A Reunião



Uma manhã de domingo, nublada úmida. Orvalho acariciava ternamente as folhas do Salgueiro lutador, visível pelas Janelas do Gabinete de Dumbledore.

Mapas do Castelo e das propriedades estavam empilhados sobre a escrivaninha do diretor e percebia-se que não dormira. Passara a noite vasculhando possíveis brechas no esquema de segurança da Escola. Suas preocupações se dirigiam no momento para um ponto específico das terras de Hogwarts. A Floresta Proibida. Claro que Dumbledore não subestimava o grande contingente de magias antigas, depositadas na região da floresta por inúmeros bruxos que antes dele estiveram responsáveis por Hogwarts. Contudo, principalmente por respeitar o espaço dos seres que habitavam a Floresta e a tinham como Lar, Dumbledore tinha optado por deixá-los em paz até agora.

Mas era perfeitamente crível que Hagrid sem muito esforço conseguiria ajuda-lo a solucionar este problema. O guarda-caças de Hogwarts tinha um convívio quase fraterno com todos os seres que habitavam a floresta, mas havia um obstáculo: Hagrid infelizmente não concluíra sua formação em Hogwarts, ao menos não formalmente. Era um bruxo tão competente quanto qualquer outro, porque Dumbledore considerou um absurdo desperdiçar tanto talento e um dom tão peculiarmente raro, o dom que havia naquele mestiço, meio bruxo, meio gigante, por causa de determinações torpes da justiça bruxa. Determinações que ele próprio não conseguira evitar. Mas como paliativo para o grande drama da vida do meio gigante adolescente, o diretor usou sua varinha, a única no mundo capaz de realizar tal feito e com ela restaurou a recém partida varinha do robusto aluno expulso,e ele, pessoalmente, assumiu toda a educação bruxa de Hagrid, e o ensinou clandestinamente.

Agora ele podia enxergar em Hagrid um grande bruxo clandestino, um homem de extrema fibra moral, integridade, e muita lealdade para com o diretor. Sabia que podia contar com o amigo.

Grandes e emocionantes foram os momentos vividos ao lado de Hagrid e como o próprio Dumbledore diria, “isso significa alguma coisa”.

Outros momentos inesquecíveis para sempre em sua vida seriam aqueles vividos ao lado da professora de transfiguração, outra grande amiga e um verdadeiro apoio em sua vida, tanto pessoal como profissional. Dumbledore costumava dizer a Minerva sempre que podia que ele tinha o orgulho de dizer que Hogwarts contava não com um diretor e uma vice-diretora, mas sim com dois diretores. Sempre corretíssima e competente em todos os seus ofícios, e sempre velada, discreta, sagaz e perspicaz em todos os assuntos com os quais se envolvia.

Jamais Dumbledore esqueceria o momento em que, recém nomeado diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, quando já não mais poderia lecionar transfiguração, mediante a seleção do novo professor a assumir a cadeira docente da disciplina, Minerva McGonaghal adentrando seu gabinete religiosamente pontual, miúda, delicada, mas portando nos ombros e nos semblantes uma postura decidida e firme, raro entre os homens e bruxos, muitas vezes mais velhos e experientes do que a mocinha que se posicionava diante do diretor. Lendo o currículo da aspirante ao cargo se sentiu meio atordoado ao ver sua idade. Contava trinta e um anos na ocasião, mas decisivamente ninguém julgaria ter mais de vinte e cinco.

Fora a primeira e a mais acertada escolha que Dumbledore já fizera em sua carreira como diretor da Escola. Havia outros candidatos ao cargo, alguns até muito renomados, outros com muita experiência, mas ele viu comprometimento naquela candidata modesta porém decidida. Ele a contratara e até hoje ela prova diariamente que realmente fez jus ao cargo.

O dia nublado, fresco, orvalhado e promissor dos últimos dias antes de culminar a primavera estava convidativo a uma boa leitura, talvez um passeio rápido pelas propriedades mesmo do Castelo, mas a qualquer momento Dumbledore estaria recebendo estes dois amigos para assuntos seríssimos e nada agradáveis.

Varias providências para que esta reunião fosse a mais bem sucedida possível já haviam sido tomadas. Uma lista atualizada de todos os membros, antigos e novos da Ordem da Fênix estava já em mãos, documentos e mapas de Hogsmead estavam também ali, acessíveis sobre a escrivaninha. E o mais importante, o que seria mais difícil, Dumbledore sabia, de convencer principalmente Minerva, uma lista de nomes promissores a serem convidados a ingressarem para a Ordem, entre eles alguns alunos do sétimo ano.

Os pensamentos de Dumbledore, tanto os que se encontravam na penseira quanto aqueles que ainda estavam dentro de sua cabeça, rodopiavam em uma velocidade vertiginosa, quando foram interrompidos por leves toques na porta de madeira maciça de seu gabinete.

“Finalmente”, pensou o diretor que já não se agüentava mais. Vestiu-se de toda a calma e austeridade que conseguiu e abriu a porta com um leve balouçar de sua varinha.

Entraram, calmos, porém sem disfarçar a preocupação, os dois convidados. Dumbledore sabia que podia contar com toda a dedicação, envolvimento, prudência e discrição daqueles dois. Por isso sem rodeios partiu para o assunto depois de alguma cortesia e breves e delicados cumprimentos.

_Os convoquei meus caros amigos, porque como já sabem, estive na semana passada com meu irmão, e ele me transmitiu algumas informações colhidas pelos métodos que vocês já sabem, sobre os próximos passos do Lord Voldemort. – diante do nome do Lord, os dois interlocutores do diretor deram um abafado gritinho e se arrepiaram de susto e medo – Informaçõeos que nos alarmam bastante.

¬_Professor, o Lord das trevas nos alarma – considerou prudentemente McGonaghal – pelo simples fato de existir, mas sinto minhas pernas bambearem sómente por saber que ele anda tramando algo.

_E estaremos mais suscetíveis – responde o diretor – a esses novos planos do que em qualquer outro anterior Minerva. A situação se agrava. Voldemort planeja atacar o castelo.

_Santo Deus – alarma-se Hagrid – mas como será isso?

_As informações que conseguimos colher ainda são bem imprecisas, principalmente no que consiste ás datas que eles pretendem realizar o ataque. Os comensais estão se reunindo, sendo convocados para a ação e elaborando planos e estratégias nesse exato momento, e alegam ter descoberto alguns dos feitiços protetores do castelo, e saber como anula-los. Pretendem invadir as propriedades do castelo pelos portões principais, mas não descartam a possibilidade de manterem tropas estrategicamente posicionadas em outras entradas, como na floresta proibida por exemplo, e o próprio Voldemort pretende entrar nas propriedades. Pretende faze-lo usando sua mais nova aquisição: uma capa anti-gravidade.

_E o que faremos? – pergunta Hagrid, demonstrando todo o terror que sentia em sua voz trêmula – Precisamos convocar toda a Ordem da Fênix.

_Exato. Essa é a principal finalidade de nossa reunião de hoje. Planejarmos a reunião extraordinária da Ordem da Fênix, que deverá acontecer antes de transcorrer mais uma semana. Contudo, muito me preocupa perceber que não temos ainda contingente páreo para os exércitos de Voldemort. Por isso precisaremos estudar calmamente as características de todos os membros e realizarmos mais recrutamento e treinamento com a máxima urgência.

_Sem duvida professor, essa é a atitude mais prudente e sensata a se tomar. – argumenta Minerva - Mas quem seriam os novos recrutas? Foi uma luta convencermos aqueles sete aurores a se juntarem a nós. Todos os bruxos estão aterrorizados e fogem desesperados quando o assunto é resistência ao Lord. Não consigo imaginar quem poderia atender a um chamado nosso tão prontamente.

_Já eu, Minerva, sei de alguns bruxos muito talentosos e no auge de sua energia que nos atenderia prontamente.

_Desculpe-me professor, acho que não estou entendendo. O senhor não está cogitando a idéia de convocar....

_Sim, Minerva, Alguns alunos de nossa escola. Aqueles que já completaram dezessete anos, aqueles que estão cursando o último ano em Hogwarts. Alguns daqueles que têm demonstrado excepcionais talentos bem diante de nossos olhos. Claro que eles seriam posicionados apenas nos contingentes de defesa, aqui mesmo, dentro do castelo, e serão submetidos a rigorosos treinamentos. Alguns deles inclusive dispõem de aparatos que nem mesmo nós possuímos. Capas de invisibilidade, olhos de nuca....

_Olhos de nuca? – surpreende-se Hagrid, dando um hilário estremecimento nas bochechas – Pensei não existiam desde o século passado!

_Digamos por hora que é um que foi transmitido por herança, de geração a geração.

_O Senhor não está falando de Sírius, está, professor? – pergunta intrigado Hagrid.

_ Perspicaz, você acertou.

_Professor, desculpe-me, mas isso é loucura! Não podemos desviar a atenção dos alunos. – indaga aflita a professora McGonaghal - Não os podemos sobrecarregar com treinamentos em duelos e feitiços de guerra. Faltam apenas alguns meses para eles prestarem os NIEMs! Céus, são apenas alunos!

_Alunos brilhantes, que tem provado competência e habilidade ao longo de sete anos de convívio conosco Minerva, e isso significa alguma coisa.

_Se é que eu posso dar minha opinião, professor – interfere cauteloso Hagrid – eu considero tal atitude um tanto arriscada. Contudo concordo. Acredito que esses alunos podem – já desconfiando de quais alunos o professor estava a mencionar – e vão fazer toda a diferença se aliando a nós em nossos propósitos.

_E tenho certeza de que eles vão querer. E vão aderir ao movimento de bom grado.

_Diante do que foi dito aqui – admite McGonaghal – não tenho outra escolha a não ser concordar e corroborar a decisão. Vamos convocá-los. Mas com uma condição. Quero estar intimamente envolvida nos treinamentos e preparação desses recrutas.

_Com certeza, Minerva. Não consigo pensar em uma equipe de treinamento mais eficaz do que uma formada por você, o nosso Hagrid aqui, Filius e Alastor Moody. Vocês quatro irão realizar todo o treinamento, não apenas aos novatos como também a todos os membros, que estão mais ou menos preparados para o combate. Contudo, para elaborar as estratégias e nos organizar militarmente, creio que vou procurar um apoio externo. Claro que já avaliei o grau de confiabilidade do bruxo em questão e me dei por satisfeito. Não sei se ele estaria disposto a permanecer como membro da Ordem, mas com certeza não nos negará apoio nesse momento.

_E quem é ele?

_No momento certo todos saberão.



Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.