Sobre lendas e guerras
Capítulo 6 – Sobre lendas e guerras
- Olhos Azuis? – perguntou Gideão divertido, virando-se para o irmão.
- Não me pergunte agora. Isso é uma longa história. – respondeu Fábio embaraçado, observando a garota se aproximar.
Ela realmente tinha uma graça que ele nunca vira em outra mulher. Os cabelos castanhos caiam cacheados até o meio das costas, e algumas dessas mechas caiam-lhe sobre o rosto, dando-lhe um ar alegre. Os olhos, de um azul claro, transmitiam grande energia e ao mesmo tempo piedade, como se fossem capazes de viver tanto na guerra quanto na paz com a mesma força. Tinha uma altura mediana e um andar ao mesmo tempo cheio de graça e coragem, e ao observá-la sob o sol da manhã em Hogsmead Fábio percebeu que ela em nada lembrava a moça amedrontada que ele ajudara há alguns dias atrás. “Ela cresceu depois daquilo, mudou para melhor” pensou ao vê-la andar até eles.
- Isso realmente é uma grande coincidência! O meu melhor amigo junto do meu herói sem nome. – falou a moça, parando na frente deles – o que você faz aqui? – perguntou a Fábio.
- Ele veio comigo Melissa, para conversar com Dumbledore. – revelou Gideão.
- Sua vinda foi prevista Gideão, a sua e a do Corvo – ela franziu a testa ao dizer o nome, como se este a incomodasse profundamente – mas onde ele está?
Fábio suspirou profundamente. Porque tudo tinha de ser tão difícil? Enquanto estivera na casa de Molly, a garota assaltava sua mente, vinha-lhe em sonhos e pensamentos. E agora ela estava de pé, na sua frente, e ele percebeu o abismo que os separava. Ela, filha do mais poderoso opositor de Voldemort, ele, um Comensal, os melhores homens do Lord das Trevas. “Acabaram-se as ilusões” pensou, desiludido.
- Bom, aqui na sua frente você tem o Gideão – dizendo isso apontou para o irmão – e ao lado dele o Corvo. Eu. – terminou desanimado.
- VOCÊ!? Quer dizer... ahn... ok, vamos então. – disse Melissa embaraçada, tentando esconder sua surpresa.
Ela os guiou até uma carruagem puxada por testrálios, onde embarcaram. Fábio sentou-se e recostou a cabeça na janela de vidro, e ficou observando a paisagem. Gideão se acomodou e olhou o irmão, percebendo o semblante reflexivo. Balançou a cabeça e dirigiu seu olhar para Melissa, que tinha os olhos cravados em Fábio. Pigarreou levemente, o que fez com que ela desviasse o olhar, totalmente corada. Percebendo isso ele sorriu de uma maneira que há muito não fazia.
- Do que você esta rindo Gideão? – perguntou Melissa, voltando a cor normal.
- Só de como os ventos podem ser favoráveis quando seguimos a direção certa – respondeu misterioso.
- Sabe Gideão, você às vezes consegue ser incompreensível. – disse Melissa, depois de uma pausa.
- Não há nada de misterioso no que eu digo, ao menos não para quem deseja me entender.
- Pois na minha opinião você está pior que o vovô. – afirmou Melissa.
- Ele sempre foi assim, desde pequeno. Nunca se contentou em ser prático, sempre com meias palavras. – resmungou Fábio, sem deixar sua posição.
- “Para bom entendedor, meia palavra basta” – citou Gideão, sorrindo.
- Falou o mestre dos ditados. – falou Fábio irônico
Ficaram em silencio, enquanto a carruagem seguia pela estrada, cada um entregue a seus pensamentos. De repente, quando já estavam próximos as entrada da escola, a carruagem fez uma curva e entrou numa pequena estradinha quase imperceptível devido à falta de uso. Fábio estranhou o desvio, mas não comentou nada, pois parecia ser normal para Melissa e Gideão. Ele percebeu depois de um tempo que eles se distanciaram vários quilômetros na direção oposta à da escola, mas agora seguiam pela orla exterior da Floresta Proibida.
O contraste da região era incrível. De um lado da estrada estava a Floresta Proibida, escura e úmida, com suas árvores frondosas cobertas de lodo que lembravam muito as florestas mal-assobradas dos trouxas e passando a impressão a qualquer observador de que ali se escondiam segredos seculares; do outro lado estava um campo verdejante que se perdia ao longe, e o sol daquele fim de tarde tingia o verde de vermelho, criando um efeito belíssimo de cor, luz e sombras.
A carruagem parou abruptamente, despertando Fábio de seus devaneios. Ele olhou pela janela e percebeu que haviam parado na frente de um arco de pedra antiguíssimo, cheio de entalhes de runas, que marcavam o início de um caminho pavimentado com pequenas pedra que um dia foram brancas, mas que agora estavam encardidas e desgastadas, que seguiam para o interior da floresta.
- Chegamos. – constatou Melissa, saindo rapidamente da carruagem. Gideão a segui e Fábio, após um momento de receio, saiu também. Aproximou-se do arco, enquanto Gideão ajudava Melissa com um baú. Tinha feito Runas Antigas enquanto estava em Hogwarts e pôs-se a ler o que havia escrito no arco. Quando terminou ficou pasmo. Se o que estava escrito fosse verdade aquele era o portão de entrada da... não, não era possível... mas... e se fosse?
- Siga-me Fábio. – disse Gideão, no que foi relutantemente atendido por Fábio.
Andaram durante alguns minutos cercados pelas árvores, que, sem que percebessem, sumiram dando lugar à um jardim mal cuidado. Mas não foi o jardim que fizera Fábio estacar, mas sim a visão da imensa construção que se erguia majestosa na sua frente.
A Fortaleza de Godric Griffindor.
Entre os bruxos havia várias lendas famosas, mas poucas se igualavam ao mistério que envolvia a Fortaleza de Godric Griffindor.
Diz a lenda que, poucos anos após a fundação de Hogwarts, um rei trouxa chamado Peredur descobriu a existência da escola de bruxaria. Os tempos eram negros para a bruxidade, que era duramente perseguida pela igreja, que não compreendia os poderes dos bruxos e os caçavam como se fossem animais e o rei, que era católico, decidiu empreender uma incursão com se exército em Hogwarts, para eliminar aqueles “filhos do demônio”.
Os quatro fundadores souberam das intenções do rei através de um espião nascido trouxa que havia concluído seus estudos e ingressara nas forças de Peredur como médico e começaram a articular uma defesa para Hogwarts. Ravenclaw e Hufflepuff ficaram no castelo e prepararam os alunos para a defesa, Slitherin partiu numa missão a pedido de Griffindor sobre a qual nada se sabe e Griffindor, com ajuda dos habilidosos anões das montanhas e de magia construiu uma poderosa fortaleza que barrava o caminho das forças trouxas.
Então, numa noite de inverno, quando os primeiros flocos de neve caíram, Peredur e seu exército atacaram. Foi uma batalha sangrenta na qual Griffindor liderou as forças bruxas com sua espada em chamas, e, apesar de todas as previsões, os trouxas estavam ganhando, pois conseguiam, não se sabe como, evitar os feitiços dos bruxos. Os trouxas começaram a dizimar as forças bruxas quando Slitherin retornou e a guerra se inverteu.
Não se sabe como, mas Slitherin trouxe consigo homens vestidos de negro, que usaram um poder misterioso que fez com que o exercito de Peredur fosse completamente varrido e esquecido pelo mundo. Então, com a guerra terminada, estes homens pediram como pagamento que os Fundadores guardassem o poder usado na batalha nas profundezas da Fortaleza de Griffindor. Eles aceitaram a função de guardiões, e a fortaleza ficou segura por anos, até que houve os desentendimento entre eles e Slitherin foi embora. Como a guarda sem Salazar ficou enfraquecida, Griffindor pediu que Ravenclaw criasse um feitiço de ocultamento permanente, que só poderia ser quebrado pelos donos do poder. O feitiço foi realizado e Godric Griffindor deu a própria vida para resguardar o poder encerrado na Fortaleza. Helga Hufflepuff fez com que uma floresta crescesse na região em torno da fortaleza e com o passa dos séculos a mesma se tornou uma lenda junto com a batalha, que era contada por avós a seus netos.
E era diante desta lenda que Fábio estava agora.
Ele não podia esconder o espanto diante daquela construção, e passou algum tempo parado, admirando a construção desgastada e ruindo em alguns pontos.
- Vamos logo Fábio. – a voz de Gideão o despertou e ele recomeçou a caminhar junto do irmão, em direção à frondosa porta de entrada.
- Um belo esconderijo, não é mesmo? – perguntou Melissa, e depois de Fábio assentir continuou – A sede da Ordem da Fênix fica em Londres, mas é aqui que vovô abriga os espiões.
Agora caminhavam por um salão que na sua época devia ter sido belíssimo, mas que agora estava empoeirado e cheirando a mofo. Haviam portas em cada extremidade do salão e duas escada que seguia para o andar de cima, e Melissa os conduziu pela escada da direita que terminava numa ampla sala. Lá, sentado confortavelmente numa poltrona, estava Alvo Dumbledore.
- Olá vovô! – exclamou Melissa
- Sejam bem vindos! – disse aos três, levantando-se. Virou-se para Melissa – Que bom que você voltou Melissa, mas peço que me deixe a sós por algum tempo com Gideão e Fábio.
Melissa fez uma cara descontente, mas se retirou da sala.
- É realmente uma felicidade que você tenha voltado Fábio. – disse Dumbledore, como se Fábio estivesse voltando de uma viagem.
- É bom estar de volta. – afirmou Fábio – mas com certeza não foi para falar da minha troca que você me chamou aqui, não é mesmo Dumbledore?
- Realmente não. Mas antes gostaria que Gideão me desse as novas. – admitiu Dumbledore – Sentem-se, por favor, para podermos conversar.
Eles sentaram-se e Gideão passou algum tempo descrevendo o que descobrira sobre os movimentos dos comensais, e Fábio ficou entediado, pois já tinha conhecimento disso há tempos.
- Mas é claro que Fábio sabe mais a respeito que eu. – disse humildemente quando terminou seu relato.
- Isso nos leva ao começo. – disse Dumbledore, encarando Fábio – Por que você mudou de lado Fábio?
- Porque eu percebi que a guerra de Voldemort não era a minha, que eu era mantido lá por um feitiço, e que se permanecesse do lado do Lord das Trevas eu ia fazem mal a quem eu amo – respondeu Fábio.
- E você agora deseja fazer parte da Ordem da Fênix?
- Sim.
- Muito bem então. Depois Gideão te dará todos os detalhes. Mas agora eu preciso que você me dê sua opinião sobre as duas forças, a de Voldemort e a nossa. – pediu Dumbledore gentilmente.
- Bom... – começou Fábio, embaraçado. Ele não desejava destruir a confiança que os seus agora aliados podiam ter, mas era exatamente isso que aconteceria se ele desse a verdadeira versão dos fatos. Dumbledore, notando sua hesitação, despreocupou-o.
- Nós já temos certa noção do tamanho das forças de Voldemort, graças a Gideão – apressou-se a dizer Dumbledore, o que deixou Fábio tranqüilo – mas queria a visão de alguém que já esteve lá dentro.
- De um comensal? – disparou Fábio, com um pequeno sorriso no canto da boca.
- De um ex-comensal, que agora colabora com a Ordem da Fênix como informante. – corrigiu pacientemente Gideão.
- Tudo bem. – disse ao irmão e encarou Dumbledore nos olhos – Vou ser bem direto. Voldemort conta com quarenta comensais que receberam treinamento do próprio Lord, sendo seus servos mais perigosos. – a cada nova informação Gideão resmungava irritado – Essa é a força principal, a guarda dele, mas não é a única. Há uma grande variedade de criaturas malignas que se pôs a serviço dele, há os dementadores e os gigantes, que foram persuadidos no começo deste ano a lutar. E há, é claro, vários bruxos que estão agindo sob o comando da maldição impérius.
A sala caiu num silencio pesado, e Fábio pode notar como Dumbledore parecia frágil. Então ele percebeu. Apesar de todas as informações que eles tinham, nunca imaginaram estar lutando contra um poder tão grande.
- E quanto... quanto alcance Voldemort tem? – perguntou Gideão, com medo da resposta.
- Quase total. Ele tem espiões em toda parte, no ministério, no governo trouxa e até mesmo aqui, na Ordem da Fênix. – falou Fábio, preparando-se para a tempestade que viria.
E ela não tardou.
- AQUI!? EXISTEM ESPIÕES NA ORDEM DA FÊNIX? – indignou-se Gideão.
- Eu já suspeitava – Dumbledore falou, num tom cansado – mas este assunto deve ficar para mais tarde. Você deve estar cansado Fábio. Melissa está no salão principal. Peça a ela que te mostre o lugar onde irá dormir, mas eu recomendo que não demore em ir descansar, pois amanhã você terá que levantar cedo para que eu possa repassar sua função na Ordem. Seja bem vindo à Ordem da Fênix, Fábio Prewett.
- Obrigado senhor. – disse Fábio, se levantando e saindo da sala. Desceu as escadas e encontrou Melissa lendo, sentada em uma poltrona no canto mais distante do salão. Foi até ela e pigarreou.
- Dumbledore pediu que você me dissesse onde fica meu quarto – falou, dando um tom despreocupado a voz.
- Siga-me, por favor. – disse ela levantando-se e se dirigindo para uma das escadas – Devo confessar que me surpreendi quando soube que você era o Corvo.
- Todos normalmente temem o nome, mas normalmente se decepcionam quando me vêem. – comentou Fábio.
- Mas eu não fique decepcionada e muito menos tenho medo do Corvo. Só me surpreendi que um comensal pudesse ser humano o bastante para me ajudar, sendo uma inimiga – falou Melissa num tom sério.
- É, mas eu tenho quase certeza de que se fosse o contrário, um auror e uma comensal, o auror a deixaria morrer. – retrucou Fábio num tom duro.
- Talvez, Olhos Azuis, talvez – disse Melissa num tom reflexivo.
- Agora que você já sabe meu nome não precisa me chamar assim. – falou Fábio.
- Não preciso, mas quero, pois sinto que seu nome traz uma grande carga de aflição para você. - Passaram alguns segundos em silencio e então Fábio falou.
- Obrigado.
- Não precisa agradecer Olhos Azuis. Este aqui é seu quarto – apontou para a porta a frente – e aquele é o meu – ao dizer isso ela corou e acrescentou apressadamente – para o caso de precisar de algo. Te encontro aqui às seis para o café. Boa noite.
Ao dizer isso entrou rapidamente no quarto sem olhar para trás, deixando Fábio sorrindo bobamente no corredor.
Nota do Autor: E ai, estão gostando? Comentem, falem o que vocês estão achando, POR FAVOR.
Aviso: a fic até agora se concentrou no Fábio, mas a partir do próximo capítulo será centralizada no Gideão, pelo menos por algum tempo.
Proximo capítulo: Nos horrores da guerra.
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