N.I.E.M's



A volta para Hogwarts foi extremamente quieta. Eu me sentia muito desconfortável perto de Peter, Izzy e Scorpius, que por sua vez ainda estava meio enfurecido com Alvo por causa da Sam, que continuava sem falar com ele. Ou seja, animação não fazia parte daquela viagem.



Depois que eu me descobri apaixonada por Scorpius, meu humor foi parar no pé, porque eu simplesmente não conseguia terminar com Peter e Scorpius e Izzy pareciam inabaláveis. Felizes, risonhos, o casal top de Hogwarts. Uma grande porcaria.



E para completar, os dias que nos separavam dos N.I.E.M’s corriam alucinadamente e nós só tínhamos tempo para estudar, mesmo que ainda faltasse um mês para as provas. Tudo isso só contribuía para a minha raiva.



- Rose, pelo amor de Deus! O que está acontecendo com você? – perguntou Alvo exasperado, quando a tinta respingou nele. Eu tinha acabado de estourar o segundo tinteiro. Tudo porque tinha borrado minhas anotações e isso me irritou. Havia pilhas de livros e pergaminhos na mesa, agora cheia de pingos de tinta.



- TPM. – rugi. Puxei minha varinha e limpei as marcas de tinta. Alvo ainda me olhava como se eu fosse maluca e Scorpius apenas aspirou os pingos com sua própria varinha de seu trabalho e continuou a escrever, sem me dar a menor atenção. Como se eu fosse invisível. Isso fez eu me sentir tão mal que eu segurei um grito na garganta e fechei os olhos, tentanto me controlar.



- TPM? Então sua TPM é permanente. – comecei a contar até dez, tentando ignorar a voz irritante de Alvo. – É sério, Rose. Você anda irritada assim desde o casamento, já está ficando insuportável.



Grunhi um xingamento e, depois de catar meus materiais, subi para o dormitório. Joguei minhas coisas no chão e afundei a cara no travesseiro, sentindo-me a pessoa mais infeliz do mundo.



Eu sabia que estava chata, irritante e amargurada. E o motivo para isso se chamava Scorpius Hyperion Malfoy. Mas sabia também que não precisava ficar daquele jeito e muito menos descontar a fúria pelos meus desastres amorosos nos outros. Alvo já estava a ponto de me matar – não duvido nada de que ele pudesse fazer isso -; Peter mal aguentava dez minutos ao meu lado antes de começar a reclamar que eu estava insuportável e ir embora; Izzy nem se dignava mais a ficar no mesmo lugar que eu; Jullianne não conseguia trocar duas palavras comigo; Hugo ameaçava me socar toda vez que eu lhe fazia uma grosseria – ou seja, ele ameaçava me bater vinte vezes por dia – e o resto da minha família já saía de perto quando eu começava a ficar muito vermelha. Era uma situação ridícula.



E o pior era que Scorpius, embora ainda agisse como meu lindo melhor amigo, estava completamente indiferente às minhas oscilações de humor e crises de raiva. Eu estava afastando todos os meus amigos por causa da pessoa detestável que havia me tornado, mas só conseguia me preocupar com Scorpius. E era isso que me matava. Porque eu estava totalmente apaixonada pelo meu melhor amigo, não conseguia terminar um simples namoro, afastava todos que gostavam de mim e via o tal melhor amigo que eu amava com uma garota que não era eu.



Era simplesmente deprimente.



Fechei os olhos e soltei um longo suspiro. Eu precisava voltar a ser a boa e velha Rose, mas naquele momento não tinha condições. Se eu pensasse demais sobre tudo isso, seria capaz de explodir. Eu só precisava me distrair. E para isso existia... quadribol. Depois que o campeonato acabasse, eu poderia fazer um esforço para voltar ao normal.



A temporada de quadribol estava na reta final. A Corvinal estava na frente com 550 pontos graças às duas vitórias sobre a Sonserina e a Lufa-Lufa. A Sonserina, para meu desgosto, estava em segundo com 490 pontos em grande parte graças à vitória sobre nós. A Grifinória amargava o terceiro lugar com 470, com apenas a vitória sobre a Lufa-Lufa, que vinha em último com 260 pelas duas derrotas. Se quiséssemos aquela taça dourada enfeitando a sala da Prof. McGonagall, tínhamos que ganhar da Corvinal por pelo menos 90 pontos de diferença e ainda torcer para a Lufa-Lufa ganhar da Sonserina ou perder por um placar pequeno. O que não seria nada fácil. Por isso, depois que eu decidi me dedicar à minha atividade favorita, eu saí do quarto e me reuni com o time no vestiário.



Era um sábado ensolarado e ninguém ficou muito feliz de ter que ficar no vestiário quando podia estar aproveitando o dia. Mas nenhum deles reclamou quando viram que eu não estava para brincadeiras. Todos se acomodaram enquanto eu pegava nosso esquema de jogo, que consistia numa maquete viva representando o jogo anterior, e colocava em cima da mesa. Fiquei cerca de dez minutos avaliando a movimentação dos nossos bonequinhos vestidos de vermelho e dos outros vestidos de verde. Depois, ergui os olhos para meus companheiros e encontrei os olhares questionadores deles.



- Certo, pessoal, achei os erros que colaboraram para a nossa derrota contra a Sonserina. – eu falei.



- Erros?! – Alvo exclamou indignado. – Mas nós estávamos ganhando quando a Cady enfeitiçou a Lily.



- Eu sei disso, Alvo. Mas mesmo assim, eu achei falhas em nossa defesa. Vejam – apontei para a réplica de Izzy que capturava a goles para armar a jogada do primeiro gol – que Hugo está parado aqui, não está cobrindo todos os aros e por isso não conseguiu evitar o gol da Sonserina. – enquanto meu irmão avaliava seu bonequinho, eu fiz a jogada retroceder para o momento em que Fred acertava o balaço em Izzy. – Logo depois que Izzy é atingida, o balaço volta ao jogo próximo de onde está Joanne, que poderia tê-lo rebatido em Kingston e assim evitar o gol. Outra coisa aqui: eu, Alvo e Scorpius estamos voando em formação atrás e aos lados de Izzy, mas abaixo não há ninguém. Tudo isso contribuiu para que a Sonserina fizesse o primeiro gol. Vocês entendem o que eu quero dizer?



- Eu já sei qual o problema. – Scorpius respondeu, olhando para os outros.



- E qual é? – perguntei, tentando não parecer desesperada por um pouquinho da atenção dele – Eu preciso que todos vocês saibam o que nos falta para ganharmos a Taça de Quadribol.



- Visão de jogo, apenas isso. – ele tornou a responder sem, contudo, olhar para mim.



- Exatamente. – eu respondi decidida a ignorar o fato de que Scorpius não estava me dando a mínima, fosse lá por que motivo. – Nosso time tem tudo, gente. Nosso entrosamento é o melhor entre todas as equipes e nós todos somos talentosos. Temos tudo para ganhar esse campeonato. Menos, como Scorpius muito eloquentemente colocou, visão de jogo. Será que o campo está disponível?



- Não está. – Scorpius me respondeu de novo. Qual era a dele? – Izzy o reservou para o treino da Sonserina.



E antes que eu pudesse pensar, antes que eu pudesse me refrear, as palavras que eu tanto queria dizer em voz alta saíram.



- Só podia ser aquela pequena cobra.



Pronto, foi uma comoção geral. Todos olharam espantados para mim, como se eu fosse uma estranha. Se bem que nem eu estava me reconhecendo, então de fato eu era uma estranha. Foi aí que finalmente Scorpius olhou para mim e, pela primeira vez desde que nos conhecemos, havia frieza em seus olhos.



- O que você disse, Rose? – ele disse, olhando-me sem acreditar no que tinha escutado. Eu não respondi. Levantei-me tão rápido que a cadeira tombou atrás de mim e eu saí correndo do vestiário sem olhar para ninguém.



Fui direto para o dormitório e me enfiei debaixo do chuveiro. Um banho relaxante era tudo o que eu precisava naquele momento. Depois que me achei melhor, agendei um treino para nós na semana seguinte e fui estudar. Ocupar a cabeça com alguma coisa que não fosse Scorpius era o que eu podia fazer de melhor naquela hora, por isso peguei meu livro de Aritmancia e comecei a fazer meus resumos. Estava na quinta página quando o resto do time voltou – nunca soube o que eles ficaram fazendo lá depois que eu saí e porque demoraram tanto a voltar para o salão comunal – e Scorpius passou direto por mim, sem olhar na minha cara. Imediatamente fiquei com vontade de chorar, mas fiz um esforço gigantesco para não deixar nenhuma lágrima cair. Só depois que eu fiquei sozinha no salão comunal, eu pude abaixar a cabeça e pensar sobre tudo o que estava acontecendo comigo.



Quando me dei conta, já era terça-feira e nós estávamos reunidos no campo de quadribol. Scorpius e eu continuávamos sem nos falar e isso estava me fazendo mal – era absurda a falta que ele me fazia e o quanto sua indiferença me machucava -, mas eu não estava pronta para me desculpar ainda. O time, pelo menos, estava colaborando e fazendo tudo certo porque estava com medo de que eu começasse a gritar com todo mundo. Discutimos táticas, trocamos idéias e por fim fizemos um pequeno jogo em que trabalhamos principalmente nossa visão de jogo. Estava claro que Scorpius preferia trabalhar com Alvo do que comigo, mas ninguém fez comentários sobre isso.



- Ahn, Rose? – chamou Fred. – Já são sete horas, o jantar vai ser servido daqui a pouco. Libera a gente. – olhei o relógio e os rostos suados e esfomeados deles.



- Ok, vamos guardar os equipamentos e as vassouras e todos estamos liberados para um bom banho e o jantar. – eu respondi e nós corremos para o vestiário. Perdemos o início da ceia e tivemos que nos espremer de qualquer jeito na mesa. Quando acabamos de comer, todos nós fomos direto para a cama.



Maio estava terminando. Os dias se aceleravam mais e mais, e nós nos víamos às voltas com os testes que se aproximavam. Com a tensão dos N.I.E.M’s, alguns relacionamentos esfriavam: eu e Peter nos afastávamos cada vez mais, e Alvo e Samantha ainda não tinham reatado, o que resultou no afastamento de nós por parte dela que começou a andar com Jullianne. Mas, para minha tristeza, Scorpius e Izzy pareciam ótimos, inabaláveis. E cada vez que ela se aproximava de nós, eu ficava irritada e o fato de não poder expor o que eu sentia começou a me deixar um tanto deprimida. O que não passou despercebido aos olhos de Alvo. Estávamos na aula de Astronomia quando ele me abordou sobre isso.



- Ei, Rose. – chamou ele baixinho. Fiz um “hm” dando a entender que estava ouvindo e ele continuou. – O que está acontecendo com você?



- O que quer dizer? – perguntei descolando o olho do telescópio para olhá-lo interrogativamente.



 - Você está deprimida. – Alvo concluiu muito sabiamente. Eu fiz um barulhinho que eu esperava que indicasse uma risada sarcástica e voltei a olhar pelo telescópio.



- É, ok.



- Estou falando sério. Você está deprimida.



- Não estou, Alvo.



- Está.



- Não estou.



- Está.



- Não estou. – comecei a ficar irritada.



- Está.



- Não estou, ok! – exclamei em voz alta. A turma toda parou de fazer seus mapas e se virou para mim. A professora Magnum veio até nós com um olhar severo.



- Algum problema, Sr. Potter e Srta. Weasley? – perguntou. Eu e Alvo nos entreolhamos e negamos com a cabeça. – Ótimo, então voltem aos seus mapas.



Quando a aula terminou, eu juntei meus materiais e saí correndo antes sequer que Alvo piscasse. Mas ele conhecia tão bem quanto eu os atalhos e desvios que eu pegava e me alcançou num instante.



- Pode parando por aí, prima. – me puxando pelo braço, Alvo olhou bem para mim como se me avaliasse.



- Alvo, me solta. – pedi fazendo força para me soltar do aperto dele.



- Não até que você me diga o que está acontecendo. Na verdade, eu já tenho uma vaga ideia.



- Se você é tão esperto, eu não preciso responder nada. - falei com raiva. Ele também já estava irritado e me colocou contra a parede para que eu não fugisse.



- Quero ouvir de você, Rose! Quero te ajudar, caramba! Você está triste, eu vejo nos seus olhos. Conheço você desde o dia em que nasceu e não é fácil me enganar. Anda, fala.



Por um momento eu só quis afundar a cabeça no peito dele e chorar, mas eu achei que seria como pegar meu atestado de fracassada. Por isso, só empurrei Alvo com toda a minha força e saí andando.



- Rose! Não adianta fugir. Não é assim que você conseguir Scorpius. – disse ele. Fiquei tão chocada que pudesse ser tão transparente que parei onde estava. Alvo veio até mim e me abraçou; por um segundo eu deixei que ele me confortasse porque era do que eu precisava. Depois, soltei-o lentamente e tentei sorrir.



- Está tudo bem. – murmurei.



- Não, não está. – ele me deu um beijo na testa. – Mas vai ficar. – forcei-me a acreditar naquilo e assenti com a cabeça. Então, dei-lhe as costas e caminhei devagar até o dormitório.



Joguei-me na cama e esperei o sono chegar, mas as palavras de Alvo estavam vivas na minha mente. Depois de virar de um lado para o outro, dei-me por vencida e levantei. Peguei o robe e calcei as pantufas, decidida a estudar pelo menos um pouquinho. Mas parei no meio do caminho quando vi que ainda havia gente no salão comunal. Eram Lily e Hugo conversando num dos sofás próximos à lareira; não me lembro de tê-los visto quando entrei, mas talvez eles estivessem na ronda e tivessem acabado de chegar. Como eu tinha um ângulo de visão bom de onde estava parada, resolvi me sentar nos degraus ocultos pelas sombras e fiquei espiando os dois. Não era como se eu tivesse algo melhor para fazer.



- Ah, Hugo. – Lily dizia. – Não foi engraçado.



- Foi sim, Lily, admita. – meu irmão respondeu rindo.



- Você sabe o quanto Louis tem medo do Pirraça e mesmo assim pediu para ele assustá-lo. Agora o menino anda apavorado pelos corredores com medo de que o Pirraça apareça com mais alguma brincadeirinha. – ela repreendeu. – E você sabe que, do jeito que o Pirraça é, ele vai perseguir o Louis sempre que tiver uma oportunidade até que ele se forme.



- Ah, foi legal sim. – Hugo parecia suplicar para que ela lhe desse confiança, para que dissesse que o que ele fizera tinha sido legal.



- Você não gostaria se fizessem isso com você. Eu não gostaria se você fizesse isso comigo.



- Mas com você eu não faria, você é minha prima querida.



- Louis também é seu primo.



- Você sempre com seus contra-argumentos. – riu Hugo. – Sim, Louis é meu primo também, mas não posso amá-lo como amo você, Lily. – aparentemente, Hugo falara a última parte sem pensar porque quando percebeu que Lily o olhava sem acreditar (eu também estava bem surpresa) e se deu conta do que havia dito, ele tentou consertar. – Hm... amor de primo, claro, você é minha prima preferida por isso te amo de um jeito diferente, é sim, amor de primo, só isso... – ele se calou num átimo antes que eu pudesse levantar e ir lá lhe dar um tapa por ter estragado o momento. Lily também gostava dele, ora essa, e ela poderia ter lhe dito, mas o idiota tinha estragado tudo com aquele “amor de primo”, pelo amor de Deus.



- Claro. Amor de primo, certo. – Lily concordou sem graça, vermelha dos pés à cabeça.



Os dois ficaram num silêncio mórbido por vários minutos. Eu não podia acreditar que meu irmão iria perder a chance de ficar com a Lily. Alguém tinha que ser feliz na nossa família, oras! O posto de deprimida já era meu, não podia deixar meu irmãozinho perder uma grande oportunidade. Mas, graças a Deus, Hugo me ouviu, porque quando eu estava resolvida a chamar sua atenção e dizer algo como “tome uma atitude”, ele mesmo fez isso.



- Hm, Lily. – chamou. Ela olhou para e fez sinal para que ele continuasse. Parecendo sofrer com uma batalha interna, Hugo prosseguiu – Você promete não ficar irritada se eu fizer uma coisa?



- Prometo. – Lily respondeu, avaliando o resto tenso dele. Num claro arroubo de coragem, Hugo colou seus lábios aos dela de uma vez antes que ela conseguisse entender o que estava acontecendo. Lily arregalou os olhos, mas não fez nada para afastá-lo. Hugo, então, se separou e ficou esperando uma reação da nossa prima. Quando esta não veio, Hugo suspirou profundamente e se levantou do sofá.



- Desculpe. – murmurou e se virou para sair.



- Faça alguma coisa, Lily! – falei baixinho para mim, torcendo para que ela tomasse atitude daquela vez. E, para minha alegria, ela tomou. Segurou meu irmão pelo pulso antes que ele se afastasse e se levantou também. E aí, tascou-lhe um beijo de verdade.



Feliz porque pelo menos um de nós estava bem resolvido no que dizia respeito ao coração, eu subi para dar a eles a merecida privacidade.



Eu não comentara com ninguém que tinha visto Lily e Hugo se acertarem, o que foi bom porque eles mantiveram o relacionamento em segredo por alguns dias. Mas uma ou duas semanas depois, os dois resolveram dar a notícia porque vinham de mãos dadas pelo Salão Principal.



- Por que Lily e Hugo estão de mãos dadas? – perguntou Alvo ingenuamente. Para quem se dizia tão esperto, às vezes ele podia ser bem tapado.



- São primos, Alvo. Você e Rose sempre andam de mãos dadas também. – quase tive um infarto quando ouvi Scorpius dizer meu nome. Naqueles dias, isso quase não acontecia. Principalmente depois de eu ter chamado a namorada dele de “cobra”.



- Pessoal, - começou Lily e todos nós olhamos para ela. – eu e Hugo queríamos que vocês soubessem que estamos namorando.



- Quê?! – gritou Alvo, engasgando com comida. Depois que todos lhe deram tapinhas nas costas e ele recobrou o ar, continuou – Vocês dois? Namorando? Mas vocês são primos!



- E daí? – perguntou Lily empinando o queixo em desafio.



- E daí que eu não vou permitir! – ele exclamou, apontando a grande colher da travessa de ovos mexidos.



- Ah é? E o que você vai fazer? Dar colheradas em nós? – ela debochou e pela primeira vez em muitos dias eu ri de verdade. Enquanto gargalhava, vi Scorpius me encarando, rindo também, e nós trocamos um olhar que fez meu coração subir até a boca. Os outros, porém, estavam alheios ao que aconteceu entre mim e Scorpius e continuavam rindo de Alvo, que tomava um sermão divertido de Lily – Irmãozinho, preste atenção. Não é seu direito dizer quem eu devo namorar ou não e muito menos dar permissão. Você só está com ciúmes e fica agindo como se namorar o primo fosse um crime. Pois não é e eu tenho certeza de nossos pais e nossos tios vão achar ótimo. Agora, vê se fecha esse bico. – Alvo obedeceu contrariado e Lily e Hugo sorriram, pegando pratos de torradas e a jarra de suco de abóbora – Vamos, Hugo – Lily piscou para nós e os dois saíram para os jardins. Dava para saber quem controlava aquela relação, mas eu nunca disse isso ao meu irmão ou ele poderia se ofender.



Estávamos rindo da indignação de Alvo quando um burburinho do outro lado do salão nos chamou a atenção. Vinha da mesa da Corvinal, aonde vimos Samantha desesperada. Alvo foi o primeiro a levantar e correr até lá, e eu e Scorpius o seguimos. No centro de uma rodinha aflita estava Jullianne desmaiada.



- O que houve? – perguntou Alvo, abraçando Sam pelos ombros. Por um segundo ela esqueceu que eles estavam brigados.



- Jules surtou quando começamos a falar sobre os exames, ela está estudando demais, não agüentou a pressão. – disse ela rapidamente, olhando Jullianne ainda inconsciente no chão.



- Não se preocupe, Samantha, ela vai ficar bem. Vem, vou te levar daqui, você também está nervosa. – Alvo, muito espertamente, levou-a dali rapidinho. Era um bom momento para os dois conversarem.



Eu fiquei ao lado de Peter, ajudando a reanimar Jullianne. Aos poucos ela recobrou a consciência e tentou se sentar rápido demais.



- Calminha aí. – eu disse fazendo-a deitar de novo. – Peter, nós temos que levá-la à enfermaria.



- Eu sei, Rose. – ele disse com um pouco de impaciência. Bom, eu merecia. Peter deu a mão à irmã e a ajudou a levantar – Venha, Jules.



- Peter! – chamei quando ele já estava caminhando para fora do salão. Ele se virou para me olhar – Desculpe. – pedi e ele assentiu, tornando a puxar Jules pela mão.



Suspirando, dei uma olhada em Samantha e Alvo que conversavam num canto afastado do saguão de entrada. Torci para que eles se acertassem, os dois mereciam ficar juntos.



É claro que, mais tarde naquele dia, eu obriguei Alvo a me contar como tinha sido a conversa. E, assim como no Dia dos Namorados, ele fez isso.



Narrado por Alvo Potter



Lembre-me de agradecer à Jullianne quando a encontrar. Não que eu tenha gostado de vê-la mal, mas o surto dela criou a abertura perfeita para que eu pudesse voltar a falar com a Sam.



Sentamos no chão perto das escadarias principais do saguão de entrada, onde ninguém nos atrapalharia. Sam ainda tremia e eu corri para pegar um copo de água no salão. Quando voltei, ela ainda estava na mesma posição em que eu a havia deixado, olhando para o nada. Dei-lhe o copo d’água e ela bebeu de uma vez.



- Está melhor? – perguntei, pegando o copo da mão dela e colocando num canto.



- Estou. – ela respondeu sem olhar para mim. Olhava para onde Peter levava Jullianne.



- Jules vai ficar bem. – afirmei. Sam assentiu ainda olhando para os dois desapareciam e nós recaímos em silêncio por alguns segundos. Até que eu resolvi que estava na hora de acabar com aquilo. – Samantha, me desculpe. – ela olhou para mim, mas não respondeu. Peguei suas mãos nas minhas e as apertei. – Por favor, me desculpe. Eu sei que fui um idiota repulsivo por ter te beijado daquele jeito.



- Não foi o beijo que me irritou, Alvo. O que me irritou foi o fato de que você só estava fazendo aquilo para me exibir feito um troféu, para se exibir feito um maioral. Só para dizer ao James que você tinha ganhado a briga. Você me humilhou! Foi como se dissesse “Ela é minha!”. Mas acontece, Alvo, que eu não sou uma coisa que você pode exibir por aí.



É claro que ela estava certa. Eu só não sabia qual desculpa usar e se seria suficiente para que Sam me perdoasse.



- Você tem toda razão. Mas naquela hora eu não pensei nisso, só o que eu queria era sacanear o James como ele tinha feito comigo. Sei que para isso eu tive que machucar você, mas não era minha intenção. Eu fiquei louco de ciúmes e raiva, e achei que você poderia preferir meu irmão a mim, achei que eu pudesse te perder... – falei meio desesperado. Eu não estava mentindo de forma alguma; tudo o que eu dizia era absoluta verdade.



- Você não precisava achar nada disso. Eu nunca trocaria você pelo seu irmão, achei que soubesse disso. Sou apaixonada por você e não por ele e sou sua namorada. – Sam disse com a fala mansa, como se falasse com uma criança, como se... tivesse me perdoado. Sorri para ela.



- Quer dizer que estamos bem?



- Só se você prometer nunca mais fazer algo assim. – ela disse rindo. É, eu estava perdoado.



- Prometo. – dei-lhe um beijo na testa. – Prometo. – um na bochecha. – Prometo. – outra bochecha. – Prometo. – nariz. – Prometo. – queixo. – Prometo. – boca. Por fim, dei-lhe um beijo saudoso. – Eu te amo, Malfoy.



- Eu também te amo, Potter. – Sam sorriu e me beijou.



É, lembre-me de agradecer à Jullianne.



Fim da narração



Pelo visto, a vida amorosa de todo mundo está entrando nos eixos. Menos a minha, é claro. Se bem que eu comecei reparar que Scorpius e Izzy andavam meio balançados depois daquela maré mansa em que o relacionamento dos dois estava desde o início. Eu peguei os dois discutindo baixinho durante uma aula de Poções, sei lá eu por qual motivo, mas aquilo reacendeu uma chaminha de felicidade que eu a muito custo não deixei crescer: quebrar a cara era tudo o que eu não precisava naquele momento e por isso não dei asas à esperança. Até o fim dos exames.



- Rose, acorda! – gritou Lauren, minha colega de quarto, e eu acordei no susto. – Já são 06h30! – joguei as cobertas para o lado e levantei correndo.



Finalmente os N.I.E.M’s. O primeiro teste escrito era o de Defesa Contra as Artes das Trevas e o teste prático seria à tarde. Desci as escadas do dormitório correndo com meus apontamentos na mão, enfiei um pedaço de torrada na boca – o café da manhã havia sido servido no salão comunal – e me joguei entre Alvo e Scorpius – estávamos esquisitos ainda um com o outro, mas aquela era uma ocasião especial – e nós passamos a hora seguinte fazendo perguntas aleatórias. Quando o sinal bateu, todos os alunos dos quinto e sétimo anos se enfileiraram às portas do Salão Principal para os testes. Cada aluno se sentou à uma mesinha individual e as cinco folhas de prova surgiram.



- Quando o alarme soar, vocês podem começar a prova. – disse a Prof. McGonnagall. Ela fez um gesto com a varinha e uma grande ampulheta surgiu. – Vocês tem o tempo dessa ampulheta para fazer o teste. Os inspetores circularão pelo salão vigiando seus movimentos e há feitiços anticola nas penas. Se olharem para o lado, serão imediantemente reprovados. – um sonoro alarme ecoou pelo salão e a diretora virou a ampulheta. – Comecem.



- E então, como você foi? – Scorpius perguntou ao Alvo quando saímos do salão.



- Nunca mais quero ouvir falar “Níveis Incrivelmente Exaustivos em Magia”. E isso responde à sua pergunta. – disse Alvo de mau humor. Scorpius soltou uma risadinha e virou para mim.



- E você, Rose?



Fiquei tão surpresa por ele falar comigo normalmente depois de semanas que mal consegui articular uma resposta.



- Ahn, fui... fui bem. É, bem, fui bem. – me amaldiçoando por ser tão idiota, eu sorri sem jeito e Scorpius retribuiu com aquele sorriso que faz o coração dar mortais triplos dentro do peito. Coisa que o meu obviamente fez.



Estávamos caminhando para os jardins quando alguém gritou por Scorpius. Nós três demos uma olhada para trás e vimos Izzy andar pesadamente até onde estávamos.



- Se vocês nos dão licença, - ela disse, sem se preocupar em nos cumprimentar – eu e Scorpius precisamos conversar. A sós. – completou, os olhos faiscando de... ciúmes, talvez, antes de puxá-lo pelo braço. Os dois foram para um outro lugar do jardim enquanto eu e Alvo nos sentávamos debaixo de uma árvore para que pudéssemos descansar e treinar um pouco antes do almoço e do teste prático.



Em determinado momento, eu dei uma espiada por trás do ombro em Scorpius e Izzy e vi os dois dando o beijo mais sem graça que eu já tinha visto na vida. Afobada, eu virei para frente de novo e fingi que nada tinha acontecido. Alvo estava tentando erguer um muro de fumaça à nossa frente e eu me concentrei nele. Dois minutos depois, Scorpius se largou ao nosso lado.



Depois do almoço, todos nós voltamos ao Salão Principal para o teste prático de DCAT. Griselda Marchbanks, provavelmente a mulher mais velha que eu já tinha visto na vida, foi minha instrutora de prova. Enquanto eu realizava feitiços, azarações e contra-azarações, ela discorria sobre a Segunda Guerra Bruxa, na época dos meus pais, quando ela abandonou o cargo de Autoridade em Exames por causa de Dolores Umbridge. Depois de uma hora e meia de teste e muita falação, a Sra. Marchbanks se levantou com uma rapidez extraordinária para alguém que parecia perto dos 200 anos e apertou minha mão.



- A senhorita se saiu muitíssimo bem, Srta. Weasley. Desejo-lhe sorte nos outros exames.



- Obrigada, Sra. Marchbanks. – nós sorrimos uma para outra. – Tenha uma boa tarde.



- Obrigada, querida. Está dispensada. – eu assenti e deixei o salão. Só alguns alunos haviam terminado os exames e Alvo e Scorpius não estavam nesse grupo. Sentei-me nas escadas para esperá-los e vinte minutos depois os dois se sentaram comigo.



- Marchbanks disse que eu fui muito bem. – eu me gabei antes que um deles pudesse perguntar.



- Bom, Lloyd me adiantou que eu estou em grande forma. – riu Alvo. – Ou talvez ele só estivesse puxando o saco do filho de Harry Potter. – olhamos para Scorpius que deu um suspiro.



 - E Frederich falou que eu tenho futuro combatendo as Artes das Trevas, bem diferente do...



- Seu avô. – dissemos eu e Alvo em uníssono, e Scorpius concordou.



- E do meu pai. – completou olhando o nada. Não era segredo para ninguém o passado negro da família dele e nenhum de nós ligava para isso realmente, mas não é como se Scorpius pudesse se dizer orgulhoso. – Bom, Frederich não chegou a completar a frase, acho que ficou com vergonha, mas entendi o que quis dizer.



- Joseph McCoy não está se sentindo bem, vejam. – apontei, interrompendo a nossa conversa. O menino do sétimo ano da Lufa-Lufa vinha cambaleando pelo saguão, parecendo meio verde. Nós balançamos a cabeça com pena dele, mas não prestamos mais atenção quando Peter e Izzy saíram do salão e sentaram conosco.



- E aí, como vocês foram? – Peter perguntou animado, sentando do meu lado e pousando a mão na minha coxa. Izzy sentou-se no degrau acima de nós e passou os braços pelos ombros de Scorpius, que estava mais preocupado, pelo o que pude ver, com a mão de Peter fazendo carinho na minha perna.



- Ótimos e vocês? – respondeu Alvo, tão animado quanto, e os dois engataram numa conversa sobre os exames. Mas nem eu nem Scorpius queríamos participar do papo – era só Peter chegar para que eu ficasse absurdamente desconfortável – então ficamos calados. Izzy tentou chamar a atenção de Scorpius inúmeras vezes, mas sem qualquer sucesso. Irritada, ela se levantou e pegou o caminho para as masmorras. Scorpius também se levantou e foi para os jardins. E eu não queria discutir testes e nem ficar ao lado de Peter.



- Ahn, pessoal, eu vou subir para o salão comunal revisar um pouco de Herbologia. Vejo vocês depois. – me inclinei para dar um beijo em Peter (afinal, até onde eu sabia ele ainda era meu namorado) e subi as escadas para a Torre.



Uma semana depois, Runas Antigas era finalizado e nós saíamos do Salão Principal consideravelmente mais leves e felizes. Com a sensação de dever cumprido. Ok, em parte porque ainda faltava o último jogo de quadribol.



- Finalmente acabou! – gritamos eu e Alvo juntos, jogando as folhas de pergaminho para o alto.



- Nunca mais quero saber de provas! Estou cansado. – disse meu primo.



- Quero esquecer esses testes. Só vou lembrar que eles existiram quando os resultados chegarem. – falei. Scorpius concordou comigo, mas não falou nada. Fomos para a beirada do lago e sentamos sob uma árvore frondosa. Peter estava ao longe, conversando com alguns amigos mas eu não quis ir até ele. A cada dia que passava, minha mentira se tornava mais insuportável e eu não agüentava mais ficar com ele.



O sol estava quente e alguns alunos arriscavam um mergulho na lago com a Lula Gigante que estava na superfície do lago. Enquanto Alvo discursava sobre qualquer coisa sem importância, Scopius pegou minha mão furtivamente a apertou carinhosamente como sempre fazíamos, mas daquela vez parecia diferente. Ficamos nos olhando de uma forma completamente nova, sem dar nenhuma atenção ao que Alvo dizia, embora ele não percebesse.



- Oi! – o cumprimento entusiasmado de Samantha nos chamou de volta à Terra e nós nos largamos no mesmo instante. Ela sentou ao lado de Alvo.



- Só você para deixar meu dia ainda melhor. – disse ele dando-lhe um beijo. Scorpius torceu o nariz e se levantou.



- Bom, como ver meu melhor amigo e minha irmã se agarrarem não faz parte das minhas atividades favoritas, eu vou deixá-los à vontade. – os outros dois riram e Scorpius deu uma olhadela significativa em mim. – Você vem, Rose?



- Agora! – exclamei sorrindo e nós dois fomos caminhando para o castelo.



- Vamos conversar, Rose. – não foi uma pergunta, não foi um pedido. Ele estava me intimando a ter a conversa que deveríamos ter tido fazia muito tempo. Concordei e nós fomos parar na Sala Precisa.



- Um chalé? – perguntei quando entramos e demos de cara com a recriação uma pequena cabana, com saleta e cozinha, quartinho e banheiro.



- Pensei num lugar aconchegante que nos desse conforto e privacidade para conversarmos, e acho que o primeiro lugar que veio à mente foi o velho chalé da minha mãe. – ele respondeu. Nós nos sentamos no sofá e nos encaramos sem saber realmente como começar.



- Sinto muito. – dei o primeiro passo. – Sinto muito por ter agido como uma maluca nos últimos meses, sinto muito por ter chamado a Izzy de “cobra”. Sinto muito por não ser eu mesma.



- Não preciso te desculpar por nada, você sabe que eu nunca consegui ficar muito tempo irritado com você. E acho que todos nós temos agido de forma estranha nesses últimos tempos. Tenho que me desculpar por ter sido tão indiferente com você. – disse ele, sendo sincero. Eu dei um sorrisinho fraco.



- Devo dizer que não ajudou o fato de você ter me tratado daquele jeito, mas não tem problema. Você estava mais ocupado com seu namoro.



- Exato. O problema foi esse. – olhei para ele sem entender. Scorpius deu um suspiro longo e fitou seu olhar penetrante em mim. – Izzy estava certa o tempo todo. Sei que não está entendendo, mas me deixe acabar. O Natal, Rose, foi esquisito.



- Para dizer o mínimo. – murmurei.



- É. E nós não podemos negar que houve alguma coisa ali. – como se um bloco de cimento estivesse preso na minha garganta, eu assenti. – Aí nós conversamos, fizemos as pazes e ficou tudo certo. Só que já não era a mesma coisa e quando eu me dei conta disso, tinha uma namorada pendurada no meu pescoço e eu não podia simplesmente dispensá-la porque não tinha certeza do que eu estava sentindo. E depois você começou a agir daquela forma esquisita... achei que se me mantivesse indiferente, as coisas iam se ajeitar. Se eu permanecesse junto com você, mas distante, ninguém perceberia que tinha alguma coisa errada.



- Eu não percebi que havia nada errado. – eu disse, tentando juntar tudo o que ele havia dito. – Só achei que você estava muito preocupado com o seu namoro para ligar para mim.



- Você sabe muito bem que eu nunca deixaria de me importar com você, Rose.



- Não era como se você demonstrasse isso, Scorpius. – falei num suspiro sentido. Ele pegou minhas mãos nas suas e fez um carinho.



- Desculpe. – fiz um aceno com a cabeça, aceitando as desculpas, e ele continuou – De qualquer forma, nenhum dos meus esforços deu certo e Izzy começou a perceber que eu não estava 100% entregue ao nosso namoro. E há pouco tempo as brigas começaram porque ela estava roída de ciúmes de nós dois.



- Mas não temos nada, Scorpius. – argumentei, me amaldiçoando depois. Qual era o meu problema? Por que eu tinha que bancar a melhor amiga justo naquele momento?



- Temos, Rose. E Izzy, devo dar os parabéns à ela, percebeu antes mesmo de mim que eu falava demais em você, olhava demais para você... pensava demais em você.



- Izzy é perfeita para você, Scorpius... eu sou sua melhor amiga desde os nossos onze anos e nós não podemos jogar isso para o alto como se não significasse nada. Ficar sem você me machucaria demais e eu não quero correr esse risco... – comecei a falar rápido, levantando-me do sofá, e nem eu mesma entendia meu raciocínio. Sirenes piscavam e eu ouvia claramente “pare de falar, pare de falar!” Porque tudo o que eu queria estava acontecendo e eu estava prestes a arruinar tudo porque era idiota demais. Scorpius, graças a Deus, não era.



- Rose, cala a boca! – parei de falar no mesmo segundo, como se ele tivesse me desligado. Scorpius se levantou também e ma segurou pela cintura de forma muito mais forte do que quando nos beijamos no Natal. Ele olhou nos meus olhos e disse – Pare de agir como a minha melhor amiga – e então murmurou no meu ouvido - porque você já não é mais.



Eu não tinha a dizer a não ser:



- Me beija.



Sem esperar segunda ordem, Scorpius me beijou. Um beijo longo, quente, ávido e apaixonado. E talvez, saudoso. Porque só eu sabia como estava com saudades dos beijos que havíamos trocado na cozinha da Toca. Só que esse beijo não se parecia em nada com aqueles. Era infinitamente melhor.



Scorpius tinha total liberdade para passar as mãos aonde quisesse e é claro que ele não fez objeção nenhuma ao meu “passe livre”. Estávamos tão loucos um pelo outro que ele me suspendeu e eu enlacei as pernas em sua cintura, só que nada parecia suficiente. Nós só queríamos mais. Assim, Scorpius me carregou para a cama e me deitou sobre o colchão. Ele parou de me beijar e olhou para mim e eu sabia qual era a pergunta dele e sabia exatamente qual era a resposta. Não precisei dizer nada, só afirmei com a cabeça. E Scorpius sorriu o sorriso mais lindo que eu já tinha visto.



Não vi quando as roupas foram arrancadas e não sei em que momento nos tornamos um só, com sorriso cúmplices de satisfação e beijos acalorados e ternos. A única coisa que eu sabia era que era para ter sido ali naquela hora e com ele. Com Scorpius.



A madrugada caiu e nós dois ainda estávamos deitados juntos. Alguém devia estar procurando a gente, já que estávamos na Sala Precisa desde o fim da tarde, mas não ligávamos. Só queríamos ficar abraçados o máximo possível. Eu estava deitada no peito de Scorpius, que fazia carinho no meu braço. Foi ele quem quebrou o silêncio confortável com uma risadinha.



- Do que você está rindo? – perguntei sem me virar para olhá-lo.



- Da sua cara.



- Você não está vendo minha cara.



- E nem preciso. – Scorpius respondeu com aquele tom de voz que mostrava que ele estava se gabando. – Eu aprendi a ler você muito cedo, sei exatamente quando você está triste, irritada ou, como nesse caso, feliz. Agora, se eu estiver certo e com certeza estou, você está com aquele sorrisinho meia-boca que sempre aparece quando você está feliz demais mas não quer que os outros saibam.



É claro que Scorpius estava certíssimo: eu estava mais feliz do que podia dizer e tão apaixonada que parecia idiota, mas com aquele sorriso que ele tinha descrito. E ele sabia que era a causa da minha felicidade.



- E quem disse que eu estou feliz? – impliquei, me virando para olhá-lo.



- Bom, você não parecia exatamente triste agora há pouco. – ele rebateu com um sorriso convencido. Não consegui evitar ficar vermelha e Scorpius sorriu mais ainda.



- Idiota. – resmunguei, mas sem impedir que uma risadinha escapasse.



Sem que eu esperasse, Scorpius virou o corpo por cima do meu, tombando minhas costas no colchão. Eu ri para ele e nós nos olhamos nos olhos. E fiquei ainda mais feliz quando vi nos olhos dele toda a felicidade que ele sentia. Scorpius também estava radiante e seus olhos e seu sorriso demonstravam isso. Percebi naquele momento o quanto eu era absurdamente apaixonada por ele. Estendi a mão e tirei uma mecha do seu cabelo loiro de cima da testa suada e o puxei para um beijo mais calmo do que todos os que nós havíamos trocado aquela noite.



- Eu sempre achei você linda. – disse Scorpius quando nos separamos. Eu sorri e ele continuou – E sempre senti ciúmes dos seus namorados e, embora com Peter tenha sido quase doentio, eu achava mesmo que era porque ia perder minha melhor amiga.



- Você sempre esteve no topo da minha lista, Scorpius. Não importa quem fosse meu namorado, você sempre teve minha total atenção. E sempre vai ter. E não importa quantos homens passem pela minha vida, você sempre vai ser o mais importante. – ele sorriu feliz e eu mordi a língua para não dizer que o amava. Era muito cedo ainda, embora ele pudesse perceber isso.



- Isso é o que eu chamo de “amigos íntimos”. – brincou, arrancando uma risada minha. Então, ele olhou sério para mim e disse – Você também vai ser a mulher mais importante da minha vida. E não só por essa noite, mas por tudo. Rose, eu...



Não deixei que ele terminasse porque o calei com um beijo. Scorpius se entregou e deixou o corpo pesar sobre o meu. E aí todo mundo sabe onde isso deu.



O sol estava nascendo quando eu e Scorpius deixamos a Sala Precisa, de mãos dadas e cautelosos até o último fio de cabelo. Se alguém nos pegasse, estaríamos em apuros. E dos grandes.



- Vamos ter que manter nosso relacionamento em segredo por enquanto, Rose. – Scorpius sussurrou. Eu suspirei.



- Eu sei. Tecnicamente, ainda estamos namorando. E não é justo fazermos isso com Peter e Izzy. – respondi num sussurro também. Ele concordou e nós entramos num acordo de não contar nada daquilo para ninguém. Quando estávamos chegando à Torre da Grifinória, Scorpius me agarrou num beijo de despedida (dentro do salão comunal corríamos risco de sermos vistos) e nós nos separamos antes de entrar. Desejamos boa noite e subimos para os dormitórios.



Mas nós não chegamos a ter relacionamento algum. Com a aproximação das finais de quadribol, nós usávamos todos os horários disponíveis para treinarmos e, exaustos, mal conseguíamos tempo para conversarmos a sós, que dirá namorarmos. E se nós não tínhamos tempo de sentar para conversar na sala comunal, tínhamos menos oportunidade ainda de terminar nossos namoros. Sempre que tentávamos discutir nossas relações, algum imprevisto aparecia e atrapalhava.



Foi na véspera do jogo decisivo contra a Corvinal que eu decidi que não dava mais para a adiar: eu precisava terminar com Peter e me sentir livre para gritar o quanto eu era apaixonada por Scorpius. Depois dos jogos haveria o baile de formatura e eu queria poder ir com o cara que eu amava. Por isso, durante o jantar eu resolvi que daquela noite não passaria e fui até a mesa da Corvinal falar com Peter. Mas ele não estava lá.



- Ele disse que ia para a sala da monitoria, porque as rondas já estão para começar. – Jullianne respondeu quando eu perguntei onde Peter estava. Agradeci à minha futura ex-cunhada e caminhei decidida até a sala da monitoria. E teria continuado não fosse a cena a que eu assisti se desenrolar na minha frente.



Scorpius e Izzy estavam mais à frente no corredor, conversando. Ele entregou um buquê de rosas vermelhas à ela. Os dois sorriam quando se abraçaram e Scorpius disse em alto e bom som para quem quisesse ouvir:



- Você sabe que eu te amo, não sabe?



Algo como um pedregulho caiu no meu estômago quando eu ouvi o que ele disse e eu deixei escapar uma exclamação de choque. Eles escutaram e se viraram para mim. Os olhos de Scorpius se arregalaram de surpresa quando fitaram os meus magoados, já cheios de lágrimas.



- Rose! – ele exclamou, se aproximando de mim. Eu recuei, balançando a cabeça, sem querer ouvir nenhuma palavra dele. Depois de tudo que havíamos passado juntos, Scorpius ainda tinha a cara de pau de se declarar à Izzy? O ódio que eu senti dele naquele momento foi maior que qualquer coisa e ele soube disso quando me puxou pelo braço. – Rose, por favor, me deixe explicar!



- Me solte agora, Malfoy. – cuspi seu nome com tanto desprezo e mágoa que Scorpius me largou no mesmo segundo, como se eu desse choque. Saí correndo, sem ver aonda estava indo, sob os gritos dele chamando meu nome.



Corri desesperadamente, trombando em outras pessoas pelo caminho e só parei quando percebi que estava sob a garoa que caía. Sentei-me sob a cerejeira do jardim que tantas vezes havia me dado abrigo e comecei a chorar ao som dos trovões que sacudiam o céu.



Eu chorava alto, soluçando tanto que parecia estar em convulsão e pedindo que meu peito parasse de doer. Eu nunca estivera tão machucada quanto estava naquele momento. Não poderia ter me entregado ao que sentia pro Scorpius do jeito que havia feito: ele ainda estava com Izzy. Estava claro que Scorpius tinha se dado conta de que era Izzy quem ele amava e não eu. E ainda tinha Peter no meio da história, sem saber de nada, achando que o problema do nosso namoro era dele. Por causa do amor que eu sentia por Scorpius, acabei manipulando Peter, sacaneei Izzy e, é claro, me enganei. Como a idiota apaixonada que eu era, me deixei levar pelo momento e acreditei que pudesse durar mais do que aquelas poucas horas na Sala Precisa.



A chuva começou a cair com força enquanto eu me desmanchava em lágrimas, me molhando inteira. Eu estava de olhos fechados e não vi que não estava mais sozinha. Só quando Alvo gritou para atrair minha atenção, eu abri os olhos e vi que ele estava ali.



- Rose, o que houve? – ele perguntou em voz alta. Me joguei no pescoço dele sem conseguir formular uma única frase que fizesse sentido. – Rosie... Rosie, por favor, tente se acalmar. Me conte o que aconteceu. Vamos, faça uma forcinha.



Puxei fôlego para controlar o choro e comecei a despejar toda a história em cima de Alvo, desde o casamento até o momento em que eu vi Scorpius se declarar à Izzy, passando, claro, pela noite que nós dois passamos juntos. Alvo me escutou calado até a minha última palavra, sempre fazendo carinho no meu cabelo, me consolando.



- Ok, presta atenção. – ele começou quando eu dei minha história por encerrada – Eu sei que você está magoada, está ferida, e isso pode parecer egoísmo com o que você está sentindo agora, mas nós temos um jogo de quadribol amanhã. Nosso jogo decisivo, Rose. Nosso último jogo.



- Não sei se vou conseguir jogar, Alvo, sabendo que o cara por quem eu sou apaixonada e que fez uma grande sacanagem comigo faz parte do meu time. – falei soluçando.



- Pois tente. Nós precisamos de você, prima. Você é a alma do time, não nos deixe na mão. Não decepcione a Grifinória. Jogue amanhã e ignore Scorpius. Depois eu vou quebrar a cara dele. Mas amanhã temos um compromisso inadiável.



Alvo estava certo, é claro. Era meu último jogo na escola, não havia a opção “adiar”. Era agora ou nunca.



- O que eu faço? Como vou encarar Scorpius amanhã?



- Finja que é uma atriz. Uma grande atriz que tem que interpretar uma jogadora de quadribol fria, calculista, que não deixa nada atrapalhar seu jogo. Seja essa jogadora, Rose. – até que era uma boa ideia. Sorri fracamente, assentindo.



- Tem razão, Alvo. – ele sorriu se gabando. Eu já me sentia bem melhor e me levantei, puxando-o comigo. – Vamos, daqui a pouco esse lago transborda.



- A escola inteira vai transbordar nesse ritmo. – riu Alvo, me dando a mão. E eu caminhei lado a lado com o melhor amigo que poderia ter.



Dei de cara com Scorpius assim que nós entramos no salão comunal, mas sequer parei para olhá-lo. Subi os degraus para o dormitório ignorando seus chamados. Talvez Alvo quebrasse mesmo a cara dele, era uma opção. Forcei-me a dormir e consegui; o dia seguinte seria cheio e meus amigos precisavam de mim. A Grifinória precisava de mim e eu não a deixaria na mão.



O time já estava todo reunido no vestiário quando eu entrei, depois de ter conferido com Peter as apostas do jogo. Todos conversavam animadamente, mas se calaram assim que viram meu semblante fechado. Coloquei meu uniforme, ignorando todas as olhadelas insistentes de Scorpius, que tentava chamar minha atenção. Eu não falei nada com ninguém, tudo o que havia para ser dito já fora dito. Era só colocar em prática. Ajeitei meu uniforme e me olhei no espelho.



Eu era uma atriz. Era hora de representar.



Nós sete pegamos as vassouras e esperamos Holly Green anunciar a entrada do nosso time. Escutamos a torcida gritar alto quando ela anunciou a equipe da Corvinal. Depois, ela gritou nossos nomes. Erguemos as vassouras.



- Vamos. Temos uma taça a ganhar.

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Nossaaaaaaaaaaaaaa mais um capitulo divo *--------------------------------------------------*

    2011-10-13
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