me sustentar por mim mesma.
─ Provar? Para quem?
─ Para mim, é claro.
─ E está sendo bem sucedida, miss independência?
─ B em, para ser franca, bem lentamente ─ ela admitiu com um sorriso. ─ Não sou muito conhecida na região, e meu estoque ainda é limitado.
─Sua empresa já tem nome? ─ perguntou James, revelando um interesse que a surpreendeu.
Ela balançou a cabeça.
─ Acho que sou muito lenta em certos detalhes. Gasto todo tempo costurando.
─ Diga-me, o que vem a cabeça quando pensa em suas costuras?
─Lembro quando eu era criança. Costumava olhar minha mãe fazer roupas, e ela me ensinou a fazer vestidos para minhas bonecas. Quando estava na escola, houve uma competição: seria oferecido um prêmio ao melhor traje infantil feito pelos alunos.
─ Deixe adivinhar quem ganhou?
─ Não apenas isso. Eu o vendi. Uma senhora ficou louca por ele e quis comprar imediatamente. Foi então que eu soube que gostaria de ter uma loja que vendesse roupas para crianças.
─ É sua primeira oportunidade para montar o negócio? ─ James indagou, com a voz suave.
─ Sim. Até agora eu estava dividida entre ficar ao lado de minha mãe, que precisava de ajuda, e encontrar um emprego em um loja qualquer. ─ Lílian fez uma pausa e um sorriso satisfeito iluminou seu rosto. ─ Esse é meu mundo: tenho meu pequeno negocio, mas ao mesmo tempo estou perto da minha mãe.
Nesse instante um garçom aproximou-se e retirou os pratos. Enquanto James enchia as taças de vinho, Lílian tentou mudar de assunto, perguntando:
─ E você? É casado? Ou talvez tenha algum compromisso com alguma moça que nem sabe que está jantando agora comigo?
─Nenhum dos dois. E nem poderia ser diferente enquanto for responsável por Sirius.
─Quer dizer, enquanto estiver protegendo ele das investidas femininas. Há alguma previsão quanto ao término das crises de amnésia?
─ Ninguém sabe ao certo. Os médicos dizem que só o tempo dirá. Mas, pelo menos, tenho esperanças que tudo volte ao normal.
─ Então você estará liberado de sua tarefa.
─ Só quero que sirius se case com uma mulher que o ame e o compreenda.
─ Sim, é claro...
─ Contudo, antes que isso aconteça, ele precisa estar mentalmente capaz e saber exatamente o que está fazendo. Não gostaria que essa tal ruiva, ou outra qualquer, se aproveitasse da situação.
─ Outra qualquer? Espero que eu não esteja em sua lista de suspeitas.
─ O beijo que ele deu em seu belo rosto me faz pensar nessa possibilidade. Enfim, se tiver algum problema com ele, peço que me telefone imediatamente. ─ Ele retirou um cartão do bolso do paletó.
─ O brigada, mas creio que não será necessário.
Os dedos se tocaram levemente quando ele lhe passou o cartão sobre a mesa. De repente, ele pensou estar mais relaxado.
─ Bem, essa é a história de Sirius. Agora me conte por que seu pai teve de vender a fazenda.
Os olhos de Lílian se entristeceram.
─ Pobre papai. Senti tanto por ele... Começou a ter graves problemas de coluna, e o médico recomendou que ele mudasse o estilo de vida. Isso significou parar de fazer os trabalhos que a fazenda exigia.
─ Você e sua mãe também devem ter sentido bastante a mudança ─ James comentou, compreensivo.
─ Minha mãe disse que queria uma mudança radical: do campo para praia. Ela sempre gostou do mar e a propriedade da senhora Mackie foi colocada á venda exatamente nessa época. ─ Lílian lançou um olhar curioso. ─ Se Sirius estava bem financeiramente, por que ele próprio não comprou o prédio?
─ Porque quando a senhora Mackie faleceu ele estava no hospital. Quando saiu levei ele para morar comigo.
─ Foi muito gentil de sua parte.
─De maneira alguma! Ele é meu primo. Era o mínimo que eu poderia fazer. Não poderia abandoná-lo.
─Não, é claro que não.
Lílian ficou um pouco embaraçada e começou a entender que Sirius era um problema real, que seria difícil de ser superado. Ao mesmo tempo sentiu que o homem a sua frente tinha um instinto natural de bondade, e isso ela começou a admirar. Naturalmente, ele considerava seu dever examinar cuidadosamente qualquer mulher que se aproximasse do seu primo.
Finamente, ela disse:
─ Sinto muito por Sirius. Parece que sua vida foi uma sucessão de desapontamento. Hoje á tarde, por exemplo, quando percebeu que não morava mais naquele apartamento, deve ter se sentido deprimido.
O rosto de James se enrijeceu de repente.
─ Espero que não se deixe levar pelas emoções. Se ele aparecer outra vez, quero que se comunique comigo imediatamente. ─ As palavras soaram ríspidas.
Lílian terminou o café em silêncio. Depois lançou um sorriso e disse com voz suave:
─Entrarei em contato se houver necessidade.
Ele se inclinou ligeiramente para frente e lançou um olhar penetrante.
─Eu insisto que você me telefone caso Sirius apareça.
Lílian arregalou os olhos verdes.
─Isso é uma ordem?
─Digamos que é um pedido especial. Para seu próprio bem, é claro.
Lílian respirou fundo.
─Está cometendo um engano, James. Não sou muito boa para obedecer. Tenho uma tendência a agir na direção oposta.
─ É mesmo? Nesse caso, aconselho que faça o que eu disse.
─Está sugerindo que Sirius pode se tornar violento?
Ele gelou ao ouvir as palavras.
─Digamos que ele pode se tornar inconveniente.
Lílian colocou o guardanapo sobre a mesa e recostou-se, com um ar de quem estava pronta para levantar-se.
─Parece que está ansiosa para ir para casa.
Era verdade. A conversa já fora longe demais para aquela noite.
─ Foi muito gentil de sua parte me convidar para esse jantar, James. Você disse que precisamos conversar e...
─ Queria explicar a situação de Sirius. Espero que tenha entendido a mensagem ─ ele acrescentou, com voz um pouco tensa.
─A mensagem foi para que eu o receba com frieza se ele volta ao meu apartamento ─ ela disse, com perspicácia.
─Exato.
─Será que não percebe que está me colocando na parede? Não tenho o habito de ser rude ou fria com as pessoas, então não posso prometer nada.
Lílian levantou-se, pronta para deixar o restaurante.
Minutos depois, os dois deixaram o hotel. Lílian pensou que estavam se dirigindo para o carro, mas quando reparou estavam á beira da praia.
Virou-se para o mar, admirando o caleidoscópio de cores que a iluminação da praia deixava no ar. A brisa da noite trouxe o aroma das belas flores do jardim.
─ Posso levá-la para casa agora, se preferir.
Para casa? Com essa noite adorável ele a levaria tão cedo para casa?
─Não quer ir agora para casa? ─ele perguntou outra vez, enquanto caminhava na direção de uma fonte luminosa.
Ela não respondeu, mas estava desapontada. Principalmente porque parecia óbvio que ele não tinha o menor interesse em passar o resto da noite com ela. Ele a levara para jantar, deixara seus objetivos bastante claros. Sua preocupação era Sirius, e nada, além disso. E se ele estava acostumado que as mulheres se jogassem a seus pés, esse não era o caso de Lílian. Ele não significava nada para ela, apesar do estranho desapontamento persistir.
Enquanto os dois observavam as mudanças de tom na fonte, Lílian percebeu que sua irritação estava se tornando mais intensa. Naturalmente James estava preocupado com Sirius, mas precisava mostrar tão claramente que não estava nem um pouco interessado em sua companhia, que estava ansioso para deixá-la em casa?
Aquele pensamento deixou-a perturbada. Lílian afastou-se da fonte e caminhou na direção do mar. O luar deu um brilho prateado á praia nesse instante. Percebeu então que James se aproximou.
Ele a encarou e disse:
─Sempre fica revoltada quando alguém sugere que faça algo?
Ela não tirou os olhos da lua e respondeu:
─Há uma diferença entre sugerir e ordenar. As sugestões são sempre bem aceitas. Mas quando se trata de ordens, minha reação é imprevisível.
─Algo me diz que essa noite não foi um sucesso completo.
Lílian se virou para encará-lo.
─Por que não admite que não conseguiu tudo o que pretendia durante o jantar?
─Acho que não foi muito feliz em minhas colocações.
─Pode ser. ─ Ela refletiu por alguns momentos. Depois, perguntou com calma: ─ Por que não confia que eu aja com minha própria intuição?
Ele sorriu.
─ Parece que agora não me resta outra opção.
Então, ele caminhou alguns passos, se virou e a encarou.
─ Podemos ir agora.
Ela não respondeu, tal era sua decepção com aquele final de noite. Então ele realmente não estava nem um pouco interessado em sua companhia, ela concluiu com amargura. Então, num esforço para superar a frustração, ergueu o rosto para as luzinhas coloridas da fonte.
─É lindo! Parecem pequenas jóias flutuando pela água. Esmeraldas, safiras, rubis. As azuis são safiras, está vendo?
─Diga-me, por que as mulheres só pensam em dinheiro e jóias? ─ o tem era cínico.
─Quem falou em dinheiro? Por que está me comparando as mulheres de Sirius?
─Não fiz essa comparação.
─Vamos parar com essa hipocrisia! Está claro para mim que está preocupado porque estou me recusando a fechar a porta na cara de Sirius. Mas não compreendo por que se deu ao trabalho de me trazer para esse jantar. Poderia ter explicado tudo isso em meu apartamento.
─ Você está se esquecendo que Sirius estava lá. Depois precisei levá-lo para casa.
─Poderia ter voltado mais tarde e teríamos resolvido essa questão.
─E agora você está se esquecendo de mais um detalhe. Até então eu achava que você era a ruiva de Sirius. Queria conhecê-la melhor. E se possível saber seus planos em relação a meu primo. Como vê, estou sendo bem franco com você.
─ E agora já sabe que se enganou. Que desperdício de tempo! ─ Lílian começou a rir.
─Tenho dúvidas que foi um total desperdício. Quando Sirius se aproximar outra vez de você pelo menos saberá por que está lá. Talvez o encontre hoje mesmo em sua cama ─ ele provocou, enquanto abria a porta do carro para Lílian entrar.
Ela se sentou sem comentar e se deu conta de que estava realmente preocupada com aquela situação.
Era uma pena que aquela noite tivesse sido tão desastrosa, pensou. Todos os ingredientes para uma noite maravilhosa estavam lá: um homem atraente, um restaurante sofisticado.
Mas tudo só ficou na aparência. Havia um conflito, que arruinou a possibilidade de entendimento entre os dois. Afinal, para Lílian ficou claro que o único objetivo de James ao convidá-la para jantar era sua preocupação com a saúde mental de Sirius.
─Está muito pensativa ─ ele reparou em quanto o carro percorria a avenida da praia.
Lílian hesitou, depois admitiu:
─Acabo de tomar uma decisão.
─ Sobre Sirius? Concluiu que deve mandá-lo embora quando aparecer deve chamar um táxi, é claro. Você sabe, ele não pode dirigir. ─ O tom era de satisfação.
Ela respirou fundo e disse:
─Não foi exatamente isso o que pensei. Se Sirius surgir em meu apartamento quando tiver outra crise de amnésia, continuarei meu trabalho e deixarei que ele durma lá.
James endureceu o rosto.
─Mas ele pode ficar lá a noite inteira...
─ Não há problema. Posso subir e passar a noite no apartamento de meus pais. ─ E acrescentou: ─ Tenho certeza que é a melhor maneira de contornar a situação.
─ Promete me telefona para eu saber que ele está lá?
─Claro.
─Não vai esquecer que ele está sendo medicado e não pode tomar uma gota de álcool? Geralmente ele traz os remédios nos bolsos.
─Só oferecerei chá e café ─ ela assegurou quando o carro parou em frente á sua casa.
Ele saiu e abriu a porta para Lílian. James não sorriu. Quando ela agradeceu pela noite ele mal percebeu. Virou-se e caminhou na direção do carro sem se despedir.
Deve estar furioso, Lílian pensou, enquanto via o carro desaparecer na escuridão.
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