Capítulo XIII
Capítulo XIII
Lily voltou-se para o rosto adormecido de James e sentiu uma onda de ternura invadi-la. Gentilmente, acariciou o contorno do rosto anguloso com a ponta dos dedos.
Dominado pela inconsciência do sono, James resmungou algumas palavras incompreensíveis e puxou-a para mais junto de si.
Diante de tal reação, Lily experimentou uma deliciosa sensação de paz e segurança. Era exatamente isto que o casamento deveria ser!, refletiu, encantada com a nova fase do relacionamento deles. Em seu modo de ver, não havia nada mais fantástico do que acordar nos braços do homem amado.
Lânguida, repousou a mão esquerda sobre o peito desnudo. No mesmo instante, o brilho da aliança e do anel de diamantes ofuscou-lhe os olhos. Tinha a impressão de que as jóias, que lhe conferiam o status de Sra. Potter, a estavam desafiando a contar a verdade para o resto do mundo. Contudo, Lily ainda não se considerava preparada para fazê-lo.
Claro que o bom senso teimava em preveni-la de que James não era seu marido de verdade, e que nem ao menos a pedira em casamento após descobrirem que se davam tão bem juntos. Entretanto, em seu intimo, Lily sentia como se, de fato, fossem marido e mulher. Alias, quando estava no aconchego dos braços musculosos, nada no mundo parecia mais real para ela do que a situação de jovem esposa de James Potter.
Ao dar-se conta da incongruência de seus pensamentos, Lily sorriu, logo se lembrando da noite anterior.
O banho de espumas tinha começado como uma brincadeira sensual, mas logo os risos cederam lugar a uma emoção muito mais profunda. Os olhos de James a transformaram em escrava do desejo e, pouco depois, o corpo sensual e másculo havia se unido ao dela numa atitude reverenciosa, porém fantástica. Por uma fração de segundos, Lily tivera a impressão de que James temia quebrar o feitiço que os estava fazendo viver um momento único em suas existências.
Fora então que ele a tirara da banheira e, enrolando-a numa toalha felpuda, a carregara até a cama que havia no cento da suíte.
Com uma mescla perfeita de ternura e habilidade, James acariciara cada milímetro de seu corpo, levando-a a sentir-se uma deusa entre a multidão de mulheres que habitava o planeta terra. Por isto, quando pela segunda vez o ato de amor se consumara, Lily não tivera mais como negar que seu corpo e sua alma pertenciam a James Potter para todo o sempre.
“Para todo o sempre!”, repetiu ela em pensamentos, conforme voltava a observar o rosto suavizado pelas linhas do sono. “Até que, para uma mulher que chegou à Pousada Hogwarts com dois maridos, não posso ficar reclamando da sorte!”, caçoou de si mesma. “Sirius parece apaixonado e feliz com Marlene McKinnon e James... bom, James pelo menos se sente muito atraído por mim!”, considerou, respirando fundo antes de fechar os olhos e voltar a dormir sobre o peito desnudo do marido que sempre quisera ter.
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O silencio era opressor, e o som esporádico de um riso forjado só vinha a confirmar que a tensão se apossara de todos os presentes.
Quando James adentrou com Lily no restaurante da pousada, a fim de tomarem o café da manhã, ele pressentiu que o medo e a incerteza dominavam os membros da equipe da Zonk’s. Embora ninguém ousasse tocar no assunto, era notório que todos estavam inquietos diante da possibilidade de terem um espião infiltrado no grupo.
Entretanto, não eram apenas os conferencistas e Cinthia que demonstravam preocupação, mas também as esposas destes. A julgar pelo rosto serio de Molly Weasley, por exemplo, era obvio que a possibilidade de estarem sendo espionados ameaçava não só a tranqüilidade da Zonk’s enquanto empresa, como também a das famílias que dependiam diretamente desta para sobreviver.
Este foi um dos motivos que fez James ficar apreensivo. Assim, logo depois de ter-se acomodado com Lily no canto da mesa, tratou de cochichar em seu ouvido:
- Temos problemas. Preciso reunir os conferencistas sem as esposas por perto. Por que não senta perto de Molly e das outras senhoras e tenta distraí-las, enquanto faço minha parte? – sugeriu, num tom de voz que mais parecia um sussurro.
Reconhecendo que James tinha razão, Lily fez exatamente o que lhe fora pedido. Após tomar um copo de suco de laranja, ocupou a cadeira vaga ao lado de Molly e deixou que James convencesse os conferencistas a acompanhá-lo até o terraço.
Enquanto tentava distrair a Sra. Weasley com uma conversa trivial sobre as belezas naturais da Califórnia, Lily notou que as únicas duas pessoas que faltavam no café da manhã eram Ed Mason e Mary Lowe. Também não demorou a perceber que Elaine e Nora, acomodadas no lado oposto da mesa, falavam em voz baixa e olhavam para Cinthia, através da porta envidraçada que dava vistas para o terraço, com expressão penalizada.
Em seu intimo, Lily rezou para que estivesse enganada e os dois principais interessados no assunto ainda ignorassem o que estava acontecendo com seus cônjuges. Porém, lá no fundo de sua alma, sabia que estava pedindo demais! Ela e James, muito provavelmente, ainda teriam que solucionar mais um impasse durante a conferencia dos projetistas da empresa.
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- Acho melhor conversamos na sala de reunião – James sugeriu, quando notou que os membros da equipe estavam exaltados demais para falar em voz baixa.
- Tem razão – Artur assentiu de pronto. – Se tivermos, de fato, problemas com espionagem industrial, aqui não é seguro.
James teve vontade de dizer que nem mesmo na sala de reunião estariam seguros, porque havia a possibilidade de o espião ser um deles, mas acabou se controlando, pois não era hora de gerar mais controvérsia.
Assim, em silencio, o grupo rumou para a sala que ficava no primeiro andar de Hogwarts.
- Diga uma coisa, Artur: como estava o projeto do brinquedo a ser apresentado na feira de Nova York, ontem, quando notei que o cofre foi violado? – James quis saber, tão logo se acomodaram em torno da mesa de trabalho.
- Bem adiantado, meu caro James – Artur respondeu com preocupação – Nosso departamento de marketing já tinha avaliado que os brinquedos em alta este ano são os que reproduzem figuras de combate espacial. Assim, trabalhamos com esboços de um boneco cibernético, que chamamos provisoriamente de Planetarium. Além de termos detalhado todos os passos do projeto numa planilha de produção, Cinthia também fez esboços à mão livre de várias versões, que seriam lançadas ao longo do ano.
“As perspectivas são ainda piores do que eu esperava!”, James pensou respirando fundo, antes de prosseguir:
- E o que vocês fazem com os passos do projeto e os esboços à mão livre?
- Ora, nós os contamos e guardamos no cofre ao anoitecer e, pela manhã, recontamos antes de iniciar o dia de trabalho – foi Patrick Moriarty quem se dignou a responder.
- Por acaso tiraram cópias ou algo parecido? – James franziu o cenho, mil e uma idéias passavam por sua mente, porém nenhuma que fizesse sentido.
- Não, mas se tivéssemos tirado, certamente as teríamos guardado no cofre também – Artur concluiu – É o lugar mais seguro e você deveria saber disto, James! – argumentou, demonstrando aborrecimento.
- Ok, pessoal, sei que estamos todos nervosos com a possibilidade de espionagem industrial, mas precisamos ter calma numa situação como esta.
- Quem consegue ter calma quando pode estar prestes a perder o emprego? – retrucou Hal Martin com amargura.
James não respondeu a questão de pronto. Estava pensando. De súbito lhe ocorrera que talvez pudesse resolver dois impasses com uma única tacada. Os membros da equipe estavam estressados, e ele e Lily precisavam de privacidade para poderem concluir o levantamento de pistas.
- Ei, rapazes, talvez esteja na hora de tirar um dia de folga – anunciou, tentando parecer bem intencionado. – Estão trabalhando sob pressão, alem de que, suas esposas não ficarão muito satisfeitas com esta segunda lua-de-mel se não puderem, ao menos por um dia, usufruir de um passeio romântico. Quando falo em esposas estou incluindo Ed neste rol também, Cinthia – completou, voltando-se para o semblante taciturno da Sra. Mason.
- Ora, Ed aborrecido!? – a desenhista escarneceu – Lamento informá-lo de que se enganou, James. Meu marido achou uma diversão nova para passar a semana.
- O que mostra que Edward e você estão precisando de mais lazer – James declarou, impedindo-a de prosseguir. – Acaba de me ocorrer que poderia fretar uma escuna para vocês todos fazerem um passeio. Quem sabem ao regressarem, eu e Lily já tenhamos conseguido resolver o impasse da espionagem.
- Ah, seria fantástico, Molly está mesmo muito preocupada e isto poderá tranqüilizá-la – Artur foi o primeiro a concordar.
- Também acho ótimo, é minha chance de fazer as pazes com Nora – Patrick declarou, sorrindo aliviado.
- Neste caso, estão liberados por hoje. Deixem o resto comigo – James declarou, esperançoso de que, nas horas que se seguiriam, acabaria por descobrir o verdadeiro culpado do crime.
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- Lily e eu vamos revistar os quartos dos membros da equipe da Zonk’s – James falou, após ter contado parte da historia de espionagem a Sirius Black – Pensamos que talvez pudesse nos ajudar neste trabalho.
- Eu!? – Sirius ficou surpreso – Como!?
- É simples, poderia nos dar cobertura no corredor, no caso de alguém se aproximar enquanto estivermos dentro dos quartos. Um simples assobio pode garantir a privacidade.
- Certo, mas como pretendem entrar nas suítes? Estão todas trancadas, não é mesmo? – Sirius considerou, olhando de James para o semblante sério de Lily.
- Não se preocupe, expliquei nosso problema a Sra. McKinnon, e ela concordou em me fornecer as chaves, desde que prometêssemos que não mexeríamos em nenhum pertence pessoal dos hospedes – James respondeu, antes de dar um longo suspiro e voltar-se para Lily – Bem, meu caro Watson, por onde devemos começar, agora que descartamos Ed Mason e Mary Lowe de nossa lista?
- Talvez pelo quarto de Hal Martin – Lily refletiu, consultando as anotações que sempre trazia consigo – Ele é muito mais articulado do que Patrick e tem aquele ar espertalhão que pode significar problemas.
- Certo, vamos lá então – James disse, fazendo sinal para que Sirius ficasse a postos no corredor.
Contudo, quarenta minutos depois, a tese de Lily provou estar errada. No quarto dos Martin não havia nada que pudesse torná-los suspeitos.
- Vamos ver o que Patrick e Artur escondem na intimidade – James argumentou, começando a sentir-se frustrado.
- Ei, detesto interferir, mas tenho a ligeira impressão que estão se esquecendo da figura mais obvia da lista – Sirius manifestou-se, juntando-se a eles diante da porta da suíte dos Moriarty.
- O que esta querendo dizer, Sirius? – Lily interrogou, franzindo o cenho.
- Que, para mim, pelo comportamento agressivo e mesquinho, a Sra. Mason deveria encabeçar a lista de suspeitos. Pelo que vocês me contaram, ela esta na cena do crime todos os dias. Será que nunca assistiram a um bom filme policial na televisão!? – caçoou.
- Céus, ele tem razão! A possibilidade de Cinthia ter nos traído é grande – James argumentou.
- Tenho uma idéia, James – Lily se pôs a dizer rapidamente. – Para poupar nosso tempo, sugiro que você vá em frente e vasculhe o quarto dos Moriarty, enquanto revisto a suíte dos Mason.
Durante alguns instantes, James hesitou em concordar. No entanto, logo reconheceu que Lily estava certa. Àquela altura dos acontecimentos, não poderiam se dar ao luxo de desperdiçar tempo.
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Quando Lily adentrou na suíte dos Mason, sentiu uma estranha agitação dominá-la. Era como se o sexto sentido a prevenisse de que estava na pista certa.
A camareira já tinha arrumado o aposento e tudo parecia limpo e arrumado.
Lembrando-se da promessa feita a Sra. McKinnon, de que não mexeriam em nenhum pertence dos hospedes, ela abriu as gavetas com cuidado e vasculhou a estante da saleta a procura de algum indicio do crime. Só então rumou para o quarto conjugado.
Aparentemente não havia nada de suspeito ali, e Lily sentiu-se frustrada. Num ultimo esforço, abaixou-se para olhar sob a cama, porém acabou ficando ainda mais aborrecida. Por certo que se houvesse algum esboço de brinquedo na suíte, este tinha sido muito bem escondido!, pensou, antes de voltar-se para o imenso armário embutido.
Esperançosa, observou as duas malas colocadas no chão do armário, mas logo soube que estavam vazias. Depois de uma rápida olhada ao redor, concluiu que Sirius se enganara, afinal, e começou a deixar a suíte.
Foi neste exato momento que avistou a capa de chuva de Ed Mason, pendurada no banheiro como se fosse uma bandeira vermelha, que lhe acenava a prova do crime.
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No instante em que divisou o brilho intenso nos olhos de Lily, James soube que teriam novidades.
Entretanto, para surpresa dele, antes de revelar a natureza da descoberta, Lily ficou na ponta dos pés e deu um beijo rápido na face de Sirius.
- Ei, o que significa isto!? – James empertigou-se, corroído de ciúmes.
- Ora, não se preocupe, querido. É só um agradecimento – ela respondeu sorridente. – Sirius merece uma recompensa por ter-nos levado direto para a prova do crime.
- Você encontrou algo de suspeito no quarto dos Mason? – indagou James, começando a ficar entusiasmado.
- Sim, fotocopias reduzidas dos passos do projeto e alguns esboços originais do tal Planetarium – declarou, mostrando o envelope que trazia oculto embaixo do casaco que usava.
- Não posso acreditar! – James gemeu, fazendo sinal para que começassem a deixar o corredor.
- Pois nem eu! Escute só, estávamos enganados quanto a inocência de Mason, alem de mulherengo inveterado, Ed também é um espião industrial – Lily argumentou – Encontrei as pistas no bolso da capa de chuva dele.
- O que significa que, quando você o viu perambulando pela pousada, ontem de manhã, ele tinha acabado de sair da sala de reunião – James raciocinou.
- Não sei, não – Sirius se dignou a falar – reconheço que não sou especialista em mentes criminosas, mas vocês não acham um pouco estranho que Mason tivesse deixado a prova do crime tão a mostra?
James franziu o cenho, entretanto, acabou concordando com o jovem ator.
- Sirius esta coberto de razão. Tem algo muito estranho nesta historia. E juro que vou descobrir o que é, antes do dia chegar ao fim! – prometeu e, em seguida, voltou-se para Black com um sorriso amigável no rosto – Se algum dia cansar da profissão de ator, meu caro, pode me procurar na Zonk’s que arrumo um lugar para você na minha equipe.
- Não, obrigado – Sirius meneou a cabeça de um lado para outro – Não fiz nada de especial. A verdade é que, algumas vezes, ficamos tão compenetrados em nossos problemas que não conseguimos ver o obvio. É preciso vir alguém de fora para nos mostrar o que está diante de nossos olhos. Agora, se não precisam mais de mim, vou para o chalé tomar um banho. Combinei de sair com Marlen está noite – admitiu com um sorriso.
- Obrigado por sua ajuda, Black – James agradeceu, apertando a mão do jovem ator.
- Também quero agradecê-lo, Sirius – Lily manifestou-se – De marido contratado acabou se tornando um amigo querido – brincou.
- Ainda bem – Sirius sorriu – De qualquer forma, alguma coisa me diz que, depois desta temporada em Hogwarts, você nunca mais precisará dos serviços do 0800-marido.
- No que depender de mim – James atalhou, envolvendo os ombros de Lily num gesto de posse – esteja certo de que ela não precisará mesmo.
Em outros tempos Lily teria achado a frese machista e prepotente, porém, agora, deliciava-se em saber que James parecia querê-la só para si.
- Tomem cuidado, vocês dois. Quando tentarem resolver o caso de espionagem, lembrem-se que nem tudo deve ser tão simples quanto parece – Sirius os advertiu, antes de deixá-los a sós.
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