Novo ano, Novas Caras

CAPÍTULO 2

 

NOVO ANO, NOVAS CARAS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Estação Ferroviária King’s Cross, na manhã seguinte.

 

Em duplas, para não chamarem a atenção, todos atravessaram a barreira mágica e foram parar no lado bruxo da estação, na Plataforma 9 ½. Os adultos logo trataram de etiquetar e despachar as bagagens, tomando o maior cuidado com as corujas de seus filhos. Aliás, todos eles tinham ótimas aves. Tiago e Lílian tinham corujas-das-neves, filhotes de Argonauta com outra da mesma espécie, respectivamente batizadas de “Yojimbo” e “Yamabushi”. A de Narcisa chamava-se “Spitfire”. Mafalda dera à sua o nome de “Blackjack”. Julius tinha uma coruja cinzenta, que chamava de “Sagittaria”. Randolph e seu pai haviam acabado de colocar sua coruja “Gladius”, no vagão de animais e bagagens. Por último, Derek havia deixado com o encarregado a coruja de Sabrina, de nome “Bóreas”.

Logo depois, chegaram Cho, Luke e Sun-Li, acompanhados de Duda, Lilá e Simone e de Pansy, Fabian e Fernanda. As crianças logo juntaram-se, observando o embarque e prestando atenção no jeito de outros calouros, muitos dos quais mostravam-se apreensivos e até mesmo meio assustados com o que o futuro lhes reservava, sentindo o peso da responsabilidade que era terem sido chamados para realizarem seus estudos de magia em Hogwarts.

_Bem, crianças, é hora de irem para suas cabines. Como vocês são muitos, deverão ocupar duas delas. Elas são lado a lado, no vagão número 5. Só não façam muita bagunça, sim? _ pediu Harry.

_Pode deixar, Tio Harry. _ disse Mafalda _ prometo que iremos nos comportar.

_Sei, sei, garotinha espertinha. Parece até o código de ativação do Mapa do Maroto. _ o jeitinho angelical da sobrinha não convencia Harry de jeito nenhum.

_O que o senhor está dizendo, papai? Mapa do quê? _ perguntou Lílian.

_Nada, minha filha. Nada. _ Harry quase falara sobre seu mapa secreto de Hogwarts _ Pode ir, querida.

Assim que ela embarcou, Draco aproximou-se.

_Quase, hein? Quase que você falou sobre o Mapa do Maroto.

_Foi por pouco, Draco. Eles ainda não podem saber sobre aquele mapa, é muito cedo.

_Realmente. Já pensou se eles tomam conhecimento de um mapa de toda Hogwarts?

_Inclusive com as passagens secretas. _ disse Gina, que acabara de aproximar-se.

_Eles iriam aprontar muuuiiiito. _ comentou Janine.

 

Localizando as cabines das crianças, seus pais aproximaram-se para as despedidas finais.

_Cuidem-se. _ disse Cho.

_Não queremos receber muitas corujas. _ disse Duda.

_Não se preocupe, papai. _ disse Simone _ Não vamos aprontar.

_Mesmo porque não vai faltar gente para ficar de olho em nós, a começar pelos meus pais. _ disse Tiago _ Pode ficar tranqüilo, Tio Duda.

_Será que ele pode acreditar em vocês? _ perguntou Gina, com um olhar matreiro para sua filha.

_Ora, mamãe, mas é claro que sim. _ disse Lílian e sua mãe teve, novamente, a impressão de ver auréolas sobre as cabeças de seus filhos. Só impressão.

_Qualquer coisa, estaremos no vagão dos professores. Se precisarem de algo, chamem por nós. _ disse Hermione.

_E para quê? _ perguntou Mafalda, com um olhar que a deixava parecidíssima com sua mãe.

_Sim, Tia Mione. _ disse Narcisa _ O que poderia acontecer durante a viagem?

_Garotinha, garotinha. Entrou de clandestina em uma aventura e já se acha uma veterana em combates. _ disse Janine, olhando sério para sua filha.

_Ora, mana, Tio Harry tinha a nossa idade quando enfrentou Lord Voldemort. _ disse Sabrina.

_Você está se esquecendo de que eu escapei por pouco, Sabrina. Ele não estava com poder total. _ disse Harry. Ao seu lado, Mason concordou, com um aceno de cabeça.

_Se vocês se meterem em encrencas, de um jeito ou de outro nós ficaremos sabendo. _ disse Mason.

_Tratem de utilizar rédea curta nessa galerinha metida a esperta, professores. Olho neles! _ brincou Draco, despedindo-se de Janine, com um beijo.

_Deixem conosco. _ disseram, em coro, Harry, Gina, Janine e Hermione, correndo para embarcarem no vagão dos professores. O Chefe de Estação já havia apitado e o Expresso de Hogwarts começava a mover-se. Logo mais, um novo ano letivo teria início.

 

Os Novos Marotos mais velhos estavam em outras cabines, mas sempre davam uma passadinha para cumprimentarem os amigos, principalmente Francine. A garota era Monitora da Grifinória. Entre risos, partidas de Xadrez de Bruxo, Snap Explosivo e muita música e conversa, as crianças divertiam-se, enquanto o trem passava pelas belíssimas paisagens do seu trajeto, rumo a Hogsmeade. Mesmo que as cabines fossem magicamente ampliadas, havia sido necessário utilizar duas para acomodar todos eles, com alguma folga. Lógico que haviam dado um “jeitinho mágico” para abrirem uma comunicação entre as cabines (os Novos Marotos já começavam a aprontar). E foi então que, na cabine onde estavam Tiago e Lílian...

_Com licença, podemos ficar aqui, com vocês? As outras cabines estão totalmente lotadas e não temos onde ficar. Estas são as últimas onde ainda há algum espaço. Vocês não se importam? _ ouviu-se a voz meio hesitante de um garoto, falando o Inglês com um certo acento da Europa Oriental.

_Com certeza vocês podem ficar conosco. _ disse Tiago _ Sempre cabe mais um ou, no caso, dois. Podem entrar e sintam-se à vontade. Aqui, todos são amigos e não há lugar para desarmonia. Juntem-se a nós.

O casal entrou. Eram gêmeos, bastante parecidos, embora não idênticos. De estatura mediana, seus cabelos, assim como seus olhos, eram negros e brilhantes. Sua pele era morena-clara e suas roupas lembravam uniformes militares. Deixaram-se ficar perto da porta da cabine, com expressão ao mesmo tempo tímida e pesquisadora no olhar.

_Sejam bem-vindos às nossas cabines. Meu nome é Lílian. Lílian Janine Weasley Potter. Este, que falou com vocês, é meu irmão gêmeo, Tiago Sirius Weasley Potter. _ disse a garota, apertando as mãos dos dois e levando-os para serem apresentados a todos os outros.

_Mafalda Granger Weasley.

_Randolph Harry Tonks Lupin.

_Narcisa Virgínia Vargas Sandoval Malfoy.

_Sabrina Luna Vargas Sandoval Mason (e deu um olhar de secar planta em direção a Narcisa, quando ela disse “Minha tia”, em resposta ao olhar de interrogação dos gêmeos Nero, devido à semelhança dos longos sobrenomes das duas garotas).

_Julius Derek Lovegood Longbottom.

_Simone Parvati Brown Dursley.

_Fernanda Astoria Parkinson Sheldrake.

_Sun-Li Chang Donovan.

_Muito prazer em conhecer todos vocês. É uma honra dividir a cabine com os filhos do mundialmente famoso Harry Potter e de seus amigos. Lá de nossa terra todos nós acompanhamos os seus feitos, primeiramente contra Lord Voldemort e seus Death Eaters e, posteriormente, contra esses novos bandidos bruxos, denominados Círculo Sombrio.

_E de onde vocês dois são? _ perguntou Simone, intrigada com o sotaque dos gêmeos e com suas roupas, típicas dos colégios dos tempos da Cortina de Ferro.

_Somos da Moldávia, mais precisamente de sua capital, Chisinau.

_Bem longe, hein? _ perguntou Sabrina.

_Sim, bastante longe. _ respondeu a garota _ Embora também tenhamos recebido as cartas de Durmstrang, viemos para Hogwarts, pois sabemos da excelência da escola.

_Sentimo-nos honrados por termos recebido a carta da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. _ disse o garoto _ Mas, para que não nos julguem indelicados, permitam que nos apresentemos. Esta é minha irmã, Mirela. E eu sou Mariel. Mariel Nero.

_Seu sobrenome é italiano. _ disse Randolph _ Bastante inusitado encontrar um sobrenome assim em alguém vindo da Moldávia.

_Todos comentam isso. _ disse Mirela _ Na verdade, nossos ancestrais são italianos, austríacos e bucovinos, embora a Bukovina já não mais exista como nação.

_Mas nascemos na Inglaterra, é o que nos disseram. Nossa mãe morreu, depois do parto e fomos criados por parentes, em Chisinau, desde que tínhamos poucos dias de vida. Creio que foi por esta razão que recebemos a carta de Hogwarts, além da de Durmstrang.

_Vocês têm alguma idéia de para qual Casa serão selecionados? Têm preferência por alguma? _ perguntou Sun-Li.

_Na verdade, sequer sabemos a qual ou quais Casas pertenciam os nossos pais, jamais nos disseram isso, não sei por quê. _ disse Mariel.

_E vocês têm ancestrais italianos, austríacos e bucovinos. Mas que combinação mais exótica! _ disse Fernanda.

_Pois é. _ disse Mirela _ Para vocês terem uma idéia, nossos nomes completos são Mirela e Mariel Dort Moldov Nero.

_Todos os lados da família estão representados em seus nomes. Mas que legal! _ exclamou Mafalda _ E como era a vida de vocês, na Moldávia?

_Era bastante boa, Mafalda. _ respondeu Mariel _ Mas já foi bastante difícil, nos tempos da Cortina de Ferro.

_Sim, nossos tios nos contavam como eram as coisas na Europa Oriental, antes do fim do Comunismo e da queda do Muro de Berlim. Ninguém vivia tranqüilo durante os anos da Guerra Fria e os bruxos não eram exceção. _ comentou Mirela, lembrando-se do que os parentes que os haviam criado contavam _ Uma conversa entre mais de três pessoas poderia ser considerada como conspiração. Quer fosse na Romênia, nas antigas Tchecoslováquia e Iugoslávia, Bulgária, Hungria, Alemanha Oriental ou nas antigas repúblicas que pertenciam à extinta União Soviética, o clima era de permanente sobressalto. O povo via um espião do regime em cada sombra, ninguém confiava inteiramente em ninguém. Parecia até o clima dos Dias Negros.

_Agentes da Polícia de Segurança do Governo entravam até mesmo em festas infantis, caso achassem que servia de cobertura para atividades suspeitas. Devia ser um terror. _ disse Mariel.

_Não havia liberdade de expressão. _ disse Mirela _ Os jornais só veiculavam as notícias que interessavam ao regime. Música, livros, roupas, quaisquer produtos ocidentais eram proibidos de entrar nos países, por serem considerados símbolos de “Um Capitalismo Decadente”. Jeans eram artigos de contrabando e quem fosse pego vestindo um, era “convidado” a prestar esclarecimentos à polícia. Quando voltava, era sem as calças.

_Mas os membros do Partido viviam na opulência. Para eles, havia de tudo. Está certo que os conflitos da Bósnia, Chechênia, Geórgia e muitos outros foram posteriores à queda do Muro, mas a vida está bem melhor, desde então. Mesmo que, na verdade, o Comunismo não tenha acabado totalmente, só mudado de nome. Gorbatchev e Yeltsin não viveram para verem no que seu sonho de “Glasnost” e “Perestroyka” acabou se transformando. _ comentou Mariel, com um suspiro.

_Faço uma idéia, pelo que li nos livros de História dos trouxas, quando estudamos na Escola Lady Diana, até a quarta série do Fundamental. Os governantes russos, embora alegassem não mais serem adeptos do Comunismo eram e ainda são, em grande maioria, egressos do antigo “Komitet Gosomdarstvennoy Biezopasnost”, o Comitê de Segurança do Estado, a extinta (?) KGB. _ disse Tiago.

_Pois é. _ concordou Mariel _ Tudo como nos velhos tempos. O Presidente dos EUA na época, George W. Bush, usava no seu pulso um modesto Timex de cinqüenta dólares, enquanto o seu correspondente russo, Vladimir Putin, ostentava um Patek Phillippe de mais de trezentos mil. O mal não é destruído, só muda de nome. Vocês devem saber muito bem, principalmente vocês dois, Tiago e Lílian, já que seu pai era Coordenador de Operações dos Aurores, antes de licenciar-se e tornar-se professor em Hogwarts. Aliás, uma atividade não muito menos perigosa, pelo que ouvi dizer e posso confirmar, vendo a turminha que está indo para lá, neste ano.

Todos caíram na risada, com o comentário de Mariel Nero. Realmente, a vida dos professores de Hogwarts não era nada fácil, principalmente com os Novos Marotos.

 

No decorrer da viagem os gêmeos Nero, que inicialmente haviam mostrado-se tímidos e deslocados, já estavam ambientados com os novos amigos, parecendo que todos conheciam-se há tempos.

 

Mas parecia que nem tudo seriam flores naquela viagem.

 

Pouco depois do carrinho de lanches passar e os Novos Marotos, com seus novos amigos, haverem se servido e começarem a trocar os cards dos Sapos de Chocolate, a porta abriu-se e um garoto magro, acompanhado de outros dois mais corpulentos, enfiou a cabeça para dentro da cabine e reclamou:

_Ei, vejam se param com essa algazarra! Tem gente querendo cochilar na cabine ao lado, pô!

O garoto era magro, com cabelos loiro-escuros, um nariz comprido e os dentes incisivos superiores salientes. Os dois que o ladeavam, faziam o característico tipo “Guarda-Costas-Forte-e-Burro”, que nossos amigos já conheciam. Sua voz era meio guinchosa e extremamente irritante. E o pior é que estava dizendo besteiras, pois os Novos Marotos haviam colocado Feitiços de Isolamento Acústico nas cabines que ocupavam. Sua atitude era motivada por pura inveja da diversão de um grupo harmonioso. E Tiago fez questão de deixar isso bem claro.

_Para começo de conversa, “Cara-de-Furão”, com os nossos Feitiços de Isolamento Acústico, poderíamos detonar um tablete de C-4 nestas duas cabines que a explosão não seria ouvida na cabine ao lado. Bem, também não sobraria muita coisa delas, é claro. Se bem que, olhando para a sua cara e para as caras de camioneta batida dos seus namo... digo, amigos (risos), estou em dúvida sobre se algo semelhante já não aconteceu com vocês três (mais risos). Realmente, Deus e Merlin privilegiaram pouco a algumas pessoas, no quesito aparência.

_Ora, seu... _ começou a dizer o garoto, mas Tiago o interrompeu.

_Ainda não terminei com você, Dentuço. Como eu já disse, não há como ouvirem o que se passa aqui dentro. Além disso, eu estive prestando atenção em vocês, lá na Plataforma 9 ½ e vi que estavam lançando Feitiços de Coceira nos outros garotos e levantando as saias das garotas com Feitiços de Vento. Ora, os últimos que tentaram isso, pelo que sei, fizeram-no quando meu pai estava no sétimo ano e terminaram sua travessura pelados e dependurados, por cortesia dele e de seus amigos. Não creio que vocês estejam interessados em pagar esse mico, terminando da mesma maneira, em um trem lotado. Por último, vocês não estão agradando e, se não sabem comportar-se de maneira civilizada, não são bem-vindos a estas cabines, onde a galera só está querendo se divertir, sem prejudicar ninguém. Portanto, SE MANDEM!

_Pô, cara, não precisava radicalizar! _ disse um dos grandalhões e o outro concordou, com um aceno de cabeça.

_Pois é. Na verdade, viemos reclamar que vocês acabaram com quase tudo do carrinho de lanches! _ disse o “Cara-de-Furão”, meio amolado.

_Sinto muito, cara. Não temos culpa se o nosso grupo é grande. Mas, para que não saiam de mãos vazias, levem alguns chocolates. _ disse Tiago, entregando algumas barras de chocolate ao garoto.

_Tiago, esses choc... _ ia dizendo Lílian, mas Sun-Li fez sinal para que ficasse quieta.

_Valeu, Arrepiado. _ disse o garoto saindo, ladeado pelos dois armários, um sorriso desagradável pairando nos seus lábios, tipo “Beleza. Ainda consegui extorquir uns chocolates daquele patetinha, que deve ter ficado com medo de mim e dos meus amigos”.

_Não tem de quê, Dentuço. _ disse Tiago, com uma expressão neutra no rosto, que tornou-se um estranho sorriso, assim que o trio de babacas fechou a porta da cabine e saiu para o corredor.

 

Dali a pouco, os três desagradáveis garotos andavam pelo trem, suando em bicas e sentindo o corpo quente, exibindo feios furúnculos pelo corpo e com as bocas estranhamente fechadas, como se os maxilares estivessem grudados. Por onde passavam, eram motivo de riso e de comentários.

_Credo!

_Mas que caras horríveis!

_Parecem ter saído de um filme de terror Classe “B”.

_Não, Classe “C”. Roger Corman tinha mais gosto.

_Parece que Tiago Potter e os Novos Marotos fizeram mais uma, digo, três vítimas. Eu os vi, saindo da cabine dos Potter, com as mãos cheias de chocolates. Deviam ter algo de “especial”, com certeza.

_Bem feito! Eu vi o que eles estavam fazendo, na Plataforma 9 ½.

_Eram eles que estavam lançando Feitiços de Coceira?

_Sim. E também os Feitiços de Vento, para levantar as saias das meninas.

_Então, foi merecido. Viva os Novos Marotos!

_VIVA!!! _ o grito de todos os passageiros ecoou pelos vagões e, no vagão dos professores, Harry olhou para Gina, Hermione e Janine, todos sabendo que os Novos Marotos já haviam começado a aprontar.

 

_O que foi que você deu a eles, Tiago? _ perguntou Mariel _ Lílian ia dizer alguma coisa, mas Sun-Li fez sinal para que ela ficasse quieta. O que era, afinal?

_Um novo produto das “Criações Weasley & Musashi”, um tipo especial de Febricolate, denominado “Febricolate RH”.

_RH? Por quê RH? _ perguntou Simone.

_Ora, Simone, Tia Lilá não lhe dizia nada sobre um certo tipo de chocolate que sempre acabava fazendo a boca grudar? _ perguntou Lílian

_Ah, sim! _ disse Mafalda, que estava ao lado de Simone, rindo a não poder mais, antes de pedir licença para ir ao banheiro e respondendo à pergunta, no lugar da amiga, que só depois pareceu lembrar-se _ Os quadradinhos de chocolate de Rúbeo Hagrid, não é mesmo, primo?

_Exatamente. Esses novos Febricolates, além de provocarem febre e furúnculos, grudam os maxilares de quem os mastiga. Daqui a umas duas horas os “Três Patetas” deverão estar completamente recuperados. _ disse Tiago, consultando o relógio de mergulho Suunto em seu pulso esquerdo, na verdade uma Jóia de Comunicação disfarçada, com a outra parte no pulso da irmã, disfarçada como um Nike feminino.

Mafalda foi correndo para o banheiro. Se continuasse a rir, no estado em que se encontrava, poderia ter uma surpresa desagradável. Logo estava de volta às cabines, antes dando uma olhada nos três monstros que chegavam a assustar as outras pessoas da cabine magicamente ampliada que ocupavam.

 

Naquele momento, o “Cara-de-Furão” estava alimentando desejos homicidas em relação aos Novos Marotos, em especial a Tiago (“Então aquele desgraçado daquele ouriço é Tiago Potter, o filho do professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, o Auror Harry Potter. Pois ele vai arrepender-se de ter mexido comigo, o maldito”, pensou o dentuço, enquanto tentava, sem êxito, desgrudar os maxilares). Como Tiago dissera, a febre, os furúnculos e os maxilares grudados desapareceram, depois de umas duas horas.

 

Certa hora, como quem não queria nada, Harry deu uma passadinha na cabine dos Novos Marotos. Como a noite já estivesse caindo, a galera estava mais quieta, o que não os impediu de recepcionarem o futuro professor de maneira bastante calorosa.

_Muito bem, capetinhas, o que foi que fizeram?

_Como assim, papai? _ perguntou Tiago, de maneira inocente.

_Eu te conheço bem, meu filho. _ disse Harry Potter, olhando bem nos olhos do garoto _ E, como se não bastase, ainda ouvi vários vivas aos Novos Marotos e vi três moleques com furúnculos pelo corpo e maxilares grudados. Você não andou distribuindo Febricolates RH por aí, andou?

_Bem, papai... _ começou Tiago.

_... Para falar a verdade... _ disse Simone.

_... Aqueles três caras foram muito desagradáveis, piores do que o papai, nos velhos tempos, Dindo. _ disse Narcisa.

_Além disso, Tio Harry, eles estavam lançando Feitiços de Coceira e de Vento, lá na Plataforma 9 ½. _ disse Randolph.

_Ah, então eram eles. Eu ouvi mesmo, alguns passageiros comentando.

_Pois é, papai. _ disse Lílian _ E soubemos que vocês pegaram bem pesado com ums caras que fizeram coisa parecida, lá em Hogwarts, no seu último ano.

_Está bem, senhorita espertinha. _ disse Harry, tentando reprimir um sorriso ao lembrar-se do “Pelotão de Fuzilamento” que desaparecera com as roupas de Baddock e Pritchard e do qual até Valérie Malfoy fizera parte _ Seus argumentos me convenceram, mas só porque eu sondei a opinião geral dos outros passageiros. Está bem, eles mereceram. Mas não vão começar a bancar os vingadores, pois poderão acabar perdendo os limites e aí vão acabar perdendo pontos e ganhando detenções. E estejam certos de que, se vocês merecerem, eu as distribuirei com o maior prazer, entenderam? Espero ter sido suficientemente claro (no fundo, estava orgulhoso de seu filho, o qual puxara ao pai e ao avô, nunca deixando uma injustiça sem reparação).

_Sim, papai. _ disse Tiago.

_Vamos andar na linha, papai. _ disse Lílian.

_Não precisa preocupar-se conosco, Tio Harry. _ disse Julius.

_Prometemos que iremos nos comportar, Prof. Potter. _ disse Mariel.

_Você é um rosto novo nesta turminha, meu rapaz. E esta garota também. Como se chamam?

_Mariel Nero.

_Mirela Nero. Somos irmãos gêmeos.

_Vejo que fizeram amizade com eles, mas tomem cuidado. Essa galera adora aprontar pegadinhas contra quem faz malvadezas com os outros. _ disse Harry, sorrindo para o casal de irmãos, vendo seus cabelos e olhos negros e julgando já ter ouvido seus nomes antes, só que não se lembrava de onde _ Parece que o efetivo dos Novos Marotos está aumentando. Sejam bem-vindos e tenham um bom aprendizado em Hogwarts.

Harry apertou as mãos de Mirela e Mariel, naquele momento tendo a sensação de já tê-los conhecido (“Déja vu”, pensou o bruxo). Em seguida, despediu-se e retornou para o vagão dos professores, ainda tentando lembrar-se de onde foi que havia visto aqueles brilhantes olhos e cabelos negros. E de onde já havia ouvido aqueles nomes.

 

Já era noite, quando o Expresso de Hogwarts parou na Estação Ferroviária de Hogsmeade, com um ranger de metal dos freios. Todos desembarcaram, os alunos já com suas vestes de Hogwarts, os do primeiro ano com gravatas pretas, com o brasão da escola. Os adultos logo tomaram seus coches, puxados por Testrálios, rumo ao castelo. Os Monitores supervisionavam o desembarque dos alunos e, certa hora, ouviram uma voz forte, que os chamava:

_Alunos do primeiro ano! Venham por aqui, alunos do primeiro ano!

Todos voltaram-se para a direção de onde vinha aquela voz e os Novos Marotos gritaram em coro:

_HAGRID!!! _ o meio-gigante sorriu ao ouvir as vozes daquela galerinha, que tratou de cercá-lo e abraçá-lo.

_Eu estava esperando pelo dia que veria vocês saindo daquele trem e me acompanhando, assim como seus pais e avós fizeram antes de vocês. Não imaginam como isso me deixa feliz. E ao mesmo tempo meio preocupado, porque eu sei que vocês saíram a eles.

_Não se preocupe, Hagrid. Prometemos que não iremos causar muitos problemas. _ disse Mafalda.

_Depois daquela, em que vocês pegaram carona nas Chaves de Portal de seus pais e acabaram lutando contra os bandidos do Círculo Sombrio, lá no México? Faz de conta que eu acredito, garotinha. _ disse Hagrid _ E olha que você é filha da Mione. Bom, se bem que também é filha do Rony e os Weasley já me deram um trabalhão.

Olhando para os gêmeos Nero, que estavam junto com os Novos Marotos, Hagrid sorriu por trás da barba e disse:

_E vocês estão junto com eles desde o trem, não estão? _ os irmãos concordaram, com acenos de cabeça _ Se vocês estão em companhia deles, só podem ser boa gente. Essa turminha endiabrada aqui, além dos outros Novos Marotos que já são alunos de Hogwarts, são algumas das melhores crianças que eu já conheci e olha que eu já vi muitas turmas passarem por Hogwarts, desde que estou por aqui.

Rúbeo Hagrid parecia não haver mudado nada, exceto pela barba e cabelos, agora menos desgrenhados e pelas vestes, menos rústicas ao recepcionar os calouros. Fora isso, não via-se um fio de cabelo branco sequer no enorme homem e seus olhos, expressivos e brilhantes como besouros negros, continuavam a irradiar a franqueza e simpatia que haviam conquistado a amizade dos Marotos, dos Criadores de Confusão, dos Inseparáveis e, agora, dos Novos Marotos. Acumulando as funções de Guarda-Caça e de Professor de Trato das Criaturas Mágicas, era casado com a Diretora da Academia de Magia Beauxbatons, Madame Olímpia Maxime, também ela uma meio-giganta. Tinham um filho, de nome Ferdinand, afilhado de Ferdinand Malfoy, primo de Draco e filho de Jacques, que vivia em Portugal. O garoto passava mais tempo com sua mãe, na França, embora Hagrid procurasse estar com eles o mais que podia, trazendo-os ou indo passar algum tempo com eles, na França. Afinal, como ele próprio havia dito, “As lareiras de Hogwarts e de Beauxbatons eram bem grandes”. Era ele quem capitaneava a flotilha de barcos mágicos que, tradicionalmente, conduzia os alunos do primeiro ano através do Lago Negro, até o ancoradouro, pois todo aquele que ia a Hogwarts pela primeira vez e não usava uma Chave de Portal ou lareira, fazia-o de barco.

Os alunos desceram até o ancoradouro e embarcaram, quatro em cada barco. Coincidiu que, ocupando o mesmo barco, ficaram Tiago, Lílian, Mirela e Mariel. Durante a viagem, continuaram a conversar.

_Como assim “Já vi muitas turmas passarem por Hogwarts”? Que idade tem Hagrid? _ perguntou Mirela.

_Bem, sendo meio-gigante, Hagrid herdou parte da longevidade deles. Ele já era Guarda-Caça em Hogwarts, quando nossos avós, dos quais herdamos os nomes, foram alunos. _ disse Tiago.

_Hagrid..., Hagrid..., espere! Não foi ele quem foi acusado de haver aberto uma Câmara Secreta em Hogwarts e libertado um monstro? E que, por aquilo, foi expulso e retornou para trabalhar, pois Dumbledore lhe ofereceu o posto de Guarda-Caça? E que, muitos anos depois, foi o seu pai que limpou o nome dele? _ perguntou Mariel.

_Exatamente, Mariel. _ respondeu Lílian _ Ele e Tio Rony salvaram a vida da mamãe. Papai lutou contra um basilisco e eles resolveram o mistério da Câmara.

_Lá na Moldávia nós não ficamos sabendo sobre todos os detalhes do caso. Parece que não foi publicado em “Hogwarts, uma História” ou o volume não chegou até nós. Bem, nem todos os volumes chegavam até lá. Parece que ainda resta uma censura velada à literatura ocidental. Mas alguns rumores persistiram e soubemos de alguma coisa, através de bruxos que viajavam para lá. _ disse Mariel _ E ninguém nos disse quem, realmente, havia aberto a Câmara Secreta da primeira vez.

_Da primeira vez foi Lord Voldemort. _ disse Lílian _ Ele era aluno do sétimo ano e conseguiu incriminar Hagrid, que estava no terceiro.

_Da segunda vez, um livro que continha um fragmento de sua alma foi colocado no material da mamãe, que estava iniciando em Hogwarts naquele ano.

_Quer dizer... uma Horcrux? _ perguntou Mirela.

_Sim. Mas como é que vocês sabem sobre Horcruxes? _ perguntou Tiago, espantado com o fato dos gêmeos Nero terem conhecimento de algo tão maléfico e avançado.

_Um bruxo tentou fazer uma, lá em Chisinau. Só que errou o feitiço e deu uma baita zebra. Os Aurores não conseguiram recolher muita coisa do cara, para que a família pudesse sepultá-lo. E então, a tal Horcrux foi colocada no material de sua mãe, Lílian?

_Sim, Mirela. E aquele livro amaldiçoado acabou possuindo-a, fazendo com que ela abrisse a Câmara e, daquela vez, Voldemort quase voltou. Ocorreram vários casos de petrificação e papai foi suspeito de ser o herdeiro de Salazar Slytherin, que havia ido fazer uma “Limpeza Étnica” na escola, eliminando os nascidos trouxas.

Lílian e Tiago passaram a viagem contando a Mirela e Mariel os acontecimentos do segundo ano de seu pai em Hogwarts.

_Uau! _ comentou Mirela _ E ele fez tudo aquilo aos doze anos?

_Sim. _ disse Tiago _ O mistério foi resolvido e, mais uma vez, Voldemort foi impedido de retornar.

_E foi Lucius Malfoy quem colocou o diário de Voldemort no material de sua mãe? _ perguntou Mariel.

_Exatamente. Naquela época, Tio Draco ainda agia como inimigo do papai, mas mandou uma carta para a mamãe, avisando-a do perigo. Hoje, são todos grandes amigos e Lílian é afilhada deles.

_Claro, “Lílian Janine”, agora estou ligando as pontas. _ disse Mirela, sorrindo para a nova amiga.

_Olhem! Estamos chegando! _ exclamou Tiago.

De fato, a flotilha de botes entrava pelo túnel que dava acesso ao atracadouro subterrâneo. Lá, todos desembarcaram e seguiram Hagrid pelas escadas, até chegarem ao saguão do castelo. Murmúrios curiosos e excitados cessaram, assim que surgiu uma figura no alto da escadaria que dava acesso ao Salão Principal. Era uma bruxa na faixa dos trinta, de cabelos castanhos agora não tão lanzudos quanto eram no seu tempo de aluna, envergando vestes Azul-Royal, com um gracioso chapéu na cabeça e, no pescoço, uma ècharpe cinza-chumbo, na qual refulgia um prendedor com o brasão da Grifinória. Seu olhar era severo, porém amigo e todos calaram-se ante sua presença imponente, sentindo que poderiam confiar suas próprias vidas a ela.

Era a professora de Transfiguração e atual Diretora da Grifinória, Hermione Jane Granger Weasley, que deu uma piscadela disfarçada para sua filha, Mafalda, e então falou:

_Boa noite, alunos do primeiro ano. Sou Hermione Weasley, professora de Transfiguração, encarregada de conduzi-los para a Cerimônia de Seleção. Só tenho a dizer que todos estão de parabéns e que, não importando para qual Casa sejam selecionados, procurem conduzir-se de maneira honrada. Wakarimasu ka?

Aqueles que conheciam um pouco do idioma Japonês do qual os Inseparáveis, por sua formação Ninja, gostavam de utilizar algumas expressões, responderam, em coro:

_Hai, Wakarimasu!!

 

Após aquelas palavras, todos eles seguiram a professora Weasley, em direção ao Salão Principal.

 

A partir dali, saberiam qual das Casas seria a extensão de seus lares, pelos próximos sete anos.

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