Voltando Ainda Melhor
2ª Temporada
Hermione Granger ainda melhor
Capítulo I
Voltando ainda melhor
Eu tinha certeza que já era dia, podia ver mesmo com os olhos bem fechados. Não queria abri-los agora, queria mais vinte horas de sono. Acho que ainda estava de ressaca. A claridade invadiu meu quarto rebatendo numa blusa rosa chocante e depois no meu rosto. Que agradável e doce modo de acordar alguém. Nove horas, ouvi alguém gritar. Dane-se que eram nove horas da manhã. Ontem, há essa hora, eu ainda estaria acordada enchendo a cara com as minhas amigas trouxas; nem pensaria numa cama.
Dor de cabeça. Outra coisa que estava me atormentando levemente assim como meu gato lambendo os meus pés descobertos. Se eu não tivesse compaixão, teria lhe dando um chute que pararia a três quilômetros desse quarto. Merlin, o que eu fiz?! Detesto amnésias alcoólicas, fico pensando no que eu fiz e falei enquanto estava bêbada. Nove horas, mais uma vez gritaram de lá de baixo, minha tia no seu jeito carinhoso de me dar bom dia. E desta vez, pegou o cabo da vassoura e começou a batê-lo no teto, fazendo até meu cérebro tremer.
Ótimo, pegaram meu cérebro e bateram em um liquidificador.
Virei-me na cama e me senti presa, estava com os fones de ouvido. Sentei-me sentindo algo duro em baixo da minha mão e quando eu vejo – ou melhor, escuto – estou no chão com o susto que levei: acabei apertando o play do aparelho e ligado no último volume. Depois dessa, me pergunto se irei ouvir novamente.
Às vezes eu fico tão estranha,
I even freak myself out.
Eu até enlouqueço.
I laugh myself to sleep...
Eu rio de mim mesma...
Its my lullaby.
Essa é a minha canção de ninar.
Ovos, bacon e suco de laranja. Podia sentir o cheiro de lá de cima. Pulei meu edredom jogado grosseiramente no meio do quarto e abri a porta para enfiar minha cabeça para fora e chamar pela minha tia.
- O café tá pronto?? – Gritei bocejando e coçando a cabeça. Meu cabelo estava uma maravilha, eu sei.
- Tá! Desce, - Bocejei sorrindo. - AGORA! – Ordenou numa voz irritada. Meu sorriso minguou e saí do quarto com receio. Meus pés descalços sentiram o frio que estava. Pisando na barra da minha calça azul, parei em frente à cozinha onde estava minha tia dando uma de equilibrista. Eu estava vendo aqueles ovos ir ao chão, mas, com a ajuda dos meus reflexos matinas, impedi esse acidente. – A que horas você chegou ontem, posso saber?! – Estava visivelmente irritada.
Não sei, mas agora ela tinha feito me lembrar da Senhora Weasley. Seu jeito mandão, onde deixaria tudo mas não permitiria uma mentira e alguma pisada na bola. Tinha uma diferença: minha tia era muito mais compreensível do que a mãe Weasley; tinha essas atitudes chatas mas a maioria do tempo, era uma tia que todas pessoas sonham.
Sentei-me no meu lugar habitual e cruzei as pernas colocando-as em cima da cadeira. Prendi meu cabelo com uma caneta que tinha surrupiado da mesinha da entrada e me servi de suco e torradas.
- Estou falando com você. – Parou a minha frente apoiando as mãos com um grande espaço de diferença uma da outra. – A que horas. – Suspirei tomando um gole do suco que ardeu um pouco na minha garganta.
- Precisa de mais açúcar. – Disse tentando mudar completamente de assunto.
Sei, estou sendo infantil mas não é isso que os adolescentes normais fazem quando os responsáveis descobrem tudo?
- Hermione Jane Granger, não me faça- - Rolei os olhos e me levantei indo até a geladeira e pegando o pote de geléia de morango. – perder a paciência.
- Que horas a senhora quer ouvir, tia? – Estava lhe dando condições para minhas desculpas.
- Quer mesmo saber? – Sentou- se a minha frente e começou a se servir também. – Fiquei acordada até a uma da manhã te esperando, isso porque você disse que chegaria a meia noite porque no outro dia você tinha que ir para a escola! – Estava mesmo irritada. – Irei perguntar mais uma vez: a que horas você chegou?
Às vezes eu dirijo tão rápido,
Just to feel the danger.
Apenas para me sentir em perigo.
I wanna scream,
Eu quero gritar,
It makes me feel alive.
Isso me faz sentir viva.
- Três da manhã. – Respondi engolindo seco, passando lentamente a geléia em cima da torrada e rezando para que não comece a dar um escândalo bem no café da manhã. – Mas eu tava com a filha da Margarette e a Aggie que a senhora conhece muito bem.
- E o que vocês estavam fazendo, posso saber? – Mirei meus olhos naqueles ovos gordurentos e recusei pensar em tudo menos nos ovos, estavam embrulhando meu estômago.
Ok, eu poderia muito bem mentir e dizer que estava apenas conversando, quem sabe dançando um pouco, fazendo nada de mais. Mas a verdade era que estávamos enchendo a cara em uma boate que entramos com identidades falsas e para voltar para casa, pegamos carona com os maiores gatos da festa, que é lógico, não conhecíamos.
Esquece, ela nunca irá entender...!
- Conversando, dançando! Ah, tia Josse! – Fiz uma expressão arrependida e triste ainda segurando a faca e a torrada. – É meu último dia de liberdade acadêmica! Depois é mais cinco meses em Hogwarts e- - Hesitei. - independência...
- Ontem, você foi dormir as dez da manhã e acordou oito horas da noite. – Abaixei meu olhar. – Hoje, você chega de madrugada sabendo que tem que viajar o dia inteiro! – Abri a boca para protestar, mas ela não deixou. – Onde está com a cabeça?!
- Em cima do pescoço. – Me olhou mortalmente. – Me desculpe. – Molhei os lábios e, finalmente, depois de uma batalha de geléia e facas, dei a primeira mordida na torrada.
- Tomara que desta vez, não receba cartas falando do seu desempenho escolar. – Aquele pedaço de torrada estava tão delicioso, esperava saboreá-lo tão lentamente que acabei engasgando associando as palavras que saíram da boca de minha tia.
- Co-como disse? – Perguntei me recuperando.
- Eu recebi uma carta de uma tal de Minerva McGotafall-
- McGonagall, Minerva McGonagall. – Corrigi abaixando meu olhar para a toalha de mesa desenhada em flores.
- É, essa mesmo. – Apoiou-se. – Lá estava dizendo que se rendimento caiu significativamente esse último semestre, que você deixou de ser a melhor aluna desde a primeira prova.
Era difícil pensar em Hermione Granger e não pensar em estudos, livros e tudo mais. Mas eu mudei, se esqueceram? Mesmo que eu me desempenhando, eu acabo não dando o devido interesse quando falam em 'estudos'. Os livros, lia por obrigação, não mais por prazer. Achei prazer nas outras coisas fúteis da vida.
- Esse ano tá um pouco difícil, t-tia. – Gaguejei ainda não erguendo meu olhar para aquela Harpia.
A chamava assim pela imagem que cultivei de uma harpia desde pequena. Uma mulher com o rosto fino e pontiagudo, um nariz avantajado e os olhos profundos e claros. Pouco cabelo cobrindo seu rosto e as mãos grandes, como garras que sempre pegaria tudo que estava ao seu alcance.
- Um pouco? – Gargalhou. – Pelo jeito que está indo, deve estar escabroso! – Voltou a rir. – Mas- - Agora a encarei. – não é por causa da Alicia e o John, não é?
Não conseguia soltar um 'seus pais' ou 'minha irmã'. Minha tia não tinha superado, ainda penso se ela fica chorando pelos cantos da casa enquanto fica sozinha.
Logo que cheguei da Ordem, fui até o cemitério. Fiquei sentada na frente do tumulo deles, conversando e contando tudo que estava acontecendo comigo. Era a única doida no meio daqueles mortos naquele frio que estava fazendo. Mas era uma louca com uma causa muito nobre, digo de passagem.
- Não, tia. – Deixei a torrada mordida em cima do prato e dei um profundo gole no suco. – Hã- - Levantei-me. – Tenho que arrumar minhas coisas. – Me retirei da cozinha subindo as escadas rapidamente.
Isso é suficiente para amar?
Is it enough to breathe?
Isso é suficiente para respirar?
Somebody rip my heart out,
Alguém arranque meu coração,
And leave me here to bleed.
E me deixe aqui para sangrar.
Is it enough to die?
Isso é suficiente para morrer?
Somebody save my life!
Alguém salve minha vida!
I'd rather be anything but ordinary, please!
Prefiro ser qualquer coisa menos comum, por favor!
Entrei no quarto deixando Bichento sair. Meu quarto estava uma bagunça só. Passei uma das mãos na nuca indo até o banheiro. Quando voltei, tirei as roupas que tinha jogado em cima do meu malão, o joguei na cama e o abri. Tudo muito antiquado e já usado muitas vezes. Tirei tudo, apenas deixando alguns casacos de frio e o uniforme. Abri meu novo guarda roupa e soquei tudo dentro do malão, me despreocupando com amassados, enroscos ou esgarçar algum tecido. Não, vamos organizar isso senão não irá caber os sapatos.
Sentei-me ao lado da cama e olhei por todo o quarto, deitei na cama lentamente colocando as duas mãos na nuca e abrindo um terno sorriso malicioso. Que Hogwarts me espere ainda melhor.
- Quer que eu te deixe na estação, Mione? – Perguntou trazendo Bichento no colo e o colocando dentro da gaiola.
- Não precisa, tia. – Terminei de colocar minhas luvas. - São só alguns quarteirões, eu irei andando, ou pego um ônibus.
- E irá precisar de dinheiro? – Ergui uma das sobrancelhas e logo ela entendeu. – Oh, me desculpe! Eu esqueço que há outra moeda para vocês! – Sorriu constrangida colocando a mão no meu ombro. – Deixa eu ver você... – Dei uma voltinha sorrindo e abrindo os braços. – Eu achava melhor aquele meu cachecol, o bege com aqueles riscos em rosa... – Analisou.
- Ok, tia, pega lá. – Sorriu e subiu as escadas. Tirei aquele cachecol e o joguei numa abertura que fiz no meu malão, quase explodindo de coisas. Olhei-me naquele espelho bem prático na entrada. Arrumei meus cachos que estava travando uma batalha com a minha aparência e arrumei meu casaco. Tudo combinando, pelo menos eu achava isso.
- Aqui. – Jogou para mim e logo o coloquei. – Perfeito! – Juntou as duas mãos debaixo do queixo e sorriu largamente. – São dez e meia, é melhor você ir indo. – Consenti e sai de casa acompanhada pela minha tia até as escadas que davam acesso ao jardim. Deu-me um abraço e dois beijos na bochecha. – Juízo e seja você! – Acenou já longe.
Peguei o caminho para a King Cross. Do andar de cima, podia avistá-la todas as manhãs. As ruas estavam cobertas pela grossa camada de neve, os carros estavam quase sumindo e o caminhão que retira a neve já tinha passado. As luzinhas de natal ainda piscavam em algumas casas, o silêncio era parte integral daquele bairro calmo. Poderia ficar perto da estação e do centro mas era tranqüilo nessas épocas. Poderiam dizer: o que essa louca está fazendo nesse frio?! É, eu também ando me perguntando.
Hogwarts é mais uma obrigação para resolver assuntos pendentes do que aquela ânsia de continuar estudando e concluir os sete miseráveis anos que tive que passar lá dentro. Não que eu esteja arrependida de ter entrado, de forma alguma, fiz ótimos amigos e descobri muitas coisas freqüentando um mundo que desconhecia. Mas se eu não tivesse aceitado o convite de Dumbledore quando tinha onze anos, muitas coisas poderiam não ter acontecido. Oh, Hermione, esqueça. Se aconteceu, é porque era para acontecer.
Virei numa das esquinas onde agora era só uma grande reta até a estação. Não tinha notado mas nesses últimos meses, o comércio tinha tirado os lugares das nobres casas. Uma dessas novas lojas me chamou atenção. Era uma boutique de roupas e sapatos refinados e bom grado. As luzes estavam acesas mas nenhuma pessoa dentro. Parei em frente e fiquei observando. Os manequins com gorros de natal, as roupas tipicamente de frio, algumas promoções, coisas maravilhosas. Mais adiante, mais lojas e coisas fora de série.
Podia ficar o dia inteiro apenas apreciando mas tinha que pegar um trem bruxo e já estava começando a me atrasar. Atravessei uma grande avenida; No meio de uma das faixas de pedestres, tinha um buraco que não tinha percebido e lá se foi meu pé e meu malão para dentro dele. Tive uma torção que senti até em minha alma. Meu malão tombou para o lado e a gaiola de Bichento acabou escapando e abrindo, fazendo com que o gato assuste com a buzina de um carro que quase o atropela, fugir.
- BICHENTO! – Gritei me levantando do chão com a ajuda de um bom senhor. Peguei a gaiola e meu malão correndo atrás do gato que tinha subido num toldo de uma loja de brinquedos. – Desce daí. – Ordenei mais uma vez. – Se você me fizer perder o trem, te transfiguro numa vassoura!
Estava completamente irritada. Pessoas que passavam por mim estranhavam meu comportamento. Não era para menos! Uma louca gritando para o toldo de uma loja, impondo palavras de ordem.
- Bichento, qual é?! Desce! – Olhei no meu relógio, dez horas e quarenta e sete minutos. Era motivos o bastante para dar um fim nesse gato maldito. – BICHENTO! DESCE AGORA DAÍ! – Olhei dos lados sob comentários, pedi emprestada uma vassoura de uma mulher que varria o tapetinho de entrada da sua loja e comecei a bater no toldo me segurando para não usar a varinha. Bichento pulou de lá e ficou do lado do meu malão. – Muito obrigada, senhora. – Sorri entregando a vassoura para a pobre mulher assustada. – Seu gato feio. – O peguei e o enfiei dentro da gaiola. A prendi com toda minha força em cima do meu malão e voltei a pegar meu caminho, só que agora estava correndo. Por sorte peguei uma bota que não tinha nenhum salto, só era desconfortável porque você sentia seu pé esparramado.
Ao entrar na estação, atropelei a maioria das pessoas pedindo licença e muitas vezes me desculpando. Plataforma seis. Corria, corria, estava ofegante, olhava em meu relógio e denunciava o minuto que tinha antes de perder o trem. Sete. Não chegava, olhava para trás e para frente constantes vezes a fim de encontrar alguém também atrasado. Oito. Bichento miou alto. Nove. Parei no meio das colunas nove e dez respirando fundo. Olhando dos lados, fechei os olhos e corri para poder passar.
Passando Plataforma 9 ¾, levei um susto. O trem apitou mas já estava em movimento. Comecei a correr atrás dele, passando entre os pais emocionados em deixar seus filhos no trem para mais um semestre longe deles, mas essas pessoas acabaram me atrasando ainda mais. Parei no final da plataforma, onde não daria mais pé para conseguir alcançar aquele trem. Caí nos ombros e fechei os olhos movendo minha cabeça para os céus. Minha vontade era xingar tudo e todos.
- Mas que merda, Tonks vai me matar... - Parei ao ouvir meu nome.
- Como você adivinhou?! – Era Tonks no seu digníssimo humor. Parou atrás de mim cruzando seus braços e mudando seu cabelo de verde para vermelho num piscar de olhos. – Você não disse que embarcaria sozinha e que não era para nós nos preocupar?!
- A culpa é toda desse ga- - Esticou a mão para que eu não continuasse. – Mas é que-
- Não quero saber, Ok? – Massageou uma das têmporas e pegou meu malão e a gaiola. – Vamos. – Não questionei, apenas a segui.
Voltando a Londres-Trouxa, me assusto com Moody e metade do seu rosto com curativos.
- Tenho orgulho de você. – Deu dois tapinhas nas minhas costas e voltou a andar.
- Por que, senhor? – Perguntei indo ao seu lado.
- Mesmo dia após dia, mês após mês se metendo em encrencas e se ferrando a maioria das vezes, não desiste e nutre um sorriso no rosto! – Tonks riu.
- Era para achar graça...? – Ironizei assim como ele, jogou um olhar mortal sobre mim que me calei; Lupin logo se juntou ao grupo guardando seu jornal trouxa debaixo do braço.
- Por que perdeu a hora?
- Bichento acabou fugindo de mim no meio da rua. – Expliquei jogando um olhar sobre Tonks que ainda estava aborrecida. – E como irei para Hogwarts agora? Perdi o trem.
- E como você acha que eu vou a Hogwarts? De trem?! – Tonks riu da sua própria pergunta. – Um lugar em especial, Lupin?
- O Ministério talvez.
- Longe de mais.
- Então, no Caldeirão Furado. – Tonks sorriu.
- Ótimo.
- Posso saber do que estão falando? – Me meti entre eles dois colocando minhas mãos em seus ombros.
- As minhas viagens de Pó de Flu nunca foram muito bem sucedidas. – Levei uma mão a nuca e analisei o trabalho que Tonks estava tendo colocando meu malão e Bichento para dentro da lareira empoeirada.
- E o que você faz na vida que é bem sucedido...? – Perguntou Moody se sentando numa das poltronas.
- Talvez roubar uma merda de um colar para vocês...? – Virei-me no mesmo momento olhando estaticamente aquele velho carrancudo. Lupin limpou a garganta e abaixou-se perto de mim.
- As paredes podem ter ouvidos, Hermione, fale baixo. – Suspirei e dei as costas para Moody que pareceu me imitar. – Você também irá? – Tonks concordou.
- Como ela irá chegar antes do que todo mundo, acho que precisará de alguém pra conversar, sabe? – Sorriu falsamente mesmo eu não tendo entendido. – Vá à frente.
- Eu- - Pegou a minha mão e a enfiou no saquinho de Pó de Flu, peguei um punhado e sob olhares deles, entrei na lareira. – Olha, se não der certo, eu-
- Diga articuladamente, não tem nenhum problema. – Disse Lupin sorrindo. Frio na barriga era pouco, parecia que meu sangue estava apostando uma corrida com meu coração e não estava me fazendo bem.
Cadê meus remédios?! Eu preciso dos meus remédios. Que horror, pareço uma velha caquética falando desse jeito!
- Vá logo, mulher! – Gritou Moody sem paciência.
Comprimi os olhos e respirei fundo.
- Espera- - Adverti abrindo um deles.- O que eu digo? – Tonks caiu nos ombros.
- Ficou loira, emburreceu... – Comentou aquele velho para meu ódio.
- Diga Saguão Principal de Hogwarts ou até a Sala Comunal da Grifinória em Hogwarts, você que sabe... – Explicou Tonks cruzando os braços. – Agora, vá!
- Certo. – Voltei a fechar os olhos e tomei minha confiança. – Sala Comunal da Grifinória! – Joguei o pó no mesmo momento, foi terrível.
Eu detesto viajar pela Rede Flu, isso é fato. Gritei até ter certeza que cairia em algum lugar. Desci chaminé abaixo para cair numa sala que não era a comunal da Grifinória. Fui parada por uma mesa que bati a cabeça quando tentei me levantar.
Estava imunda, não sei porque eu escolhi uma roupa clara. Tossi profundamente passando a mão no rosto e logo depois na roupa. Reconheci os quadros mas visto daquele ângulo, era diferente. Era o escritório de Dumbledore. Pense pelo lado bom, você está nas dependências do castelo, você não foi transportada para uma terceira dimensão, Hermione.
- Senhorita Hermione? – Uma velha voz surgiu atrás de mim.
- Me desculpe chegar sem avisar, professor, é que- - Fez um gesto para que eu me calasse.
- Não, tudo bem, tudo bem. – Acalmou-me. Logo escutamos gritos e um xingamento que poderia constranger qualquer um. Tonks caiu também sendo parada pela mesa e também batendo o topo da cabeça naquela madeira dura.
- Isso não é a Sala Comunal da Grifinória, não mesmo. – Olhou para todos os lados.
- Bom dia, Ninfado- - Colocou uma das mãos na boca. – Tonks.
- Bom dia, - Levantou-se seca e apertou sua mão com força. – professor. Eu pensei que cairíamos na Grifinória!
- Ontem, um elfo andou limpando as chaminés e acabou alterando um pouco a rede Flu, foi horrível quando um professor aparatou de pijamas no Saguão Principal. – Tonks riu, eu ainda estava estática. – Como eu disse, foi horrível. Mas, por que chegaram tão cedo?
- É que a senhora pontualidade, - Posou a mão sobre meu ombro. – perdeu a hora. E como eu estou sendo sua responsável não muito responsável durante esse ano, tinha que dar um jeito de colocá-la dentro dessa escola. – Sorriu largamente.
- Oh, sim, entendo. – Que bom. – Pode ir se instalando em seu quarto, senhorita Hermione. – Sorriu para mim e depois foi até sua mesa.
- Tenha um bom dia, professor. Você vem, Tonks? – Perguntei já indo a porta.
- Vai indo, eu já irei. – Respondeu fazendo um gesto. OK, tinham que confabular. Os deixei sozinhos pegando meu malão e Bichento e saindo rapidamente do escritório pegando uma pequena parte da conversa. – As coisas na Ordem estão ótimas, mas-
- Mas o quê?
- Harry está me preocupando, o senhor sabe, ele recebeu o presente do Sirius e está totalmente focado em tentar descobrir mais coisas mas aquilo só mostra partes da sua memória! Tenho medo que ele faça alguma coisa... – Fechei a porta lentamente e sacudi a cabeça de um lado para o outro para aliviar as idéias.
Andar dentro das regras,
Would make my life so boring...
Faria minha vida tão chata...
I want to know that I have been
Eu quero saber que eu tenho estado
To the extreme.
No extremo.
So, knock me off my feet
Então, me sacuda pra valer
Come on, now give it to me,
Venha, dê para mim,
Anything to make me feel alive!
Qualquer coisa para eu me sentir viva!
Hogwarts estava gelada. Gelada e sozinha. Gelada, sozinha e totalmente sombria. Podia ficar rotulando aqueles corredores mofados até no outro dia, mas estava congelando ali. Acelerei meus passos esbarrando com alguns professores no meio do caminho, como McGonagall que já fez um mini interrogatório sobre a minha volta tão cedo para Hogwarts.
Subi os degraus rapidamente carregando com dificuldade meu malão. Bichento miava querendo sair da gaiola, mas meu desejo era dele ficar ali, essa hora eu poderia estar colocando todo o papo em dia naqueles trens quentinhos e não ficar caçando o que fazer nessa escola praticamente abandonada. Abri a porta do meu quarto juntamente com um sorriso em meu rosto. Estava tão quentinho, não gostoso.
Deixei minha mala num canto e pulei na cama caindo com as costas mantendo contado com a coxa esticadíssima.
- Ah, Hogwarts! – Ri alegremente me levantando e vendo estava tudo como tinha deixado. Já tinha o que fazer: arrumar meu novo guarda roupa dentro daquelas portas de madeira. Tinha algumas roupas minhas que acabaram ficando que já foram para dentro do malão.
Trabalho árduo, eu sei. Mas foi embalado pelo meu aparelho portátil de som que tinha trazido secretamente dentro do meu malão – descobri o motivo que eu tive que colocar algumas blusas dentro da minha bolsa. Prendi meu cabelo e já estava sem meu casaco, apenas uma blusa de meia manga e o cachecol ainda em meu pescoço, nem tinha percebido. Sabia que era uma doida, mas só comprovei quando comecei a dançar lustrando o chão com a minha meia branquinha.
Milagrosamente, escuto as batidas na porta. Ainda cantarolando a música, desci de cima da cama e a abri puxando o ser que estava lá fora para dentro. Tonks riu vendo a louca que estava 'tomando conta'.
- Dumbledore disse- - Estava alto de mais.
- O QUÊ? – Gritei.
- Dumbledore disse...
- NÃO TÔ TE OUVINDO! – Apontei para as orelhas e voltei a cantar e a dançar. Tonks sacou a varinha e apontou para o rádio.
- Bom dia...! – Ironizou com o silêncio que tinha se tornado. – Dumbledore disse que o almoço será servido mais tarde, OK? – Concordei indo até o rádio e aumentando seu volume ainda mais alto. – Menina, você tem sérios problemas mentais... – Sentou-se na cama tímida.
Mas não continuou assim por muito tempo. Quando olho, já estava sem seu sobretudo revelando uma blusinha de renda e uma saia rodada azul céu, jogou as botas longe e ficou com suas meias compridas pretas. Pegou uma escova de cabelos assim como eu e subiu na cama me acompanhando num dueto, era ridículo, mas era conhecia a música e estava empolgada. Eu conhecia a música e estava ainda mais empolgada.
- Is it enough to love?- - Segurei a escova com as duas mãos. – Is it enough to breathe?
- Somebody rip my heart out, – Seus passinhos eram os mais ridículos, mas não ficava muito atrás com minhas coreografias não ensaiadas. - And leave me here to bleed!
- Is it enough to die? – Tonks ajoelhou na cama como eu colocando a mão em volta do meu ombro – Somebody save my life! – Aproximou-se de mim segurando na escova que estava na minha mão. - I'd rather be-
- anything but ordinary, please!– Dissemos juntas caindo na cama rindo.
- Ah, há quanto tempo eu não fazia isso... – Peguei minha varinha e abaixei o volume do rádio voltando a deitar. Ofeguei ainda mais quando tirei meu cachecol e o joguei para longe.
- Isso cansou... – Trocamos olhares e rimos.
- Mas me conta, o que você fez nesses dois dias? – Sentou-se na cama e encostou-se nos travesseiros prendendo seu cabelo com a primeira coisa que encontrou. Apenas virei meu corpo para ela, ainda estava deitada, estava cansada e pedindo trégua.
- Hã- - Ofeguei respirando fundo. – Fui visitar meus pais, - Limpei a garganta. – sai com as minhas... amigas trouxas e- também enchi a cara até não querer mais! – Tonks riu.
- Parabéns...! – Ironizou. - Deve ter tido um fim de férias natalinas melhor do que o meu. – Virei e apoiei-me nas mãos e os cotovelos em cima da cocha desarrumada em cima da cama.
- Por que?
- Dá uma leve bica de meio de campo. – Cruzou os braços.
- Harry?
- Cara, ele tava hiper deprimido e pensativo, poucas vezes ouvi aquele vozeirão pela casa, e pra completar a salada, vinha o ruivo parecendo iniciar uma depressão e se isolava de tudo e de todos. Lupin acabou viajando um pouco depois de você para resolver assuntos do Ministério... – Estava aborrecida. – E como você acha que a sua querida Tonks ficou nessa história?!
- Eles procuraram, Tonks! – Apontei para o nada em sinal de aborrecimento também. – Eu não ia ficar dividindo a mesma casa onde tinha um cara que não que me diz coisas terríveis e outro que pode comprometer o resto da minha vida.
- Não pensou em mim, presumo.
- Para falar a verdade- - Virou os olhos. – pensei primeiro em mim, coisa que não fazia há um bom tempo.
Largue suas defesas
Use no common sense
Não use o senso comum
If you look you will see
Se você olhar vai ver
That this world is a beautiful, accident,
Que esse mundo é um belo, acidental,
Turbulent,
Turbulento,
Succulent,
Suculento,
Oppulent permanent,
Permanentemente opulento,
No way.
Sempre.
I wanna taste it,
Queria experimentar,
Don't wanna waste it away.
Não queria desperdiçar.
- Ótimo, eu também te amo... – Rolou os olhos mais uma vez. Um silêncio de vinte segundos. As duas olhando para o absolutamente nada e procurando algumas respostas, soluções bobas. - O Harry aprontou alguma, não é possível.
- Você também acha?
- Se eu acho? Tenho certeza! – Levantou-se e se olhou na frente do espelho pegando um vestido que estava em cima da minha cadeira. – Um pouco curto, não?
- É para o verão. – Disse o óbvio. – Mas o que você acha que ele fez?
- Sei lá, pode ser tantas coisas. – Tantas coisas?! Vejo apenas uma. – Pode ser desde de você até o presente que recebeu do seu padrinho...
- Sei... – Soltei me sentando na cama.
- E voltará a falar com ele? – Dei uma gargalhada.
- Lógico que não! Chega de fazer o papel da idiota! Chega. – Me levantei e voltei a arrumar as coisas dentro do meu guarda roupa, lentamente, colocando peça por peça nos cabides vazios.
- Eu perguntei de você voltaria a falar com ele, não a-
- Chega, Tonks, eu cansei de ser idiota! – A interrompei grosseiramente socando uma blusa no cabide.
- Mas você não estava fazendo papel de idiota.
- Ah, não? Então, ficar correndo atrás de um cara, sempre ficar sendo a segunda opção, não é ficar fazendo um papel de idiota?! Defina-me de outro modo se não achar que estou certa.
- Ok, Ok. – Abrandou com as mãos. – Ainda sente alguma coisa por ele?
- Se passaram apenas dois dias. – Meneou com a cabeça.
- Dois dias decidiram muitas coisas no mundo. Hiroshima nem precisou dos dois dias para ser riscada do mapa! - Rolei os olhos.
- Está comparando minha situação com Harry com Hiroshima?! – Brinquei rindo.
- Olha, você pensou nesses dois dias, ele deve ter pensado muito esses dois dias, ô se como, já deveriam ter uma pequena idéia do que querem daqui por diante, não acha? – Parou ao meu lado cruzando os braços.
Às vezes eu fico tão estranha,
I even freak myself out.
Eu até enlouqueço.
I laugh myself to sleep
Eu rio de mim mesma para dormir
Its my lullaby.
Essa é a minha canção de ninar.
Quem disse que ocupei minha mente com esses assuntos?! Não queria me ver deprimida, a ponto que arrancar os cabelos e passar uma navalha nos pulsos.
- Não. – Tonks ergueu uma de suas sobrancelhas.
- Diga para mim que não sente nada por ele.
Ah, Tonks, como eu te odeio...!
- Eu- - Cruzou os braços e esperou. - Eu não irei esquecê-lo de uma noite para a outra, sabe? É difícil.
- Eu sabia, Hermione, você não consegue me enganar.
- O que aconteceu entre a gente, não só nesse Natal mas eu acho que nesse sete anos que a gente se conhece, não é uma coisa que eu poderia esquecer do nada. - Dobrei uma blusa de linho e a coloquei numa das gavetas da cômoda parando um pouco meus movimentos, apenas olhando para o nada e pensando ainda no nada. - O cara é-
- Foda, eu sei. – Completou se jogando na cama novamente.
- Não! Não é isso que eu ia dizer! – Ri levemente. – O Harry é o tipo do cara que não dá pra não sonhar, mesmo ele dizendo que não será nada mais do que uma limpa amizade.– Sentei-me ao seu lado jogando os braços sobre as coxas e analisando as pontas dos dedos.
- Homens são todos iguais, Hermione. Acho que depois de tantos namoros você já deveria saber. – Suspirou. – Pretende fazer muitas coisas esse semestre? – Ergui meu olhar ainda abalado para ela e sorri.
Sorri animada, me senti como meu primeiro dia de aula mesmo sabendo que muitas coisas não iam mudar. Aquele friozinho na barriga, aquela ansiedade que deixava as mãos suadas e aquela vontade louca de sempre estar mordendo alguma coisa. Chicletes seriam uma boa.
Ficamos horas conversando, assuntos diversos surgiram. Tonks revelou-me que o pingente – causador da morte dos meus pais e a morte de David no meio dos corredores de Hogwarts – está na Escócia. Lupin o levou para lá para que alquimistas aprofundem mais sobre as origens misteriosas. Incrível como parecia estar num conto policial. Há ainda a história de que Moody sofreu uma inquisição por ter se arriscado tanto assim indo atrás de um Comensal.
Eu saio por dois dias e tudo acontece. Foram apenas dois dias, Hermione, dois curtos dias comparados aos cinco meses que ficará enfurnada nesse castelo. Como minha tia disse: quatro paredes conseguem enlouquecer até a mais sensata pessoa. Pensando logo no final, era impossível não passar o pensamento pelas provas finais e pelos NIEM's.
Caramba, tinha que correr atrás do prejuízo nesse último semestre, poderia me encrencar e não passar em nenhum dos dois. Mesmo com o meu emprego garantido, tinha que fazer jus a esses sete anos. Ok, tentar conciliar mais um semestre turbulento e corrido com meu namoro com Mc, as festas e as reuniões que ainda estão por vim, e as novidades que espero que estejam ao meu favor.
Acorda, você não terá seu final feliz tão cedo, Hermione. E aquele friozinho na barriga voltou. Era impossível não pensar que minha vida estava nas mãos de Ron. Se ele contasse, Harry ficaria bravo, Gina ficaria furiosa e quase todos na escola montariam um fã clube contra mim. Pensar em uma ruiva descontrolada correndo atrás de você com uma faca ou até uma serra elétrica, não é boa coisa.
Às duas horas da tarde, desci para almoçar como Tonks tinha me falado. O castelo estava um pouco cheio e ainda não tinha chegado o expresso com a massa estudantil. Ajeitei meu cachecol e passei as pontas dos dedos no meu nariz vermelho e congelado. Pensando que pelo menos comeria ao lado de Kim ou outra pessoa, entrei no salão esperançosa.
Lá, tinha umas vinte pessoas, mas acho que ainda tinha menos quando me sentei sozinha, num dos cantos com meu olhar observador sobre todos. Não conhecia ninguém. Será que Kim foi para Londres? Bom, sem Kim ou com Kim, eu tinha que me alimentar. Ainda me sentia fraca e tinha as tonturas, estava sob medicamentos e precisava de proteínas e carboidratos, mas só de ver aquela comida, me sentia um pouco mau. Queria comer mas não estava com vontade, já sentiram isso? É horrível. Principalmente quando você sabe que está se prejudicando.
Tomei dois copos de suco de abóbora e me servi com um pedaço de torta holandesa, na hora da sobremesa. Mirei meu olhar nas ampulhetas – faz tempos que não as olho -, Grifinória estava em último. O que será que aprontaram para estar com poucos pontos desse jeito?!
- Com licença- - Ouvi uma menina do primeiro ano me chamar. Era aquela mesma, chatinha e irritante, que ficou me fazendo um monte de perguntas e disse que queria ser como eu. (N.A: Cansei de Ser a Mesma 1 – Cap 36.) – Monitora, que horas chega o expresso?
- Como você chama? – Perguntei me ajeitando no banco e olhando aquela menina que parecia ser perfeitinha. Tinha a pele branca, tão branca que nesse frio ficava com as bochechas feito duas maçãs. Os olhos verdes grandes e expressivos, a boca em forma de coração e o cabelo totalmente enrolado, um loiro reluzente.
- Tábata Stuart. - Sorri e dei uma garfada na minha torta.
- Gosta de torta? Acho que ainda nem almoçou. – Estava segurando três livros grossos e estava cheirando a 'biblioteca'. Olhou para o pratinho que segurava a lambeu os beiços. – Senta. – Ofereci o lugar ao meu lado. Hesitou um momento olhando dos lados e respirando fundo. – Qual é?! Anda, senta logo. – Dei mais uma garfada na torta. Sentou-se sem demora, pegou um pratinho e se serviu com uma bola enorme de sorvete de flocos e um pedaço daquela torta. - Você quer saber o que mesmo? – Perguntei já satisfeita. Apoiei um dos braços na mesa e apoiei minha cabeça nele.
Isso é suficiente, Isso é suficiente?
Is it enough to breathe?
isso é suficiente para respirar?
Somebody rip my heart out
Alguém arranque meu coração
And leave me here to bleed.
E me deixe aqui para sangrar.
Is it enough to die?
Isso é suficiente para morrer?
Somebody save my life!
Alguém salve minha vida!
I'd rather be anything but ordinary, please.
Prefiro ser qualquer coisa menos comum, por favor.
- A que horas chega o trem. – Disse quase de boca cheia, lambuzada de doce até não querer mais.
- As sete e meia. Ficou sozinha essa semana inteira? – Concordou pegando mais um pedaço da torta. – Como consegue? – Deixou seu prato lentamente sobre a mesa e sorriu para mim.
- Livros. – Apontou para os que estavam a nossa frente.
Livros. É a solução de muitas pessoas, não era um caso isolado.
- Já li Animais fantásticos e seu habitat, Bebidas e poções mágicas, Guia de Transfiguração para iniciantes, Esclarecendo o Futuro-
- Esse último é para o terceiro ano! – Adverti num sorriso óbvio.
- Meu irmão está no quarto ano, pedi que me emprestasse.
- Não é um pouco complexo para uma cabeça de onze anos de idade? – Negou rindo e se servindo de suco de abóbora.
- É um pouco chato, mas é fácil sim.
Um novo talento mirim nessa escola, já tenho uma substituta.
- Monitora...
- Me chame de Hermione.
- Hermione, eu tenho que ir. – Levantou-se e pegou seus livros. – Obrigada.
Sorri retribuindo. Bateu os calcanhares e saiu dali como um rato, abaixando a cabeça e se enfiando entres os buracos que as pessoas deixavam. Parei de bebericar o suco e olhei mais uma vez em volta. Ninguém conhecido. Ia dormir, era o melhor que fazia.
Meus olhos se abriram como num estralo. Parecia que tinha caído alguma bomba lá fora do meu quarto. Levantei-me sentindo o chão gelado com meus pés descalços. Mirei o espelho e arrumei meu cabelo rapidamente. Passei a mão nos olhos e em volta da boca. Girei a maçaneta e coloquei a cabeça para fora. No mesmo momento, três alunos estavam montados em suas vassouras, descendo as escadas rapidamente, um atrás do outro. Quase fico sem cabeça, foi o que pensei colocando a mão sobre ela e respirando fundo. Voltei para o quarto deixando a porta aberta, peguei meu casaco e coloquei o primeiro tênis que achei na minha frente.
Corri para fora, o expresso já havia chegado. Eram oito e quinze da noite, dormi até de mais. Tive que pedi licença a muitas pessoas para senti um chão firme e descer daquelas escadas. Vi novamente as horas, oito e vinte. Olhei para os lados e comecei a andar rapidamente pela multidão. Parvati irá me matar!
Aquela emoção estava me enjoando. Ver casaizinhos chorando de saudades, amigas se descabelando ao se encontrarem, amigos fazendo um bate cabeça sem nenhum tipo de música apenas para expressar que estão felizes... Uma semana, não um ano, não se passou tanto tempo assim. Tá, para quem realmente gosta, se importa, passou-se sim, mas não me incluo nessas categorias.
- ONDE VOCÊ SE METEU?! – Ouvi uma voz berrando atrás de mim. Em um movimento voluntário, virei-me e senti quarenta e poucos quilos pular em meu pescoço com um gritinho agudo.
- Olá, Parvati, também estava com saudades... – Ironizei ao me separar num sorriso maroto. Logo Deena apareceu, também me dando um abraço, não tão afobado feito a morena, um pouco mais leve e calmo.
- Onde você estava?! Procuramos você pelo trem inteiro! – Exclamou. Nesse momento, estávamos perto da entrada do Salão Comunal.
- Acabei perdendo a hora e vim de rede flu. – Expliquei rapidamente. – Cadê a Verônica, a Kim? – Olhei para os lados.
- Hã- - Parvati e Deena trocaram olhares, olhares cúmplices que logo notei.
- O que houve?
- Vamos tomar uma cerveja na Sala da Grifinória, precisamos te contar.
Isso é suficiente,
Is it enough to die?
Isso é suficiente para morrer?
Somebody save my life!
Alguém salve minha vida!
I'd rather be anything but ordinary, please
Prefiro ser qualquer coisa menos comum, por favor
I'd rather be anything but ordinary, please
Prefiro ser qualquer coisa menos comum, por favor
- O quê?! – Soltei me inclinando um pouco à frente. Tomamos uma das poltronas e uma parte da mesa. Estava encostada na mesa com um dos pés sobre um dos braços do sofá. Parvati estava sentada na poltrona e Deena estava apoiada a mesa, ao meu lado, na frente da morena.
Ali estava cheio e barulhento. Várias pessoas estavam trocando presentes atrasados, conversando sobre as férias, mostrando fotos e jogando xadrez. Já tinha encontrado quase todos, menos Harry. Não tinha o visto, nenhum um sinal dele e da sua namorada. Meu sentimento mais obscuro desejava que eles estivessem se comendo em algum canto daquele castelo, longe de mim.
- Ela me mandou uma carta dizendo que os pais dela a forçaram ir para a Austrália. – Dei uma risada de desgosto apoiando uma das mãos na mesa.
- Isso é uma sacanagem sem tamanho! A Verônica não pode abandonar os estudos assim, de uma hora pra outra! – Ainda estava descrente.
Verônica tinha sido enganada pelos pais, não queriam mais que ela seguisse essa carreira bruxa pois uma tia sua acabou sendo morta misteriosamente. Grande coisa, não? Digo, a menina tem sonhos não tem? Ela tem o direito de escolher onde quer viver. Disseram que depois do México, iam para Londres mas acabaram indo para a Austrália, se instalarem permanentemente lá.
- Ela ficou doida, depois que soube que seus próprios pais tinham a enganado, ela tentou fugir de todos os jeitos! Avião, navio, vassoura, tentou até aparatação, mas não deu muito certo.
- Isso lhe rendeu alguns dias no hospital. – Deena disse abrindo sua cerveja amanteigada e erguendo as mangas de sua blusa azul céu.
- E a Kim? – Parvati respirou fundo. Pior do que isso, não dava para ficar.
- Expulsa. – Minha expressão disse tudo.
- Por que?
- Bom, alguns dizem que ela foi pega pelo Filth, no armário, com Dylan Owen, outros dizem que ela foi pega no armário de poções do Snape pegando Pó de Dragão para se drogar ainda mais. – Explicou num tom baixo, Deena suspirou fundo e abaixou seu olhar até os pés. Eu estava mais descrente ainda. Errei, dava para ficar pior sim.
- Mas alguma dessas histórias ela confirmou? – Parvati bebeu sua cerveja e se ajeitou na poltrona.
- Não sei, eu não conversei com ela ainda. – Deena também concordou. – Ela sumiu! – Não era um sinal muito bom.
- Por isso que a Grifinória está em último?
- Sim, pelo que estão falando, além de expulsar, McGonagall foi cruel em tirar cento e cinqüenta pontos da nossa casa.
- Somos só nós três agora? – Perguntei para chamar a atenção delas.
- Acho que sim. – Parvati soltou um pouco triste, um pouco confusa. Éramos em cinco, nos resumimos a três. Qual será o próximo número de estatística? – Mas- - Odiava esses 'mas'. – Jane também saiu da escola. – Meu queixo caiu.
- Por que?
- Os pais dela trabalham no Ministério, não sei dos detalhes, apenas tiraram ela da escola com um ótimo argumento. Isso que estão soltando pelos corredores. – Respondeu Deena quando a pergunta foi para Parvati.
Ok, agora há alguma coisa acontecendo que o Ministério sabe e nós não sabemos. Tonks deve saber, vou escrever uma carta para ela sem falta, quero saber antes de qualquer outra pessoa.
Espera, um disse 'nós'? Nós?! Estou praticamente sozinha. Não confio em Harry, Harry não confia em mim e Ron é um caso que nem se discute. O trio de ouro acabou se desfazendo por nossa conta; Não precisamos da interferência de ninguém para que a mais unida amizade de Hogwarts, fosse rompida. E ainda pensávamos que Draco daria um jeitinho ou outro para acabar com a expulsão de um e a inimizade de mais dois.
- Mais alguém resolveu abandonar tudo? – Negaram com a cabeça soltando um 'que a gente saiba, não'.
- Há novos alunos. – Parvati e eu miramos em Deena que deixava sua garrafa de cerveja vazia no meio da mesa, como mais um monte que todos os alunos deixavam ali.
- Sério? – Fiz uma expressão de repulsa. – Primeiro ano?
- Sétimo. – Meus olhos cresceram junto com os de Parvati. – Acho que são três... – Colocou uma mão no queixo e fez uma expressão de pensativa.
- Como sabe? – Ruborizou tirando a mão e cruzando os braços.
- Fontes. – Parvati e eu rimos. Os olhos de Deena cresceram, meu sorriso se fechou e mirei onde estava tão concentrada. Ah, Ron tinha acabado de entrar e trazia consigo Harry e Gina.
Eu sei, é uma sensação horrível, detestável, dolorosa e ao mesmo tempo, terna em apenas vê-lo. De seus sorrisos que estavam estampados em seus rostos aos dedos ligeiramente entrelaçados. Nem parece tudo aquilo que Tonks me descreveu ainda a pouco, eles estavam 'normais'. Suspirei dando um profundo gole na minha cerveja e a pousando com força em cima da madeira da mesa. Apoiei minhas mãos um pouco mais atrás do meu corpo e, com um movimento da cabeça, tirei a franja que estava em meu olho, nele, um olhar cheio de pré-conceitos sobre tudo que estava acontecendo.
Comecei a ver as coisas de cima, não como uma pessoa prepotente e arrogante, mas como uma pessoa que cansou de ser pisada e de ser sempre olhada de baixo. Se fui a segunda opção, dane-se. Quem sairá perdendo não serei eu, correto? Em partes, ainda estava balançada por tudo que aconteceu.
Ron disse algo para Harry e apontou na nossa direção. O moreno fechou seu sorriso lentamente e eu mudei meu olhar de lugar. Não queria ficar encarando e pedindo para que viessem aqui. Primeira coisa que você tem que fazer é agir com frieza, não ligando para os sentimentos dele, ele não fez isso?! Então, que receba na mesma moeda. Ao contrário de mim, Deena sorria para Ron e jogava conversas pelo olhar. Não, pare com isso! Não estou preparada para encontrar nenhum dos dois.
- Oh, o Dylan! – Soltou Parvati me cutucando e chamando a atenção para Dylan Owen. – O que ele está fazendo aqui? Ele é da Corvinal! – Enfim, vi um guri um pouco magro, um pouco forte. Loiro, olhos aparentemente claros. Bronzeado e um sorriso largo e esbanjado. Sabia que fazia o estilo sufirstinha e que não era nascido aqui. – Eu vou lá perguntar da Kim. – Jogou um olhar e um sorriso sarcástico, saindo de nossos olhares adentrando a multidão.
- Olá, Dee. – Oh, não. Engoli seco ainda não olhando o dono daquela voz, e eu sei que ele não virá sozinho, sei disso. – Hermione? – Virei-me num estralo, lá estava Ron, parado ao nosso lado. – Tudo bem? – Estava um pouco sério. Só bebendo, só bebendo. Consenti dando mais um profundo gole na cerveja.
- Como passou as férias? – Perguntou Deena ficando ruborizada.
- Ah, foi bom. Tirando uns imprevistos e a Mione ter que ir embora antes. – Se faça de cínico, Ron, é a melhor coisa que você pode fazer.
Dava quase tudo para alguém me tirar daquela situação. Mas dava para ficar pior, Harry se aproximava - sozinho - sem nenhuma cenoura em seu braço ou algum amigo chato.
- E as suas? – Ron pegou uma das cervejas num engradado em baixo da mesa.
Passo por passo. Harry andava cumprimentando seus amigos, pessoas que conhecia de vista e aqueles que nem sabia o nome. Sempre carismático e simpático. Tá bom, tem uma saída ao sul, poderia subir para o dormitório. Tinha uma saída para o quadro da Mulher Gorda e outra debaixo da mesa, para que tal, me esconder feito uma IDIOTA. Francamente, encaremos os problemas de frente! ... Mas não estou preparada para encarar esses problemas morenos, altos, maravilhosos e cachorros de frente.
Dois metros. Dois metros nos distanciavam. Podia olhar tudo pela fresta que Ron e Deena deixavam de distância de um ao outro. Afundei-me um pouco mais naquela mesa, encolhendo os ombros e ajeitando meu pé em cima da poltrona. Mexa-se agora, Hermione. Faça alguma coisa!
Meus olhos cresceram ao vem que ele estava ali, perto de mais sem ter percebido. Cumprimentou Deena e mirou seu olhar para mim, estava estática procurando o que fazer, agir ou falar.
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