Chantagem Emocional
Hermione acordou atordoada, sem saber direito onde estava. Logo percebeu que ainda voava em direção a Hogsmeade. Com um leve movimento, fez o Hipógrifo dar a volta, segurando-se firmemente. Cada movimento fazia seu coração disparar: voar não era para ela... não era mesmo.
Inclinou-se e sussurrou no ouvido do animal que acelerasse, comando que o Hipógrifo obedeceu prontamente. Tremia de medo, mas não se importava. Tinha medo de que fosse tarde demais. Anoitecia. Sabia que a execução de Malfoy estava agendada para meia-noite, mas queria poder resgatá-lo antes que ele pudesse ser retirado de Azkaban. No Ministério, a chance de uma fugra era impossível.
Por conta da ansiedade em retornar à Azkaban, deixou de lado o medo e fez movimentos mais bruscos para ganhar velocidade. Em poucos minutos cruzou a distância que a separava de Azkaban. Ainda do alto, percebeu o movimento perto do portão de entrada, o mesmo no qual Draco a apanhara dias antes, quando ela mesma fora condenada aquele lugar horrível.
Havia alguns hipógrifos, dementadores e um carro voador (coisa de Rony, com certeza), todos preparados para receber Draco. Antes que ela pousasse, viu que Harry saia puxando Draco algemado. E não era só isso: um corte havia surgido na testa de Draco. Tomada de assalto por uma emoção que desconhecia, Hermione mergulhou em direção ao chão e, completamente sem jeito, despencou do Hipogrifo assim que o animal atingiu o chão, batendo com violência contra uma pedra, deslocando seu ombro direito e rolando em direção a Harry e Malfoy.
- Hermione! - escutou Harry e Draco gritarem, mas enquanto Harry pôde correr até ela para socorrê-la, um dos dementadores, agarrou com mãos pútridas o braço de Draco, impedindo-o de se movimentar.
Harry ajudou Hermione a se levantar, mas assim que ela conseguiu um certo equilíbrio, afastou as mãos de Harry.
- Vim impedí-lo de cometer uma atrocidade! -reclamou Hermione, erguendo a voz acima do que costumava. Você não pode executar Draco como se executa um animal já ferido. Isso não é certo!
- E é certo o que ele fez, Hemione? – retrucou Harry, visivelmente abalado. - As pessoas que morreram por causa dele? Isso é justo? – Enquanto esbravejava, Harry lançava olhares fuzilantes para onde Draco estava.
- Não. É claro que não. Eu sei do que Draco é capaz e sei que o que ele fez não se faz. Mas eu sei que há bondade nele, há algo de bom. Ele merece ser salvo, Harry. Sei disso com todo o meu coração e posso testemunhar que ele é capaz de fazer maldades indescritíveis, mas também de uma ternura que jamais encontrei em homem algum...
Hermione parou de falar, enrusbecida por ter aberto tão facilmente seu coração. Malfoy a encarava completamente perplexo como se alguma coisa o tivesse surpreendido. Rony, que havia saído do carro, tinha lágrimas nos olhos e Harry a encarava com o cenho franzido, meio aborrecido, meio reflexivo. Para os outros autores e dementadores presentes, Hermione nem olhava, não importava aquele pequeno show, o que lhe importava era fazer Harry voltar a sensatez e, principalmente, seu objetivo era salvar Malfoy.
- Eu sei que você tem o poder para salvá-lo, Harry.E é só o que lhe peço. Eu sempre fui sua amiga, sua parceira enquanto estávamos em Hogwarts e depois como aurores no Departamento da Magia. Eu sempre fui fiel a você e sempre fui fiel aos nossos ideais. Quando falo por Malfoy, não quer dizer que não sou mais o que era. Eu não me tornei um monstro como você e Rony imaginaram. Mas não posso deixar de dizer que vi em Malfoy mais do que vocês são capazes de ver. Por ele, eu estava disposta a viver na obscuridade e ele novamente me trouxe a luz, Harry. Sei que você não entende o que estou falando, mas eu sei do que estou falando e posso lhe dizer com todo o meu coração que Malfoy pode ser muito mais do que ele mesmo pensa que é. Deixe-o viver, Harry. Ele pagará o que fez na cadeia, nesse lugar repulsivo que é a própria morte, mas não tire dele a oportunidade de mudar para melhor, não tire dele a oportunidade de continuar a experimentar a vida... Harry. Ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém. Nem ele, nem você... ninguém... Se ainda assim, você insistir em assassiná-lo dessa forma, saiba Harry que jamais poderei te perdoar e você terá perdido muito mais do que um amor, terá perdido a mim como sua amiga, como sua irmã e penso que isso deveria ser importante para você como é pra mim, Harry.
Houve alguns segundos de silêncio e ninguém sabia o que aconteceria, mas Harry agarrou Hermione pelo braço e meio a contragosto, arrastou-a para longe de todos a um lugar que ninguém poderia escutá-los.
- O que diabos é isso, Hermione? – perguntou Harry, largando-a. – Num momento você confessa para mim que sempre me amou e sempre me amará...
- E é a mais pura verdade...
- E agora declara a alto e bom som que Draco passou a ser a luz da sua vida?
- Harry...
- Cale a boca, Hermione... apenas cale a boca e me escute, por que eu vou fazer isso por nós dois que somos as vitimas nessa história toda: eu deixo Malfoy viver... deixarei mesmo Malfoy viver, você sabe que o Ministério faz o que eu mando, mas você precisa me dar algo em troca...
Hermione franziu o cenho, aturdida.
- Do que está falando, Harry? – perguntou ela, sentindo uma raiva apoderar-se do seu corpo – o que você quer em troca?
- Case-se comigo! Case-se comigo. Seja minha e eu faço a sentença dele ser revogada para perpétua!
- E você acha que casando comigo vai resolver todos os nossos problemas, Harry? – esbravejou Hermione, sem acreditar no que ouvia – Olhe a sua volta: Rony ainda não superou a nossa separação. Gina está em Azkaban. Os meus e os seus filhos estão desolados com tudo o que está acontecendo. Não podemos nos casar e simplesmente fechar os olhos para tudo o que está acontecendo aqui!
- Gina tentou escapar hoje de Azkaban. Nós capturamos ela, mas Malfoy tentou protegê-la quando os dementadores a agarraram. Por isso, eu tive que atacá-lo. Ela está completamente enlouquecida e não pode cuidar dos nossos filhos agora. Rony está tão descontrolado quanto Gina com a separação e não vai melhorar, Mione. Eu não quero esperar a vida inteira para acertar as coisas com você. Hermione... eu descobri que te amo e, sim, isso é uma chantagem emocional asquerosa, mas não vou perder essa oportunidade.
- Eu estou cansada disso! – retrucou Hermione – estou cansada de ser chantageada por todos os lados: você, Rony, Malfoy... – disse ela, levando as mãos a cabeça. Olhou para Malfoy de onde estava. Ele parecia calmo, abatido, mas tranquilo. Era estranho para Hermione ter naquele lugar infame que era Azkaban os três homens que amara na vida. Rony, a quem tinha um grande carinho, um grande respeito. Gostaria muito que ele pudesse reencontrar a felicidade e o jeitinho moleque de quando estudavam em Hogwarts. Harry, por quem fora apaixonada por tantos anos e anos, mantendo em seu coração um amor que não poderia nunca vir a tona, sufocando-a por dentro. E agora Malfoy, esse homem perigoso a quem temia e a quem, contraditoriamente, sentia uma paixão que lhe invadia a alma como se fosse um fogo descontrolado. Se tivesse que escolher, a quem escolheria? Harry não lhe dava alternativas e para salvar a Malfoy, Hermione faria o que tivesse que fazer.
- Está bem, Harry... eu me casarei com você! Mas só quando a nova sentença for proferida. Só me casarei com você quando souber que Malfoy está a salvo.
Harry ergueu sua mão direita no mesmo instante, com um sorriso que Hermione desconhecia nos lábios.
- Está fechado!
- É assim que iniciaremos essa relação? Como um acordo frio? – perguntou Hermione, aborrecida com a atitude.
Mas Harry não ligou e voltou para onde Rony e Malfoy estavam.
- Levem Malfoy de volta a cela dele. Vamos para o Ministério.
- Mas Harry, o Ministro... – começou um dos aurores a reclamar, mas Harry foi firme – Faça o que estou mandando!
Como em câmera lenta, o dementador começou a puxar Malfoy para dentro de Azkaban. Antes de sumir nos portões da prisão, entretanto, Malfoy virou-se para Hermione e os dois trocaram olhares profundos. A tranquilidade que havia no rosto dele havia sumido, em seu lugar, um cenho pesado, um olhar escuro e melancólico foi lançado a ela. Por um segundo, Hermione imaginou que Malfoy sabia o que estava acontecendo. Que ele escutara de alguma forma, tudo o que ela havia combinado com Harry, sabia que eles se casariam. O olhar dele para dela, fez um arrepio cruzar seu corpo. “Eu preciso fazer isso, Malfoy... por você”, pensou ela, desejando que ele pudesse ler seu pensamento.
Quando Malfoy sumiu, Harry retornou para onde ela estava.
- Espero que tenha dado uma boa olhada em Malfoy, porque você nunca mais o verá. Você está proibida de vê-lo e se tentar por alguma razão, mandar alguma carta que seja a ele, eu farei com que ele seja condenado... está me ouvindo, Hermione? – falou Harry, tomado por um ciúme que Hermione desconhecia em Harry.
Esperava que com o passar dos tempos, Harry viesse a mudar de opinião, que deixasse ela ver Malfoy de novo, mas no seu coração um aperto sufocava-a. Tinha medo de nunca mais olhar naqueles olhos azuis, naquele olhar profundo, naquele sorriso sarcástico. Tinha medo de nunca mais sentir o gosto daqueles lábios perigosos contra os seus...
Hermione não pode conter uma lágrima penosa no canto dos olhos. Estava apaixonada por Malfoy. Não podia mais negar. E era uma emoção que nunca tivera antes. Achava que sua vida estava resumida ao trabalho e ao estudo, mas alguma coisa havia despertado dentro dela. Malfoy despertara nela essa coisa sufocante e agora ela não conseguia pensar em outra coisa. Era boba por estar fazendo o que fazia, sacrificando-se por ele. Malfoy com certeza a estava usando como sempre, como um ultimo recurso para evitar a morte. Devia rir dos seus sentimentos e rir da maneira como a manipulava. Sentia raiva de si mesma, mas ao mesmo tempo, a dor de sempre estar sendo jogada de um braço a outro como se fosse uma bola de pingue pongue. Contrariada, aborrecida, mas de certa forma, tranquila por ter conseguido convencer Harry, Hermione voltou ao seu Hipógrifo e alçou voo para longe de Azkaban e de Malfoy, talvez pelo resto de sua vida.
Harry olhou o Hipogrifo de Hermione sumir no horizonte, enquanto Gina aproximava-se dele, saindo do portão de Azkaban.
- Ela concordou? – perguntou a ruiva, com um sorriso no rosto.
- Concordou sim, Gina. Você tinha razão! Sua idéia foi perfeita – respondeu Harry, olhando para a mulher com a qual dividiu grande parte da sua vida. Queria poder amá-la de volta, mas muita coisa havia acontecido desde então.
- Vai manter o nosso acordo? – perguntou Gina, melindrosa, abraçando o braço de Harry.
- Sim, vou manter sim, Gina. Sei que vou me arrepender disso, mas você poderá sair dentro de um mês, quando eu e Hermione nos casarmos.
- Por que parece tão desolado, Harry, querido... – perguntou Gina, sinuosa – Achei que ficaria exuberante ao acertar esse casamento forçado.
- Hermione não me ama mais... talvez nunca tenha amado e só agora está se dando conta disso. E para falar a verdade, Gina, também não sei se a amo, ou se é despeito por Malfoy ter despertado em Hermione essa paixão avassaladora, mas a verdade é que, você tem razão, você tem toda a razão. Sem esse casamento, haverá uma guerra entre os “sangue-ruins” e os “nascido-bruxos”. E o Ministério não pode lidar com mais essa crise. Com um casamento entre Hermione e eu, tudo voltará às ordens e quando isso acontecer, eu pessoalmente, matarei Malfoy...
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