Dia dos Namorados
A Estação estava apinhada de gente, como em todos os dias. Mas hoje, especialmente hoje, cada uma daquelas pessoas, por menos que eu as conhecesse, me incomodavam. Suas vozes ecoavam na minha cabeça, e não podia compreender nada do que elas diziam. Olhares passavam por mim, mas era como se não me vissem. Isso era bom.
Peguei um caderno que sempre levo comigo, e passei a escrever.
“Pensamentos avulsos para o dia dos namorados, 2008.
Hoje é um dia inventado pelos fabricantes de cartões para fazerem as pessoas se sentirem como bosta.”
Senti uma súbita vontade de sair dali. Não sei por que, mas precisava ir embora urgentemente. Dane-se o trabalho!, pensei. Saí correndo no meio das pessoas, e fui para um outro lugar.
“Matei o trabalho hoje. Peguei um trem para Hogsmeade. Não sei por quê. Não sou uma pessoa impulsiva. Só acho que acordei com a pá virada.
Tenho que consertar o meu carro.”
Ao chegar à Estação de Hogsmeade, liguei para o trabalho. Não custa nada avisar, certo?
- Olá, Pansy? É o Draco. – ela não me ouviu. – DRACO! – quase gritei. – Não me sinto bem hoje, então não vou ao trabalho, ok?
Ela perguntou o que havia de errado.
- Isso não é da sua conta! – desliguei o telefone.
Sempre fui uma pessoa rude. Sou assim desde que me conheço por gente, e sou assim com qualquer um.
Andei até a praia de lá. Também não sei por que, não gosto de praias.
“Está frio pra burro nessa praia. Hogsmeade em fevereiro. Brilhante, Draco.”
Ao virar a página do caderno, percebi que haviam muitas arrancadas. Não me lembro de ter feito isso. Parece que esta é a primeira vez que escrevo em dois anos.
“A areia não é grande coisa. Só umas pedrinhas bem pequenas.”
Andei até a beira do mar, e fiquei observando o Sol, escondido atrás das nuvens. E então, eu vejo que uma outra pessoa está lá. É uma menina, pude constatar, à medida que ela se aproximava. Usava um casaco laranja, e seus cabelos eram azuis.
Estranho. – pensei. – Diferente.
“Se pelo menos eu conhecesse alguém novo. Acho que as chances disso acontecer são mínimas, visto que sou incapaz de tratar bem alguém que não conheço. Ou até quem conheço. Talvez eu devesse voltar com a Pansy. Ela gostava de mim, e faz tudo o que peço.”
Caminhei até uma casa de tijolos azuis e bem sujos que havia no fim da praia. Uma casa bonita, dois andares. Eu podia ver o seu interior pelas grandes janelas. De alguma maneira, aquilo me parecia familiar. Apesar de eu nunca ter estado ali antes.
Saí dali. Não gostava de estar ali. Sentia uma sensação estranha, e minha cabeça doía mais do que nunca.
Caminhando pela pequena cidade, vi uma lanchonete de esquina. Simples, mas parecia limpa. Entrei, e me sentei numa das cadeiras estofadas, pedi um café.
Lá estava ela. Estava lendo um livro, parecia compenetrada. Fiquei observando-a. Seu casaco laranja extremamente chamativo, e seus cabelos azuis mais chamativos ainda. Mas o que me chamou a atenção de verdade foram as raízes de seu cabelo. Eram ruivas, laranjas quase. Acho que ela precisa retocar a tinta. – isso foi sarcástico.
Continuei a olhar, sem desviar os olhos, sem piscar. Até que os olhos dela se encontraram com os meus, e me senti sem reação. Olhos cor de chocolate.
Lançou-me um sorriso, que não consegui corresponder. Não sei se pela surpresa, ou se porque eu mesmo não era muito habituado a sorrir. Rapidamente ela voltou sua atenção ao livro, me deixando com cara de idiota. Eu odeio essas situações. Peguei meu caderno novamente.
“Por que me apaixono por todas as mulheres que vejo que me dão um mínimo de atenção? Não, não me apaixono. Mas me encanto, é verdade.”
Voltei à Estação, tinha que ir para casa. E lá estava ela. Maldita perseguidora!
Ela me olhava, e sorria. Eu não conseguia sorrir. Me escondia atrás de uma pilastra, e lá estava ela, do lado oposto da Estação, me olhando. Eu voltava, e ela estava lá de novo. Não consegui reprimir um sorriso torto, quando ouvi uma risada divertida dela. Sim, um sorriso bem torto. Eu não sabia sorrir.
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