Malfoy, Potter, Weasley!

- Capitães, apertem as mãos. – ordenou Madame Hook. Eu e Ian Graham apertamos as mãos levemente. Um pouco mais afastadas estavam Jules e Sam, que havia conseguido a vaga na artilharia da Corvinal, cochichando e apontando para Alvo. Ele percebeu e mandou beijinhos para as duas; certas coisas nunca mudam. Desviei meu olhar deles e tentei me concentrar. Eu tremia. – Jogadores, montem as vassouras. – nós ganhamos o ar.

Meu último jogo estava para começar. O mais importante deles. Aquela taça tinha que ser minha. A goles foi lançada...

- E é hora do show! – gritou Holly e as arquibancadas explodiram em palmas e berros. Alvo pegou a goles e jogou para mim, e eu a lancei para Scorpius, que voava abaixo de mim. Nós invertemos as posições: ele subiu e fingiu jogar a goles para o aro. Enquanto o goleiro voava para o aro esquerdo, Scorpius deixou a goles cair e eu a peguei e arremessei com tudo para o aro direito. – Grifinória abre o placar! 10 a 0! Jogada ensaiada espetacular de Potter, Malfoy e Weasley! – comemoramos o gol com a torcida, eu bem longe de Scorpius, e não voltamos ao jogo a tempo de impedir o gol de empate da Corvinal.

Parei por um segundo tentando apreender tudo o que estava acontecendo e consegui um vislumbre de Lily sendo acompanhada de perto pelo apanhador adversário.

- Lily, suba! – ela fez o que eu disse e deixou o apanhador da Corvinal para trás. Ele não tentou segui-la, o que foi ótimo para ela. O jogo corria bem, limpo, leal, mas muito acirrado. Estávamos ganhando, mas a Corvinal estava apenas 20 pontos atrás. Nós precisávamos de 90, no mínimo, para ter chances concretas de título. Tarefa difícil. E ainda dependíamos de Lufa-Lufa versus Sonserina.

Havia jogadas ensaiadas a cada segundo e foi numa delas que a Corvinal empatou. Com a Pinça de Parkin, os três artilheiros corvinais igualaram o jogo e depois viraram. 100 para ele, 80 para nós. Precisávamos do pomo. Desesperada, eu me forcei a lembrar alguma jogada infalível... de repente, uma pipocou na minha cabeça.

- Alvo, Scorpius! – eu estava ignorando Scorpius, mas jogo era jogo. Os dois olharam para mim. – Formação de Ataque “Cabeça de Falcão” agora! – eles concordaram. Recuperamos a goles e entramos na formação do V. Juntos, voamos até os aros da Corvinal e Alvo converteu. 100 a 90. Só mais cem pontos.

Mas a Corvinal não estava para brincadeira voltou a abrir vantagem de vinte pontos. E logo depois, trinta. Precisávamos do pomo com urgência. A torcida gritava menos, e os sonserinos e corvinais agora berravam de satisfação. E a culpa era toda minha; meu time jogava com raça, mas eu era a capitã e eles eram afetados por mim. Era hora de fazer alguma coisa.

- O show deve continuar. – murmurei enquanto fechava os olhos e puxava ar com força, me dispersando do jogo por dois segundos. – Eu sou uma jogadora de quadribol. Uma talentosa jogadora de quadribol. E eu vim aqui para vencer. Eu vou vencer. – abri os olhos, sentindo-me pronta. – VAMOS PARA O JOGO, TIME! É a nossa hora! – eles entenderam o recado. Todos entenderam o recado: aquele jogo era nosso.

- E Rose Weasley voltou à vida, minha gente! – gritou Holly no microfone. As arquibancadas da Grifinória tremeram em antecipação. – Será que eles vão conseguir virar esse jogo? A participação de Lily Potter será fundamental! – enquanto Holly ainda dizia isso, eu peguei a goles e marquei. Nada me deteria naquele momento, eu ia ganhar. – E Weasley diminui a diferença para vinte pontos. Ela realmente voltou com tudo!

Holly Green estava certa. Em jogadas rápida e limpas, empatamos o jogo sem muita dificuldade. Agora precisávamos dos noventa pontos e se Lily capturasse o pomo, entrariam mais cento e cinqüenta na conta. Não poderia ser tão complicado.

E ,obviamente, não foi.

- Sensacional, senhoras e senhores! Depois de virar o jogo para 160 a 130, a Grifinória inteira assiste à Lily Potter executar a sempre ousada Finta de Wronski. Callagham fica a ver navios enquanto ela sobe. Será que é o que estamos pensando? Potter viu o pomo? É isso mesmo! Ela avistou o pomo e o apanhador da Corvinal fica para trás novamente. O pomo está dando uma canseira na Potter. Sobe e desce, vai para um lado, vai para o outro... ela estica o braço e... ESPETACULAR! LILY POTTER CAPTURA O POMO DE OURO! MAIS 150 PONTOS E GRIFINÓRIA VENCE!  - o urro que veio da torcida foi ensurdecedor e eu acho que fui arrancada da minha vassoura antes de chegar ao chão. Eu e Lily fomos saudadas por um sem-número de mãos e eu acho que estouraram meu tímpano com os gritos. A taça estava praticamente nas nossas mãos; com esses 310 pontos, nós pulamos para o primeiro lugar com 780 totais, deixando a Corvinal em segundo com 680 pontos. A Sonserina precisava vencer por muita diferença para conseguir aquela taça.

- Grifinórios, sigam-nos rumo à festa da vitória! – gritou Alvo para a multidão vermelha e dourada, que correu junto conosco até a sala comunal. – Leões vitoriosos! – gritamos junto com Alvo a senha muito cafona e a Mulher Gorda girou seu quadro para entrarmos. As pessoas se espalharam pelo salão enquanto eu chamava por Lika. Embora não me servisse, ela atendia quando eu chamava.

- A Srta. Weasley chamou Lika? – ela perguntou depois de aparatar na minha frente. Abaixei-me para ficar da altura dela.

- Oi, Lika. Será que você pode trazer comida e bebida para nós, por favor? – mexendo suas orelhas de abano, Lika assentiu e desaparatou. Minutos depois ela estava de volta com outro estalo, carregando bandejas e mais bandejas de comida e jarras de suco de abóbora. Colocou tudo sobre a mesa e se virou satisfeita para mim. – Obrigada, Lika. Quer ficar e comemorar conosco?

- Oh não, Srta. Weasley. É muita gentileza da senhorita, mas Lika não deve freqüentar o mesmo ambiente que bruxos poderosos. – respondeu com seus olhinhos (olhões, na verdade) lacrimosos. Eu sorri. Certas coisas nunca mudariam.

- Tem certeza disso? Você é muito bem-vinda.

Foi o que bastou para as lágrimas pingarem na roupinha branca que ela usava.

- Obrigada, Srta. Weasley. Lika fica muito feliz, muito feliz. Mas ela deve trabalhar. – eu assenti e ela aparatou, não sem antes soltar um soluço.

- Comida! – urrou Hugo como o esfomeado desesperado que era e avançou para a mesa, levando todos os outros junto.

Eu estava morta de fome, mas sem vontade de ficar na festa, então só peguei um pouco de sorvete e comi distraidamente pensando na bagunça que estava minha cabeça. Agora que eu já tinha cumprido meu dever e vencido o jogo, poderia enfim curtir minha tristeza sem me sentir culpada por deixar os outros na mão. Era meu momento de chorar as feridas. Estava pensando nisso quando a causa de todas essas feridas surgiu ao meu lado, encarando-me insistentemente. Scorpius tentou segurar meu braço, mas eu me esquivei e fugi, largando meu sorvete, para o dormitório antes que ele pudesse ir atrás de mim.

- Rose! Rose, espera!- ainda o ouvi gritar, mas ignorei e corri escada acima para a segurança do dormitório aonde ele não poderia me seguir.

Fui direto para o banho e chorei muito, muito mais do que havia chorado no dia anterior debaixo da água quente do chuveiro. Vesti o pijama e me joguei na cama, enterrando o rosto no travesseiro e chorando um pouco mais antes de pegar no sono. O que me fez acordar com a cara amassada e o cabelo desgrenhado. Forte candidata ao concurso de Miss Mundo Bruxo.

Meio emburrada, desci para tomar café no Salão Principal, que estava praticamente vazio. Ainda era cedo. Olhei ao redor e vi minhas opções: ou me sentava à mesa da Grifinória com Alvo, Sam e Scorpius, ou me juntava à Peter na mesa da Corvinal. Como eu não conseguia encarar Scorpius e, tecnicamente, ainda era namorada de Peter, optei pela mesa corvinal.

- Oi. – eu disse timidamente. Ele levantou os olhos e fez um aceno de cabeça. – Posso sentar?

- Pode. – tirou seus livros do banco para que eu pudesse me sentar ao seu lado. Fiquei exatamente de frente para Scorpius, do outro lado do salão, e nossos olhares se cruzaram. Desviei antes que Peter percebesse. – Então, você voltou a falar comigo?

- Desculpe, Peter. Sinto muito pela forma como eu tenho agido. Me afastei de você completamente, sem te dar nenhum motivo. Aliás, sem que eu tivesse qualquer motivo – ok, essa parte era mentira. – e eu quero muito que você me desculpe. Eu nem sei mais o que está acontecendo com você, porque não conversamos há séculos!

- Ei, ei. Tudo bem. – ele me acalmou, colocando a mão na minha boca por causa da velocidade com que as palavras saíam. Deu um sorriso tão lindo que faria as pernas de qualquer garota virarem gelatina. Menos as minhas. – Não preciso te desculpar por nada, está tudo bem. Podemos conversar agora, ok? Me diz, como foram os N.I.E.M’s?

Sorrindo fracamente, mas feliz por ele estar me tratando com o mesmo carinho de sempre (embora eu não merecesse de forma alguma), eu disse:

- Bom, tirando História da Magia, porque eu durmo nas aulas e provavelmente tirei um Deplorável no teste, acho que fui muito bem. Em Feitiços, eu fui realmente ótima.

- Essa é minha garota. – Peter disse com um sorriso orgulhoso. Eu me senti desconfortável, mas forcei um sorriso.

- Hm, e você... como foi?

- Ótimo. Até em História da Magia.

- Nerd. – murmurei, arrancando uma gargalhada dele. Ficamos em silêncio por alguns minutos, enquanto comíamos. Foi Peter quem recomeçou a conversa.

- Eu sei que eu disse que está tudo bem e está mesmo, não se preocupe... é só que você esteve agindo de modo muito estranho. O que aconteceu, Rosie? Foi por causa do que eu quis que nós fizéssemos? Você sabe... hm... – vendo o desconforto dele, eu o interrompi.

- Não! Não, Peter, não foi nada disso. Nada com você... só... problemas femininos. Só isso, está tudo bem agora. – dei uma olhada para a mesa da Grifinória e vi Scorpius nos encarando com o olhar sentido. Engoli em seco. – Está tudo bem.

- Ah, que bom. Sério, fico bem mais tranqüilo. – ele sorriu timidamente e pela primeira vez arrancou de mim um sorriso sincero. Por que mesmo eu não podia amá-lo? Ele era um menino tão maravilhoso e eu gostava tanto dele... e ele me amava! Que vida injusta. – Você está pálida. Quer ir lá fora tomar um pouco de ar fresco?

Sentamo-nos debaixo de uma árvore à beira do lago e ficamos conversando. Era fácil estabelecer uma conversa com Peter; ele era divertido, inteligente e gentil. Era possível falar sobre qualquer assunto com ele e, por isso mesmo, eu me mantive distante do tópico “nós”. Conversamos sobre tudo, menos sobre o nosso namoro desgastado. E acho que Peter também não quisesse falar disso; talvez, bem lá no fundo, ele já soubesse que estávamos chegando às últimas.

- Preciso ir. – disse ele, levantando-se. – Prometi ajudar Jules a estudar para as provas de Medibruxaria.

- Tudo bem. Mande um alô para ela. – respondi. – Vou ficar aqui mais um pouco.

- Certo, mas se você se sentir mal, vá à Enfermaria.

- Não se preocupe, sou forte como uma rocha.

- Eu acredito em você. – sorriu e me deu um beijo na testa. – Eu te amo.

- Eu também. – respondi, lutando contra as lágrimas, vendo-o se afastar. Que grande falsa eu era. Completei num sussurro, enxugando o choro. – Ai, Peter, espero que você me perdoe.

Os dias foram se arrastando lentamente e eu e Peter nos reaproximamos. Ainda trocávamos alguns beijos, mas ambos sabíamos que não era mais a mesma coisa. E eu não podia corresponder totalmente aos beijos dele depois de ter provado dos beijos de Scorpius. Mesmo assim, nós continuamos a manter a relação, nunca conversando sobre ela. Era como se fosse proibido tocar no assunto, um acordo que nós dois acertamos sem precisar dizer uma palavra.

Depois de uma semana, finalmente chegou o dia do jogo entre Sonserina e Lufa-Lufa. A escola inteira estava animada para a partida que decidiria todos os lugares do campeonato. E nós, grifinórios, estávamos tão nervosos quanto os próprios jogadores das casas que se enfrentariam naquela manhã.

- Rose, você está pronta? – perguntou Lily, colocando a cabeça dentro do quarto. Eu terminei de amarrar meu cachecol, apesar do calor, e assenti.

- Estou. – eu falei, acompanhando-a escada abaixo. O resto do nosso time estava no salão comunal nos esperando. Nós havíamos combinado de ir juntos para o campo, para mostrar que éramos unidos e seguros. Eu olhei para os rostos de cada um deles, incluindo Scorpius, e dei um sorriso triste. – Última vez, pessoal. É a última vez que caminharemos juntos para o campo de Quadribol. E isso é tão triste. Eu sinto como se estivesse deixando uma parte de mim para trás. Passamos momentos tão maravilhosos juntos e eu não creio ainda que isso vai acabar. Fizemos um ótimo trabalho nesses anos em que jogamos juntos e um trabalho ainda melhor nos meses que passei como capitã. Sem vocês, chegar aqui hoje não seria possível e eu agradeço por cada momento que dividimos no ar. Este é o momento decisivo e nós vamos ganhar aquela taça, mesmo que a Sonserina ganhe da Lufa-Lufa, o que provavelmente vai acontecer. Mas eu sinto que seremos campeões! Demos muito duro para isso. Nos esforçamos demais! Então, só quero que saibam que estou orgulhosa de nós e que amo muito vocês. – finalizei minha fala com um soluço, tentando enxugar as lágrimas. Esse era o discurso que eu faria no dia do nosso jogo, mas como aconteceu todo o problema com Scorpius na véspera, eu não tive cabeça para falar nada. Mas aquele era o momento de dizer aquelas palavras, eu sabia. Joanne e Lily também choravam, e os meninos pareciam bastante chateados.

- Eu quero um abraço em grupo! – exclamou Lily e nós nos abraçamos, dando uma risada emocionada. Quando ela finalmente nos deixou livres para ir, demos as mãos e caminhamos juntos até o campo de Quadribol. Sentamos na primeira fila da arquibancada da Grifinória, com uma visão privilegiada do campo, e logo depois, Holly Green anunciou a entrada dos times. Os lufa-lufas foram aplaudidos por ¾ da escola, enquanto apenas a Sonserina aplaudiu os próprios jogadores.

- E começa o jogo! – gritou Holly sob gritos e palmas. A partida começou desleal; os batedores sonserinos eram praticamente trasgos montados em vassouras e arremessavam os balaços com fúria nos lufa-lufas. Em cinco minutos, a Sonserina abriu 20 pontos de vantagem. E cinco minutos depois, já estava 40 pontos na frente. Aos quinze minutos de jogo, eu já estava desesperada, roendo as unhas e rouca de tanto gritar. Sonserina não podia vencer por uma grande vantagem ou então levaria a taça. Só que não seria justo! Lily fora enfeitiçada no jogo contra eles e por isso tínhamos perdido, mas mesmo assim lutamos para chegar ao primeiro lugar. A taça tinha que ser nossa!

Depois de uma hora de jogo, o placar estava 210 a 130 para a Sonserina e os jogadores da Lufa-Lufa pareciam baratas tontas em campo. Apenas um dos batedores tentava se firmar na partida, relativamente bem para alguém que jogava praticamente sozinho. E o apanhador, que travava uma batalha silenciosa contra o adversário. Mas foi o apanhador sonserino que, de repente, inclinou a vassoura para baixo e começou a descer rapidamente.

- Não é uma Finta de Wronski! – Lily gritou, apontando para a arquibancada esquerda. – Ele viu o pomo! Está ali! – com uma velocidade incrível, o garoto se aproximava perigosamente do pomo de ouro. Lily começou a repetir “ah não, ah não, ah não”, me deixando agoniada. Não consegui ver; fechei os olhos e esperei o berro que viria da torcida sonserina. Esperei em vão, porque o que ouvimos em seguida foi a voz de Holly.

- Inacreditável! Levi Morrison acaba de levar um balaço na cabeça! – abri os olhos, chocada demais para falar, a tempo de ver o menino cair em direção ao solo de areia. Um dos seus companheiros acelerou a vassoura e o pegou antes que batesse no chão. – Ele está desacordado! Isso significa que não dá mais para a Sonserina.

- Ah. Meu. Deus. – falei sem acreditar no que via, colocando em palavras o choque de toda a escola. Troquei olhares com meus companheiros de time, já sabendo o que aquilo significava.

- John Bailey, que estava no encalço de Morrison, captura o pomo de ouro! Vitória da Lufa-Lufa por 280 a 210! – os jogadores e toda a torcida amarela e preta gritaram juntos, comemorando. Mas ainda faltava uma coisinha. – Isso significa que GRIFINÓRIA É A CAMPEÃ DA TAÇA DE QUADRIBOL! – não sei como a arquibancada conseguiu resistir. Pulos, gritos, histeria, abraços, risadas, beijos, palmas, correria, felicidade... tudo se resumia àquele momento.

Era nossa! A Taça de Quadribol era nossa! Tínhamos conseguido! Os grifinórios corriam e pulavam descontroladamente quando descemos para o campo, para receber a taça. A Prof. McGonagall e o Prof. Longbottom fizeram um palanquinho aparecer e nós sete subimos nele para ficarmos às vistas de todos.

- À Casa da Grifinória, eu tenho a honra de entregar a Taça de Ouro de Quadribol! – catorze mãos ergueram a enorme taça dourada e a exibiram à escola. Aquilo sim era felicidade. Pela primeira vez em muitos dias, eu sorria de verdade. Por alguns minutos, eu me lembrei como era me sentir feliz.

Sob o coro de “Grifinória, Grifinória, a casa de toda a glória, por favor, comemore com seus leões mais uma vitória!” nós corremos como uma manada de búfalos até a sala comunal, já decorada e cheia de comida para a comemoração. Depois eu saberia que Roxanne saíra um pouco antes da premiação e arrumara tudo com a ajuda de Lika. Mas naquele momento, eu só sabia que estava tudo lindo e que eu estava feliz demais.

Estava sendo a melhor noite em muito tempo. Eu ria, dançava, conversava, bebia, brincava... era a imagem da alegria até Scorpius se aproximar de mim. Em dois segundos, ele minou minha animação. Tentou me segurar, mas eu puxei o braço e, ignorando seus gritos, saí pelo buraco do retrato. Coloquei na cabeça que Scorpius Malfoy era passado.

Caminhei sem rumo pelos corredores por alguns minutos. Então, eu parei. Aquela era minha noite, era minha festa. Eu tinha dado muito duro para conseguir tudo aquilo. Ninguém ia tirar de mim aquela comemoração, muito menos Scorpius. Pensando nisso, dei meia volta e reentrei o salão comunal, indo diretamente para a mesa de bebidas. Se era para esquecer, que fosse para esquecer direito. Whisky de Fogo, que Alvo havia contrabandeado para a festa, resolveria. Meia hora depois, eu já estava ligeiramente alcoolizada. De repente, tudo começou a girar. Quando parou, eu soltei uma gargalhada estridente, chamando a atenção de Alvo.

- Você está bêbada?! – ele exclamou, num sussurro indignado, repreendendo-me.

- Talvez. – disse, rindo baixinho.

- Estão todos aqui, Rose! Inclusive os alunos do primeiro ano, inclusive nossos primos mais novos! – eu escutava Alvo brigando comigo, mas absorvia muito pouco. Ri mais uma vez. – Você está passando vergonha. É isso o que você quer? Por que está agindo assim?

- Meu Deus, eu só estou me divertindo um pouquinho. Qual o problema disso? Me deixa em paz, Alvo. – eu ia começar uma discussão, mas perdi a vontade de repente. Só disse o seguinte, franzindo a testa como se fizesse esforço para pensar. – Quero ir para os jardins. Quero ver o lago, quero ver se tem estrelas no céu... quero correr. Quer correr comigo, Alvo?

- Claro, ótima ideia. Por que você não vai na frente que daqui a pouco eu te encontro lá?

- Ok! – assenti e passei a mão numa garrafa de whisky. Fui cambaleando até o jardim, mas quando cheguei lá, apenas me joguei na grama. Minutos depois, alguém se largou ao meu lado.

- Pensei que você quisesse correr. – era Peter. Eu soltei um muxoxo e, sem olhá-lo, tomei mais uns goles da garrafa.

- Alvo é um fofoqueiro. – concluí cheia de sabedoria. Peter riu baixinho, mas depois ficamos em silêncio. Continuei a beber, até ele arrancar delicadamente a garrafa das minhas mãos.

- Acho que você já bebeu demais, Rosie. Por que está fazendo isso?

- Estou chateada. – respondi. Mesmo com todo o álcool que corria pelas minhas veias, eu não me aprofundaria muito. Não poderia, nem bêbada, confessar o que tinha acontecido entre mim e Scorpius. – Triste porque vou deixar tudo isso para trás. Irritada porque não posso evitar que o fim chegue. E espantada com o tamanho da minha burrice e o tamanho das besteiras que eu fiz.

Pronto, esse era o máximo que Peter arrancaria de mim. E acho que ele percebeu, porque sorriu quando viu que eu fechei firmemente a boca.

- Eu entendo. – foi tudo o que ele disse. Eu apertei os olhos, tentando focalizá-lo. Peter era lindo. Uma pena que não era ele quem fazia meu coração disparar dentro do peito.

- Desculpe por eu ser tão idiota, Peter. Você é lindo, é amável, inteligente... – dei uma bela olhada no rosto dele. – Deus, acho que eu quero te dar um beijo. – bambeando, eu me apoiei nos joelhos e apertei meus lábios contra os seus, colocando tanta força no impulso que caí por cima dele na grama. Ele deixou que eu o beijasse por um segundo e depois me afastou. – O que foi?

- Você está bêbada, Rose. Não vou me aproveitar disso.

- Desculpe.

- Tudo bem.

- Hm, acho que quero voltar para a minha festa. Cansei do jardim, o céu não está tão estrelado como eu esperava. – Peter me deu a mão e me ajudou a até a sala comunal. Na porta, estava Alvo, com um olhar severo, nos esperando.

- Obrigado, cara. – Alvo agradeceu a Peter, passando o braço pela minha cintura.

- Não tem problema, só fiz o que qualquer namorado faria. – eu estava embriagada, então não senti o pedregulho no meu estômago se mexer como eu sempre sentia quando Peter falava assim. Ele me deu um beijinho e disse – Tenha um pouco de juízo, ok? Cuide-se.

- Tchau, Peter! – cantarolei e entrei no salão comunal com meu primo.

- Meu Deus, que coisa ridícula. A bebida era só para alegrar as coisas, não para ninguém se embebedar. Pelo menos, você não deu nenhum showzinho. Imagine se isso chega aos ouvidos da Tia Mione? Você estaria muito encrencada.

- Eu sei, eu sei, eu sei. – murmurei, sentindo o sono chegar.

- Por que você bebeu assim? Isso não é do seu feitio.

- Só conto se você prometer que vai ser nosso segredinho, Al.

- Prometido.

Puxei Alvo pela gravata até ele ficar bem perto de mim e disse baixinho:

- É tudo culpa do Scorpius. Tudo, tudo culpa dele!

- Do Scorpius?

- Shhhh! É, do Scorpius. Porque ele fez eu me apaixonar e agora eu sou louca por ele, mas ele não me ama, porque ama a Izzy. Entendeu? – eu falei, apertando os olhos tentando demonstrar toda a raiva que eu sentia, mas sem muito sucesso. Eu estava anestesiada pelo álcool.

 - Entendi. – Alvo respondeu, mas olhava para outro lugar. Fez sinal para alguém. Vi umas coisas vermelhas dançando perto de mim; achei que fossem chamas, mas eram apenas as mechas do cabelo de Lily. – Lil, você pode levar a Rose para o dormitório?

- Claro. – disse ela, mas quem disse que eu queria ir?

- Ah não! Por quê? Eu estou me divertindo tanto, gente! A festa está tão legal, não me leva, Lily! – esperneei, mas ela me ignorou e foi me arrastando pelo cotovelo através das pessoas que estavam por ali.

- Você está bêbada. E aposto que está cansada. Dá para ver nos seus olhos que você está exausta.

Isso até era verdade, mas eu não queria concordar.

- Não estou tão bêbada assim, é exagero do enjoado do seu irmão. Posso provar! – ela me largou.

- Tudo bem, prove. Se você conseguir andar até aquela mesa sem cambalear, eu deixo você ficar. – Lily mandou, apontando para uma mesa uns bons 15 metros distante de nós.

- Ah, fácil! – comecei a andar. Não preciso dizer que eu fui trocando as pernas e tropeçando nos próprios pés umas três vezes. Fora os esbarrões que eu dava nas pessoas. Quando cheguei, virei-me triunfante para Lily, que estava ao meu lado. – Viu, fácil! Ei, espera, como você está lá e aqui ao mesmo tempo?

- Certo, você não está nada bem. – ela tornou a agarrar meu braço, mas dessa vez eu não fiz objeção. Não ia adiantar mesmo. Quando me dei conta, já estava sentada na minha cama. – Onde está seu pijama? – perguntou. Segundo seus próprios relatos, não teve resposta e, quando se virou, viu que eu estava tombada na cama, dormindo como uma pedra.

A próxima coisa da qual me lembro é de acordar com uma dor de cabeça absurda. E lindas olheiras.

- Nossa, você parece péssima. – zombou Alvo, quando eu o encontrei no salão comunal na manhã seguinte. Ele tinha razão. Além das olheiras escuras, minha cara estava amassada e meu cabelo estava amarrado num coque desleixado.

- Vá ver se eu estou procurando hipogrifos na floresta, Alvo. – falei irritada, fazendo-o rir. As risadas entraram com força no meu cérebro e foi como se estivesse acontecendo uma grande festa ali dentro. Soltei um gemido de dor. – Para de rir, Alvo, minha cabeça está explodindo.

- Quem mandou você encher a cara ontem? Eu falei para você parar de beber. – como não tinha forças para responder, apenas assenti.

De repente, Louis passou correndo ao nosso lado, segurando algo parecido com um livro. Logo depois, a voz estridente e, naquele momento, insuportável de Dominique preencheu a sala.

- Louis, seu fedelho! Devolva meu diário agora ou eu vou arrancar fio por fio do seu cabelo! – ela gritou correndo atrás do irmão. Desesperada, enfiei a cabeça numa almofada, tentando não chorar.

- Meu Deus, - falei com a voz abafada. – Nunca mais eu vou beber. Nunca. O café já acabou?

- Ainda não, mas deve estar no fim. Acho melhor correr.

Eu não corri, mas fui o mais rápido que meus músculos (e cérebro) doloridos permitiram. Quando me sentei à mesa da Grifinória, todos os meus colegas de casa que ainda estavam lá deram uma olhada avaliadora em mim. Acho que todos sabiam que eu estivera bêbada na festa da noite anterior. Meio irritada, me servi de ovos mexidos, torradas e suco de abóbora, e mandei para dentro tentando não pensar no quanto estava enjoada. E com dor de cabeça, porque até o barulhos dos talheres batendo no prato me incomodavam. Terminei de comer e levantei, já cogitando a ideia de pedir uma Poção Restauradora à Madame Pomfrey. Mas mal consegui sair do Salão Principal, porque fui barrada por uma parede loira. Olhei para cima e fitei os olhos azuis de Izzy Lancelot.

- Rose, posso falar com você um instante? – ela perguntou séria. Eu senti minhas entranhas congelarem. Era a primeira vez que eu falava com Izzy depois de ter dormido com Scorpius e eu tinha quase certeza de que ela sabia e de que era sobre isso que íamos falar. Assenti lentamente e nós fomos para um canto mais reservado do saguão. – Eu sei do que aconteceu entre você e Scorpius.

Viu? Eu disse que ela sabia. Então, só fiz a única coisa que eu podia fazer naquele momento.

- Sinto muito, Izzy. Não tenho desculpas plausíveis, nada que justifique ter feito isso com você. Desculpe-me e eu vou entender se você nunca mais olhar na minha cara. Na verdade, eu vou entender se você quiser arrancar todos os meus dentes ou meu cabelo ou me encher de tapas na frente de todo mundo. – despejei meus pedidos de desculpa em cima dela sem parar para respirar. Eu estava sendo sincera, pelo menos, e acho que Izzy percebeu isso.

- Não posso dizer que tenha ficado feliz quando soube, afinal, eu e Scorpius estávamos juntos. Na realidade, fiquei bastante irritada e magoada, mas não posso fingir que tenha ficado surpresa. Eu devia ter percebido desde o início que não podia competir com você, porque é de você que ele sempre gostou.

- Quê? – perguntei. Eu estava entendendo errado ou Izzy estava mesmo me tratando bem?

- É. Scorpius é doido por você, Rose, e está arrasado porque não consegue fazer com que você o escute.

Foi bem aí que eu entendi o motivo real daquela conversa. Eu não pude acreditar que ele havia feito aquilo. Fiquei furiosa e esqueci tudo o que ela estava dizendo sobre como Scorpius gostava de mim.

- Arrasado? Coitadinho. Ele está arrasado! E eu? Como eu estou? Arrasada é apelido! Eu não consigo ficar no mesmo lugar que ele, tive que me embebedar! O único sorriso verdadeiro que eu dei em dias foi ontem quando ganhamos aquela taça. Eu não consigo fazer nada de tão... chateada? Não, chateada é pouco, eu nem tenho palavra que descreva como eu me sinto. Pobre Scorpius, tão triste porque não pode ter duas garotas! – eu disse, espumando de raiva. Então completei baixinho. – Não acredito que ele fez você vir falar comigo.

Para a minha surpresa, Izzy só me olhava com pena. Talvez estivesse me achando maluca e a única coisa que disse relativa à minha explosão foi:

- Ele não me pediu para eu vir falar com você, Rose. Scorpius nem sonha que eu estou fazendo isso. Mas eu resolvi fazer mesmo assim porque não agüento mais vê-lo andando cabisbaixo pelos cantos, triste e infeliz. Porque apesar de tudo, Rose, eu continuo me preocupando com ele e me mata saber que não posso fazer nada para fazê-lo se sentir melhor, já que a única pessoa que ele quer não percebe como está sendo idiota. E, caso não tenha percebido, eu estou falando de você.

Como eu não respondi, ainda tentando controlar a raiva que sentia de Scorpius, Izzy continuou com a bronca.

- Eu estou falando sério, Rose. Se você não deixar de ser burra, outras irão atrás dele e eu aposto o que você quiser que a primeira da fila é Chiara Corner. Você vai perdê-lo. Pare de ser idiota, Rose, ou você vai perdê-lo. – e dizendo isso, virou-me as costas e saiu andando. Largou-me sozinha no meio do saguão, com suas palavras ecoando na minha cabeça.

Aturdida, para não dizer surpresa, com a atitude de Izzy, eu caminhei até o banheiro mais próximo para jogar uma água no rosto. Quando abri a torneira, percebi que não estava sozinha. Qual não foi minha surpresa quando reconheci as vozes de Chiara Corner e de sua fiel escudeira, Melissa Jones. Fiquei em silêncio, prestando atenção no que as duas conversavam.

- Agora vai ser fácil, sabe. – Chiara disse, arrancando uma risada de Melissa.

- Finalmente, Chiara! Você vai conquistá-lo e depois vai me ajudar a conseguir o Potter. Deus sabe que ele não é de se jogar fora. – eu mordi a língua para não rir. Grande plano: tentar (e fracassar) conquistar Scorpius e Alvo. Nos sonhos mais loucos delas.

- Seremos o grupo perfeito, você pode imaginar. Sem aquela nojenta da Lancelot, vai ser bem fácil para eu me aproximar do Scorpius. E depois, a gente tira a sonsa da irmãzinha dele do caminho.

Para duas corvinais, elas estavam me saindo belíssimas sonserinas. Duas víboras. Eu não podia deixá-las levar aquele plano ridículo adiante, porque, mesmo que estivesse com ódio do Scorpius, Alvo não tinha nada a ver com a história. Então, quando as duas, felizes da vida, abriram a porta do boxe, eu me desencostei da pia e esperei que elas me vissem. Foi divertido assistir ao sorriso delas morrer.

- Weasley? – Melissa perguntou, arregalando levemente os olhos. Ela ia falar mais alguma coisa, mas eu ergui a mão, sinalizando para que ela não falasse nada, no que fui obedecida. Mas Chiara não era tão idiota quanto à amiga, por isso estufou o peito e me olhou em desafio.

- O que você quer, garota?

- Aonde estão os seus modos, Corner? É assim que você pretende conquistar Scorpius? Sabe, ele odeia tipinhos como você.

- Sua... – rugiu ela, tentando pular em mim. Melissa, sensata, a segurou pelos ombros.

- Cala a boca. – mandei e, por incrível que pareça, ela fez isso. – Você não tem nada que faça Scorpius te olhar mais que duas vezes, então é melhor não perder seu precioso tempo.

- E como você sabe do que ele gosta? Só porque é amiguinha dele?

Resolvi mandar a prudência dar uma voltinha. Dane-se, pensei.

- Eu sei exatamente do que Scorpius gosta. – não preciso mencionar que, ao dizer isso, as lembranças da nossa noite perfuraram dolorosamente meu cérebro. Mas, pelo menos, obtive o efeito desejado: Chiara arregalou os olhos e começou a gaguejar.

- Vocês... você e ele... não, vocês não...

- Meu Deus, cala a boca. – resmunguei irritada. Ela parou de falar, ainda me encarando confusa. Aproveitei para dar meu recado à Melissa. – E você, Jones, nem pense em fazer alguma coisa contra Samantha para separá-la de Alvo. Eu juro que não vou te dar um segundo de paz se você fizer qualquer coisa que estrague o namoro dos dois, ouviu bem? – ela assentiu minimamente, parecendo um pouquinho assustada. Geralmente, eu era bem legal com as pessoas, então minha atitude era meio incomum.

- Quem você pensa que é, Weasley? Como se você fosse capaz de fazer alguma coisa contra nós. – Corner me desafiou. Eu ri.

- Você vai preferir pagar para ver? – falei, chegando tão perto dela que pude sentir sua respiração. – Não brinquem com fogo, vocês podem se queimar. Eu estou falando sério, meninas. Se vocês tentarem algo com Scorpius e Alvo, não me deixem saber porque, se eu souber, vou transformar as duas nas pessoas mais odiadas dessa escola. E vocês sabem como eu sou influente. Cuidado com o que desejam. – dei uma assoprada na cara de Chiara só para provocar e dei as costas às duas. Meu recado estava dado.

Caminhei a esmo pelos corredores, me sentindo um pouco mais tranqüila. Discutir com aquelas duas me fez bem, aliviou um pouco o que eu sentia. Eu não ia matar ninguém, é claro, só fazê-las sofrer um pouquinho. Eu não queria trazer problemas para mim mesma, então não faria nada que as machucasse seriamente.

Levantei os olhos e me vi parada em frente à biblioteca; fazia tanto tempo que eu não ia até ali que resolvi entrar e pegar um livro. Talvez algum deles conseguisse me distrair. Mamãe entenderia, com certeza. Suspirando, passeei por entre as estantes, procurando algum livro que me interessasse. Puxei um de capa carmim, mas seu título estava ilegível porque as letras douradas estavam descascadas. Parecia muito antigo e eu confirmei isso quando abri e vi que suas páginas estavam muito envelhecidas. E seu idioma era rúnico. Para lê-lo, eu teria que pegar meu dicionário de runas e não estava disposta a isso. Mas, mesmo assim, o livro me despertara alguma curiosidade.

- Com licença, Madame Pince. – eu chamei e ela parou de escrever num pergaminho para me dar atenção. – Eu gostaria de saber que livro é esse. Me parece bastante antigo.

- E é. É o primeiro exemplar de “A Magia das Magias” e data do século XVII. Chegou aqui já nesse estado e não pudemos repará-lo, só colocamos um feitiço que o impede de se decompor ainda mais. Está interessada nele?

- Gostaria de lê-lo, mas será que tem algum exemplar mais novo? E em inglês? Seria muito trabalhoso lê-lo junto ao meu dicionário.

- Vocês jovens querem tudo de mão beijada. – ela reclamou, saindo do seu lugar. Vagou pelos corredores da biblioteca e me trouxe o livro, também de capa carmim e título dourado (mas em inglês). – Não custava nada procurar, certo, Srta. Weasley?

Não respondi, apenas abri um sorriso de agradecimento e peguei o livro de suas mãos asquerosas. Sentei-me à uma mesa mais afastada e comecei a ler.

Era um conto de fadas. Um adorável conto de fadas, que falava sobre amor e carinho. Não era exatamente do que eu precisava dadas as circunstâncias, mas era uma historinha tão bonita que eu fui incapaz de largar o livro sem saber se a doce Henriqueta conseguiria ficar com seu amado e valoroso Felício, de modo que eu o devorei em algumas horas. Perto do jantar (eu havia perdido o almoço enquanto lia), eu devolvi o livro ao seu lugar, me sentindo mais esperançosa. Talvez eu ainda tivesse uma chance no amor, Scorpius não era o único homem do mundo.

Eu estava certa em parte: Scorpius não era o único homem do mundo. Só do meu.

Depois que aquela deliciosa euforia adquirida das ameaças contra Chiara Corner e Melissa Jones, e a ligeira esperança dada pelo livro finalmente saíram do meu cérebro, eu voltei a ficar apática. Não sei dizer se estava triste, porque eu não sentia nada, na verdade. Talvez estivesse depressiva. Ou não. Vai ver eu estava tão triste que nem sentia mais.

  Eu via a preocupação da minha família, via como me olhavam. Cansaram de me perguntar se eu estava doente e eu só sacudia a cabeça, fazendo que não. Alvo tentava me animar de qualquer jeito, mas não tinha nenhum sucesso. Sem saber mais o que fazer, optou por me dar um choque. Me fez ficar pior, mas ajudou. Pelo menos eu saí do torpor.

- Scorpius vai ao baile com a Izzy. – ele jogou em cima de mim de repente, quando eu voltava do jardim. Não disse ‘oi’ e não perguntou se eu estava bem. Simplesmente cuspiu essas palavras em mim.

- Bom para ele. – respondi baixo, dando de ombros. Alvo e Sam, que estava de mãos dadas a ele, se entreolharam penalizados.

- Rose... – começou Sam, mas eu cortei.

- Eu estou bem. – resmunguei e continuei meu caminho para a sala comunal. Quando estava longe o suficiente deles, sentei no meio de um corredor vazio e, encostada à parede, chorei até não agüentar mais. O que foi bom de alguma forma, porque antes eu nem chorava mais. Chorar sempre me fazia bem.

Uma semana depois, chegara o dia do baile de formatura. Finalmente. O dia pelo qual estávamos todos esperando desde que tínhamos entrado na escola sete anos antes. Por um lado, eu estava louca para comemorar, mas por outro, eu só queria ficar trancada no dormitório até a hora de pegar o trem para casa. Mas eu sabia que me arrependeria para sempre se perdesse meu baile de formatura por causa de Scorpius. Por isso, aceitei o convite de Peter e deixei que ele me acompanhasse. Além do mais, ele ainda era meu namorado.

Qual era o meu problema? Não conseguia terminar um namoro. E Peter não era idiota, sabia que não estávamos mais juntos, que havíamos nos afastado havia tempos, só que, tecnicamente, ainda tínhamos o rótulo de namorados.   

Então, apesar de tudo isso, eu me arrumei para o baile. Coloquei meu vestido longo, tomara-que-caia com as costas transpassadas por uma fita de um verde mais escuro do que o tom do resto da roupa. Calcei minhas sandálias de salto alto e coloquei o colar com um pingente de estrela que meu pai me dera quando eu era criança. Arrumei meu cabelo e fiz a maquiagem. Por último, vesti minha capa e me olhei no espelho. Com um sorriso, percebi que estava mesmo bonita. Estava me sentindo bonita.

Encontrei minha família no salão comunal. Papai e mamãe se adiantaram e cada um deles me abraçou.

- Você está deslumbrante, princesa. – disse meu pai, me dando um beijo estalado na bochecha. – Veja, o colar que eu te dei. Ainda me lembro da sua cara de felicidade quando você o colocou no pescoço pela primeira vez.

- Esse colar é meu amuleto, papai. Só uso em ocasiões especiais, me dá sorte.

- Então, espero que lhe dê sorte hoje, querida. – disse ele. – Nem acredito que você já está se formando! Há pouco tempo você era uma coisinha pequena que eu embalava no colo. – se Hugo estivesse ali conosco, já teria enfiado o dedo na goela e fingido vomitar.

- Pai, já te disse: eu vou ser sempre a sua garotinha, ok? – meu pai sorriu emocionado. Mamãe, que estava ao seu lado, revirou os olhos e lhe deu um empurrão.

- Pelo amor de Deus, Ronald. Rose está se formando na escola, não vai se mudar para o Alasca. – papai a olhou indignado, arrancando uma risada minha. Mamãe sorriu como sempre fazia quando importunava o papai. – Você está linda, filha. Peter terá que ficar de olhos bem abertos, porque eu aposto que muitos rapazes vão querer ficar com você. – é claro que após essa afirmação, meu pai arregalou os olhos e inflou ainda mais de indignação, mas eu o ignorei, porque, instintivamente, olhei para Scorpius com os pais do outro lado da sala. Ele estava me encarando também, mas eu desviei o olhar e vi como o Sr. Malfoy parecia desconfortável na nossa sala comunal. A cena quase me fez rir.

- Ok, ok. – eu disse. – Acho que é hora de vocês irem, eu ainda tenho que me encontrar com Peter. Vejo vocês depois. – expulsei meus pais e vi os outros fazerem o mesmo. Alvo se aproximou.

- Eles sabem como nos constranger.

- Eu sei, meu pai quase abriu a boca para chorar aqui. – respondi. – O que sua mãe fez?

- Ah, me encheu de beijos e abraços, disse que eu estava lindo...

- Acho que é coisa de família. Esse sangue Weasley nos faz muito passionais.

- Olha, mas quanto a Alvo estar lindo – Sam chegou, interrompendo a conversa. -, eu tenho que concordar. – nós dois rimos.

- Eu sou lindo. – ele respondeu, convencido. – Mas você também está linda. – completou e deu um beijinho nela. Sam estava mesmo linda, com seu longo azul que destacava seus olhos, e nem de longe parecia aquela menininha tímida de poucos meses antes.

- Eu vou ter mesmo que pedir para que vocês digam que eu estou linda? – falei, me fazendo de irritada.

- Você está linda, Rose. – disseram ambos rindo. Eu agradeci, dando uma voltinha.

Saímos todos juntos do salão comunal, mas Scorpius não tirava os olhos de mim, deixando-me desconfortável, então eu acelerei o passo e os deixei para trás. Desci as escadas principais e procurei Peter no meio das pessoas paradas no Saguão de Entrada. Ele estava parado às portas do Salão Principal, lindo em seu smoking preto e a capa azul e prata da Corvinal. Droga, como eu queria ser apaixonada por ele.

- Oi, você está linda! – disse ele quando me viu. Ofereceu a mão e eu a aceitei, sorrindo sinceramente.

- Obrigada, você também está lindo.

Juntos, caminhamos até a fila de formandos e nos postamos atrás de dois alunos da Lufa-Lufa. Ouvimos a diretora McGonagall falar dentro do salão.

- Boa noite a todos. Vamos dar início à formatura da turma de 2023 da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, por favor, recebam os formandos. – as portas do salão se abriram e nós entramos sob os olhares e aplausos de todos os convidados. Paramos em frente ao palco e esperamos que ela continuasse. Quando o barulho cessou, ela retomou a palavra. – Sim, sim, aplausos muito merecidos. Esta turma realmente merece e eu devo dizer que estou muito orgulhosa de vê-los todos aqui, preparados para uma nova etapa em suas vidas. Então, chamo ao palco a Srta. Amanda Drew, oradora da turma. – a menina morena se destacou do grupo sob mais palmas e subiu ao palco. Ela era uma menina simpática, inteligente e muito agradável. Era carismática e fazia amigos como ninguém, e tinha uma boa relação com todos. Nós havíamos trocado poucas palavras, porque eu nunca lhe dei muita atenção, mas ela era sempre educada e legal comigo, sem nunca puxar o saco. Por isso, não foi nenhuma surpresa vê-la como oradora da turma.

- Boa noite. – Amanda começou, com um sorriso de orelha a orelha. – Há sete anos, eu e meus colegas pisamos neste salão pela primeira vez. Os olhinhos brilhando de excitação, as pernas bambas e o coração pulando de ansiedade, esperando para saber o que o destino havia nos reservado. Hoje sabemos que o destino havia nos reservado os melhores anos das nossas vidas.

Pensando em como ela estava certa, eu acabei me distraindo do discurso e me perdi em recordações dos momentos que vivi ali, por entre as paredes de pedra daquele castelo que deixaria uma saudade infinita no meu peito. Eu vivi meus melhores anos ali. Fiz amizades que durariam para o resto da vida, ri, chorei, brinquei, arrumei confusões, fiquei de castigo, ganhei e perdi jogos de quadribol, dei meu primeiro beijo, me apaixonei... fui mais feliz do que podia imaginar. Dei uma olhada em Alvo e sorri, pensando em tudo que havíamos passado juntos. E por isso mesmo, olhei para Scorpius, acompanhado de Izzy, que estava absolutamente deslumbrante em seu longo vermelho-sangue e a capa verde-escuro e prata da Sonserina. Ele estava lindo, todo de preto com a capa vermelha e dourada, de tirar o fôlego. Por um segundo, quis chorar, mas consegui me conter.

- Ei, você está chorando? – perguntou Peter, com um sorrisinho.

- Quase. Só estou emocionada com o discurso da Amanda. – meia verdade. O discurso já estava no final quando eu voltei a prestar atenção.

- Esta noite, enfim poderemos dizer: conseguimos! Nós conseguimos! – ela finalizou e o salão se encheu de vivas e palmas. Só faltava a entrega dos diplomas para nos considerarmos oficialmente formados, e ela aconteceu em seguida. Olhando uma longa lista de nomes que se materializara no ar, a diretora McGonagall começou a chamar os alunos.

- Addison, Jane. – a aluna da Lufa-Lufa subiu ao palco e recebeu seu diploma das mãos do Prof. Longbottom. – Bishop, Pamela. – a sonserina foi segunda. Desliguei-me do processo até ouvir o nome dele. – Malfoy, Scorpius. – ele subiu ao palco sob fortes aplausos e recebeu o diploma do Prof. Boot. Com um sorriso, que fez meu coração bater dolorosamente contras as minhas costelas, agradeceu e voltou para a companhia de Izzy, que já estava com seu diploma. Logo depois, Jullianne foi chamada e, em seguida, Peter. E então, após dois ou três colegas, meu primo foi convidado ao palco. – Potter, Alvo. – nunca o vi tão sorridente como naquela noite. Após receber o seu canudo, deu um belo abraço na diretora (o que a deixou bastante vermelha, mas incapaz de conter um sorriso), e desceu sob nossas risadas e palmas.

À medida que se aproximava da letra W, eu comecei a ficar nervosa. Então, com um sorriso aberto, a diretora disse.

- Weasley, Rose. – e aí, todos, sem qualquer exceção, me aplaudiram. E quando digo ‘todos’, quero dizer isso mesmo, inclusive Lia Cady, Chiara Corner e Melissa Jones. Não pude deixar de sorrir com a demonstração de carinho, porque, apesar de tudo, eu era querida ali. As pessoas gostavam de mim. E, por isso, eu sabia que eles não iam se importar se eu fizesse uma última graça; era a minha formatura, afinal de contas. Quando recebi o diploma das mãos de, veja que surpresa, Maureen Jayden, eu virei para a platéia e, sorrindo, fiz surgir um buquê de flores silvestres, que entreguei à professora. Ela me olhou com carinho, por incrível que pareça, e me deu um abraço. Antes de descer, eu ainda fiz uma reverência aos meus colegas e professores.

- Você foi demais! – disse Peter, rindo. Eu sorri e lhe dei um aperto na mão. Por um minutinho, eu estava me sentindo feliz.

- Bom, já que terminamos as formalidades, - voltou a dizer a diretora depois de entregar todos os diplomas. – eu já posso dizer: Parabéns, turma de 2023, vocês estão oficialmente formados!

Uma chuva de prata começou a cair, sem nos tocar, enquanto gritávamos e comemorávamos e chorávamos. Finalmente, estávamos formados. Tínhamos conseguido. Abracei Peter com toda a minha força e sorri para ele. Depois, fui puxada com força por Alvo, que me sufocou num abraço. Quando me soltou, nós sorrimos um para o outro e juntos dissemos:

- Conseguimos, conseguimos! Estamos formados, estamos formados, o mundo é nosso, e cuidado porque os primos Weasley estão no pedaço! – era uma musiquinha que cantávamos quando crianças, só que ao invés de “formados”, era “descansados”. Não fazia sentido, mas nós não éramos muito criativos quando pequenos.

Quando paramos de gritar, nossos pais surgiram sabe-se Deus de onde e nos abraçaram.

- Parabéns, filha! – disseram papai e mamãe em uníssono. Ao que parecia, ninguém havia ligado para meu show no palco. Logo, meus tios vieram me parabenizar, seguidos pelos primos que não estavam se formando. E então, meus avós maternos, que haviam conseguido autorização do Ministério para irem à formatura, vieram até mim. Pareciam maravilhados com o que viam.

- Querida, esse lugar é incrível! – disse vovô Granger.

- É lindo, não é, vovô?

- Maravilhoso! – concordou vovó. – Nós não pudemos vir quando sua mãe se formou, o mundo bruxo ainda estava uma bagunça. Fico feliz de finalmente conhecer o lugar onde você e sua mãe cresceram. É simplesmente espetacular. – eu nunca havia visto minha avó tão deslumbrada, parecia uma criança. Não resisti e conjurei um buquê de rosas brancas e dei a ela.

- E essas rosas, vovó, não morrem. – falei, piscando-lhe um olho.

Jullianne pulou em mim quando eu saí de perto dos meus avós. Demos gritinhos histéricos, nos abraçamos e ela disse:

- Vou sentir sua falta. – eu sabia que ela estava falando do meu namoro com Peter e seu inevitável fim.

- Eu também vou sentir a sua, Jules. – respondi com um sorriso fraco. Ela me deu mais um abraço e saiu para se reunir aos amigos.

No geral, eu abracei todo mundo. Abracei amigos, colegas e até inimigos.

- Vou sentir saudades das nossas brigas, Weasley. – disse Lia Cady. Eu ri e lhe estendi a mão.

- Colegas? – ela aceitou com um sorriso. Não poderíamos ser amigas, não depois de tudo, mas poderíamos nos tratar com decência. Éramos adultas agora. Chiara e Melissa foram falar comigo em seguida e nós três pedimos desculpas: elas pelo plano idiota, que prometeram não colocar em prática, e eu pelas ameaças. O que a formatura não fazia com as pessoas, hã?

Eu estava conversando com Alvo e Sam quando senti alguém me cutucar no ombro. Era Izzy.

- Parabéns, Rose. – ela disse e eu sorri.

- Para nós duas, Izzy. – eu a abracei, tentando transmitir minhas desculpas no abraço. Eu realmente sentia muito por tê-la magoado, ela era uma menina bem legal. Mesmo sendo sonserina.

- Vá falar com ele. – Izzy mandou e eu me virei para onde ela estava olhando. Scorpius estava a alguns metros de nós duas, olhando-nos.

- Não.

- Pare de ser idiota, Rose. Eu já te disse: Scorpius te ama. – eu continuei me negando a falar com ele, mas não resisti e disse a ela:

- Você é a ex-namorada que todo homem pediu a Deus.

- É, eu sou ótima mesmo. – nós rimos. – Mas, na verdade, eu não posso lutar uma guerra perdida. Eu gosto do Scorpius, mas não é a mim que ele quer. Nunca foi. Eu tenho que gostar de quem gosta de mim e – ela fez uma pausa e colocou seus olhos em Peter, parado com os pais a uns dez metros de onde estávamos. – acho que já segui em frente. Mas eu quero que Scorpius seja feliz e ele quer você, Rose. Olhe para ele, ali nos encarando, e me diga o que vê.

Meio a contragosto, eu fiz o que ela disse. Olhei para Scorpius e percebi que ele buscava meus olhos. Deixei que aquela conexão se estabelecesse quando olhei nos olhos dele. Ele me fitava de um modo tão intenso que me senti envergonhada, como se ele estivesse dentro da minha mente. E estava mesmo. Percebi, pelo modo como nos entendíamos só pelo olhar, que eu estava errada. Estivera errada todo aquele tempo, porque era uma grande teimosa. Uma teimosa muito idiota. Eu havia sido incapaz de enxergar o que estava bem na minha frente. Mas eu via claramente agora.

Scorpius realmente me amava. Tanto quanto eu o amava. Foi muito bom perceber isso, se querem saber.

Eu olhei para Izzy e encontrei seu sorriso triunfante. Eu sorri de volta.

- O que você vê, Rose?

Não respondi. Em vez disso, falei:

- Quando foi que sonserinos ficaram tão legais?

- Eu sempre achei que fui colocada na casa errada, se quer saber. – ela riu. Então, olhou de mim para Scorpius. – Anda, vá até lá.

Dei um abraço nela.

- Obrigada. – murmurei e finalmente saí correndo pelo salão. Direto para os braços dele.

Scorpius me agarrou com força e eu enterrei a cabeça no peito dele. Era ali que eu me sentia segura de verdade. Me odiei por ter adiado tanto aquele momento.

- Eu não tenho mais nada com a Izzy. Eu juro, eu estava terminando com ela. – disse ele, a voz abafada contra o meu cabelo.

- Eu sei, me desculpe. Eu devia ter te escutado, nunca devia ter duvidado de você. Me desculpe por ser tão idiota.

- Só se você prometer que nunca mais vai fugir de mim.

- Prometo.

E aí, Scorpius sorriu o sorriso mais lindo do mundo. Era feliz, radiante, sincero.

- Eu amo você. – disse ele. E, ignorando todas as pessoas do salão, me beijou. Quando me soltou, estendeu a mão para mim, sorrindo. – Melhores amigos?

- Sempre. – respondi aceitando a mão. Ele me puxou para outro beijo e depois ficamos abraçados por alguns segundos. Olhamos ao redor e vimos Alvo, Sam e Izzy rindo para nós. E então, eu vi Peter ao lado deles. – Ah não.

- O quê?

- Peter. – Scorpius também o viu e se afastou ligeiramente quando nós percebemos que ele vinha em nossa direção. Eu fiquei esperando que ele quebrasse a cara de Scorpius e me chamasse de vagabunda, mas ele só estendeu a mão para mim.

- Aceita uma última dança? – foi tudo o que disse. Sem saber o que dizer, eu aceitei e começamos a dançar. Peter olhou para mim e deu um sorriso fraco. – Embora não quisesse admitir, bem lá no fundo eu já sabia que nosso namoro estava nas últimas.

- Sinto muito, Peter. Muito mesmo. Fui covarde, tive medo de que você me odiasse e não quis me afastar. Mesmo sabendo que não dava mais, eu continuei levando isso como uma mentira. E não queria te magoar. Sei que fiz isso, mas não era o que eu queria.

- Eu sei. Eu também poderia ter terminado tudo quando percebi que não tínhamos mais nada, mas não o fiz. – fez uma pausa e soltou um suspiro. – Só me diz uma coisa: quando você disse que me amava, também estava mentindo?

- Não. Eu amo você, Peter, mas só como amigo. Acredite em mim quando eu digo que você sempre estará guardado no meu coração. Você é especial para mim e eu te amo, só não como...

- Você ama Scorpius. – disse ele, meio sentido. Mas, de alguma forma, ele não parecia se sentir traído. Só chateado. – Eu sei, entendo isso.

- Me desculpe, de verdade, por tê-lo magoado.

- Já desculpei. Eu não posso lutar uma guerra perdida. – percebi que ele falou as mesmas palavras usadas por Izzy. E aí lembrei que ela deu uma bela olhada nele enquanto conversávamos. Liguei as peças na minha cabeça e sorri.

- Você é demais, sabia? – eu falei, abraçando-o.

- É, eu sei. – ele respondeu, com uma risada.

- Hm, acho que você anda passando muito tempo com a Izzy. – eu disse, sorrindo sugestivamente. Peter ficou vermelho. – Vá tirá-la para dançar.

- Você acha mesmo? – perguntou, procurando-a com os olhos por cima da minha cabeça.

- Certeza. – ele me deu um beijo na bochecha e foi atrás de Izzy. Fiquei admirando os dois até que Scorpius chegou.

- Tudo bem?

- Tudo ótimo, veja. – apontei Peter e Izzy dançando.

- Uau, como isso aconteceu? – perguntou, fitando-os de olhos arregalados. Parecia bem surpreso.

- Talvez eles tenham passado algum tempo juntos enquanto estávamos em detenção. E também teve esse período em que você e Izzy estavam separados e eu não dava atenção nenhuma ao Peter. Eles devem ter curado as feridas juntos. – falei rindo. – E Izzy deve ter percebido que Peter é mesmo bonito.

- Ei! – reclamou Scorpius. Eu revirei os olhos.

- Poupe-me. Peter é bonito, sim, Scorpius. E Izzy também é muito bonita, com aqueles olhões azuis dela. – nós rimos.

- Até que eles formam um casal bonito. Não mais que nós, mas ainda assim...

- Tem toda razão. – concordei, dando-lhe um beijo. – Vamos parar de encará-los e vamos dançar. – naquele momento, começava a mesma música das Esquisitonas que havia tocado no casamento de Victoire quando dançamos juntos. Rodopiamos pelo salão, gargalhando quando trombávamos em alguém. Quando estávamos perto da porta, Alvo surgiu sabe-se lá de onde e nos separou. – O que você quer, primo?

- Já que os pombinhos finalmente se entenderam e estão felizes para sempre, e não estão mais mordendo a própria sombra...

- Eu não estava mordendo minha própria sombra! – dissemos eu e Scorpius em uníssono.

- Certo, era eu quem estava. De qualquer forma, vim aqui dizer que está quase na hora.

- Hora de quê? – perguntei. Alvo abriu espaço entre mim e Scorpius, e passou os braços pelos nossos ombros.

- Hora, meus amigos, do Gran Finale. – ele murmurou com um sorrisinho maroto. Caminhamos para os jardins e admiramos a noite bonita que fazia. A lua cheia brilhava solitária no céu. Paramos às margens do lago.

- Prontos? – perguntei sem olhá-los. Eu fitava a lua lá em cima. Eles a olhavam também.

- Para quê? – perguntou Alvo. Eu mudei de lugar e me coloquei entre eles, dando-lhes as mãos.

- Para as nossas vidas.

- Se estivermos juntos... – começou ele.

- Estaremos prontos para qualquer coisa. – Scorpius completou.

Eu sorri e dei um beijo na bochecha de cada um. Depois, eles se abaixaram e beijaram minhas bochechas ao mesmo tempo, como um sanduíche.

Ali, sob a luz da lua, eu soube como tinha sorte. Tinha os melhores amigos do mundo e sabia que poderia contar com eles para sempre. Estariam comigo em todos os momentos e me entenderiam só de olhar nos meus olhos. Eu sabia que, mesmo se o que eu e Scorpius tínhamos terminasse, nós continuaríamos amigos para sempre porque nossa amizade era mais forte que qualquer coisa. Eu, ele e Alvo havíamos criados laços profundos e nada poderia destruir o que construímos juntos. Amávamos acima de tudo e estaríamos lado a lado eternamente. Se o para sempre existia, nós estávamos nele.

Com aquela certeza acalentando meu coração, eu apertei ainda mais forte as mãos deles. Nós três nos abraçamos em silêncio.

Então, de repente, ouvimos fogos estourarem dentro do salão e os gritos das pessoas que estavam lá. Não demoraria muito, a qualquer segundo o berro ecoaria pelos jardins...

- MALFOY, POTTER, WEASLEY!

É, tudo estava como tinha que estar.

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