Capítulo IV





CAPÍTULO IV




O brilho prateado do luar mais algumas lanternas chinesas, penduradas em grades de treliça pintadas de branca, conferiam o toque final à romântica iluminação do bar e restaurante da pousada Hogwarts. Como que para reafirmar que bom gosto era prioridade ali, no fundo do charmoso ambiente destacavam-se duas imensas portas de vidro fumê, que se abriam no terraço defronte ao jardim.

Um agradável perfume de plantas silvestres impregnava o ar e não era difícil desvendar o porquê da presença das inúmeras fragrâncias. Além das flores que tremulavam nos canteiros do jardim bem cuidados, havia ainda dezenas de vasos ornamentais com margaridas, petúnias e gerânios espalhados em pontos estratégicos do terraço.

No canto oposto à enorme porta de vidro, um musico, vestido à rigor, dedilhava uma melodia suave no antigo e suntuoso piano de cauda.

- Flores, penumbra e musica enaltecendo o amor... Então é a mistura destes ingredientes que produz a atmosfera ideal para a farsa intitulada lua-de-mel? – atalhou James zombeteiro, conforme adentravam no restaurante onde deveriam se encontrar com os demais funcionários da Zonk’s. – Para quem gosta, chega a ser comovente...

- Por que será que não me surpreendo que pense assim!? – falou Lily, fitando-o pelo canto dos olhos. – Aliás, o cinismo deve ter sido um dos motivos que levou seu casamento ao divorcio, James Potter. Sua mulher certamente não ficou satisfeita com seu comportamento na lua-de-mel!

- Nós nunca tivemos uma – informou James, num tom casual. – Estávamos muito ocupados brigando para nos importarmos com detalhes secundários – acrescentou, dando de ombros.

- Brigando durante a lua-de-mel!? – Lily repetiu com perplexidade.

- Infelizmente sim. Tudo começou porque eu pretendia surpreender minha adorada noiva e pedi ao nosso agente de viagem que preparasse um tour especial pelas praias da Jamaica. Porém, fui ingênuo demais em supor que Cinthia iria gostar da novidade. Minha ex-esposa só tinha aspiração a conhecer as badaladas cidades européias e recusou-se a ir para uma ilha latina. Brigamos muito por causa desta preferência. Assim, no final das contas, com gostos por lugares diferentes acabamos ficando em casa. Nenhum dos dois quis ceder.

- Acho que se você a tivesse consultado antes, o desfecho dessa história poderia ter sido outro – ponderou Lily, percebendo, de súbito, por que James parecera tão amargo quando Slug lhe dissera que tencionavam realizar a conferência da Zonk’s em Hogwarts. – Foi por este motivo que ficou horrorizado quando soube que a conferência aconteceria numa pousada cuja a especialidade é lua-de-mel? – verbalizou o que lhe ia na mente. – Trauma!?

- Talvez... – admitiu ele. – Mas já superei esta fase – um sorriso irônico brincou nos lábios carnudos. – Agora vamos, que nossos amigos estão nos esperando. E lembre-se de que estamos morrendo de amores um pelo outro, certo!?

- Só porque você quer! – Lily declarou.- Sirius deve aparecer a qualquer momento e...

- Não fique tão certa disto, minha cara – interrompeu-a James, em tom de zombaria. – Enquanto estava no banho, cuidei de procurar o Sr. Black. Imagine só onde o encontrei?

Lily franziu o cenho aturdida. Não estava gostando nem um pouco da expressão de cinismo que divisava no rosto de contornos angulosos.

- Onde? – questionou contrafeita.

- No chalé que a Sra. McKinnon ocupa com a sobrinha Marlene. Parece que o moço estava muito satisfeito em relatar os feitos de sua carreira de ator para as duas damas que conduzem Hogwarts – gracejou James, abrindo os lábios num sorriso caricato. – Pelo que me conta, nenhum marido “dispensado” pelas circunstâncias teria se mostrado mais compreensivo do que o Sr. Black!... Quem é ele, afinal, Lily!? Um amigo que aceitou a farsa, esperançoso de poder desfrutar de alguns momentos em sua companhia!?

Lily mordeu o lábio, lutando contra seus pudores. Desde pequena tinha sido ensinada a dizer a verdade, contudo, como poderia fazê-lo agora, sem tornar-se ridícula perante os olhos de James!? Além de que, era obvio que se soubesse que havia contratado um marido para afrontá-lo iria rir às suas custas!

- Isto não é de sua conta! – revidou, fingindo um segurança que estava longe de sentir. – Já basta ter de me passar por sua esposa!

- Calma, mocinha – James murmurou, aproximando-se mais e tocando-lhe o queixo com as pontas dos dedos. – Nossos amigos da Zonk’s já notaram que chegamos, portanto, comporte-se como uma recém-casada feliz.

- Pensei que a farsa só devesse ser encenada na frente de estranhos! – disse Lily.

- Não seja tão simplista, minha querida. Slug achou melhor que todos, inclusive os funcionários da empresa, pensassem que nos casamos de fato. Lembre-se de que pode haver um espião industrial infiltrado em nosso meio!

- Vocês andaram vendo muitos filmes policiais! Era só o que me faltava! – exclamou ela , dando um longo suspiro. – Diga, James, o que mais você quer de mim!?

James sorriu diante da maneira afetada como seu nome fora pronunciado. Contudo, não demorou nem um segundo para que a resposta à interrogação de Lily emergisse em sua mente: “Quero segurá-la em meus braços e provar o doce mel de seus lábios, minha bela irlandesa!”, conjecturou ele. Então, num repente, sentindo-se favorecido pelas circunstâncias, deu vazão ao desejo insano e, curvando-se, beijou-a nos lábios.

- O que acha que eu posso querer, Darling? – inquiriu, pouco depois, mal reconhecendo o tom aveludado da própria voz.

- Não faço a menor idéia – Lily revidou, deixando que a respiração ofegante traísse o desejo que o breve toque despertara.

- Ora, meu amor, não desista assim tão facilmente – zombou, ao vê-la tentar afastar-se. – Além de que, teremos uma longa semana pela frente e seria uma pena ignorarmos a mensagem emitida por nossos corpos.

Antes que Lily pudesse verbalizar uma resposta adequada para tamanha ousadia, Arthur Weasley, gerente de vendas da Zonk’s, aproximou-se, saudando-os efusivamente.

- Veja só como são as coisas, a moça mal é contratada pela empresa e o danado do James já cuidou de tomá-la só para si! – gracejou Weasley, após os cumprimentos de praxe. – E como perdi a oportunidade de cumprimentar a noiva logo após a cerimônia de casamento, acho que devo fazê-lo agora mesmo.

Um tanto encabulada, Lily se viu beijada e abraçada como se fossem velhos conhecidos.

- Ei, Arthur, espere um pouco! – James interferiu, puxando-a para si como se fosse um brinquedo que não podia ser partilhado com mais ninguém. – Lembre-se de que você também veio para Hogwarts em lua-de-mel e de que sua esposa está nos observando neste exato momento – acrescentou em tom jocoso.

Em meio ao riso geral, Weasley abraçou a bonita senhora de meia idade que os observava com ar sereno,

- Oh, James, achei maravilhoso que a companhia tenha decidido nos proporcionar uma segunda lua-de-mel num lugar magnífico como Hogwarts – Molly Weasley declarou, assim que o marido parou de abraçá-la. Colocando os cabelos grisalhos atrás da orelha, prosseguiu: - Imagino que está idéia tenha sido inspirada em seu próprio casamento, estou certa!?

- Pode apostar que sim, querida Molly! – exclamou James, e o sorriso que brincava em seus lábios carnudos alargou-se ainda mais. – Porém, se pretende agradecer alguém, agradeça à minha esposa, a sugestão original foi dela, não é, Lily!?

- Quanta gentileza, meu bem! – A Sra. Weasley tocou as faces de Lily como se esta fosse uma de suas sobrinhas favoritas.

Sentindo-se confusa demais para falar, Lily limitou-se a sorrir para os Weasley, pouco antes de James a puxar pelas mãos.

- Desculpem-nos, mas ainda quero apresentar minha esposa para o resto do pessoal – comentou o arrogante James, já a caminho de uma enorme mesa ao fundo do salão.

Os Weasley assentiram e, no momento seguinte, Lily já se descobria sendo tratada como a jovem Sra. Potter.

Alguns dos presentes ela conhecia da empresa, afinal, estavam lá: Patrick Moriarty, responsável pelo departamento de projetos e manufaturas, juntamente com sua sorridente esposa Nora; Hal Martin, o engenheiro chefe, abraçado à esposa Elaine; além de Richard Lowe, o projetista mais antigo da empresa, acompanhado da tímida Mary, a esposa vinte anos mais jovem que ele.

Aceitando os cumprimentos de todos e esforçando-se para demonstrar uma felicidade que estava longe de sentir, Lily se perguntou se realmente era preciso levar a farsa a tais extremos, afinal, os membros da empresa sabiam o verdadeiro motivo porque se encontravam ali.

- Venha cá, Lily, ainda preciso apresentá-la aos Mason – chamou-a James, interferindo em seu momento de reflexão.

Sem alternativa, Lily o acompanhou até o canto esquerdo da mesa, onde um jovem casal parecia discutir.

- Cinthia, Edward, quero que conheçam minha esposa – James anunciou, parecendo divertido com o olhar maldoso que a jovem de cabelos louro-acinzentados dirigiu a Lily.

- Sua esposa e eu já nos conhecemos, James – Cinthia Mason declarou, franzindo o cenho. – Pelo menos de vista. Além de que, falamos diversas vezes por telefone.

Lily sorriu. Sim, lembrava-se de ter falado com a talentosa Sra. Mason, conhecida na Zonk’s por sua criatividade e capacidade de produzir os melhores esboços de brinquedos novos.

- Este é meu marido Ed – a moça loura apresentou o rapaz de cabelos cor-de-ébano, que fitava Lily como se pretendesse devorá-la viva. – Agora, querido, tire os olhos de cima da Jovem Sra. Potter porque ela é recém-casada e provavelmente imune a seu charme latino.

- É melhor ouvir o que sua mulher acaba de dizer, Mason – James comentou em tom brincalhão. – Porque Lily é só minha. Jamais a dividiria com quem quer que fosse, certo, meu amor!?

Lily estava aturdida demais para manifestar seus sentimentos, portanto, limitou-se a sorrir com palidez.

- Têm de desculpar Ed, ele acredita que é um presente dos céus para todas as mulheres. – O tom irônico das palavras da desenhista da Zonk’s não pareceu incomodar nenhum pouco a seu marido de aparência latina.

- Bem, digamos que as mulheres são as maiores responsáveis por eu pensar assim, mi querida – Ed Mason falou, indulgente. – Mas, voltando ao assunto do dia, fiquei surpreso em saber que havia casado, James.

- Verdade!? – James arqueou as sobrancelhas.

- Sim. Pensei que fosse “gato escaldado”... Só agora, vendo a beleza de noiva, compreendo por que se deixou fisgar. Até eu seria incapaz de resistir!

“Cretino!” James precisou fazer um tremendo esforço a fim de não esbofetear o rosto “a La Antonio Bandeiras” de Edward Mason. Era quase insuportável vê-lo sorrindo para Lily como se quisesse fazer amor com ela ali mesmo, no centro do restaurante de Hogwarts.

- Acho que já está na hora de pedirmos o jantar, não é mesmo pessoal? – soou a voz agradável de Molly Weasley, vinda de algum lugar às costas deles. Era obvio que as palavras da velha senhora tiveram o propósito de desanuviar o clima hostil que, de súbito, pairara sobre os dois casais mais jovens.

Como o assentimento foi geral, tanto James como Lily se permitiram ir para longe dos Mason e ocupar a ponta oposta da mesa, que fora reservada para os membros da Zonk’s.

Logo a grosseria de Ed e Cinthia foi esquecida, em parte graças a estupenda habilidade da cozinheira de Hogwarts e também porque cada um estava imerso nos próprios problemas.

Enquanto James se concentrava em devorar o filé à francesa que pedira, Lily tentava pôr ordem ao caos em que se transformaram suas emoções.

Desde que James Potter a tinha beijado, pouco antes de deixar a suíte, experimentava um terrível sensação de irrealidade. Sua premonição no escritório de Slug, afinal, não falhara: a proximidade de James era mesmo sinal de perigo iminente!

- Algum problema? – soou a voz que já estava se tornando muito familiar.

- Problema, hã... o quê!? – ela repetiu, tendo a nítida sensação de que James fizera eco a seus pensamentos propositadamente. – Não, nenhum. Por quê!?

- Não sei, de repente, me pareceu muito séria.

- E por que eu deveria ficar sorrindo à toa, uma vez que você está me obrigando a passar por sua esposa!? – alfinetou, baixando o tom de voz para que os outros não pudessem ouvi-los.

- Talvez, querida, porque minha benevolência em não contar a Slug que trouxe um marido falso à conferencia, esteja lhe poupando o emprego.

- Oh, você é um cretino!

James sorriu indolente, contudo, no fundo de sua alma não gostara da repulsa que entrevira nos olhos verdes de Lily. Estranhamente, o fato de ela não apreciá-lo o aborrecimento sobremaneira. Droga! Que feitiço aquela descendente dos leprechauns irlandeses exercia sobre ele!?

- É melhor pararmos de discutir, se não acabaremos chamando mais atenção do que Cinthia e Edward Mason – comentou James, respirando fundo antes de tomar um longo gole do vinho italiano que pedira.

Num impulso, Lily se permitiu observar os Mason.

- Tem razão. É deprimente. Veja aqueles dois: parece que não estão aproveitando muito a segunda lua-de-mel! – sussurrou, notando que o casal dava sinais de estar discutindo outra vez.

- Cinthia é uma víbora, e Edward bem que merece – tornou James com rispidez. – Alias, fico me perguntando quanto disto esta associado ao nome de batismo. Conheci outra mulher chamada Cinthia que tinha essa mesma personalidade.

- Quanta asneira! O nome não tem nada a ver com isto. Mas deixe-me adivinhar porque tanta amargura: a outra Cinthia que conheceu era sua ex-esposa, certo? – Lily não pode evitar de alfinetá-lo.

- A própria – James concluiu com azedume.

Por uma fração de segundos, Lily julgou divisar uma magoa profunda no fundo dos olhos de James Potter. Sem saber bem que sentimentos a moviam, recordou=se de no dia em que se conheceram, James se recusara terminantemente a passar por seu marido. O que teria acontecido em seu primeiro casamento para torná-lo tão arredio!?, perguntou-se, sentindo um misto de atração e curiosidade em relação ao homem musculoso sentado a poucos metros de si.

“Devo ter enlouquecido!”, repreendeu-se ela. “Num instante o odeio com todas as minhas forças, no outro fico desejando conhecê-lo melhor!? Como posso ser tão cretina!?”

Respirando fundo, Lily baniu aqueles pensamentos tortuosos de lado e forçou-se a ouvir a melodia romântica que estava sendo tocada no piano de cauda.

- Vamos dançar? – a pergunta a tomou de surpresa.

Por um instante, ficou tentada a recusar, contudo, logo o bom senso a fez ver que era ridículo temer James Potter. Sim, ele podia parecer arrogante e dominador, mas no fundo era um ser humano como outro qualquer. Tendo convivido com cinco irmãos mais velhos, Lily já percebera que, no intimo, os homens não são auto-suficientes e poderosos como gostam de dar a impressão. Portanto, por que não aceitar!? Afinal, ela e James estavam no mesmo barco...

- Sim, obrigada- disse, aceitando a mão que lhe era oferecida – Só devo preveni-lo de que não sou boa para dança de salão,

“Entendo, darling, seu forte é dança do ventre!”, ele ponderou divertido. Contudo, as palavras que proferiu em seguida não revelaram o pensamento.

- Não tem problema. Eu a ensino – sorriu com gentileza, conforme a conduzia para o centro da pista.

Tocada pelo sorriso, Lily permitiu que os braços fortes a enlaçassem e a mantivessem bem junto do tórax viril. Em questão de segundos, seu rosto já estava colado ao dele e, de súbito, teve vontade que aquela dança não fosse apenas uma farsa para impressionar os demais membros da Zonk’s.

Era gostoso, para não dizer delicioso, inalar o cheiro amadeirado da colônia de barba que James usava, e sentir seus corações baterem quase no mesmo ritmo.

James por sua vez, havia fechado os olhos e deixava que suas mãos experientes percorressem as costas de Lily com intimidade.

Ambos sabiam que seus corpos se completavam com maestria. Desta forma, conduzidos pela musica e por sentimentos que gostariam de renegar, foram os últimos a perceber quando a musica terminou.

- Acho que devemos retornar a mesa – James murmurou, tão logo se deu conta de que estavam parados no centro da pista de dança.

Aturdida com o tumulto das próprias emoções, Lily balbuciou incerta:

- Eu... eu vou procurar Sirius, ele merece uma explicação.

- Preferia que não fosse. Todos estão observando – James pediu em voz baixa. – Como vou justificar o fato de me deixar sozinho aqui? Estamos de lua-de-mel, lembra?

- É só você dizer que fui ao toalete – sugeriu, começando a se irritar. Detestava quando outras pessoas tomavam as rédeas de sua vida.

- Não vou contar mais esta mentira. Se for atrás de Black eu a acompanharei! Quero evitar boatos.

- O que está pensando, afinal, que pode controlar todos os meus passos!? – falou Lily, perturbada.

- Sim, se isto for para o bem da Zonk’s – respondeu James, segurando-a pelo braço e fazendo menção de conduzi-la de volta a mesa.

- Está muito enganado se acha que vou me submeter a este despotismo! Agora, solte meu braço senão vou gritar!?

- Pare com isto, Lily, estamos chamando atenção de todos no restaurante! – James a preveniu, forçando-se a baixar o tom de voz.

Girando levemente a cabeça, Lily notou que os olhares dos funcionários da Zonk’s estavam fixos neles e que a Sra. Weasley, em especial, os observava com expressão entristecida.

Mas que diabos estava acontecendo com ela!?, questionou-a seu bom senso, embora geniosa, nunca fora inadequada,

- A culpa é sua, James Potter! Porque não pára de agir como se fosse meu dono!? – acusou-o, permitindo que ele a levasse de volta a mesa, onde se sentaram em silencio.

Percebendo a atmosfera pesada que se instalara, a Sra. Weasley, uma estrategista social habilidosa, tratou de incluí-los na conversa sobre os pontos turísticos que poderiam visitar nas proximidades de Hogwarts.

Durante algumas horas, todos conversaram animados, porém, em seu âmago, Lily ainda se sentia sufocada pelas próprias emoções. Sem parar para pensar nas conseqüências, aproveitou que James se mostrava interessado no que Arthur Weasley contava e levantou-se da cadeira abrutamente:

- Se me dão licença, vou dar uma volta no jardim. Preciso de um pouco de ar fresco.

- Irei com você! – James fez menção de levantar-se.

- Oh, não, fique e aproveite o resto de sua noite, querido. Nos veremos no quarto. Sabe que não gosto de privá-lo de seus amigos – dizendo isto, deu as costas ao grupo e deixou o restaurante o mais rápido que pôde.

Em silencio, ela rezou para que seu algoz não a tivesse seguido. Foi só chegar ao jardim que a teve a certeza de que suas preces haviam sido atendidas. Olhando ao redor, constatou que, a não ser por dois casais trocando caricias apaixonadas, o jardim estava praticamente deserto.

Tomando coragem, procurou o chalé onde Sirius Black deveria estar.

Dando alguns passos em direção aos fundos da pousada, finalmente avistou um chalé de pedras acinzentadas, com janelas e porta em forma de arco. Era uma construção graciosa, e Lily experimentou certo alivio ao notar que Sirius, ao menos, estava confortável.

Trilhando a pequena alameda que conduzia a porta do chalé, ela repassou as explicações que pretendia dar ao jovem ator. Afinal, era o mínimo que poderia fazer, tendo em vista que o levara a viajar de São Francisco até ali.

Cautelosa, olhou mais uma vez a seu redor, antes de bater na porta de madeira.

Minutos depois, Sirius atendeu. A camisa branca fora abotoada errada e os cabelos bem cortados estavam totalmente desalinhados.

- Rápido, me deixe entrar! – Lily pediu. – Tenho medo de ter sido seguida até aqui.

- Eu... eu... espere um minutinho – balbuciou Sirius, obviamente confuso. – Preciso me ajeitar antes de recebê-la e...

- Ora, Sirius, a situação não exige tantas formalidades. Você esta vestido, não?

- Claro, mas...

- Vamos, James pode vir atrás de mim a qualquer momento. Além de quê, eu preciso explicar o...- entrou na sala e interrompeu o que dizia porque avistou uma garota no sofá, fazendo enorme esforço para arrumar a blusa e o sutiã abertos. Ao dar-se conta do que acontecia, fez uma pequena careta. – Desculpem eu...

- Ah, Lily, esta é Marlene McKinnon, descobrimos que temos muita coisa em comum e resolvemos nos conhecer melhor – Black tentou explicar, tropeçando nas palavras.

Marlene sorriu com o rosto rubro.

- É um prazer conhecer a irmã de Sirius, mas eu já estava mesmo de saída. Nos falamos depois. – Erguendo a mão num gesto de despedida, a jovem Srta. McKinnon deixou a sala como um furacão.

- Sinto muito, Black, não pretendia interromper nada. Jamais imaginei que... Deixa para lá – Lily respirou fundo. – Vim aqui por outro motivo. Acho que merece uma explicação sobre o que aconteceu.

- Bem, se não quiser, não precisa dizer nada.

- Mas eu quero, porque preciso que continue em Hogwarts pelo menos até o final da semana.

Sirius meneou a cabaça em sinal de assentimento.

Dando um longo suspiro, Lily se pôs a relatar a historia de seu envolvimento com James Potter, salientando a necessidade que tinham de que a conferencia da Zonk’s permanecesse em segredo.

Enquanto conversavam, a hora passou rapidamente e, quando ela deu por si, já era quase meia-noite.

- Só mais uma coisa, antes de eu ir, Sirius.

- Sim?

- No caso de ter algum problema com James Potter, pretendo vir dormir aqui no chalé.

- Mas como!? E os outros!?

- Simples, espero todos irem dormir e saio a surdina. De manhã, faço o movimento inverso: levanto antes dos demais.

- Você é quem sabe, Lily – Black deu de ombros.

- Obrigada, boa noite.

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Apreensiva, Lily fechou a porta da suíte atrás de si e rezou para que James estivesse dormindo.

- Bem, já estava na hora de você aparecer, minha querida! – soou a Vox entrecortada pela ironia, conforme James acendia a lâmpada e iluminava todo o aposento.

Por uma fração de segundos, Lily permaneceu imóvel. Não sabia se dava uma resposta a altura da prepotência dele, ou se ficava embevecida com a visão do torso nu de seu falso marido.

Parado no centro da saleta, James vestia apenas o shorts do pijama, expondo despudoradamente os atributos de sua silhueta máscula.

- Onde esteve até agora!? – exigiu saber, alheio a sensualidade de seu traje sumario. – Foi ao encontro de Sirius Black?

- Onde eu estive!? Quem pensa que é para me pedir satisfações!? – retrucou Lily, enfurecendo-se com a prepotência de James.

- Enquanto estivermos em Hogwarts sou seu marido e ponto final. Acredito que, não só por consideração a seu emprego, como também para não fazer papel de ridículo, deveria agir com mais tato. O que acha que os outros disseram quando me viram abandonada por minha esposa, em plena noite de núpcias!?

- Ora, para começar, não estou nenhum pouco interessada! – garantiu, e fez menção de seguir até o quarto. Não pretendia continuar com a discussão, tal atitude seria absurda. Além de que, era perigoso ficar próxima de um James irado e... quase nu.

Não demorou para confirmar que sua premonição era mais que certa. De repente, James cruzou o espaço que os separava e a segurou pelos ombros.

- Quer dizer que pretende ficar se jogando nos braços do Black para compensar a frustração de não sermos marido e mulher de verdade!? – escarneceu ele, baixando perigosamente o tom de voz. Os olhos castanho-esverdeados reluziam intensamente e uma pequena veia pulsava na tez aristocrática, evidenciando-lhe o estado de espírito.

- Eu não... – começou a protestar Lily, contudo, silenciou ao perceber o que estava acontecendo. – Ei, será possível que esteja acreditando nesta farsa que montou!? Está com ciúmes como se de fato fossemos casados, James Potter!?

- Ciúme, eu!? Ridículo! – exclamou, soltando-a e dirigindo-se até o frigobar a procura de algo para beber. – Minha única preocupação é a Zonk’s, nada mais.

- Que bom, isto significa que não vai se intrometer em minha vida pessoal – disfarçou Lily, aproveitando a liberdade repentina para deixá-lo só e refugiar-se na pretensa segurança do quarto conjugado.

O bom senso a prevenia de que naquele momento o mais prudente era evitá-lo. Afinal, melhor não brincar com fogo, pelo menos não enquanto não tivesse completo domínio sobre os próprios sentimentos...


N/A: Bom é isso aí...até o próximo então...

Ah Vanessa Sueroz...O nome do livro é Adorável Farsante mesmo, da Mollie Molay... Ah e o Sirius ele nunca se dá mal, na verdade tudo sempre acaba dando certo pra ele...rsrs

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