Capítulo II




CAPITULO II



James Potter recostou-se contra o balcão onde se faziam os registros de hóspedes em Hogwarts, e olhou em volta como se estivesse esperando pela chegada de uma segunda pessoa.

As mãos másculas e sensuais estavam mergulhadas no bolso do terno cinza escuro e os cabelos estavam elegantemente despenteados, o que dava todo o charme. Da cabeça aos pés ele era o protótipo de um homem bonito e elegante!

Após alguns minutos de espera, de súbito, os olhos castanho-esverdeados de James se estreitaram e um brilho enigmático imprimiu à sua íris. Num gesto impulsivo, deu alguns passos à frente e endireitou o corpo atlético.

- Está atrasada, Srta. Evans – murmurou em voz baixa, assim que Lily se uniu a ele, no hall de entrada da pousada.

Aturdida, Lily ergueu o rosto para encará-lo. Uma onda de calor espalhou-se por seu corpo esbelto e o coração, inexplicavelmente, passou a bater mais rápido. Experimentara essa mesma sensação desconcertante quando o vira adentrar no escritório de Horácio Slughorn, uma semana atrás.

- Não sei do que está falando, Sr. Potter! – disse após breve hesitação, rezando para que James não percebesse o quanto a perturbava. – Infelizmente, não fui informada de que haveria alguém a minha espera – concluiu em tom de ironia.

- Ora, vamos, Srta. Evans, deixe disto. Esta sua reação está sendo um pouco exagerada. Parece até que tem medo de mim! – volveu James, zombateiro.

- Tenho medo de muitas coisas, Sr. Potter – ela respondeu de maneira ambígua. Um brilho de recriminação pairou em seus olhos verde-esmeralda.

- Como o quê, por exemplo? – James arqueou as sobrancelhas e um sorriso indolente brincou em seus lábios carnudos.

- Ah, por favor, não vamos perder tempo com bobagens! – sugeriu Lily, exasperada. Seu sexto sentido a prevenia de que ele usava aquele gesto charmoso sempre que desejava derrotar um inimigo do sexo oposto e, sem sombra de duvida, não queria ser mais uma vítima. – O que o senhor está fazendo aqui, afinal!? – interrogou, fingindo procurar algo na bolsa de couro alemão, que carregava à tiracolo.

- Caso ainda não tenha percebido, senhorita, meu trabalho é checar tudo que se refere à segurança da Zonk’s e seus projetos – James declarou, deixando que o sarcasmo ficasse notório em sua frase. – Ou será que pensa que isto também faz parte do rol de atribuições do cargo de assistente de marketing!?

- Eu não penso nada! – exclamou ela, mordendo o lábio inferior. – Aliais, não sei do que está falando – fingiu-se de desentendida.

- Ora, vamos, se está tentando me dizer que não sabia que dar o aval para o local onde acontece a conferência dos projetistas faz parte de meu trabalho, esqueça! Não vou acreditar! – comunicou com uma pequena careta. – Falando sério, Srta. Evans, já notei que seu desejo em subir profissionalmente é que a faz agir de forma tão inesperada, contudo, cuidado para não tropeçar na própria ambição, garota! – preveniu-a com ar beligerante.

“Em outras palavras, ele quer dizer cuidado comigo!”, ponderou Lily apreensiva.

- Agora que já nos entendemos, que tal uma trégua? – James sugeriu, surpreendendo-a pela segunda vez em questão de minutos.

- Francamente, Sr. Potter, acho que está tomando toda esta história por um lado pessoal demais – tentou defender-se, fechando a bolsa e ousando encará-lo. - Horácio Slughorn me encarregou de escolher o local da conferência. Só desejo que tudo dê certo para o lançamento da produção do ano que vem.

Em resposta a tal comentário, um sorriso sardônico surgiu nas faces angulosas e másculas.

- Verdade!?... Pode ser. Mas uma vez que trabalharemos juntos durante a próxima semana, acho bom deixar tudo esclarecido. Agora, por favor, me chame de James, como todos na Zonk’s. Não gosto de formalidade exagerada. Ah, e é claro que também a chamarei de Lily. Tenho sua permissão para fazê-lo, não é mesmo?

Lily abria a boca para contradizê-lo, contudo, ele a interrompeu no mesmo instante.

- Mas diga, minha cara, onde está seu marido?

Lily sentiu o coração dar um salto dentro do peito. Não estava habituada a mentir, por isto, tinha a estranha sensação de que a verdade se espelhava em suas faces.

- Trabalhando, é claro! – respondeu com a voz trêmula. – Porém, estará aqui para a conferência. Hoje só vim fazer uma vistoria do local para... para...

- Claro, claro – James a interrompeu. – Trabalhando, hã? – Um brilho divertido pairou em seus olhos. – Mas vamos ao que interessa. Afinal, nós dois viemos aqui para trabalhar também, não foi? – Sem fazer cerimônia, segurou-a pelo cotovelo e começou a puxá-la em direção ao balcão. – Já falei coma Sra. McKinnon, a gerente da pousada, e ela prometeu que nos levaria para ver a sala de reunião.

Lily anuiu com movimento da cabeça e, enquanto James pedia à recepcionista que chamasse sua superior imediata, ficou a se perguntar como ele soubera que havia tirado o dia para fazer uma visita à pousada em Carmel. “Quem lhe deu esta informação!?”, tentou descobrir, considerando algumas possibilidades.

Contudo suas dúvidas tiveram de ser esquecidas durante algum tempo, pois a Sra. McKinnon, uma senhora de meia-idade com um ar tipicamente maternal, se aproximou cumprimentando-a com gentileza.

Minutos depois, a gerente de Hogwarts os conduziu pelo corredor acarpetado do primeiro andar, até a aconchegante sala de reunião.

O aposento fazia jus às fotos que mostrara a Horácio Slughorn. Era ao mesmo tempo prático e acolhedor, todo decorado nas cores características dos outros cômodos de Hogwarts: uma mescla bem dosada de cinza natural com rosa - bebê. Talvez viesse daí a sensação de que se estava mergulhando num mundo pacífico e tranqüilo quando se adentrava na pousada, ponderou Lily, não deixando que os mínimos detalhes lhe escapassem dos olhos atentos.

No centro da sala havia uma enorme mesa de cerejeira, com lugar para no máximo dez conferencistas. Mais a direita, destacavam-se dois modernos terminais de computadores com fax e impressora acoplados, além de alguns aparelhos telefônicos com múltipla escolha de linha. Isto sem falar no cofre e num grande armário que tomava a parte central da parede de fundo, que a Sra. McKinnon disse conter toda espécie de material para escritório.

- Claro que ficaremos felizes em lhes oferecer qualquer objeto ou material extra que precisarem – esclareceu a gerente da pousada. – No que se refere às refeições, por exemplo, se preferirem que sejam servidas aqui mesmo, para não atrapalhar as discussões, o faremos sem o menor problema. – A mulher deu um breve sorriso e voltou-se para o rosto de James. – Mas é óbvio, Sr. Potter, que gostaríamos que unissem a nós e aos outros hóspedes na restaurante de Hogwarts.

- Certamente, Sra. McKinnon – James assentiu, sorrindo com um charme devastador.

Para aborrecimento de Lily, a mulher continuou como se ele fosse a única pessoa presente:

- Tentaremos tornar sua estada aqui o mais agradável possível, senhor. Afinal, não podemos esquecer o verdadeiro motivo que o traz aqui – acrescentou, sorrindo num gesto de cumplicidade. – Não é à toa que somos considerados especialistas em lua-de-mel! Claro que reconhecemos a necessidade que as pessoas têm de continuarem a lidar com sua vida profissional, mas o momento que o casal escolhe para gozar dos prazeres e delícias pós-casamento deve vir em primeiro lugar, não acha?

- Pode apostar que sim, Sra. McKinnon! – garantiu James. – E Lily e eu não permitiremos que nossos colegas de trabalho nos atrapalhem neste ponto! – Um sorriso sensual fê-lo parecer ainda mais belo e atraente. – Não é mesmo, querida? – interrogou, voltando-se para o rosto confuso dela.

Embaraçada, Lily ignorou-o e fez a primeira pergunta que lhe veio a mente:

- Agora, Sra. McKinnon, quanto aos programas que estão nos computadores, acha que...

- Isto não vem ao caso, querida – James a interrompeu com uma expressão de falsa docilidade. – Quando viermos, traremos nossos próprios computadores e telefones celulares. Espero que não se importe, não é Sra. McKinnon?

- Claro que não! – assegurou-lhe a gerente da pousada. – Mas tenho de convir que esta história tem um clima de filme de 007. Tanto mistério e romance!

- Ora, é apenas uma questão de segurança para a nossa empresa – James explicou com o carisma que lhe era peculiar.

- Sem dúvida, James – capitulou a Sra. McKinnon, começando a se dirigir para a porta. – Mas agora vou deixá-los sozinhos para que possam discutir os detalhes da ocasião que se aproxima.

“Do que a Sra. McKinnon está falando!?”, perguntou-se Lily, ao ver a mulher se dirigir a porta e fechá-la atrás de si.

- Que tal almoçarmos, minha cara!? – a voz de James a trouxe de volta a realidade.

- Não obrigada, não tenho tempo para almoçar – recusou o convite com rispidez. De certa maneira, o sorriso charmoso que via estampar-se, experimentando uma leve inquietude – Gostaria de aproveitar para ver as acomodações das suítes que nosso pessoal irá ocupar – completou, tentando ocultar o que ia na alma.

- Não me diga que fez as reservas sem antes visitar Hogwarts!? – interrogou James, fitando-a com os olhos arregalados.

- Ora, não foi bem assim – Lily respondeu na defensiva. – Depois que avaliei os prospectos e o filme que recebi de uma agência de turismo, telefonei para a Sra. McKinnon que me colocou a par das comodidades do local. Também recebi ótimas informações de uma amiga, que passou a lua-de-mel aqui. Foi esta mesma pessoa que me indicou a pousada.

- Lamento dizer, minha cara Lily Evans, mas tem sorte de eu estar aqui com você – James murmurou, observando-a com ar de desaprovação. – Se ficássemos em suas mãos, teríamos um dos piores esquemas de segurança que já vi!

- Como você mesmo disse, James – pronunciou o nome dele com certo cinismo- a segurança é o seu trabalho, não o meu!

- Mas que língua afiada, hã!? – ele caçoou, surpreendendo-a ao sorrir divertido. – Como sou tolo! E o que mais poderia esperar de uma ruiva!? As mulheres com cabelos dessa cor são famosas pelo gênio indomável!

Lily mordeu o lábio para não proferir uma resposta malcriada. Não era a primeira vez em sua vida que alguém associava-lhe a cor dos cabelos com o temperamento explosivo. Na verdade, desde criança, seus cinco irmãos sempre faziam comentários zombateiros acerca do assunto.

- Acho que se eu não começar minha vistoria agora mesmo, vou acabar me atrasando – disse ela, respirando fundo e tentando se concentrar nas obrigações de trabalho, em vez de se preocupar com as palavras irônicas de James Potter.

- Ora, minha cara Lily, tenho certeza de que seu marido compreenderá se chegar atrasada hoje – James comentou, com um sorriso indolente brincando nos lábios. – A propósito, como é mesmo o nome dele!?

- Dele quem!? – Lily franziu o cenho.

- De seu marido, é claro!

Ela entrou em pânico. Não conseguia se lembrar se mencionara algum nome em especial quando inventara a história de que era casada.

- Ah, é... é Ken – respondeu, improvisando. – Mas por que parece tão interessado em meu marido? – tentou recuperar-se, contra-atacando.

- Nenhuma razão em especial. Apenas queria ser gentil – replicou James, revelando um sorriso charmoso que sempre levava as mulheres a suspirarem por sua causa. Contudo, definitivamente Lily não era como as outras. Por algum motivo que ele ainda não compreendia, aquela garota de cabelos avermelhados mexia com suas emoções.

James respirou fundo e tentou ordenar os pensamentos. Sim, iria manter os planos que tinha desde que descobrira que Lily Evans não era casada como alardeara. Esperaria o momento certo para agir, afinal, se suspeitasse que sabia a verdade, Lily podia muito bem “fabricar” um marido, apenas para aborrecê-lo.

- Algum problema, Sr. Potter? – a voz melodiosa o fez voltar a encará-la.

- Nenhum, minha cara. Só estava pensando – ele recuperou-se rapidamente. – Que tal então almoçarmos depois que fazermos a vistoria nos quartos?

- Não, obrigada. – Disposta a ignorá-lo, Lily tirou um bloco de anotações e uma caneta esferográfica da enorme bolsa de couro que trazia à tiracolo. – Depois de checar a qualidade das acomodações, quero tomar nota de alguns dados, e isto poderá demorar.

- Neste caso, vejo-a na Zonk’s, amanhã – James deu de ombros, começando a se dirigir para a porta. Devo acertar alguns detalhes com a Sra. McKinnon e em seguida voltarei para Loa Angeles.

Lily assentiu comum movimento de cabeça e, antes que ele tivesse deixado a sala, começou a escrever no bloquinho de anotações que segurava.

Por um instante, James ficou a observá-la da soleira da porta. Para a sua surpresa, descobriu que quanto mais ela o preteria, mais se sentia tentado a conhecê-la melhor. Talvez aquela atração estivesse associada ao brilho desafiador que pairava no fundo dos olhos verde-esmeralda, ou mesmo a maneira sagaz como Lily cuidava de se proteger de seus pequenos ataques. Contudo, o fato principal era que nunca sentira emoções tão contraditórias em relação a uma mulher.

“Devo ter enlouquecido!”, James ponderou, fechando a porta atrás de si e seguindo pelo longo corredor como se fugisse de um monstro voraz, e não de uma garota com cerca de um metro e sessenta de altura.

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Girando a chave na maçaneta de bronze, Lily entrou na suíte vinte e cinco da pousada Hogwarts, acompanhada de perto pela, agora solícita, Sra. McKinnon.

Logo na entrada do aposento já era possível visualizar o requinte da decoração. Afinal, em uma ante-sala, que Lily considerou ser maior do que a sala de visitas de seu apartamento, havia um luxuoso sofá estilo século dezoito, todo recoberto por almofadas de veludo e cetim, ao lado do qual ficava um console, com tampo de mármore e pés de latão dourado, combinando com a moldura do espelho que estava pendurado alguns centímetros acima.

Na parede oposta, destacava-se uma pequena estante com aparelho de televisão de vinte e nove polegadas, vídeo-cassete e som estéreo. Aliás, pelo que Lily podia notar, na decoração concebida em tons de cinza e rosa - bebê, os eletro-eletrônicos eram a única concessão feita ao século vinte.

Com um suspiro de admiração, ela deu um passo a frente e abriu a porta que dava acesso ao quarto de dormir.

No mesmo instante, os saltos de seu escarpim italiano afundaram no carpete de doze milímetros. Apreciando o detalhe de bom gosto, Lily esboçou um leve sorriso e voltou a se concentrar no aposento principal da suíte vinte e cinco.

- Mas é linda! – elogiou, referindo-se a cama de casal king-size. Na cabeceira da cama destacava-se um rico exemplar de madeira nobre entalhada, enquanto nos pés erguiam-se duas colunas torneadas em forma de lança.

À direita da cama ficava uma imensa porta de vidro, ornamentada por uma diáfana cortina de voile cor-de-rosa. Puxando o tecido fino para o lado, Lily apreciou o gracioso balcão que havia ali.

- Nunca vi nada tão bonito e aconchegante – confessou, esboçando um breve sorriso.

- Que bom que tenha gostado, minha cara! – A Sra. McKinnon adiantou-se e seguiu até uma das portas do armário embutido, que tomava toda a parede de fundo do aposento. – Aqui fica o banheiro.

Atrás da porta, que aparentemente compunha mais um dos compartimentos do guarda-roupa, Lily viu surgir um rico banheiro de azulejos cinza, com faixas centrais em rosa e dourado. De repente, sentiu-se empolgada com a idéia de que durante uma semana inteira iria ocupar uma das luxuosas suítes de Hogwarts.

- Obrigada, Sra. McKinnon – agradeceu, começando a se retirar do quarto. – Acho que as acomodações da pousada vão atender perfeitamente às necessidades de nossa empresa.

- Fico feliz que tenha gostado, querida. – Era obvio que a gerente da pousada sentia orgulho das acomodações que lhe mostrara. – James também fez muitos elogios a esta suíte. E, já que é assim, vou cuidar para que este seja o aposento de vocês enquanto estiverem conosco.

- De fato, nunca vi nada tão bonito e aconchegante – Lily reafirmou, enquanto esperava que a mulher de meia-idade trancasse a porta da suíte vinte e cinco.

- Na verdade, Sra. Potter, James não só admirou o quarto, como também disse que tinha certeza de que a senhora poderia querê-lo para vocês – acrescentou a extrovertida Sra. McKinnon.

- Ele fez o quê!? – gemeu Lily, boquiaberta. Então, recuperando-se um pouco do choque inicial, tentou concertar a maneira rude como falara. – Desculpe, Sra. McKinnon, mas acho que deve estar havendo algum equivoco, não sou a Sra. Potter!

- Claro que não! Mas isto é só uma questão de dias, minha querida... – A mulher sorriu como quem partilhava de um segredo importante. – Acho que andei colocando o carro diante dos bois, não foi!? Antecipei-me porque James contou que irão se casar no próximo final de semana – justificou-se com uma piscadela.

- Como!? – todo o espanto de Lily transpareceu no tom alterado de sua voz.

- Oh, querida, fui indiscreta de novo! – A Sra. McKinnon voltou a se desculpar e, num gesto de simpatia, tocou no ombro de Lily. – Sei como as noivas ficam nervosas antes do casamento. É uma reação natural. Por outro lado, tenho certeza de que com um noivo tão gentil quanto James, não precisa se preocupar. Ele deve saber exatamente o que está sentindo e cuidará de tranqüilizá-la.

- James Potter não faz a mínima idéia do que se passa comigo, Sra. McKinnon! – respondeu Lily de forma enfática.

A gerente da pousada franziu o cenho, surpresa diante a reação dela. Contudo, acabou dando de ombros, provavelmente associando tal nervosismo com a famosa tensão pré-nupcial.

Meia hora depois do ocorrido, Lily deixou Hogwarts e dirigiu seu carro esporte pela rodovia que levaria de volta a Los Angeles. No entanto, por mais que desejasse, o rosto anguloso de James Potter não lhe saía dos pensamentos.

- Claro, ele tem algum plano em mente – falou consigo mesma, apertando a direção com mais força do que necessária. – E essa história de fica fazendo perguntas sobre meu marido é a prova concreta disto. O que vou fazer agora?

Enquanto o carro deslizava pela estrada que recortava o litoral dourado da Califórnia, Lily repassava mentalmente todas as possibilidades que tinha para desbancar a arrogância de James. A primeira idéia que lhe ocorreu foi pedir a um dos cinco irmãos que passasse por seu marido. Porém, acabou descartando essa hipótese porque sabia que tal pedido só iria terminar em gozação por parte dos cinco machistas que sua mãe gerara.

Além de quê, o bom senso a alertava de que o mais certo seria conseguir a ajuda de um completo estranho para lhe prestar aquele favor. Assim, num repente, Lily lembrou que da ultima vez que ouvira seu programa de rádio favorito, divertia-se com um anuncio sobre o disque 0800-marido.

- Mas claro! Esta é a solução perfeita para os meus problemas – decidiu, dando um breve sorriso e pisando mais fundo no acelerador. Precisava apressar-se, afinal, tinha muitas providências a tomar!

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- Estou surpresa em ver que tem coragem de aparecer hoje – Lily escarneceu, assim que James Potter entrou em seu escritório na manhã seguinte. – Que diabos tinha em mente quando resolveu mentir para a Sra. McKinnon que iríamos nos casar!? E ainda mais depois de eu ter-lhe contado que já sou casada!

- É você contou... – Com indolência, James puxou a cadeira que havia defronte a escrivaninha dela. – Importa-se se eu me sentar!?

- Por acaso se eu disser que sim, isto vai fazer alguma diferença para você!? – volver irritada.

- Não, nenhuma – respondeu zombeteiro. – Aliás, espero que deixe de se comportar como uma garotinha teimosa, Srta. Evans... e depressa. Afinal, creio que não é preciso lembrá-la de que temos um trabalho muito importante a discutir!

Não, definitivamente James Potter não precisaria lembrá-la de nada! Não quando as palavras ameaçadoras de Horácio Slughorn ainda ressoavam na memória dela. Pelo que podia ver, Lily já notara que o futuro de seu emprego dependia do sucesso da conferência que aconteceria na semana seguinte.

- Certo, o encontro de nossos projetistas e principais chefes de setores é primordial nesta história toda! – ela cedeu, respirando fundo e procurando agir com imparcialidade. – Mas insisto que não precisava ir tão longe a ponto de mentir para a gerente da pousada.

Um sorriso mordaz brincou nos lábios carnudos de James.

- Será que devo me dirigir ao escritório de Horácio Slughorn e informá-lo de que você se recusa a participar deste trabalho, minha cara, Srta. Evans!? – alfinetou-a com malevolência.

- Jamais disse isto! – Lily empertigou-se, e, num reflexo de movimento, elevou o tom de voz. – Só estava... – Uma sonora batida na porta a fez interromper a frase.

No instante seguinte, Emmeline Vance, secretária do departamento de marketing da Zonk’s, entrou na sala carregando uma pilha de relatórios que precisavam da assinatura de Lily.

- Oh, desculpe, Lily, não sabia que estava acompanhada – dizendo isto, a garota loira lançou um olhar curioso para o rosto sorridente de James Pottter.

- Não tem problema, Emme. O Sr. Potter e eu estávamos apenas conversando.

- Ora, querida, porque não conta a verdade a Emme!? – James manifestou-se, ficando em pé e sorrindo daquela maneira charmosa que fazia com que o coração de Lily batesse num ritmo acelerado.

- O que você... – Lily começou a protestar, entretanto, calou-se espantada, ao vê-lo aproximar-se da sua cadeira e segurá-la pelos ombros, pouco antes de obrigá-la a levantar-se.

- Aposto que Emme já ouviu a novidade pelos corredores da empresa, querida – James gracejou, beijando-lhe os cabelos avermelhados, antes de se voltar para as faces rubras da secretária que os observava. – Não ouviu?

- Sim, senhor – a moça confirmou, um tanto embaraçada com a súbita demonstração de afeto que presenciava.

Sentindo-se como um inseto pequenino que, de súbito, se descobre na teia de uma aranha perigosa e letal, Lily arregalou os olhos, contudo, não foi capaz de proferir uma única palavra.

- Ora, vamos, meu amor, não seja tímida – James prosseguiu, beijando-a de leve nos lábios, em seguida forçando-a a recostar a cabeça de encontro a seu peito másculo. – Não adianta querermos manter nosso relacionamento em segredo! Afinal, o que as pessoas pensarão se souberem que viajamos de lua-de-mel sem nunca terem ouvido falar que pretendíamos nos casar!?

Lily sentiu o sangue correr mais rápido em suas veias. Então James realmente sabia que não era casada!?, Questionou-se aturdida. Sim, porque só este fato justificava a atitude ousada que ele acabava de tomar.

Pelo jeito como James expusera-se aos olhos curiosos de Emme, até a hora do almoço todos os funcionários da Zonk’s estariam sabendo do envolvimento da assistente de marketing com o chefe da segurança da empresa!, - ponderou ela, dominada por uma enorme frustração.

- Não se preocupe. Todos pensarão que foi um amor fulminante, Sr. Potter – atalhou a secretária, deixando os relatórios sobre a escrivaninha e começando a se retirar. – Espero que sejam muito felizes. Formam um lindo casal...

“Um lindo casal!? Bah!”, gemeu Lily em pensamentos, conforme via Emme fechar a porta atrás de si e voltar a deixá-los sozinhos.

- Está louco!? – sussurrou entre os dentes. – Sabe muito bem que em menos de uma hora esta noticia se espalhará pelo prédio todo!

- Justamente o que queria... – ele sorriu divertido.

- Como pode fazer uma coisa destas!? – gemeu exasperada. – O que meu marido dirá quando souber? – permitiu-se completar, ao ver a expressão zombateira que pairava no rosto de feições aristocráticas.

- Não sei... – De repente, as sobrancelhas castanhas foram arqueadas num trajeto que mesclava desdém e incredulidade. – O que você acha que ele dirá, minha cara Lily!?

Experimentando uma sensação desconcertante diante da intensidade daquele olhar, Lily quase chegou a esquecer que na tarde anterior ligara para a AME e se informara sobre os procedimentos necessários para conseguir um marido de aluguel.

Alheio ao que se passava dentro dela, James afastou-se de súbito e voltou a se acomodar na cadeira que ficava defronte a escrivaninha de cerejeira.

“Eu odeio este homem!”, Lily repetiu para si mesma, numa vã tentativa de lutar contra os sentimentos que lhe inundavam a alma.

- Agora escute, aqui, Sr. Potter, já basta de joguinhos e encenações! – declarou, enchendo-se de coragem e fitando-o com indignação. – Meu marido não vai gostar do que está fazendo e, de uma vez por todas, entenda que será ele quem me acompanhará durante a conferência. Portanto, não preciso que fantasie e invente histórias para camuflar o verdadeiro motivo da nossa viagem a Carmel.

- Você me surpreende com este discurso inverossímil, Darling. Aliás, acho que nem é preciso dizer que ficaria ainda mais surpreendente se, de fato, aparecesse em Hogwarts com um marido à tiracolo.

Lily mal pôde acreditar no que ouvia. James Potter estava declarando abertamente que duvidava que era casada.

- Pois então espere e verá, Sr. Potter! – prometeu, enchendo os pulmões de ar e batendo com o punho cerrado sobre tampo da mesa. Mesmo sabendo que James estava coberto de razão, Lily não suportava a idéia de dar o braço a torcer!

- Oh, minha querida, nada de cenas dramáticas, por favor. Já vi muito disto com minha ex-esposa – ele murmurou, fazendo uma pequena careta. – Este é um dos motivos que me divorciei. Agora, poupe seu fôlego e vamos ao que interessa. Quero um relatório completo de todos os que estarão presentes na conferência. Mais tarde passarei aqui para apanhá-lo, ok?

- Por que não pede isto a sua secretaria!? – ousou desafiá-lo.

- Ora, é simples, como é um assunto sigiloso, quanto menos gente souber os detalhes da conferência em Hogwarts, tanto melhor, não concorda!?

Lily teve vontade de gritar de raiva. Por que James Potter sempre conseguia fazê-la sentir-se tola e inadequada!?, questionou-se.

- Nos vemos depois, meu amor – ele se despediu, caminhando até a porta e erguendo o tom de voz, com a óbvia intenção de ser ouvido por Emme e pelas demais secretárias que ocupavam a sala ao lado.

- Cretino! – Lily exclamou assim que o viu fechar a porta atrás de si.

Ainda estava desorientada com o que acabava de ocorrer entre ela e James Potter quando, cinco minutos depois, Emme voltou a entrar em seu escritório.

- Há mais estes relatórios para assinar, Lily – disse a secretária, entregando-lhe duas brochuras datilografadas.

- Ok, obrigada – agradeceu. – Algum problema, Emme? – interrogou ao notar que a outra moça hesitava em deixar a sala.

- Não... quer dizer... Oh, desculpe a intromissão, Lily, mas vai mesmo se casar com James Potter!?

- Talvez... – respondeu de forma evasiva. Detestava mentir, mas enquanto não tivesse tudo acertado com a agência Harrington de São Francisco, precisava ser muito cuidadosa.

- Puxa! Como é que até ontem eu nem sequer suspeitava de que tivessem um romance!? Há quase cinco meses estou junto de você doze horas por dia e nunca a vi saindo com James!

- Talvez porque nem eu mesma soubesse – confessou, dando de ombros.

- Ora, está insinuando que o belo chefe da segurança da Zonk’s a pediu em casamento assim, de uma hora para outra? – ao concluir a frase, Emmeline Vance estalou os dedos para dar mais ênfase às palavras que acabava de proferir.

- Isto mesmo – respondeu Lily, com um suspiro de impaciência.

- Puxa, que romântico! – a moça exclamou, obviamente deliciada com a história. – E eu que pensei que amor assim só em livros!

- Você é muito romântica, Emme – Lily replicou, e uma ponta de cinismo transpareceu no tom melodioso de sua voz. – As pessoas se encontram e se casam por diversas razões. Livros que sugerem a existência de amores eternos e perfeitos não têm nada a ver coma realidade.

- Claro que têm, a literatura retrata a vida cotidiana, vista por um prisma mais artístico! – teimou a secretária. – E não tente bancar a durona porque sei que possui um bom coração escondido atrás desta aparência de mulher de negócios, minha cara. Ouso dizer que até já sonhou com um príncipe encantado. Além do quê, quem poderia não se apaixonar por James Potter!? Todas as garotas da Zonk’s estão morrendo de inveja de você, Lily. E, com razão, não é!? Conquistou o bonitão do prédio!

- Era só que me faltava! – impacientou-se Lily, sentindo-se estranhamente perturbada ao saber que James era cobiçado por muitas mulheres. – Vamos esquecer um pouco o romantismo e voltar ao trabalho, ok, Emme!?

- Você é quem manda, chefe – brincou a secretária. Dando de ombros, girou nos calcanhares e deixou a sala sem mais uma palavra.

Assim que se viu só, Lily respirou fundo e recostou-se contra o espaldar almofadado da cadeira estilo diretor. Num gesto automático, levou os dedos até os lábios e lembrou o beijo de James Potter.

Sim, apesar do breve contato, a boca carnuda tinha mostrado quente e deliciosa. Se fosse honesta consigo mesma, acabaria admitindo que tivera vontade de prolongar aquele contato por mais tempo do que o necessário. Em seu intimo, Lily sabia que o beijo acontecera apenas para impressionar Emme, contudo, não conseguia deixar de imaginar como seria experimentar as carícias de James se estivessem realmente tendo um romance.

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Por volta do meio-dia, Lily podia ouvir as vozes alteradas das secretárias, ocupantes da sala ao lado da sua. Sabia que as moças se preparavam para saírem para o almoço e, incomodada pelo barulho, foi até a porta e cuidou de fechá-la devidamente.

No entanto, por mais que quisesse, não era capaz de concentrar nos planos que elaborara para o encontro em Hogwarts. Para piorar ainda mais as coisas, o sol do meio-dia incidia através da enorme janela envidraçada, a ponto de ofuscar-lhe os olhos verdes e torná-los lacrimejantes.

Relutando em fechar as cortinas e privar-se da maravilhosa vista do oceano Pacífico e das palmeiras que dançavam ao sabor do vento, pois Zonk’s ficava situada na avenida beira-mar, ela desistiu do trabalho e resolveu que o melhor era fazer seu lanche ali mesmo.

Com um suspiro, colocou a pasta com os dados da conferência de lado e foi até o frigobar que havia em um dos cantos de seu escritório.

Após ter pegado uma maçã, um sanduíche de pão integral e uma garrafa de suco de laranja, Lily retornou para a cadeira que havia atrás da escrivaninha. Começava a levar o lanche à boca quando ouviu uma sonora batida à porta.

- Entre! – ordenou, julgando se tratar da secretaria do departamento de marketing que vinha avisá-la de que estava de saída.

- Olá – surpreendeu-a a voz de James Potter, conforme ele adentrava na sala sem fazer cerimônias. – Estive pensando e achei que talvez pudéssemos almoçar juntos enquanto discutimos os detalhes para a conferência.

- Almoçar!? – repetiu um tanto confusa com a presença inesperada. – Lamento, mas já trouxe meu almoço de casa. Estou de dieta. Além de quê, não tenho tempo para ir a um restaurante, nem mesmo o que temos aqui na Zonk’s!

James sorriu com indolência e, como antes, sentou-se na cadeira que havia defronte à mesa de Lily.

- Eu já imaginava que diria algo semelhante, por isto trouxe meu próprio almoço! – informou, colocando um saquinho de papel pardo sobre a escrivaninha de cerejeira.

Aturdida, Lily o viu abrir o saquinho e tirar dali um sanduíche de presunto e picles, uma travessa descartável com salada de frango e batata, além de duas enormes fatias de bolo de chocolate com cobertura de chantilly.

- Vai comer tudo isto!? – exclamou ela, experimentando uma pontada de ciúme ao avaliar o numero de calorias que James pretendia ingerir e, ainda assim, ser capaz de manter um corpo atlético e viril.

- Claro, um homem de meu tamanho precisa de energias, não acha!? – replicou James, zombateiro. – Se você não tivesse alardeado que estava de dieta, até ficaria tentado em dividir o bolo, mas... – deixou que as palavras se perdessem em meio ao sorriso cínico que curvou seus lábios sensuais.

- Não obrigada, sou membro vitalício dos Chocoólicos Anônimos e não posso ceder à tentação! – recusou Lily, fazendo uma pequena careta.

- Choco... o quê!? – James indagou, arqueando as sombracelhas castanhas.

- Chocoólicos Anônimos, uma instituição que ajuda as pessoas que têm verdadeira compulsão para comer chocolates! – explicou, odiando ver o brilho caçoador que despontava nos olhos de James Potter.

- Só pode estar brincando, não é!? Nunca ouvi falar sobre esta instituição!

- E por que deveria!? Por acaso é dono da verdade e sabe tudo o que acontece no mundo!? – afrontou-o, irritada.

- Não de tudo, mas pelo menos do que acontece com a minha noiva deveria saber – James gracejou.

- Não sou noiva! – esbravejou Lily. – Quantas vezes vou ter de repetir que já sou casada, Sr. Potter!?

- Deixe de fazer cena, minha cara Srta. Evans, chequei seus dados no departamento pessoal e ali não existe nada que faça supor a existência de um marido.

- Claro que não! – exclamou, simulando uma coragem que estava longe de sentir. – Como já disse no dia em que nos conhecemos no escritório de Horácio Slughorn, meu marido e eu fizemos questão de manter nosso casamento em segredo.

- E por que dois jovens apaixonados fariam isto, Lily? – James interrogou, sem no entanto mostrar-se convencido de que ela falava a verdade.

- Nossos motivos não são de sua conta! – vociferou Lily, tremendo interiormente. – Acho melhor nos concentrarmos em avaliar todos os detalhes do encontro em Hogwarts, em vez de ficarmos perdendo tempo com discussões sem fundamento – completou, dando uma mordida em seu sanduíche e fitando-o com olhos reluzentes.

- Como preferir, Darling – James deu de ombros e, como ela, serviu-se de seu almoço. – Mas não pense que me convenceu...

“Pois espere e verá, Sr. Potter. Irei para Carmel acompanhada de um marido mesmo que para isto seja preciso dispor do último tostão que economizei durante anos!”, Lily prometeu em pensamentos, decidindo que, tão logo tivesse oportunidade, iria para São Francisco e acertaria tudo com a agência de maridos de aluguel.





N/A: É isso aí mais um capítulo e bem rapidinho. E mto obrigadas as pessoas q deixaram coments...é mto bom saber q tem gente gostando da Fic...


E aí vocês acham que a Lily vai conseguir um marido ou vai ter que ficar com o James mesmo?


Xau, Bjusss


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