O Favorito



Capítulo 1 – O favorito



(Relato datado de 31 de outubro de 1971, resgatado do antigo diário de Gideão Prewett, que foi guardado na sede da Ordem da Fênix após a morte do mesmo, e parcialmente destruído durante um ataque de comensais).



Hoje o dia amanheceu cinzento, e de certa forma eu agradeço por isso, por a luz do sol pode me revelar coisas ainda piores dos que as que eu descobri ontem à noite. Não relatei ainda o que aconteceu porque escrevendo minhas descobertas eu terei certeza de que tudo foi real e que os fatos nos quais eu me forcei a acreditar até hoje não passavam de mentiras. Mas eu não posso continuar a fingir que nada aconteceu, pois hoje me dei conta que quanto mais fujo das coisas, mais elas se fazem presentes em minha vida e em minha consciência.

“ELE MORREU!” Era o que eu mais queria poder gritar aos quatro ventos, mas a verdade se estampou de forma tão flagrante que não posso mais negar. Nem fugir.

É estranho para eu falar que meu maior desejo era que meu próprio irmão estivesse morto, mas ao perceber o rumo que ele deu à vida dele eu não vejo solução melhor. Talvez se ele estivesse morto ele não se sujaria como se sujou, talvez fosse feliz. Talvez deixasse minha consciência em paz. Não sei, tudo é confuso agora. Mas eu sinto que se eu desabafar todas as minhas memórias de uma vez eu ficarei um pouco aliviado.

Dizem que em toda família há um filho preferido. Bom, este era eu. Sempre fui tratado com todo carinho por meu pai e minha mãe. Talvez por ter sido selecionado para a Grifinória (a casa à qual eles pertenceram), talvez por ter alcançado tudo que eu podia na casa (monitoria, comando do time de quadribol) eu era mimado por meus pais e meu irmão ficava em segundo plano. Minha irmã, Molly, não sofria com isso, tanto por ser a única filha da família, quanto pelo seu jeito simples e carinhoso de ser, mas eu percebia que Fábio sempre amargara ser a “sobra” na família.

Quando mais novo eu nunca dei atenção a isso, mas quando as coisas foram tornando-se mais flagrantes eu não pude mais fechar meus olhos. Fábio, por ser quatro anos mais novos que eu, entrou em Hogwarts depois de mim. E me superou.

Foi um golpe duro não só para meu coração, mas também para meu ego. Fábio era muito melhor que eu em tudo que fazia. Sempre tirou as melhores notas, foi monitor, bateu o recorde na pontuação dos NOM’s, foi capitão do time de quadribol, monitor-chefe, passou com louvores nos NIEM’s. Enfim, fez coisas que eu nunca sonharia fazer. Mas mesmo assim nunca foi respeitado por meus pais, que sempre agiram como se ele fosse um nada, que faziam questão de rebaixá-lo, de mostrar todo seu desagrado por ele pertencer a Sonserina. Graças a isso Fábio se tornou rebelde, explosivo. Era comum nos feriados que vinha passar em casa ter discussões feias com meu pai, que sempre jogava na cara dele que ele seria um nada, que não conseguiria conquistar nada. Depois de um tempo ele evitava passar os feriados em casa. E eu tenho certeza de que se não fosse por Molly ele teria saído definitivamente de lá.

Eu e Molly o amávamos muito, mas ele começou a distanciar-se, e eu percebi que ele começou a trilhar um caminho que o levaria para um mundo cruel do qual eu queria a todo custo poupá-lo.

Quatro anos depois de terminar Hogwarts ele começou a andar com um tal Evan Rosier, que lentamente o mudou, transformando-o em uma pessoa cruel. Eu investiguei o rapaz e descobri que os planos dele eram levar Fábio para o lado de um bruxo das trevas chamado Voldemort, que estava recrutando servos. Contei tudo a ele, mas ele estava estranho, alterado, não acreditou em mim. Nós brigamos, ele me acusou de ter roubado o amor de nossos pais, de ter inveja dele e me mandou sair da sua vida. Eu não me dei por vencido e fui atrás dele para obrigá-lo a perceber a verdade. Quando o encontrei ele estava junto do Rosier. Tivemos mais uma discussão, ele estava mais estranho ainda. Então percebi que ele estava enfeitiçado, mas infelizmente ele só o ajudava a decidir pelo caminho do mal.

Ele estava tomando aquele caminho porque queria.

Eu contemplei o rosto do meu irmão horrorizado e percebi o quão frios estavam os olhos de Fábio. Disse para eu sair do caminho dele, e como eu resisti, lançou em mim uma azaração fortíssima e cai inconsciente. Duas semanas depois acordei no St. Mungus e recebi a notícia de que Fábio embarcara num navio que naufragou, matando todos.

Fábio morreu, Fábio morreu, Fábio morreu... era só isso que minha mente ressoava naquele momento. Eu sabia que aquilo não acontecera, eu sentia. Entretanto foi naquele momento que eu aprendi a mentir para mim mesmo.

Voldemort declarou guerra publicamente e eu me aliei, a pedido de Dumbledore, à Ordem da Fênix, uma ordem criada para combater Voldemort. Passei os últimos dois anos trabalhando como espião para a Ordem, trazendo todas informações que podia sobre Voldemort. Mas então eu descobri uma coisa boa: Fábio estava vivo. Porém isso se revelou uma faca de dois gumes: Fábio estava vivo, mas tornara-se um Comensal. Um comensal carregado de ódio, que agora era conhecido como o Corvo, o braço direito de Voldemort, status alcançado por atos cruéis e perversos e que agora tinha a missão de livrar-se de uma pedra no sapato de Voldemort: a Ordem da Fênix.

Que Merlin nos proteja a todos da fúria do meu irmão...


(Fim do relato)

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