Capítulo XI
CAPÍTULO XI
A intensidade do beijo a tomou de surpresa. Era estranho, mas o toque de James parecia urgente, quase desesperado. O que estaria havendo?!, Lily perguntou-se, subitamente intrigada. Seria a possibilidade de haver um espião infiltrado na Zonk’s que o perturbava?!
Lily não soube responder à questão. Lutando contra o próprio desejo, deu um passo atrás e ergueu o rosto para encará-lo. Não precisou muito para perceber que o James arrogante e irritadiço de alguns minutos atrás tinha voltado a ser o homem maravilhoso e sensível com que fizera amor nas duas ultimas noites.
- Gostaria de poder entender o que se passa dentro de você, James – murmurou, deixando que a alma rompesse a barreira do orgulho.
- Engraçado, mas devo confessar que o sentimento é recíproco, minha bela feiticeira irlandesa – respondeu James, acariciando-lhe o contorno do rosto delicado, e olhando-a com uma intensidade que lhe tirava o fôlego.
Levada por um impulso, Lily voltou a oferecer os lábios a ele, esperançosa de que o gesto preenchesse o vácuo das mil palavras que não ousaram proferir. Afinal, quando começavam a verbalizar explicações parecia que o relacionamento ficava ainda mais complicado.
Evidentemente, James não recusou a oferta e desta vez a beijou com mais ardor.
Lily reagiu de pronto e acomodou-se nos braços fortes, saboreando o gosto másculo da boca, ao mesmo tempo que sentia a rigidez musculosa do corpo de James comprimindo-se de encontro à sua pele. Deixando os pensamentos racionais de lado, entregou-se ao beijo e a paixão que explodiu graças ao contato intimo. Sim, as frágeis barreiras de auto-defesa, que erguera em torno de si após o incidente daquela manhã, não demoraram a ruir por terra.
- Considere isto, o meu mais sincero pedido de desculpas pelo que houve esta manhã, Lily – James sussurrou, afastando-a de si com delicadeza.
- Acho que também devo responder por uma parcela do mal-entendido, James – reconheceu, baixando os olhos para as próprias mãos. – Não tenho um gênio muito fácil, mas prometo que procurarei controlá-lo – disse, forjando um breve sorriso.
- Eu acredito, Darling – aquiesceu James, beijando-a na testa com ternura. Ele próprio sentia-se confuso com o fato de Lily despertar seu lado mais terno e carinhoso, ainda assim, gostava das descobertas que estava fazendo.
- Obrigada, agora que tal nos reunirmos aos outros e tentarmos descobrir pistas sobre o possível espião? – sugeriu, dando um longo suspiro, como se a simples idéia de dividi-lo com o resto do grupo fosse penosa demais. – Estamos sendo pagos para isto, lembra?
- Infelizmente sim, porem creio que podemos tirar mais cinco minutinhos para nós dois, sem que a Zonk’s seja prejudicada pelo detalhe insignificante de tempo.
- James?! Como pode agir assim?! – Lily empertigou-se. Tal atitude não combinava em nada com a imagem profissional dedicado que fazia dele, mas, em contrapartida, massageava-lhe o ego carente de afeto.
- É simples, querida, fecho os olhos e esqueço o resto do mundo. Por que não tenta? Vai achar delicioso – caçoou, antes de segurá-la pelo queixo e voltar a beijá-la.
Quando Lily e James, por fim, chegaram a Hogwarts, os membros da equipe da Zonk’s os esperavam na sala de reunião.
Fora um sacrifício convencer Molly Weasley e os outros a voltarem. Positivamente, nunca teriam conseguido trazê-los se não estivesse no horário do famoso vinho e queijo, que era servido no terraço e no restaurante da pousada ao cair da tarde. Por este motivo, tão logo entraram em Hogwarts, o grupo que viera de Monterey cuidou de tomar lugar no terraço e gozar de mais um momento de prazer.
James só não gostara de ver a atenção e os sorrisos languidos que Mary Lowe e Ed Mason trocavam diante de todos. Seria péssimo para a Zonk’s se houvesse um escândalo conjugal envolvendo membros da equipe de projetistas.
Dando um longo suspiro, James tentou deixar aquele problema para resolver posteriormente, e, uma vez na sala de reunião, concentrou-se nos conferencistas que o fitavam a espera de uma palavra acerca da espionagem industrial de que haviam sido vitimas.
- Tem certeza de que não se enganou sobre alguém ter violado o cofre, James? – Arthur interpelou-o, demonstrando grande preocupação com o acontecimento.
- Absoluta, Arthur. Não bastasse a combinação do cofre estar diferente do que programei, o quadro também estava desalinhado.
- Ora, tenha a santa paciência, Potter! – Cinthia Mason exclamou com ironia. – Qualquer um sabe que, mesmo sem a ajuda de um par de mãos, é comum um quadro ficar desalinhado depois de um certo tempo exposto a vibrações. E estamos numa região sujeita a pequenos tremores porque, caso tenha esquecido, a Califórnia é um estado que fica sobre uma imensa falha geológica. Quanto à combinação, você pode ter esquecido o numero correto. O ser humano erra sabia!?
- Sim, mas isto não pode acontecer no meu tipo de trabalho. Ou pelo menos não deveria... – James argumentou, muito sério. – Um erro meu pode levar a Zonk’s a perder milhões de dólares no mercado, por causa dos brinquedos piratas que os ladrões produzem.
Lily que assistia a cena em silencio, observou um nervo pulsando no canto da boca de James e não teve duvida de que ele estava furioso com a insinuação de Cinthia.
- O que James quer dizer – ela interferiu – é que precisamos ser cautelosos, não só por causa de nossa obrigação pra com a Zonk’s, mas também para garantir nossos próprios empregos.
- Compreendemos a situação perfeitamente – Arthur voltou a falar, assumindo seu papel de chefe de equipe. – Acontece apenas que não damos por falta de nenhum documento. Até mesmo os esboços originais do boneco cibernético, que pretendíamos lançar na feira de Nova York, estavam dobrados como deixamos.
- É por este motivo que peço a colaboração de todos – James reafirmou – compete a mim descobrir as respostas para este enigma, porem, e contrapartida, é responsabilidade de vocês o cuidado para não deixar as informações vazarem.
- Está insinuando que, se de fato ocorreu um roubo, somos culpados, James? – voltou a importuná-lo a arrogante Sra. Mason.
- Não, Cinthia – James respondeu, e, embora o tom de sua voz estivesse inalterado, ele parecia ameaçador – Mas, se por acaso descobrir que temos um espião infiltrado em nosso meio, garanto que vou fazê-lo arrepender-se até o ultimo fio de cabelo.
Lily o observou de soslaio e sentiu um calafrio percorrê-la de alto a baixo. Era a primeira vez que via James tão zangado e teve pena da pessoa que sofreria os reveses de sua fúria.
Sim, não restava duvida de que James Potter era um amante carinhoso e delicado, mas quando se sentia ameaçado também poderia ser um inimigo impiedoso!, reconheceu, pensando que, para seu próprio bem, seria melhor contar-lhe toda a verdade a respeito da contratação de Sirius Black.
Foi só depois de terem regressado a privacidade da suíte vinte e cinco que Lily lembrou que talvez tivesse uma pista sobre o possível espião.
- Ei, James, estive pensando, e acho que tenho algo que pode nos ajudar – murmurou, deixando a verdade sobre Sirius para um momento mais oportuno.
James arqueou as sobrancelhas e a fitou com ar de interrogação.
- Recorda-se que esta manhã saímos bem cedo para os corredores da pousada, e que não havia praticamente ninguém a vista?
- Claro! Quando fui até a copa, só cruzei com a Sra. McKinnon e os funcionários que estavam de plantão. – desse ele, sentando-se no sofá da ante-sala e esperando que Lily prosseguisse.
- Pois bem, no momento em que saí a sua procura, avistei Ed Mason andando sorrateiramente pelo primeiro andar da pousada. Ele não me viu, mas pude observá-lo bem, porque, por um segundo, pensei que pudessem estar juntos. Na hora não estranhei o fato, mas agora, após todo o incidente da sala de reunião, começo a achar o episodio muito suspeito. Ao que me consta, Ed não parece do tipo que levanta às seis da manhã, apenas para regozijar-se com o esplendor do nascer do sol – ironizou, franzindo o nariz arrebitado.
- Pelo que conheço daquele Antonio Bandeiras falsificado – James revidou com ar de escárnio – seria mais provável que estivesse indo para a cama do que saindo dela. Alem do quê, não estou gostando da atitude de Mason e Mary Lowe. Se as partes interessadas descobrirem que estão sendo traídas – falou, referindo-se a Cinthia e Richard – é certo que teremos um escândalo.
- Da parte da Sra. Mason, você tem razão – considerou Lily – mas no tocante a Richard Lowe tenho lá minhas duvidas. Ele parece inclinado a fazer vistas grossas às escapadelas da jovem esposa.
- Como Sirius Black faz com você? – James não perdeu a oportunidade de alfinetá-la.
Lily piscou as longas pestanas acobreadas. Sentia-se confusa e amedrontada. Todavia, após reavaliar as chances do relacionamento deles sobreviver ao fim da conferencia, Lily decidiu que estava na hora de contar toda a verdade ao marido numero dois, como ironicamente o chamara no dia em que descobrira que tinha dois maridos.
- James... – começou a dizer, depois de ter respirado fundo para encher-se de coragem – Sirius Black não é e nem nunca foi meu marido. Você sabe muito bem disto!
- Sim, sempre soube, mas prefiro ouvir toda a verdade de sua boca, Lily – declarou.
- Ok, confesso que todas as minhas atitudes foram baseadas no orgulho. Quando Slug sugeriu que bancássemos marido e mulher fiquei indignada, contudo, depois, ao vê-lo recusar a sugestão do Sr. Slug como se eu fosse a ultima das criaturas que tomaria por esposa, decidi que não lhe daria o gostinho de me dominar. Foi então que inventei a historia de que era casada.
- E daí... – James forneceu a deixa para que Lily prosseguisse.
- Daí que me lembrei de um anuncio que ouvi no radio e resolvi utilizá-lo para me livrar de você – contou, sabendo que a honestidade era o melhor caminho.
James franziu o cenho. Ainda não havia entendido direito o que o anuncio tinha a ver com Sirius.
- Sirius Black é um ator que trabalha para a agencia Harrington de São Francisco – explicou Lily, sentindo o rosto tingir-se de vermelho. – A agencia Harrington é uma empresa matrimonial, que responde por um dos números 0800-Marido. Graças a isto, contratei Sirius por uma semana.
James abriu os lábios para emitir um comentário de surpresa, contudo, acabou limitando-se a sorrir. Mas claro, uma atitude tão pouco convencional era bem o que se podia esperar do gênio irreverente e teimoso de Lily!
- Você conhecia Sirius antes de contratá-lo? – fez questão de saber, sentindo-se mais divertido do que irritado.
- Não, escolhi-o através de fotos no arquivo da Sra. Harrington. Sirius também nunca tinha ouvido falar a meu respeito – Lily esclareceu. – Ele é um ator de novelas que, entre um trabalho e outro, trabalha para o Disque-Marido, porque assim consegue pagar o curso de artes dramáticas e também manter o apartamento confortável que mora.
- Para um ator com tanta experiência, Sirius poderia ter sido mais convincente – James atalhou com cinismo, mal tendo consciência de que era o ciúme que o levara a fazer tal comentário.
- Ora, sabe que adoro quando você faz este ar enciumado! – caçoou Lily, tentando amenizar uma nota de tensão que pairava no ar. – Isto te faz parecer mais humano e acessível.
- Como acaba de dizer, Darling, sou humano mesmo – ele confirmou, fitando-a com expressão embevecida. – Venha cá!
Antes que Lily pudesse compreender o que James tinha em mente, ele já a puxava para o colo e beijava-lhe o pescoço.
- Entende o que quero dizer, minha cara? – gracejou, forçando-a a colocar a mão espalmada sobre seu peito, onde o coração batia descompassado.
- Sim – Lily anuiu, beijando-o no canto dos lábios. – Porem, acho que antes de resolvermos... hã... nossos problemas pessoais, devemos fazer a lista de prováveis suspeitos do caso.
- Ah, sempre o dever em primeiro lugar! – resmungou James, entretanto, no intimo, concordava com Lily.
- Infelizmente...
- Bem, neste caso, vamos lá! – respirando fundo, ele voltou a assumir a expressão compenetrada e sensual de um verdadeiro James Bond. – Pelo que acabou de me contar sobre Sirius, creio que seu contratado está fora da lista de suspeitos, certo?
- Certíssimo! – Lily respondeu, consultando algumas anotações que fizera durante a conversa com os membros da Zonk’s.
- E acho que Molly e Arthur Weasley também – James prosseguiu. – Arthur trabalha para Slug há quase trinta anos e, alem do sentimento natural de lealdade, comum nestes casos, ele também teria muito a perder para arriscar-se numa empreitada destas. Já no que diz respeito à Molly, parece que a única coisa que a interessa, alem de comida e passeios, é ajudar a tornar nosso casamento um sucesso.
- Você tem razão – Lily sorriu, lembrando-se do chá-de-cozinha improvisado e do traje da Victoria’s Secret. – Nossos maiores suspeitos agora são os Martin, Moritary e, principalmente os Mason e os Lowe. Não sei porque, mas não gostei da expressão nervosa que divisei no rosto de Richard quando você deu a entender que estavam sob suspeita.
- Ah, Lily, as vezes tenho a impressão de que deve ter se graduado com nota máxima em alguma famosa escola de detetive. É muito detalhista para uma amadora! Acho que ainda vai desvendar este mistério antes de mim – brincou James.
- Não se preocupe, meu caro, somos parceiros e, portanto, ninguém ficará sabendo deste fiasco! – avisou ela num tom jocoso, antes de voltar sua atenção para o bloquinho de notas que trazia aberto no colo.
James a fitou pensativo. Sim, Lily tinha mudado muito desde que a conhecera na sala de Slug. Naquele primeiro dia ele imaginara que estava diante de uma mulher carreirista, que não media esforços para chegar aonde desejava.
Agora, no entanto, estava descobrindo que além da profissional sagaz, Lily também era companheira e honesta, afinal, ela acabava de lhe provar que poderiam confiar um no outro. Só o fato de ter revelado, de livre e espontânea vontade, a verdadeira historia sobre a contratação de Sirius Black contava muito em favor a sua feiticeira irlandesa.
“Ainda bem que tudo deu certo”. Fui um tolo ao ficar imaginando o pior a respeito de Lily!, conjecturou James, ciente de que a partir daquele momento começava uma nova fase no relacionamento deles. “Lily pode ter um gênio terrível, mas também é espirituosa e me faz rir nos momentos mais difíceis. O que mais posso desejar de uma mulher!?”, questionou-se, sorrindo com satisfação.
- Acho que a próxima atitude que devemos tomar é... – a voz melodiosa de Lily o tirou de seu devaneio, porem, ela parou no meio da frase ao vê-lo arquear a sobrancelha diante da euforia em sua voz. – Oh, desculpe, James, cá estou eu novamente – sorriu e baixou os olhos para as próprias mãos – Prometo que vou tentar me controlar. Esta mania de estar sempre adiante dos fatos eu adquiri por ter sido criada em meio a cinco irmãos machistas e dominadores – confessou.
Um riso divertido escapou dos lábios de James. Era engraçado imaginar Lily, tão pequenina e sensual, dominada pelo chauvinismo que impera em uma família em que homens são a maioria.
Lily, por sua vez, interpretou o sorriso como uma aquiescência a sua promessa e sentiu-se mais segura da decisão que tomara. Acabava de concluir que era chegada a hora de deixar o habito de competição com o sexo masculino de lado. Custara muito a entender que não precisava mais provar ao mundo que não era apenas a irmãzinha caçula de alguém, e sim uma mulher independente, capaz de resolver os próprios problemas, mas que, ainda assim, ansiava em compartilhar sua vida com o homem por quem tinha se apaixonado.
Desse momento em diante, tudo o que ela desejava era resolver a história de espionagem dos projetistas da Zonk’s e então, finalmente, viver a plenitude dos sentimentos que nutria por James... mesmo que fosse apenas até a conferencia terminar.
N/A: Mais uma vez peço desculpa a todos. e não se preocupem eu prometo q não vou mais demorar tanto pra postar o proximo cap. No mais tardar em 15 dias eu posto. bjus a todos.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!