A antiga promessa



Capítulo 5 – A antiga promessa



Estava em casa, andando pelo corredor que levaria até uma pequena sala que eles diziam ser a “sala secreta”, que de secreta não tinha nada. Enquanto andava pelo corredor pode sentir toda a saudade que tinha daquele lugar, não pelos pais, que sempre transformaram sua estada ali um inferno, mas pelos irmãos, que sempre demonstraram apreço por ele. Parou em frente à porta e tocou lentamente a maçaneta brilhante, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto. Tomou coragem e abriu a porta.



A sala era circular, e espalhos em total desordem estavam objetos e brinquedos de todo tipo. Entrou na sala olhando tudo com saudades, lembrando-se de o quanto fora feliz ali com os irmãos, de como se refugiava ali quando tinha discussões com o pai. Seu olhar então se concentrou no centro da sala e ali viu dois garotos sentados no chão. Um era mais alto, tinha cabelos e olhos castanhos que refletiam grade sabedoria e seriedade, e olhava o irmão num misto de respeito e carinho. O outro era mais baixo e também tinha cabelos castanhos, mas ao contrário do irmão possuía olhos de um azul profundo, que parecia irradiar poder e determinação. Fábio sorriu ao reconhecer Gideão e ele ainda crianças.



Ele aproximou-se dos dois para ouvir o que conversavam, apesar de já saber o que era falado.



- Não ligue para isso Fábio. – dizia a voz infantil de Gideão.



- Eu queria, queria mesmo, mas não dá! Não dá para ser feliz com seus próprios pais rogando-lhe pragas a todo o momento. Será possível que ninguém me ama? – replicou o garoto num tom triste.



- Olhe Fábio, eu posso não saber o motivo de tanta raiva que nossos pais tem. Mas de uma coisa eu tenho certeza: Molly e eu estaremos sempre do seu lado quando você precisar.



- Obrigado mano. Por me apoiar e confiar em mim. – Murmurou o pequeno Fábio, agradecido.



- Ora vamos, é para isso que os irmão mais velhos servem. – disse Gideão com um sorriso.



De repente a imagem mudou e ele se viu na sala de jantar da casa, alguns anos mais tarde. Toda família estava à mesa para o jantar. Gideão e Molly sentavam-se um de cada lado de Fábio numa forma sutil de proteção, para que não houvesse brigas durante a refeição. Fábio lembrou de quando aquilo ocorrera. Fora nas férias antes do sexto ano, na mesma época em que Gideão conseguira uma promoção no Departamento de Controle de Criaturas Mágicas.



Fábio observou todos da mesa. Seu pai e Gideão conversavam entusiasmados sobre o novo emprego do filho, Molly estava observando a conversa dos dois e tinha no rosto uma expressão de quem lembrava-se de algo engraçado, sua mãe mantinha uma expressão neutra e permanecia calada, enquanto o Fábio da mesa tentava a todo custo passar despercebido aos olhos dos pais, no que fracassou.



- Você só me da orgulho, meu filho. Graças a você o bom nome dessa família será mantido. – o pai de Fábio alteou a voz para ter certeza de que este ouviria.



Fábio ignorou a indireta, mas passou a comer mais rápido, para poder sair logo da mesa.



- Mas você deve tomar cuidado Gideão com as cobras, pois eu não conheci nenhuma que não fosse odiosa.



Fábio fechou os olhos e tentou acalmar-se, mas pressentiu que estava se tornando impossível. Gideão, ao pressentir o perigo tentou mudar o rumo da conversa.



- E então, nós teremos uma pessoa da família na monitoria-chefe? – falou animado, virando-se para Molly.



- Talvez. Mas eu não sinto que eu seja essa pessoa. – vendo a expressão desanimada de Gideão – Mas há uma outra pessoa que com certeza será monitor-chefe. Afinal, ele tem ajudado a Sonserina a vencer a Copa das Casas há dois anos seguidos. – acrescentou num tom maroto, olhando para Fábio, fazendo com que este exibisse um sorriso de agradecimento, que foi destruído com uma fala do pai.



- Este traste nunca conseguirá. É muito burro para isso. Deve ter conseguido essa monitoria e esses títulos de quadribol por sorte. – falou o pai, de forma depreciativa.



Aquilo foi o bastante para Fábio, que se levantou e apontou o dedo em riste para o pai e falou num tom venenoso.



- Eu juro pai, pelo que há de mais sagrado, que um dia eu serei importante, que serei poderoso de tal forma que as pessoas tremerão quando ouvirem meu nome, e aí o senhor engolirá todas estas palavras! – então ele se voltou para a porta e saiu dali rapidamente.



A imagem girou novamente e ele reconheceu seu quarto, e viu a si mesmo arrumando as malas para sair de casa, nas férias de natal, quando estava cursando o sétimo ano em Hogwarts. Gideão entrou no quarto junto com Molly e olhou tristemente as malas que estavam sobre a cama de Fábio.



- Então é definitivo Fábio? – perguntou, já sabendo a resposta.



- É. Não dá mais para ficar debaixo do mesmo teto com o nosso pai.



- Mas onde você vai ficar? – perguntou Molly aflita.



- Vou ficar num quartinho que Rosmerta mandou construir nos fundos do Três Vassouras. – respondeu Fábio.



- Mas e os pais dela? – tornou Molly.



- Eles concordaram. Já sabem o tipo de relação que eu tenho com nossos pais. – falou Fábio, enquanto fechava as malas. Olhou os irmão e de repente sentiu um imenso vazio no coração. – eu vou sentir saudades.



Os dois não esperaram mais. Abraçaram Fábio e os três ficaram por alguns minutos apenas daquela maneira, abraçados, sem falar absolutamente nada. Então Fábio os afastou delicadamente e fitou-os nos olhos com determinação.



- Eu juro pela minha vida que eu estou saindo desta casa, mas não de suas vidas. Vocês são muito importantes para mim, e eu prometo protegê-los e amá-los pelo resto da minha vida.



- Nós sabemos que você estará do nosso lado – disse Molly, com os olhos marejados.



- Sempre. – disse Fábio com determinação – adeus.



Apanhou as malas e desaparatou.



A imagem girou pela terceira vez e ele se viu num corredor escuro. Começou a andar, mas parou bruscamente quando ouviu um grito desesperado. Um grito de Molly. Correu o máximo que podia e chegou numa sala ampla cheia de colunas, e nas colunas estavam amarrados seus irmãos, Arthur e seus sobrinhos. Viu no centro da sala um comensal, que lançava a maldição Cruciatus na irmã, que gritava desesperada. Correu até o comensal e arrancou sua mascara e viu a si mesmo, rindo demente.



- NÃO! – gritou ele acordando coberto de suor, respirando com dificuldade.



Olhou a sua volta e percebeu que estava em seu quarto. Sentou-se na cama e começou a se acalmar. “foi só um sonho, foi só um sonho” repetia mentalmente para si mesmo. Mas então seu coração disparou novamente. Não era um sonho, não podia ser um sonho.



Afinal, estava no Quarto Sem Sonhos.



Percebeu então o que aquilo significava.



- Uma profecia. – murmurou para si mesmo. – Uma profecia que avisa que se eu não cumprir o que foi prometido, eu darei o ultimo passo para o abismo.



Levantou-se da cama e caminhou até a janela, abriu a cortina e deixou os primeiros raios solares da manhã entrarem pela janela.



- Um bom dia para recomeçar. – disse, vendo o sol nascer.


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- Gideão, como ele está? – perguntou Molly, aflita.



Gideão estava tomando café na casa de Molly, junto com Arthur e seus filhos, Gui e Carlinhos. Ele adora estar com os sobrinhos, e achava engraçado o quanto eram diferentes entre si. Gui era o mais velho e seguia a linha de garoto rebelde. Tinha os cabelos compridos e brincos nas orelhas. Carlinhos era todo desleixado e amava animais, tendo uma curiosidade enorme sobre dragões. Percy ainda era um garotinho, e Molly já estava grávida.



Normalmente a mesa era muito barulhenta, mas após aquela pergunta de Molly todos fizeram um silencio cheio de expectativa, esperando a resposta de Gideão.



- Vivo. Mas está bem acabado. Todo remendado e com jeito de quem levou uma surra. – disse Gideão lentamente, vendo os olhos de Molly se encherem de preocupação.



- E o que ele disse sobre os planos dos comensais? – perguntou Arthur.



- Nada. Ele falou que não sabia de nada, mas prometeu investigar. – respondeu Gideão.



Terminaram de tomar café e foram para sala continuar a conversa, enquanto os garotos mais velhos iam até um campo deserto para jogar quadribol. Eles passaram a manhã toda jogando e quando chegou a hora do almoço Gui voltou correndo para casa, deixando Carlinhos para traz.



- Que droga, só porque é mais velho se aproveita. – resmungou, enquanto recolhia as vassouras e a pequena caixa onde guardavam o pomo de ouro que usavam no jogo.



- Ei garoto! – Carlinhos se virou e viu um homem todo vestido de preto se aproximar – você pode me dizer se a Srª Molly Weasley esta em casa?



- Sim. O senhor quer falar com ela? – perguntou Carlinhos.



- Quero sim. – respondeu o homem sorrindo.



O homem pegou o material de quadribol e pediu para que Carlinhos o levasse até sua mãe. Os dois voltaram do campo conversando animadamente sobre as espécies de dragões que existiam e sobre quadribol, até que chegaram na casa.



- Esta é a minha casa, a Toca. – falou o garoto, orgulhoso.



- Eu sei. – respondeu o homem rindo. Entregou as coisas para Carlinhos e pediu que este chamasse sua mãe, que ele ficaria esperando ali fora. Ele se virou para o jardim e ficou contemplando a paz que aquele lugar transmitia e teve inveja da irmã, pois sabia que sua decisão de hoje logo deixaria sua cabeça a premio não só entre os homens do ministério, mas entre os comensais. Mas era necessário para proteger sua família.



- O que o senhor deseja? – ouviu a voz de Molly perguntando solicitamente.



- Sabe, eu já vivi muita coisa nesta minha curta vida – enquanto falava ia se virando lentamente – mas nunca pensei que um dia seria chamado de “senhor” por você. – terminou, olhando-a com os olhos marejados.



- Fábio! – ela exclamou e o abraçou com força, chorando – Oh Fábio, quanta falta você fez. – e continuou a chorar.



- Você também fez falta Molly. Mas eu estou de volta. Definitivamente. – falou emocionado, abraçando-a com força.


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O trem sacolejava pela linha e Fábio não conteve um suspiro de nostalgia ao contemplar a paisagem. Ele e Gideão estavam no Expresso de Hogwarts, indo ao encontro de Dumbledore, que assim que sobe das novas de Fábio chamou-o para uma conversa.



Fábio na verdade esta indo mais por causa da insistência de Gideão do que por vontade própria. A estada na casa da irmã realmente fora reconfortante. Pode se recuperar dos períodos de insônia e da má alimentação aos quais era submetido. Apesar de Arthur ainda o olhar com certa desconfiança, os sobrinhos o acolheram com alegria. Durante a semana que passou na Toca, dedicava a tarde para os sobrinhos, contando sobre seus tempos em Hogwarts e do que já tinha aprontado lá. Explicava para Carlinhos o que sabia sobre dragões, enquanto ria de Gui que dizia que deixaria o cabelo crescer, o que deixava Molly horrorizada.



Mas tivera que largar aquele clima familiar que tanto ansiava para ir ao encontro de Dumbledore. Realmente o mundo não é justo, pensou, enquanto suspirava novamente.



- Este trem traz muitas recordações – quebrou o silencio Gideão, com um sorriso no canto da boca – recordações de tempos em que nos vivíamos protegidos da sombra, e a maior preocupação era o desempenho no quadribol.



- Pois eu trocava toda nostalgia que estou sentindo por mais uma semana junto dos meus sobrinhos. – retrucou Fábio.



- Paciência irmão. Você ainda terá muito tempo para passar ao lado deles. E com sorte tempo para nos dar novos sobrinhos. – disse Gideão, mantendo o sorriso.



- Creio que não. – suspirou Fábio – Oficialmente eu ainda sou um comensal cassado, e você deve saber que do serviço dele não há dispensa. Como eu posso querer que uma mulher assuma algum compromisso com uma pessoa que é inimiga dos dois lados da guerra?



- Admito que é difícil Fábio, mas eu imploro que você não se feche para o amor, pois é ele que nos dá forças nesses tempos negros. – pediu Gideão, num tom sonhador.



- Você fala com a certeza de um apaixonado – tornou Fábio, sorrindo.



- E realmente estou. E é por isso que luto nesta guerra. Para que possamos casar e criar nossos filhos longe dessa sombra.



- Pois eu digo que você não deve esperar muito Gideão. Melhor é viver a certeza do agora do que a dúvida do futuro. – aconselhou Fábio.



- Essa guerra vai acabar logo Fábio, eu sinto isso. – disse Gideão, fervoroso.



- Voldemort é poderoso demais para nós Gideão. Eu prevejo que ainda não nasceu a pessoa com o poder de destruí-lo. – retrucou Fábio, em tom final.



Gideão limitou-se a abanar a cabeça e calar-se. Fábio entendeu o anseio do irmão. Um mundo de paz era o que ele também desejava. Um mundo onde, depois que tivesse pagado por seus crimes, pudesse andar livremente pelas ruas e pensar só em problemas banais. No entanto ele não alimentava ilusões. Ele conhecera o Lord das Trevas tempo o bastante para saber que ele não seria destruído, enquanto seus inimigos lutassem nos seus termos. Abandonou estes pensamentos quando o trem começou a para na estação.



- Vamos Fábio, há uma pessoa nos esperando na estação. – disse Gideão, saindo da cabine, seguido de perto por Fábio. Desceram da locomotiva e se puseram a esperar a tal pessoa. De repente Gideão fez um gesto para Fábio, indicando um ponto na estação. Quando este se voltou para ver a pessoa sentiu o coração acelerar.



- Olá Olhos Azuis! – exclamou a moça, com um olhar maroto.



Realmente o mundo era muito pequeno.


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