Filho do coração

Enquanto isso

Draco se prepara para voltar a Hogwarts, agora como um estudante como deveria ter sido desde o início do ano. Ele sabe que não há muito que estudar agora, não depois de tudo o que aconteceu, mas ele quer estar lá, ele quer ajudar a reconstruir o castelo, ele vai aproveitar a sua segunda chance para ser uma pessoa melhor.

O loiro vê que a sua mãe o encara em silêncio. Narcisa é uma mulher de poucas palavras, grande parte por causa do comportamento ameaçador de Lucius, mas Draco sempre soube que o amor que a sua mãe tinha por ele era o seu maior porto seguro e Draco espera que a sua mãe possa compartilhar esse amor com o garotinho que agora está com eles.

Por mais que queira, Draco não consegue tirar da sua mente os olhos do pirralho ao ser informado que a sua mãe e o seu pai não voltariam, cortou-lhe o coração as lágrimas que o pequeno derramou abraçado a ele e neste momento o sonserino se permitiu derramar uma lágrima ou duas pelo seu pai, não pela pessoa que ele era, mas pelo relacionamento que poderiam ter tido

Foi difícil conseguir falar com o quadro de Dumbledore, afinal a prioridade era achar um jeito de acordar Harry Potter e derrotar de vez o Lorde das Trevas, mas Draco acabou conseguindo. Ele devia isso a Snape, ao homem que o salvou de todas as maneiras possíveis.

- Eu vou fazer tudo certo agora – ele diz para si mesmo enquanto se recorda da conversa que teve com Alvo Dumbledore...

XXXXX

Alguns dias atrás

Draco respira fundo, ele vai partir dentro de algumas horas para um período com a sua mãe, mas antes ele vai novamente entrar de maneira sorrateira na sala da diretora, ele precisa falar com o quadro de Alvo Dumbledore, ele precisa de alguns esclarecimentos e precisa saber se está fazendo a coisa certa.

Ele passa algum tempo pra se certificar que não irá aparecer ninguém, então o loiro sussurra a senha e entra

- Olá, Draco – o quadro lhe cumprimenta sem surpresa alguma – achei que você viria antes.

- Eu queria – o loiro diz se desculpando – mas não foi fácil conseguir um momento em que não houvesse ninguém por aqui e eu não queria que ninguém ouvisse

- Entendo – o diretor diz – eu devo dizer que fiquei muito orgulhoso de você. Eu sabia que você conseguiria matar a cobra, sem você Harry não teria conseguido.

- É - Draco diz, desanimado – mas pelo jeito não adiantou muito, o Potter está desacordado e o Lorde não foi destruído...

- Não se subestime, Malfoy – Dumbledore o repreende de maneira encorajadora – o que aconteceu foi algo que nenhum de nós poderia prever. O Tom não foi destruído, é fato. Mas o seu legado não se firmou, os comensais estão sendo presos e eu tenho fé de que tudo acabará bem – ele faz uma pausa e encara o sonserino – mas creio que o senhor veio aqui porque tem algumas perguntas

- Sim - o sonserino admite. Ele encara o quadro com a insegurança de alguém que precisa de respostas, mas não tem certeza que as conseguirá – na verdade eu tenho várias, mas talvez não seja o momento com tudo o que está acontecendo...

- Meu jovem – Dumbledore o interrompe – talvez respostas seja exatamente o que você está precisando para saber se o que você pretende fazer é o correto, estou certo?

- Sim – Draco admite, ele fica em silêncio por um segundo ou dois – eu e a minha mãe vamos levar o pirralho, quer dizer, o Adrian pra ficar com a gente, eu devo isso ao professor Snape

- Sim, Draco – o quadro o encara da mesma forma que faria se estivesse vivo – você sente que deve isso ao professor Snape, mas diga com sinceridade, você está levando o menino pra casa apenas por isso?

O loiro sente o rubor tingir a sua face, ele pode contar nos dedos as vezes que conversou com o diretor enquanto este estava vivo, mas parece que de alguma forma Alvo Dumbledore sabe o que se passa em sua mente e talvez até em seu coração

Então ele diz:

- Não, não é só por isso. De alguma forma, eu gosto do pirralho, quer dizer, do Adrian. Ele nunca me viu como um sonserino ou um comensal ou um assassino, eu acho que eu teria feito isso mesmo que ele não fosse filho do professor

- A sua atitude só prova que eu sempre estive certo sobre a sua pessoa, Draco – o quadro de Dumbledore sorri – eu vou te contar a história deste garoto porque sei que Severo gostaria disso. Ele o tinha em alta conta, o professor Snape sempre acreditou que mais cedo ou mais tarde você faria a coisa certa. Por favor, se acomode

Draco senta-se em frente ao quadro do diretor e prepara-se para ouvir a história.

- Bem, Draco – o quadro começa depois de uma pequena pausa – não sei o quanto você sabe a respeito da vida do professor Snape.

- Não muito – o loiro admite – ele nunca falou muito sobre isso comigo, talvez meus pais soubessem um pouco mais, mas sinceramente não acredito

- Você é um jovem perspicaz – o quadro diz – o professor Snape certamente nunca iria contar algo desta natureza para seu pai e permanecer vivo por tanto tempo. Desculpe se lhe digo isso, mas acho que você já percebeu como as coisas funcionavam nos círculos de Voldemort

Draco assente com a cabeça e o quadro continua:

- O professor Snape, antes que Voldemort desaparecesse após matar os pais do Harry, me procurou e contou sobre a profecia por motivos que não vem ao caso agora. Ele disse que estava disposto a deixar a linha dos comensais e fazer o possível para se redimir e durante algum tempo ele passou informações relevantes que salvaram muitas vidas

Draco permanece em silêncio. Pra ele é fascinante conhecer um pouco da pessoa que esteve tão próximo a ele, mas ao mesmo tempo tão distante

O quadro continua - quando os pais do Harry faleceram, nós conversamos muito e chegamos à conclusão que não havia ainda acabado e que ele deveria ainda manter contato com os comensais e fazer de tudo para parecer que ainda continuava fiel às idéias de Voldemort

- Um espião – Draco diz e recebe a confirmação de Dumbledore

- Sim, Draco, mais ou menos isso. Me atrevo a dizer que foi mais até, mas continuando, ele deveria ficar o mais próximo possível do grupo, embora a maioria dos que escaparam não estivessem proclamando as suas crenças aos quatro ventos, eles ainda se reuniam

Draco assente com a cabeça, embora ainda fosse muito novo na época, ele lembra de vários comensais na sua casa desde sempre

Dumbledore continua – Snape tinha que ficar o tempo todo atento, ele não podia deixar de forma alguma que alguém desconfiasse que ele estava realmente do nosso lado e por este motivo ele precisou presenciar e até mesmo realizar coisas que de forma alguma foram louváveis

- Ele matou muitos trouxas, muitas pessoas – o loiro diz, no entanto a sua voz não demostra nenhum tipo de surpresa. Draco viu muita coisa no pouco tempo em que ficou ao lado do lorde para se surpreender com esse tipo de coisa

- Sim, isso aconteceu e acredite era muito difícil pra ele. O professor Snape presenciou o pior do ser humano e isso o ligou aquela criança de uma forma que nenhum de nos poderia prever

- Entendo – Draco diz, pensativo – um filho pode mudar uma pessoa, mesmo alguém tão austero quanto o professor Snape

- Sim, Draco – Dumbledore concorda – um filho pode mudar uma pessoa na maioria das vezes e não foi diferente com o professor Snape, mas eu tenho que te dizer que ele não era o pai biológico do garoto, embora tenha sido pai dele de todas as outras formas

O loiro apenas encara o quadro definitivamente ele não estava preparado para isso

- Eu entendo a sua surpresa – o quadro sorri complacente – acredito que ninguém poderia pensar que o temido professor de poções tomaria como sua uma criança que não tem o seu sangue e confesso que eu mesmo me espantei ao tomar conhecimento

- Eu não entendo – o loiro balbucia sem se dar conta que interrompeu Dumbledore – por mais nobre que o professor tenha sido, não parece algo do seu feitio

- Realmente não parece e talvez ele nunca tivesse feito isso se não fossem as circunstâncias, circunstâncias estas que eu vou revelar agora

Draco apenas assente com a cabeça ansioso por conhecer melhor a pessoa que lhe salvou a vida de todas as formas possíveis. Dumbledore continua

- Como eu disse. O professor Snape não era o pai biológico do Adrian, mas eles se uniram de uma forma até mais forte do que um laço de sangue. Antes de Voldemort matar os pais do Harry, ele tinha alguns planos para o futuro, um deles era conseguir o poder da sétima filha – ele faz uma pausa e se não fosse um quadro Draco poderia achar que ele estava respirando fundo – o outro era encontrar uma forma de recuperar a sua juventude com um novo corpo

- Isso é possível? – o loiro não contém as palavras nem o espanto

- Na verdade, eu não sei – o quadro diz – infelizmente eu não tenho todas as respostas, Draco. Nem mesmo eu sei dizer se algo desta natureza é possível, mas o fato é que ele estava pesquisando sobre isso. Afinal, se ele conseguiu romper a sua alma o que o impediria de tentar manter o seu corpo jovem?

- Não compreendo – Draco balbucia – por que o lorde poderia querer algo desta natureza? Ele já havia feito as horcruxes, já era imortal!

- Sim, Draco – Dumbledore assente a cabeça em concordância – ele já era imortal, mas existe um lado de Voldemort que poucas pessoas conheceram. Me atrevo até a dizer que eu posso ser o único a ter notado esta faceta e depois o professor Snape, é claro. Ele era um louco com sede de poder e mania de grandeza, mas isso não é tudo, nunca foi. Voldemort, lá no fundo, ainda possuía muito do garoto Tom Ridle que ele foi um dia, principalmente as suas fraquezas e defeitos e as maiores fraquezas dele eram o orgulho e a vaidade – ele para por um segundo e encara o rapaz que ouve a tudo como se estivesse assistindo uma revisão para os NIEMS – Tom Ridle foi um jovem que encantou e enganou a todos com a sua inteligência, simpatia e aparência, e eu creio que à medida que ele foi fazendo as horcruxes, ele foi perdendo esta capacidade. Diga-me, Draco, pelo que você conheceu do círculo de Voldemort talvez muitos tenham entrado por causa do seu poder de convencimento, mas à medida que o tempo foi passando você é capaz de afirmar que este foi o maior motivo que os levou a permanecer?

Draco por um momento pensa em dizer que sim, mas ele pensa alguns segundos e acaba se rendendo ao inevitável – não – ele diz – no início era por tudo o que ele prometia, mas depois se transformou em outra coisa

- Diga, senhor Malfoy – Dumbledore continua – diga com todas as letras em que as promessas de poder e admiração acabaram se transformando

- Medo – o sonserino responde com um suspiro

- Isso mesmo, Draco – Dumbledore sorri – medo, puro medo e qualquer pessoa sabe que o medo não é um bom alicerce a longo prazo

- Não me pareceu que ele tivesse problema com isso – Draco diz depois de pensar um instante

- Não, Draco – Dumbledore diz complacente – ele não tinha problema com isso, pelo menos não de uma forma que os seus seguidores pudessem notar – ele para por um momento – mas eu posso dizer que conheci um lado dele que você ou qualquer outro do seu círculo não conheceu e eu posso dizer que o garoto Tom Ridle era bastante orgulhoso e vaidoso, o que o seu currículo aqui na escola mostra claramente. Ele foi monitor chefe, ganhou prêmios por serviços prestados, era o queridinho de vários professores e eu digo sem medo de errar que isso foi essencial para que ele conquistasse os primeiros seguidores

Draco ouve em silêncio. Ele está fascinado em conhecer essa face do homem que um dia ele admirou e que quase arruinou a sua vida. Dumbledore continua:

- Pois bem, à medida que Tom Ridle criava as suas horcruxes, ele deixava cada vez mais de ser o Tom Ridle para se tornar lorde Voldemort e se por um lado isso o satisfazia, pois ele sempre desprezou seu nome trouxa e as suas raízes trouxas, por outro lado ele ia perdendo o encanto que possuía e que fazia com que as pessoas quisessem segui-lo e digo mais, assim como acontece com a pedra filosofal, a imortalidade permitida pela horcruxe não impedia o envelhecimento do corpo

Draco luta para não deixar seu queixo cair neste momento, ele está conhecendo uma face de lorde Voldemort que ele nunca pensou que existisse. O loiro, na verdade, nunca pensou que ele pudesse ter alguma espécie de sentimento humano.

- Sim – Dumbledore sorri como se soubesse o que passa em sua cabeça – eu sei que é difícil imaginar que o tão temido Lorde das Trevas pudesse ser afetado por algum tipo de sentimento humano, mas sim ele era, ele era afetado principalmente pelo orgulho e pela vaidade. Eu tenho que admitir que ele é uma pessoa com uma inteligência impar e não deve ter demorado muito para perceber que o fato de você possuir uma horcruxe não impede a passagem do tempo, mas eu estou me estendendo desnecessariamente, por favor me permita continuar

O loiro assente com a cabeça cada vez mais curioso. Dumbledore toma novamente a palavra

- Pois bem, antes de tudo acontecer o Tom estava buscando uma forma de recuperar a sua juventude e como disse não sei o que ele pensava em fazer, mas ele deixou algumas ordens com alguns de seus comensais, os mais próximos – o quadro vê que os olhos de Draco se abrem desmensuradamente – não sei dizer se o seu pai estava envolvido, embora acredite que sim, o professor Snape nunca me deu maiores detalhes, o fato é que uma criança deveria nascer em uma determinada data segundo algum tipo de ritual e quando ela estivesse um pouco mais velha seu corpo jovem receberia Voldemort

- O pirralho – as palavras praticamente saltam da boca de Draco e seu estômago se contorce só em pensar no que poderia ter acontecido ao garotinho caso as coisas tivessem dado errado

- Sim, o jovem Adrian – Dumbledore diz – depois que Voldemort sumiu, alguns comensais se reuniram e decidiram que deveriam levar o plano dele adiante após a poeira baixar. Eles temiam que quando ele retornasse os castigasse por não ter seguido as suas ordens, é claro que a maioria deles não sabia direito do que se tratava, ouso dizer que eles não tinham ideia, mas se era ordem de Voldemort deveria ser cumprida sem questionar. O fato é que alguns anos depois que Voldemort sumiu, eles deram início ao plano, eu não sei em que circunstâncias ele e a mãe chegaram ao poder dos comensais. Mas pra resumir a história, o professor Snape ficou responsável por garantir o bem estar do menino e de alguma forma uma coisa levou a outra e o impensável aconteceu

- O pirralho começou a chamá-lo de pai - Draco diz sem conter o estarrecimento

- Não apenas isso, Draco – Dumbledore diz – esta criança mostrou ao professor Snape que ele também podia ser amado, que ele merecia ser amado sem reservas, sem títulos de professor ou comensal da morte, e ele se apegou a esta criança e fez de tudo para que a sua existência fosse a mais normal possível, é claro sem deixar de cumprir as suas funções de espião

- E como eles vieram parar no castelo? – Draco não resiste a tentação de interromper e perguntar

- A versão resumida é que quando ele percebeu que a hora estava chegando, o professor Snape deu um jeito de fazer com que eles viessem para o castelo – Dumbledore diz – antes da minha morte, eu prometi a ele que os acolheria quando chegasse a hora e deixei instruções para Minerva a esse respeito e depois que houve um ataque a Hogsmeade eles pediram abrigo aqui em Hogwarts, eu acho que este ataque foi planejado por Severo para que eles pudessem vir, mas enfim eu só posso supor

Draco fica em silêncio por um momento, ele quer muito fazer mais uma pergunta e não sabe se será respondido, o loiro sente que estará entrando em um terreno que não lhe diz respeito, mesmo assim ele não resiste:

- Desculpe professor, mas eu preciso perguntar a respeito da sua morte...

- Sinto não poder dar detalhes sobre isso, Draco – o quadro o interrompe – mas posso garantir a você que o professor fez o que tinha que ser feito e que ele se culpou até seu último dia. Eu desejo a você uma boa viagem e espero o seu retorno para concluir o ano letivo. Eu tenho certeza que muitas pessoas poderão testemunhar que você foi imprescindível para a derrota de Voldemort

Draco assente com a cabeça sabendo que a conversa acabou. Embora nem tudo tenha sido respondido, a conversa com o quadro de Dumbledore lhe deu o alento necessário para que ele faça o que tem que ser feito...

XXXXX

De volta ao momento atual

- Tudo pronto? – Draco ouve a voz suave da mãe perguntando

O loiro assente com a cabeça – eu não queria ir agora, mas...

- Sim, eu sei – Narcisa assente, compreensiva – você precisa fazer isso – ela se aproxima do filho – eu não tenho palavras pra expressar o orgulho que eu sinto

- Obrigado, mãe – ele diz – eu não teria conseguido sem o seu apoio. Onde está o Adrian? Eu quero me despedir dele

- Em algum lugar da cozinha, amolando os elfos – ela diz, mas seu tom de voz e seu olhar mostram que ela não está chateada – ele vai sentir sua falta, mas vai ficar bem

- Eu sei que vai, você vai estar com ele, então como não poderia ficar bem? – Draco diz e recebe um sorriso da mãe. Ele compartilhou com Narcisa a história do pequeno e a sua vontade de ficar com ele, o que ela prontamente concordou – mas se o pirralho der mais trabalho do que o esperado...

- Uma criança de cinco anos? – ela sorri – eu sei perfeitamente como lidar com isso – seu olhar se perde no vazio por um instante – e desta vez sem tantas regras rígidas

Draco sorri. Ele sabe exatamente do que a mãe esta falando. Ele não pode dizer que teve uma infância, era impossível ser criança e atender aos padrões rígidos de Lucio Malfoy – tenho que ir agora – ele diz – a lareira vai estar liberada apenas por alguns minutos – ele vê a mãe assentir com a cabeça – volto para a audiência

Narcisa assente com a cabeça enquanto recebe o beijo do filho. É um novo começo para ambos...

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NOTA DA AUTORA

Desta vez demorei um pouquinho mais, mas continuo com o firme propósito de concluir (finalmente) esta fic. Espero que este capítulo tenha esclarecido alguns pontos, sei que não teve nada do estado do Harry, mas ele é importante pra deixar algumas coisas mais claras. Espero que tenham gostado

Bjos e até o próximo

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