O Irmão



Ao se separar dos marotos, Dumbledore virou apenas mais uma esquina em direção ao “Cabeça de Javali”, para não levantar suspeitas,e começou a repassar mentalmente o plano. Sabia que não poderia ser visto entrando no pub sem colocar o irmão em evidência e em risco. Por isso planejara caminhar a ermo por alguns segundos e se deixar ser visto por moradores. De última hora percebeu que deveria evitar a parte central do povoado para fugir também das vistas dos marotos. Ele sabia que podia contar com a discrição dos garotos quanto a eles saberem onde ele iria. Mas precisava deixar as coisas o mais seguras possível.

Por isso, depois de alguns minutos andarilhando pelo povoado e eventualmente cumprimentando uma bruxa em uma janela ou soleira, encontrou uma rua deserta e deu seguimento ao plano. Desaparatou com destreza para aparatar diretamente na sala de estar da casa de Aberforth, no andar superior, acima do Pub.

Não encontrou o irmão imediatamente, o esperando sentado impaciente ao sofá, como previa, mas ao contrário, podia ouvir o som de intensa atividade no pub logo abaixo. Havia um movimento considerável, levando em conta a hora.

Então a opção era esperar até que o irmão pudesse subir para atende-lo, até que fosse possível o dono do “Cabeça de Javali” deixar todo o movimento a cargo do seu assistente, um bruxo raquítico e de pouca idade, chamado Iv Thimberg, que saíra há dois anos de Hogwarts, com varias habilidades mágicas, digamos, alternativas, mas com um número ínfimo de NOMs e NIEMs.

Olhou para a parede da sala e não pode impedir a dor cortante de perpassar seu coração. A lembrança daquela pequena e singela garotinha vinha lhe invadindo a alma desde que constatou que os marotos iriam acabar por encontrar os três espelhos. Recordava-se com isso e além disso, das tentativas exacerbadas de usar as propriedades dos espelhos nesse assunto em especial. Mas definitivamente aquele não era o momento e nem ali o local para ruminar essas lembranças, nem se permitir sucumbir á dor, porque sabia no seu íntimo que muitas eram as coisas, além da paz no mundo bruxo, que estavam sob ameaça, e sua visita ao irmão naquele momento poderia ser o limiar entre a resistência ou destruição de tudo o que a sociedade bruxa conseguiu construir de positivo até a era atual.

Por isso o bruxo de aparência austera e paciente, optou por abafar todos os turbilhões de sentimentos e ansiedade que forçava passagem por seus olhos e têmporas, retomando toda a dignidade em sua postura e semblante e assumindo o posto de espera até que algo acontecesse.

Não muito tempo um ríspido Aberforth entra pela sala fitando inquisitoriamente o irmão, tão diferente em quase tudo, mas que possuía indizivelmente os mesmos olhos.

_Você não mudou nada Alvo. Sempre ostentando todas as nobrezas de alma que você tanto venera.

_Você não Mudou nata Ab, sempre tão simpático, sempre um anfitrião carinhoso e agradável.

_Não é hora para ironias Alv, e você sabe disso, sempre sabe de tudo. Tenho assuntos sérios. Existem rumores. Voldemort pretende agir. Pretende investir contra Hogwarts.

_Como eu previa que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Você tem mais detalhes pra mim, Ab?

_Os comentários ainda são muito fragmentários. Não sei quando eles pretendem agir. O que sabemos é que pretendem usar Hogsmead como ponto de concentração. Pretendem se reunir ao no centro de Hogsmead e marchar até as entradas de Hogwarts e forçar entrada. Parece-me que descobriram alguns dos feitiços protetores que existem no castelo e se julgam preparados para quebrá-los. E assim que os comensais conseguirem romper os bloqueios Voldemort planeja entrar triunfante voando com uma... não entendi bem essa parte, mas foi isso que o comensal disse... capa.

_Você saberia me dizer quando isso vai acontecer Ab?

_Não ainda, mas sei que não tardará. Sei que ainda falta convocar mais exércitos que estão em sórdidas missões no mundo trouxa, falta para eles uma reunião para elaborar a estratégia final, mas posso crer que ocorrerá nos próximos meses, antes mesmo do fim do ano letivo, talvez antes dos testes de NIEMs, talvez durante os exames, o logo depois deles. Minha preocupação, Alvo, é que a Ordem da Fênix não está ainda tão estruturada, não temos ainda contingentes, e por isso só poderemos contar com os aurores do ministério, e não sei como convencê-los de que o ataque iminente é uma realidade. Se deixarem para acreditar em nossa palavra no momento do ataque, os aurores podem não chegar a tempo para impedi-lo

_Sim Ab, entendo suas preocupações e já penso em algumas providências a serem tomadas que podem vir a amenizar nossa desvantagem. Posso tranqüilizá-lo primeiramente te comunicando que temos mais dez membros na Ordem sendo que sete deles são do esquadrão de aurores, ou seja, a influência da Ordem já conseguiu se infiltrar lá, e com isso podemos garantir uma atenção a mais do departamento de aurores a essas ameaças. Ademais temos alguns alunos de sétimo ano em Hogwarts que poderia reforçar a segurança interna do castelo, caso a invasão venha a ser bem sucedida, mas temos atualmente uma nova arma, e uma nova força de batalha. Lembra-se em minha última visita, quando contei que descobri que alguns garotos haviam se organizado em uma sociedade secreta interna na escola que se autodenomina ‘A Sociedade dos Marotos de Hogwarts’? Esses garotos realizaram um grande feito e resgataram uma arma que pode levar a batalha a tender para o nosso lado. Por hora é o que posso contar, mas em breve farei nova visita e falarei mais sobre isso. Agora preciso ir. A tempo de voltar ao castelo já bate à nossa porta.

_Misterioso como sempre não é, irmãozinho?

_Você me entenderá um dia Ab. O que faço agora é para o seu bem, para o bem de toda a sociedade bruxa.

_Entendo Diretor Dumbledore: para o bem maior.

E apenas com um olhar entristecido, Dumbledore rodopia ao redor de si mesmo e com um estouro leve, como um chicle de bola, some da sala de Aberforth e ressurge na mesma rua deserta de onde sumira há algumas horas, e segue em direção ao “Três Vassouras”, onde, se tivesse sorte, e se os marotos atrasassem, poderia tomar uma reconfortante cerveja amanteigada.

Mas durante todo o percurso até o “Três Vassouras” a imagem da garotinha no retrato da sala de estar do irmão o acompanhou, como uma coisa viva, arranhando todo o seu interior, como afiadas unhas de remorso e saudade. Ninguém melhor do que ele próprio para saber medir a imensidão de suas intenções do passado, de suas atitudes e das drásticas conseqüências que elas acarretaram para toda a sua vida.

Claro que o sofrimento que Dumbledore carregava e, no fundo sabia, nutria com relação a todo seu passado fatídico, era muito próprio, mas o respeitável honrado bruxo, diretor de Hogwarts e que acarretava tantos mais cargos e condecorações, tinha conseguido elaborar para si uma vida tranqüila em que se instaurara uma felicidade justa e inabalável. O que não anulava definitivamente seu passado, seu remorso e todas as tentativas desesperadas de reverter o que fizera. E não mediria esforços, e vasculharia cada centímetro do mundo bruxo na busca incansável de um meio reverter todo o trágico desastre de sua família que, sabia, era sua culpa.

Os três espelhos haviam sido a tentativa mais próxima do sucesso que Dumbledore engendrara.

Sim. O maior e mais absurdo sonho de Dumbledore era descobrir um meio de trazer Ariana de volta a vida, que ela perdera tão estupidamente. O velho bruxo podia desconfiar, mas jamais entender o porquê da pequena irmã ter se recusado a voltar quando o espelho de Dagna se abriu em um portal que lhe restituiria incólume à vida.

Mas diante da decisão da pequena garotinha, Dumbledore se resignou, ao menos por algum tempo mais, a sua dolorida ausência.

Mas não conseguiu se impedir de lembrar, pensar e se condoer por tudo isso, diante do fato de que os marotos se fizeram merecedores de uma grande dádiva diante dos mesmos espelhos.

Ele se alegrava deveras com o êxito dos marotos, mas não conseguia evitar a dor de reconhecer frustrado seu intento diante dos mesmos espelhos.

A porta do agradável e refinado Pub se abriu, trazendo de volta a realidade um Dumbledore de fisionomia dura e abatida. Dumbledore pode notar que Lílian, a primeira a adentrar o recinto, notou seu semblante e por um triz ela não pode ler em seu semblante tudo o que lhe ia na mente.

Percebeu que também Madame Rosmerta fitava-o preocupada.

_Professor, o senhor está bem?

_Estou Rosmerta. Talvez esteja um tanto habituado às cervejas amanteigadas. Mas estou bem. Deixe-me reunir os alunos travessos para guiá-los de volta ao castelo. Obrigado Rosmerta. Não tardarei para uma próxima visita. Até mais.

E assim o grupo alegre e tagarela de marotos se reuniu a um Dumbledore totalmente restaurado e novamente com cara de garoto travesso, tanto quanto os marotos, para investir caminhada retornando ao castelo.

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