Um cão entre nós



Sirius Orion Black, você quebrou todo o clima!

Não basta ter feito uma aposta a meu respeito, ter atrapalhado meu pedido de sair com a Evans, ter estragado o clima que a resposta dela me causou. Não. Definitivamente você não se dá por satisfeito. Tem que acabar com o clima nesse diário também. Sinceramente, temos que mudar a ordem de quem escreve no diário, eu deveria ser o segundo, pois a Lily é a minha namorada.

Merlin! Ela é minha namorada! Simplesmente estou meio abestalhado com isso tudo porque:

1. Desde nosso primeiro ano, nós os Marotos e a santa Evans não nos demos. Afinal, ela andava sempre com Severus Snape, o maldito que vivia me azarando e depois se fingia de bonzinho para a ruiva, me fazendo de mau elemento quando eu revidava. Ou seja, sempre me zanguei com a indiscutível ‘linha fina’ que conectava os dois.

2. “EU TE ODEIO, POTTER!” era a frase que todo o castelo ouvia quando a ruiva me encontrava – e quando eu a chamava para sair; dizia que estava linda como uma veela e que a amava –. Acho que vários estudantes precisaram passar pela enfermaria por causa da surdez que as cordas vocais da Lily podem causar. Entretanto, eu prefiro ser surdo a deixá-la. Se bem que atualmente não falamos mais alto que um sussurro entre nossos beijos.

3. “NÃO, POTTER!”, a resposta impiedosa que ela me dava. Cara, sabe o que é levar fora durante toda sua vida? Ok, durante três anos – eu conto quatro, pois desde o terceiro ano, quando Hogsmeade tornou-se acessível, eu comentava que a levaria até lá e ela ria da minha cara. Traumatizante para um garotinho de meros treze anos, não? – levando foras? Nem dormir mais eu conseguia! Principalmente depois da cena dos exames no quinto ano.

4. A cena dos exames. Já diz tudo, não? Quero dizer, eu não podia permitir que Sirius ficasse entediado, e Snape sempre nos atazanava quando Lily não estava por perto. Então, fui me divertir um bocado. Claro, a monitora não ficou nada feliz ao ver a roupa íntima de seu melhor amigo – note minha insatisfação, por favor –. Ela disse que eu dava náuseas! Bem, não posso culpá-la. Eu era mais infantil que agora.

5. Mesmo a amando, a achava terrivelmente prepotente e metida a gostosa por ser a única que havia me rejeitado. Mas isto nunca fazia muita diferença quando ela passava por mim, com o habitual perfume que me deixava enlouquecido, ou quando me encarava e eu podia mergulhar naquele verde-vivo.

Apesar de tudo, o amor da minha vida me deu a chance que eu tanto almejava. Obrigado, Merlin. Lily, eu te amo. Muito mesmo. Mais do que pretendia. Sério. Eu julgava que no meu quarto ano, quando ela cuspiu suco de abóbora na minha cara, que Evans seria um desafio, o maior de todos. Claro, eu já me sentia atraído desde... sempre... por ela.

No primeiro ano, quando nos encontramos no trem e tive um pequeno desentendimento com meu futuro arquiinimigo, reparei que a ruiva tinha algo de interessante no olhar, uma determinação que jamais vi em outra garota de onze anos. Falando sério, eu lembrei da minha mãe. Quero dizer, a Lily realmente é uma grande mãe, sempre cuidando do que ama e sendo independente – ela tem até uma conta em um banco trouxa! Olhe bem, minha namorada é adulta já! Que orgulho, não? –. E como sou apaixonado pela mamãe, Rebeka Potter, não foi diferente com a Lily. Claro, era um sentimento sem pecado, ingênuo. Eu a via como uma colega de casa e ela como se eu fosse um monstrinho.

Já no nosso segundo ano, quando eu retornei para o ano letivo, sabia de todas as azarações básicas para me defender dos ataques sonserinos e ajudar Remus, o nosso ‘lobinho’. Foi neste ano que nos denominamos Marotos, mas sem os apelidos pertinentes a... nossa ‘personalidade’. A ruiva parecia mais bonita e disciplinada que nunca, além de me deixar cada vez mais rendido à suas vontades. Digamos que eu fazia o possível para ficar ao seu lado sem levantar suspeitas dos amigos. Éramos jovens e as mulheres eram vistas como aberrações. Nem o Sirius que é o atual garanhão do pedaço se interessava pelo sexo oposto. Foi neste ano também que descobri o modo como a minha Lily chamava Snape; Sev, que íntimo! Ainda bem que acabou.

Voltando das férias, no meu terceiro ano, decidi, junto de Padfoot, que nos tornaríamos mais desordeiros que antes – acho que Filch nunca recebeu tantas visitas. Sirius e eu nos tornamos os ‘amigos íntimos’ do Argus –, então, desbravamos cada canto do colégio, descobrimos todas as passagens secretas e a Cozinha, até então, nunca visitada pelos estudantes. Como eu tinha treze anos, chamei algumas garotas para sair e mostrei onde a Cozinha ficava, daí tornou-se um bem público. Ah, perdi meu ‘lacre bucal’ nessa época. Sabe, eu nunca tinha beijado antes, mas vou poupar minha namorada do nome de quem a antecedeu – ela não ia gostar muito de saber –. Sinceramente, eu gostaria de ter perdido meu ‘lacre’ com a Lily – mas nem me importo com isso. Ela também não perdeu o dela comigo. Foi com o... ah, esqueça, é melhor –.

Quarto e quinto ano andaram juntos, repletos de confusões, azarações, marotagens, garotas – embora elas preferissem sair com o Padfoot. Tenho que concordar que ele é mesmo muito bonito, mas não tem todo o meu charme –, e os sonoros não’s da ruiva. Eu nem tinha esperanças quase. Porém, não poderia permitir que o amor da minha vida, meu lírio, ficasse com o Seboso. Não mesmo. Não me perdoaria nunca. Entretanto, depois do lance das cuecas do Ranhoso, a Lily deixou de conversar com ele, eu reparei. E ela tinha mudado com relação à quase tudo, inclusive a mim. Quero dizer, ficamos na mesma cabine e não houve discussões; a deixei lendo tranqüilamente, afinal, já tínhamos brigado feio e as palavras dela ainda ecoavam assustadoras em minha mente.

Nas férias, o Sirius mudou-se para minha casa após levar uma surra do pai. Ele sempre foi destratado pela família apenas por não acatar certos hábitos, como o repúdio a pessoas nascidas trouxas e o fato de ter sido escolhido para a Grifinória e não Sonserina. Foi muito bem recebido em casa, mamãe o ama como um filho, assim como papai, e eu como um irmão. Ok, chega de declarações de amor ao Black, é coisa de... veado – ai, agora eu me comprometi –. Como sou grande amigo de Elle, a melhor amiga de Evans – nossas famílias trabalham juntas no Ministério da Magia –, me correspondi com ela contando tudo. E a morena disse a Lily, que simplesmente me enviou uma carta – surpreenda-se – dizendo que eu era uma boa pessoa. Pediu desculpas por algumas cenas passadas e eu aceitei de bom grado, é óbvio. Eu a amo.

Quando retornamos ao castelo, sexto ano, o Sirius e a Marlene estavam juntos, fui nomeado capitão do time de quadribol, como o bom apanhador que sou, e o Remus e a Lily os monitores – era de se esperar que a Jenna se tornasse uma monitora, ao lado de Moony, mas a ruiva se deu melhor, e, devo dizer, manda muito bem no cargo –. Depois que ela ficou como monitora Padfoot e eu não passávamos um fim de semana sem detenção. Entrementes, parei de atormentar o Ranhoso para não afastá-la; amo demais essa menina – quantas vezes eu já disse isso? –.

Continuamos a nos falar no verão, graças a Merlin. Nunca me diverti tanto ao ler um pergaminho. A Lil é engraçado mesmo quando não tem a intenção – um bom motivo para amá-la, já que eu adoro bom-humor. Ok, se eu falar mais um ‘amo’ e/ou derivados o Padfoot pode me bater –. Decidi que a conquistaria a todo custo. Eu a queria e não abriria mão do meu sonho. Então, ao chegarmos, fiz questão de listar cinco razões para justificar minha luta:

1. Adoro ruiva. Sério. Tenho fetiche. E a Lily é ruiva, dos cabelos acaju; maravilhosa com as sardinhas pelo rosto, que somem quando ela cora. Eu amo aquelas sardas e os cabelos. Adoro passar a mão neles, escová-los, inalar seu perfume de flores.

2. Mulher perfumada me leva a loucura. Digamos que eu perco totalmente os sentidos quando ela passa, me abraça ou simplesmente fala comigo. Aquele cheiro de primavera me embala nos sonhos mais profundos. E eu amo a estação, logo, outro motivo para me sentir atraído.

3. As conversas existenciais, com conteúdo, me encantam. Lily Evans é, literalmente, a garota mais informada que conheço. Tem opiniões próprias, sabe argumentar, expõem suas vontades com convicção e sabe admitir quando está errada. Tudo bem que pode ser teimosa, mas sempre consegue tirar uma lição de tudo e voltar atrás em suas decisões. Ou seja, é madura e culta.

4. Quem é leal aos amigos sempre tem pontos positivos com James Jack Potter. Preciso dizer que é outra qualidade louvável da minha ruiva? Bem, ela simplesmente me confrontava para proteger o Ranhoso; entrou em uma briga com as sonserinas para defender a Alice, que enquanto lia poesias se esbarrou em uma; arranjou confusão com Ana, uma Lufa-Lufa que ameaçou matar Jenna por causa do Moony; azarou, como último recurso para impor respeito, Lisa, uma Corvinal que deixou Elle acamada por causa do Padfoot que, segundo a agressora, "merecia coisa melhor", mas a El deixou bem claro que não sabia sobre o que a corvinal estava falando, pois ela estava namorando um outro garoto na época. Nunca vi a Lily perder as estribeiras, apenas quando se trata das amigas e de mim.

5. O sorriso dela. Quero dizer, amo sorrisos marcantes, radiantes, aconchegantes. E ela dá um que me tira do ar, parece que dou cambalhotas, piruetas, sem vassoura. Mas o que eu mais gosto é aquele que, ao me aproximar, ela exibe. Nossa, é tão perfeito, perturbador... maravilhoso. E depois ela diz que o meu sorriso é bonito. Sinceramente, não é nada comparado ao dela.

Em resumo, criei outra explicação para amá-la:

6. Lily Evans é ela mesma. Aquilo que eu sempre quis e jamais poderia viver sem. Eu a amo e isto basta para tê-la.

Então, determinado, continuei a ser um amigo até que me visse ao seu lado. Pelo menos, eu estava lá como alguma coisa relativamente importante. Porém, percebi que quanto mais me aproximava, mais a ruiva permitia a aproximação. Constatar isso me deu forças. Também notei que Pad e Lil tinham algo juntos. Não romântico, pois ele já tinha a Marlene e nunca me trairia. Era como um segredo; mais tarde eu descobriria sobre a aposta. Senti ciúmes, admito, mas confiava piamente neles, como deposito toda minha credibilidade nos meus amigos. Remus diz que confio demais nas pessoas. Será? Ok, pergunta retórica besta. Confio apenas em quem merece.

Estávamos em uma aula, DCAT, anotando tudo. Remus e Peter estavam no fundo da sala, próximos a Dorcas Meadowes e Emmeline Vance, e a Marlene estava sentada ao lado de Alice, próximas a Frank e Edgar Bones – os inseparáveis amigos –. Esqueci de anotar o último tópico sobre feitiços escudos e fui pedir a Lily.

"Claro, James.", ela sorriu ao me responder, me deixando hipnotizado. Peguei o caderno e guardei na mochila; estávamos de saída. Então, surgiu o assunto quadribol.

"Viu que os Falmouth Falcons venceram os Cannons? Deve estar chateado pelo seu time, não, Potter?", agora ela utilizava meu sobrenome para debochar. Eu acho isso tão fofo! Oh, não. Peguei a mania da Alice de achar tudo fofo. Agora sim o Sirius me mata.

"Na verdade, Evans", respondi sorrindo, "Os Cannons venceram os Tutshill Tornados depois dessa derrota, ou seja, continuamos na liga. Mas, como vai o seu time, as Harpies?", debochei, no que ela riu.

"Invictas, senhor Apanhador. Engula essa!", disse gargalhando.

"Por você, engulo um pomo de ouro.", ela corou. Adoro vê-la assim. Nesse momento, Sirius me empurra; Peter e ele não conseguem controlar o estômago, é impressionante. Revirei os olhos e a ruiva, delicadamente, me tomou pelo braço para continuarmos a conversa fora da sala. Eu fui, reparando que Snape cochichou algo com seus amigos sonserinos. Eles nos seguiram.

"Você notou?", Lily perguntou. Eu estava tão preocupado em vigiar as serpentes que nem prestei atenção à conversa que tínhamos. Perdoe-me, ruiva. Estava zelando pela sua proteção.

"O quê? Desculpe-me, Lily. Estes sonserinos estão nos seguindo.", me justifiquei, reparando que eles paravam distantes de nós, no fim do corredor que estávamos. Eu parei defronte ela, ainda os espiando.

"Tudo bem, eu notei. Mas eu queria saber se você percebeu o quanto mudamos um com o outro.", a encarei. Evans parecia envergonhada e decidida a seguir com o assunto. Fiz que sim com a cabeça, notando o suspiro conflituoso que ela dava. Parecia que tinha perdido o rumo.

"Então... eu... é que...", as lágrimas invadiram seus olhos verdes. Aproximei, abraçando-a e alisando seus cabelos ruivos. Detestava vê-la em prantos.

"Que houve, minha ruiva?", perguntei dando um sorriso pelos cantos dos lábios. Eu já não a tratava com pronomes possessivos fazia um bom tempo, usá-los novamente me soava divertido.

"Eu descobri que...", ela recomeçou, erguendo a cabeça para me encarar, "Que eu... eu te amo.", ela murmurou, descansando sua cabeça sobre meu peito.

Era real?! Impossível!! Espere um minuto, claro que era possível, sempre foi, eu não vivia afirmando isso? Acontece que, depois de tanto rejeitar, tornou-se difícil acreditar naquilo. Eu respirei, dei um beijo em sua testa e a encarei ao me afastar um pouco. Estava decepcionado com aquele tipo de brincadeira sem graça.

"Não precisa ter piedade do meu amor, Evans.", ela me olhou confusa e perplexa. Não posso culpá-la. Não era eu quem mais queria ouvir uma resposta positiva? Não sei o que me deu na hora. Foi o medo de acreditar e depois... dói quando se cria expectativa inatingível.

"Piedade?", Lily procurou entender, caminhando ao meu encontro e me abraçando novamente, "Não é nada disso que você está pensando, Jay." Jay?! "Eu realmente te amo. Acredite-me!", e me olhou. Pude perceber que era real. Ou talvez eu quisesse acreditar. Primeiro, a euforia me dominou; depois, a negação; por fim, a timidez de tê-la ali, comigo. A soltei mais uma vez, pegando em sua mão com simplicidade, me esforçando para não corar como ela.

"Então, poso te convidar para sair?", a quarta parte do processo: a idiotice. Ela compreendeu e riu, assentindo com a cabeça. Aí vem a quinta parte, o fim do juízo. Dobrei meus joelhos em sua frente e Sirius chegou, escandaloso como sempre. Mas não conseguiu estragar todo o momento. Fomos comemorar a nossa saída do dia 31 de outubro – três dias de namoro, deixe-me ressaltar –, eu mal me agüentava para que domingo chegasse logo – sábado era dia das amigas, portanto, a Lily não podia encurtar o prazo do meu desespero –. Assim, passamos o resto da semana sem nos falar. Ora, o que você esperava? Eu estava mais do que ansioso para o nosso primeiro encontro.

Contudo, graças a Merlin, consegui sobreviver apenas dos sorrisos, olhares e piscadelas. Chegou o domingo. O amanhecer foi o mais rápido e bonito que já vi. Exato, passei a noite em claro, imaginando o que poderíamos fazer no passeio. Zonko’s estava fora de questão; não seria sensato levar uma monitora para comprar logros proibidos a fim de usá-los para acabar com a paz do colégio. Dedosdemel era algo bem óbvio, já que a loja de doces é a maior atração do vilarejo, assim como o pub O Três Vassouras. Em suma, não encontrava nada de especial para o dia mais importante da minha vida marota. Enquanto observava o carmesim do céu atenuar-se, impotente à floresta de coníferas nos terrenos da escola, pela janela do Salão Comunal, Marlene desceu, às seis da manhã, já arrumada para sair. Sobressaltou-se ao me ver, sentado no parapeito da janela.

“Jamie, já acordado?”, o sorriso dela me pareceu nervoso, um pouco falso, se quer saber. Eu estranhei aquela reação, porque a Lene sempre demonstrou gostar de me ver.

“Podemos dizer que nem dormi.”, dei de ombros, “Estou preocupado com o que fazer hoje.”

“Ah, o encontro com a Lil.”, a menina suspirou aliviada. Estranho, não? O que ela estava aprontando para se sentir tão nervosa com minha presença ali? “Pensei que o Sirius...”, ela olhou para os lados, como se esperasse que ele saísse de qualquer lugar.

“Ele está dormindo. Apagado, para ser mais exato.”, falei enquanto erguia a sobrancelha.

“Hm... Que tal dar um presente à ruiva?”, ela prendeu os cabelos, dando passos para trás. Acho que pensava em sair sem fazer alarde. Cara, muito estranho. Mas eu estava preocupado demais com o conselho para me concentrar em McKinnon.

“Presente?! Merlin! Esqueci de comprar alguma coisa para a Lily!”, me desesperei. Quero dizer, que espécie de namorado sou eu, que não compra nada para a pessoa que ama? Ok, eu não a estava namorando, mas pretendia. Ela disse que me ama, poderia aceitar o pedido. Esperava que aceitasse. Só não sabia como nem quando pedir, eu tinha de admitir. Depois de anos sonhando com o momento... Não sabia o que fazer. Como agradá-la?

Parece que transpareci a preocupação, pois a Lene se aproximou de mim, sem que eu percebesse, pegando em minha mão e me encarando com doçura.

“Acalme-se, James. Pelo menos você conseguiu o que queria. A conquistou.”, ela me deu um beijo demorado na face e se afastou para o retrato.

“Obrigado, Lene.”, ela saiu do Salão, me mandando uma piscadela. Deixou-me só, novamente. Suspirei, voltando a encarar a paisagem pela janela, ainda sentado em seu parapeito. Não fiquei sossegado por muito tempo, pois alguém desceu; desconcentrou-me dos planos já quase bolados. Faltava uma coisa.

“Bom dia!”, escutei aquela voz meiga. Virei-me para encará-la.

“Bom dia, Lice!”, respondi dando um sorriso, “Varou a noite? Madrugou.”

“Não... A Marlene me acordou quando foi se arrumar.”, ela sentou em uma poltrona próximo ao lugar onde eu estava. Sua expressão era de alguém pouco satisfeita. Talvez fosse por ter sido acordada.

“Sim. A vi.”, dei de ombros e reparei que Alice parecia tensa, “Ela disse que eu deveria dar um presente a Lily. O que me recomenda?”, eu precisava saber mais ou menos, apenas para dar ação ao plano que tinha bolado. Amon pareceu anuviar-se, dando um sorriso confiante.

“A Lily não gosta que gastem com ela, então, dê algo barato, simples. Romântico, eu diria. Ah, e escolha bem o momento, pois a ruiva costuma valorizar o clima. Acho que mais o clima que o próprio presente.”

Ainda bem que Alice Amon existe. Confirmou-me algo crucial ao plano. Embora eu tivesse que colocá-lo em prática. Saltei do parapeito da janela, agradecendo e subindo as escadas para o dormitório masculino. Entrei no quarto, indo até a cama de Sirius. O acordei – com muito custo. Este animal é ferrado no sono. Cão imundo, eu te odeio! –, assim como a Remus e Peter; para que tudo corresse bem eu precisava de ajuda dos meus amigos.

Por volta das oito horas da manhã, com tudo combinado e uma parte em andamento, desci para aguardar a ruiva ao pé da escada do dormitório feminino, já arrumado. Não posso dizer que eu tão arrumado assim. Estava muito ansioso que quase não me arrumei dignamente; vesti a primeira roupa que encontrei no meu malão. Isto é, uma calça jeans, blusa azul por baixo do moletom de mesma cor, com o meu perfume cítrico habitual. Nem me preocupei em ajeitar os cabelos, deixando-os arrepiados naturalmente, como se eu tivesse acabado de descer da minha Nimbus 1001. Com a pressa, peguei minha saca de galeões e deixei as moedas de ouro caírem pelo chão, então passei a recolhê-las.

“Droga!”, reclamei ao colocar o último galeão na saca.

"Jay?", escutei. Era Lily. Era o modo como se dirigia a mim, com aquela doce voz. Pode ser clichê, eu sei, mas tudo parou; apenas nós existíamos no mundo. Fui levantando lentamente o olhar, visualizando as pernas magníficas e fortes, o quadril e cintura delineada, o colo avantajado, o rosto delicado e lindo. Estava deslumbrante com sua saia jeans e uma blusa de frio verde, levemente decotada. Perfeita. Acho que meu queixo caiu, demonstrando como eu estava abismado com tanta beleza. Quero dizer, eu realmente passearia com ela por Hogsmeade? Sério, parecia sonho.

"Quer ajuda para pegar o dinheiro?", ela se ofereceu descendo o último degrau e colocando-se junto a mim, ajoelhada. Ainda abismado, a encarei e, fracamente, disse:

"Não, Lily, não precisa.", comecei a me recompor do impacto. Eu tinha deixado a saca no chão e fui pegá-la, ao mesmo tempo em que Lily também o fez. Toquei sua mão e senti a maciez e frieza; constatei que estava tão ansiosa quanto eu. Ela foi retirar a mão, mas a peguei firmemente, a encarando nos olhos verdes. Lily ruborizou instantaneamente, me olhando com aquele brilho diferente; pude ver que era amor. Ou quis que assim fosse. Encorajado pela ocasião, depositei um delicado beijo em sua maçã do rosto; meus lábios sentiram o calor de sua bochecha rosada. Voltando a encará-la, sorri do modo como sempre fazia ao vê-la.

"Está linda, Lily!", exclamei enquanto me colocava de pé e guardava a saca no bolso. Ela sorriu – o sorriso – e jogou os cabelos acaju para trás ao se por de pé também. Ficamos parados, um olhando o outro, nos analisando.

“Bem... Vamos?”, perguntei, oferecendo o braço. Ela o enlaçou com o próprio braço e sorriu.

Caminhamos absortos em uma animada conversa sobre a liga de quadribol – na verdade, a Lily mais ouviu que comentou –, sobre as regras da escola – e a ruiva fez questão de ressaltar minha mania de quebrá-las. Acho que ela jamais compreenderá que sou um maroto –, a futura profissão – incrível como queremos ser aurores para por fim à guerra. Lily quer garantir a segurança da família, e até da irmã, que a despreza e tem inveja –.

Ao chegarmos, pedi que parássemos ao Três Vassouras. Entramos no pub, nos sentando em uma mesa próxima à janela, onde uma feia planta enfeitava o lugar. Pedi duas cervejas amanteigadas e uma porção de coração de dragão – é uma delícia! Peça quando for lá –, fiz algumas piadas e rimos um bocado. Passado trinta minutos, já degustando os pedidos, Sirius se aproximou de nós, ocupando um lugar à mesa. Lily o encarou surpresa e perguntou:

“Aconteceu alguma coisa?”, no que Padfoot simplesmente sorriu e me pego pelo braço.

“Assuntos confidenciais, ruiva. Pegarei seu namorado emprestado.”, disse ao me puxar para o banheiro masculino. O Sirius parece mulher às vezes; onde já se viu fazer reunião no banheiro? Mas tudo bem, o acompanhei, pois precisávamos acertar o plano. Quando retornamos, Jenna, Alice e Emmeline estavam com Lily à mesa. Sentei-me ao lado dela, passando, sutilmente, o braço pelos seus ombros.

“Incomodo de ficar assim?”, perguntei. A ruiva sorriu, aproximando-se um pouco mais, e balançou negativamente a cabeça. Sirius piscou para mim e se levantou dizendo que precisava encontrar o Remus. As meninas foram logo depois dele, nos deixando a sós.

“Quer ir a Dedosdemel?”, quis saber quando ela recostou a cabeça sobre meu ombro e eu sobre a cabeça dela.

“Se quiser...”, disse erguendo o rosto para me olhar. Estávamos muito próximos agora, com ela acariciando meu peitoral e envolvendo meu pescoço. Senti-me indefeso àquele desejo de tê-la nos braços, um impulso incontrolável. Deslizei minha mão pelas costas dela, acariciando até a nuca, trazendo-a para mim...

“Hey, Prongs, o Moony estava te procurando.”, Wormtail bem na hora! Revirei os olhos, me afastando dela e encarando o recém-chegado.

“Tudo pronto?”, perguntei e ele assentiu com a cabeça. Lily apareceu extremamente confusa e irritada por tantas pessoas aparecerem no nosso encontro a dois. Selei seus lábios, a surpreendendo. “Lil, peço que venha comigo. Este passeio está uma meleca, eu sei, mas vamos. Tenho certeza de que você vai gostar bastante.”, a tomei pela mão e deixei o pub, deixando dinheiro para o Peter pagar por mim.

Seguimos para a Casa dos Gritos.

"O que está acontecendo, Jay?", a Lily quis saber, notando uma movimentação dentro da casa, normalmente vazia, para qual estávamos indo. Ainda segurando sua mão, passei pela cerca e entramos, abrindo a porta devagar. Tapei os olhos dela.

"Lily, ouça. Estamos quase prontos para eu te dar meu presente.", ela riu, mordendo o lábio inferior e procurando ver através dos dedos, inutilmente.

"Presente? Não é necessário, Jay.", eu balancei negativamente a cabeça.

"Claro que precisa.", me aproximei de seu ouvido, "Eu te amo, Lily."

Procurei o melhor ângulo para ver a expressão de surpresa da minha garota. Permiti que ela enxergasse a casa recém decorada; as cortinas haviam sido reparadas, os móveis pareciam novos, com um exuberante sofá posto à um canto, defronte a um banco. Ótimo. Os Marotos cumpriram sua parte do trato. Suspirei. Evans parecia deslumbrada com o interior da casa dita assombrada.

"James...", ela disse fraquinho enquanto eu a enlaçava pela cintura calmamente, sorrindo.

"Agradeça aos Marotos. Eu vou fazer a parte mais fácil...", disse ao selar seus lábios. Logo o seu selo tornou-se um doce beijo.

Como a Lily falou do meu beijo, posso comentar sobre o dela. É tranqüilo, quente, envolvente, decidido, cheiroso, cauteloso... me faz... estremecer. E eu não costumo estremecer com facilidade. Meus braços mantiveram-na segura, colada ao meu corpo. Afaguei seus cabelos, me embebedei com seu perfume. Meu tato e paladar provaram de algo celestial. Foi o nosso primeiro beijo. Nosso, quero dizer. Quando nos soltamos, ofegantes, sorri marotamente e a sentei no sofá. Fui até o banco, tomando o violão que estava lá.

"Mamãe tem uma amiga nascida trouxa, sabe. Ela quem me ensinou a tocar.", falei quando ela fez menção em perguntar. Acomodei-me no banco e me pus a tocar uma música. As letras e melodia falavam exatamente como eu me sentia em relação à ruiva. Àqueles olhos verdes magníficos.

The green eyes

Yeah the spotlight

Shines upon you

How could

Anybody

Deny you?

Green eyes

Honey you are the sea

Upon which I float

And I came here to talk

I think you should know

The green eyes

You're the one that

I wanted to find

Anyone who

Tried to deny you

Must be out of their mind

'Cause I came here with a load

And it feels so much lighter

Since I've met you

And honey you should know

That I could never go on

Without you

Green eyes Green eyes ohohohoh

Ohohohoh

Ohohohoh

Ohohohoh

Honey you are a rock

Upon which I stand...

Lily não me deixou terminar. Ergueu-se do sofá onde estava sentada assistindo, aproximou-se do banco, com os olhos lacrimejantes. Abraçou-me, com o violão e tudo. Senti que estava sendo engolfado pelo doce perfume floral. Soltei o instrumento e me levantei. Correspondi ao abraço fortemente, a erguendo alguns centímetros do chão. Novamente, nos beijamos, mas com maior intensidade que a primeira vez, minha mão caminhando pelas costas dela, a trazendo para perto. Nesse beijo, demoramos um pouco mais, entretanto, logo a soltei com um selo nos lábios.

"Ainda não acabou, ruiva.", a informei quando Lily fez menção em continuar a me beijar. Ela me encarou, sorrindo graciosamente.

"Oh, James, não é necessário nada disso. Um simples passeio basta."

"Pelo contrário, meu lírio. Tenho que demonstrar todo meu amor por você, pelo menos hoje.", ela sussurrou ao meu ouvido um 'eu te amo' e se afastou alguns passos. Peguei minha varinha e, com um feitiço não-verbal, convoquei a flor que estava escondida no quarto de cima – o local onde Remus fica ao se transformar –, a peguei e entreguei à ruiva. Essa sorriu admirada.

“Espero que goste, Lily.”, disse sem graça, a encarando sorrir e cheirar a flor branca; um belíssimo lírio. Ela virou-se para mim.

“Está de brincadeira? Eu amei, James! Tudo! Aposto que Sirius quem o mandou me dar um lírio. Ele acharia engraçado o trocadilho ‘uma flor para uma flor’.”, eu ri. Fora o próprio quem comprara, eu apenas enfeiticei. Pode soar que eu não fiz nada pelo encontro, mas eu não poderia sair do Salão Comunal, onde a ruiva estava com as amigas pela manhã, e sumir. Quero dizer, eu pedi aos Marotos para ajeitarem a parte térrea da casa, e ao Sirius, em específico, para me comprar uma flor – ele sabe como agradar uma garota. Não é a toa que vive rodeado delas –.

“Que bom. Hm... Por que você não a coloca nos cabelos? Seria interessante.”, pedi, na expectativa do feitiço das certo. Lily o fez, deixando-a ao lado esquerdo. Peguei em sua mão, a guiando para um grande espelho retangular, no cômodo que normalmente seria a cozinha – este era uma amplificação do espelho do Sirius, que usávamos para nos comunicar quando ele ainda morava na mansão Black –.

Lily surpreendeu-se, tocando a flor, outrora branca, que tomara a cor de seus cabelos acaju. Encarou-me e eu assenti com a cabeça. O feitiço funcionara. Pelo menos sua primeira função. A segunda estava por vir.

“Lily, eu...”, a abracei por trás, falando ao ouvido cujo estava o lírio avermelhado, “...tenho um pedido.”, murmurei. A Lily já não ousava piscar. Notou que a planta mudava novamente. Uma pétala caiu certeira na mão dela, transformando-se em uma carta rosa em formato de coração. Ela virou o rosto, me olhando com expectativa.

“Abra.”, pedi e a ruiva o fez. O berrador romântico não amplia o som como o normal, a diminui para um sussurro audível apenas a quem se refere. Então, eu suponho que tenha saído estas palavras que escrevi:

A PERFEIÇÃO

Um dia eu acordei

Sem saber o que aconteceria

Tive um pressentimento

Do sentimento que nunca senti

E percebi que por mais que o dia

Parecesse chato

Seria diferente

Então eu te vi

E a sensação do meu acordar

Veio e me cegou

Pois algo tão perfeito assim

Não deveria ser visto

Você falou comigo

Eu fiquei surdo

Pois voz tão maravilhosa

Não devia ser ouvida

Você se aproximou

E eu perdi meu olfato

Pois seu cabelo e pele são cheirosos de mais para um mortal

Você me beijou e selou meu destino

E perdi meu paladar e tato

Pois este beijo é inigualável

Senti meus sentidos voltarem

Restaurados por seu amor

Pois apesar de não ser digno

Você permitiu que eu morasse em seu coração

Obrigado

Um novo abraço me envolveu, juntamente de um longo beijo apaixonado. Lily, ao me soltar, não continha as lágrimas. Chorou, sorrindo, me olhando com extrema felicidade.

“James, você é... perfeito! Eu jamais imaginei algo assim.”, ela disse enquanto eu ria.

“Acontece, Lily, que você jamais procurou saber o que eu realmente era. Sempre me condenou segundo os preconceitos de Snape.”, a ruiva pareceu acanhada pela lembrança daquele tempo, “Mas já passou. Estamos aqui... juntos.”, disse a outra palavra essencial para a terceira e última etapa do encantamento. Aproveito para agradecer a McGonagall e Flitwick e aos livros da Biblioteca pelo excelente trabalho em ensinar Transfiguração. Com um ruído desagradável de arroto, o lírio livrou-se de uma delicada caixa de veludo preto. Lily ficou estupefata, encarando o novo presente em suas frágeis mãos.

“JAMES POTTER!”, gritou, boquiaberta, “O que mais esta flor pode fazer? Diga-me antes que eu morra.”, riu. Peguei a caixa, a abrindo e mostrando à dona seu conteúdo.

Um cordão com um pingente em forma de lírio encontrava-se gracioso, intocável. Era de outro branco, com pequenas gotículas de diamantes no pingente. Tinha um esplendor inigualável a qualquer outra jóia como aquela. Custara toda a minha economia – droga! Esqueci que a Lily pode se zangar ao ler isto –, mas era por uma ótima causa. Eu ainda seria recompensado pelo ‘sim’.

“JAMES!”, ela arregalou os olhos, ainda estupefata.

“Pensei que apenas jóias feitas por duendes poderiam quase representar meu amor por você. Não entenda como uma compra por presentes. Acredito que eu esteja investindo em um futuro maravilhoso ao seu lado. Por favor, aceite.”, tirei o colar da caixa, a jogando pelo chão. Abri seu fecho com cuidado e me aproximei para colocá-lo no pescoço da ruiva. Ela segurou os cabelos, aceitando o presente. O coloquei, a encarando do modo mais romântico. Estava fascinado com a beleza dela. Não da jóia, é claro. Da Lily.

“Eu te amo, James Potter.”, Lily falou ao me beijar sutilmente no pescoço, me fazendo estremecer. E isso acontece só com ela. E não, não é um mero desejo ou capricho. Tem muito amor no meio desse estremecer. Beijei sua testa em resposta, a enlaçando pela cintura enquanto ela me abraçava pelo pescoço. Ficamos em silêncio por alguns segundos, um sentindo a presença do outro; pele com pele. Fui ao seu ouvido, cochichando:

“Aceita namorar comigo, Lily Evans? Prometo tentar ser o melhor namorado, procurar te compreender, não lhe dar motivos para ficar enciumada, ser fiel, te amar a cada instante, coisa que faço desde sempre.”, o que é verdade se você for parar para pensar. Sempre que discutíamos, eu não conseguia comer, dormir, respirar, pensar... viver. Ela deu uma risada baixa e levantou o rosto para me encarar.

“Não precisa prometer nada, Jay. Eu me apaixonei por você do jeito que é, não mude. Eu te amo e aceito.”, sorri radiante, como se no mundo não houvesse felicidade maior. Eu a tinha. Era minha, assim como eu era dela. E sou. Meu coração palpitava descompassado, acelerado, quando Lily me beijou.

Perdi a contagem do tempo; passamos horas dentro da Casa dos Gritos e eu nem percebi. Estávamos aproveitando cada instante, um com o outro. Por volta do que me pareceu três da tarde, voltamos ao vilarejo para comer. Fomos a Dedosdemel, degustar das guloseimas; a Zonko’s – pasme –, repor meu estoque de bombas de bosta; ao correio, envia notícias a Elle – a morena sempre apoiou nossa união –; à loja de animais, comprar ração especial ao gato alaranjado da Lily, o Patinhas. Por fim, voltamos ao Três Vassouras e encontramos Sirius, Remus, Peter, Dorcas, Emmeline e Jenna a uma mesa. Nos unimos a eles para conversar. Não tardou e Frank e Alice se juntaram a nós – faltou a Lene. Padfoot me disse que não a encontrou em lugar algum. Moony soltou um muxoxo estranho, mas o ignoramos –.

Bem, foi basicamente assim que comecei a namorar Lily Evans, a minha ruiva. Minha. Por falar nela, tenho de descer para encontrá-la. A estou ajudando com Transfiguração, pois ela sente certa dificuldade na matéria. Ainda bem que eu existo ou minha namorada continuaria a tirar ‘ótimo’ – como a própria diz, “é necessário tirar um Excede as Expectativas” –.

J.P.

PS: Uau, ruiva! Não sabia que eu beijava tão bem. Não se preocupe que repetimos a dose quantas vezes você quiser. Não me importo. Sério.

PS2: Padfoot, o último tópico da reunião – que o Moony insiste em ser cumprido – está mesmo valendo, ok?


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N/A: Padfoot demorou um pouco mais pra postar desta vez, desculpem. Cara, bem complicado escrever capítulos em meio ao clima de revisão, mas me esforcei. Perdão se não ficou lá muito bom. O James é meio babão, mas logo se encaixa /sorri/. Bem, antes de ir, o nome do trecho da música é Green Eyes do Coldplay. Espero que me desculpem pela demora e pelo estado deplorável deste capítulo /se esconde/.

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