Uma verdade cruel
Capítulo 7 – Uma verdade cruel
Hermione abriu os olhos devagarzinho. Malfoy estava sentado na beirada da cama e a observava com um sorriso discreto no rosto.
- Já estava preocupado! – disse ele, fazendo uma leve carícia na bochecha de Hermione, com a ponta dos dedos. – Você dormiu por horas!
Hermione sentou-se na cama e espreguiçou-se. A camisola que usava era transparente demais para se usar na presença de Malfoy, mas agradecia por estar vestindo algo tão macio e delicado em comparação com os pijamas esfarrapados e sujos de Azkaban. A cama que usava, com lençóis finos e macios e cobertas quentinhas, não haviam como ser comparada a dura, desconfortável e gélida cama da prisão.
- Essa é uma prisão muito mais confortável do que Azkaban... – falou ela mais para si mesma do que para Malfoy. Ele contudo, respondeu sério, com o cenho levemente franzido.
- Você não está numa prisão! – falou ele. – A porta do seu quarto está aberta. Você está livre para sair da minha mansão se quiser...
- E para onde eu iria? – respondeu Hermione, aborrecida – Você me colocou numa prisão, Malfoy! No momento que eu puser meus pés lá fora, eu serei pega e jogada em Azkaban. O júri já deu o meu veredicto, sabia? Sabe qual é?
- Eu sei! – disse Malfoy, segurando a mão de Hermione. – Mas você não precisa se preocupar com isso. Ninguém vai tocar em você e se tocarem vão pagar um alto preço por isso. Você não precisa ficar aqui, se não quiser. Mas gostaria muito que ficasse... muito mesmo.
Hermione olhou com afeição para Malfoy. Ele era um vilão, mas demonstrava bondade para com ela. Mas era um jogo perigoso e Hermione precisava ter muito cuidado.
- O que quer de mim, Malfoy? – perguntou Hermione, preocupada. Sabia que ele queria alguma coisa dela. Precisava se preparar, pois um vilão cobra preços altos pelos atos de bondade.
Malfoy sorriu, aproximou-se de Hermione, puxando-a para ele. Envolveu-a completamente e tão rapidamente que Hermione não teve tempo para escapar. Viu-se presa naqueles braços tão acolhedores por um lado e tão perigosos por outro.
- Eu posso sentir o seu coração disparando, Hermione. Posso sentir sua respiração irregular cada vez que eu me aproximo de você – disse Malfoy a uma curta distância de seus lábios. – Você tem medo de mim, eu posso sentir. Mas gostaria muito que não tivesse... não há motivos. Eu não quero machucá-la.
- Você já me machucou, Draco... – falou Hermione, tentando controlar seu próprio corpo que tremia. – Quando me colocou contra Harry.
- Ele te abandonou, Hermione. Se ele realmente te amasse... ele acreditaria em você. Lutaria por você, mas o que ele fez? Jogou você em Azkaban e jogou a chave fora... – falou Malfoy, carregado de sinismo. Aquilo atingiu Hermione mais fortemente do que ela previa. Era verdade tudo o que Malfoy lhe dizia. Harry não acreditou na sua palavra. Ficou contra ela. E ela havia aberto seu coração para ele. – Mas eu não te abandonaria nunca. Se imaginasse as lutas que travei para ter você, minha querida... enfrentei os comensais e toda a minha família quando aquela foto foi parar no jornal. E faria tudo de novo.
Draco segurou seu queixo e depositou nos seus lábios um terno beijo. Foi algo diferente do que o primeiro beijo que ele lhe dera. Aquele beijo havia sido passional demais para ela que havia ficado aterrorizada quando estava na Rússia. Este era terno, delicado. Apesar de sentir muito medo, Hermione não conseguiu resistir a esse contato. Quando percebeu, havia se entregado ao beijo e acariciava o rosto de seu inimigo.
Ao perceber que havia derrotado as resistências de Hermione, Malfoy se afastou um pouco, mas ainda a tinha em seus braços.
- Me pergunto se você já está pronta para mim, querida? – perguntou ele, olhando fixamente nos olhos de Hermione.
Ela respirava mais aceleradamente agora, tomada pelo medo.
- Draco, por favor... – Hermione implorou. Se ele tentasse algo, sabia que não poderia resistir. Ele a seduzia e Hermione sentia que suas forças se esvaíam cada vez mais na presença dele. Ainda assim, não queria que ele a tivesse. Seria a sua derrota, Hermione sabia. Não poderia jamais esquecer que lidava com Draco Malfoy, um homem cruel, desonesto, responsável pela morte de inocentes, pelo sofrimento de milhões de bruxos.
Draco sorria, e Hermione sabia que Malfoy tinha o controle da situação e tinha consciência disso, ainda assim, Draco a largou delicadamente sobre a cama.
- É só uma questão de tempo, querida, você sabe disso. Você só está evitando o inevitável, mas já lhe disse que quero você completamente: seu corpo e sua alma. Não a quero de outra forma. Falta muito pouco para isso. – falou, ele, novamente, fazendo cachinhos com os cabelos de Hermione. – Sou um homem impaciente, Hermione. Mas com você, não...
Hermione respirou aliviada, mas no fundo, sentia uma pontada de tristeza que não queria admitir. A idéia de se entregar nos braços de Malfoy parecia ser cada vez mais tentadora. Precisava ser forte, precisava resistir. Mas ficava cada vez mais difícil sabendo que havia sido abandonada por todos os seus amigos. Os braços protetores de Draco eram cada vez mais acolhedores.
- Fique tranqüila, Hermione. É melhor mesmo que você se recupere bem. Vou mandar que lhe sirvam alguma coisa. E você está livre para explorar minha mansão. Tenho certeza que a achará bastante intrigante para uma mente como a sua. Há anos venho equipando a biblioteca. Achará livros raros e compêndios interessantíssimos. Isso manterá sua mente em constante expansão. – E como Hermione fez uma pequena careta, achando estranho o que Malfoy lhe dizia, ele completou – Não sou como Rony Weasley, Hermione. Não quero podar você e sua inteligência agudíssima. Quero lhe dar asas, ao invés...
Quando Malfoy saiu do quarto, Hermione não pode deixar de exibir um pequeno sorriso nos lábios.
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Dias depois...
Harry Potter jogou nos ombros a capa da invisibilidade quando Rita Skeeter saiu da sede do Profeta Diário em Londres. Já fazia cinco dias desde que Hermione saíra de Azkaban. Cinco dias que ele vinha seguindo Skeeter sempre em segredo. Nos primeiros dias, ela foi direto para seu apartamento, mas hoje parecia estar se desviando do caminho o que para Harry significava alguma coisa. Talvez ela se encontrasse com a fonte da foto. Poderia não ser nada, mas precisava tentar alguma coisa. Alguma coisa precisava fazer sentido em tudo o que acontecia nos últimos dias.
Rita desceu as escadarias do Metro para a tristeza de Harry. Na descida, ele esbarrou com algumas pessoas que não o viam e que achavam aquilo absurdo. Achou, por um momento que a havia perdido, mas depois viu a velha repórter ao longe, olhando para todos os lados e entrando discretamente numa porta. A porta dava para o Banheiro Feminino. Harry a seguiu, mas não abriu a porta. Afinal, se ela visse uma porta se abrindo do nada, talvez descobrisse sua presença. Colocou o ouvido na porta, para ver se escutava alguma coisa, mas não podia ouvir nada lá dentro, ainda mais com o barulho das conversas e dos próprios trens que passavam em direções diferentes. Deu um passo para trás e foi por pura sorte, porque alguém, naquele instante surgiu do seu lado e abriu a porta. Harry entrou antes de perceber quem era, afinal, a mulher usava um capuz, e se colocou a um canto onde podia ver as duas mulheres a uma distância segura.
Rita Skeeter estava na frente do espelho e retocava seu batom. A mulher que usava o capuz ficou ao seu lado, mas Harry não podia ver seu rosto.
- Espero que não tenha se aborrecido por eu ter querido vê-la, mas as coisas mudaram. Precisávamos conversar. Não sei se consigo conviver com o fato de ter mandado uma mulher inocente para Azkaban... – falou Skeeter, com uma expressão preocupada no rosto.
Harry sentiu seu coração disparar: “uma mulher inocente”? Estaria ela falando de Hermione? Estava tão perdido em seus pensamentos que não percebeu a outra mulher retirando o capuz. Quando ela proferiu as primeiras palavras, contudo, Harry teve um sobressalto. Simplesmente não podia acreditar que era Gina Weasley Potter.
- Ora, ora, Skeeter com dores de consciência??? Isso é novidade. – falou Gina, muito diferente do usual. Por baixo do capuz, Harry podia ver que Gina usava um vestido vermelho muito sensual, Harry nunca a viu usando aquele tipo de roupa.
Gina!, pensou Harry, o que Gina está fazendo aqui? Seria ela a fonte da foto? Um pensamento aterrorizador passou pela sua cabeça: seria ela o traidor?
- Eu tenho consciência, Weasley... me pergunto se você a tem! – agulhou Skeeter, visivelmente com transtornada, ajeitando os óculos que teimavam em escorregar para a ponta do nariz.
- É Sra. Potter para você! – falou Gina, melindrosa. – E se quer saber, Draco já a tirou de lá.
- Eu soube. Mas não sei se isso é uma boa idéia. Não sou boba, Weasley. Não é de hoje que escuto as histórias de Draco Malfoy como um amante exigente, excitante mas crudelíssimo com as muitas mulheres que ele possui, mas é claro que você pode me dizer mais sobre isso.
Gina esboçou um sorriso maldoso. Harry estava atônito com tudo o que acontecia? O que Rita Skeeter estava insinuando? Que Gina e Malfoy eram amantes? Tudo parecia surreal demais para ser verdade.
- Está com inveja, Skeeter? Malfoy não gosta de mulheres mais velhas, mas já o vi cortejando algumas. Ele gosta de experimentar mulheres diferentes, mas sempre volta para mim. Sou a sua amante há anos. Tenho certeza que essa obsessão por Hermione terminará no momento em que ele a tiver. Depois ele vai abandoná-la. Será um castigo e tanto para ela vê-lo retornando para mim. Eu terei Harry e Malfoy só para mim. Aquela maldita terá o seu castigo. No fim, ela morrerá na cadeia, sozinha, sem ninguém. Por que quando Malfoy a abandonar, Harry não poupará esforços em mandá-la para Azkaban.
- Mas ela é inocente! – falou Skeeter, num tom grave e preocupado. – Nunca pensei que Harry reagiria daquela forma. Nunca imaginei que ele a condenaria a Azkaban. Sei que ela só foi condenada por influência dele. E imagino o quanto ela deva estar sofrendo agora nas mãos de Draco Malfoy.
- Não se faça de santa! – respondeu Gina, com uma risadinha sarcástica. – Você sabia o tempo todo o que estava fazendo. Sabia que ao publicar aquela foto você destruiria a vida dela. Mas você não parecia tão preocupada na hora. Você só pensou na sua carreira... você está velha... sabe que não poderia ficar muito tempo no topo como a principal repórter do Profeta Diário. Se eu lhe dei uma oportunidade, você a pegou. E ganhou muito bem para isso, uma pequena fortuna.
- É sobre isso que queria falar com você! – disse Skeeter, tirando um envelope da bolsa e colocando sobre o balcão do banheiro, empurrando-o na direção de Gina. – Não quero esse dinheiro. Ele está pesando por demais na minha consciência. Devolva-o a Draco Malfoy, aquele demônio... não quero mais saber de trabalhar para ele nunca mais. Vou contar a Harry toda a verdade. Você devia contar também...
Skeeter fez menção de sair, mas Gina a segurou e a empurrou contra a parede, sacando a varinha.
- Você não dirá nada se estiver morta! – disse Gina, ameaçadoramente.
Harry tirou sua varinha do bolso. Preparado para agir, se precisasse. Quando Gina brandiu a sua varinha, Harry puxou a capa, ficando à mostra. Tanto Gina quanto Rita Skeeter suspiraram surpresas.
- Largue a varinha, Gina... ou juro por Deus que a estuporarei..
- Harry... Harry querido, a quanto tempo você está aí? – falou Gina, com a voz um pouco trêmula, melindrosa, mas segurando firmemente a varinha.
- Largue a varinha, Gina... não falarei novamente!
- Você não sabe de nada... – falou ela, agora no tom mais próximo do que quando conversava com Rita Skeeter, mas largou a varinha.
- Eu escutei tudo o que você falou com Rita: você, Rita e Malfoy tramaram contra Hermione. A quanto tempo você vem dando informações a Draco, Gina. Há quanto tempo vem me traindo?
- Harry... por favor, você não entende... sou uma vítima... Malfoy é cruel. Ele me seduziu, querido, ele vem me torturando a anos. – disse ela, com uma voz melindrosa, chorosa.
Harry olhou para Gina, sem saber se acreditava nela, ou não.
- E porque disse a Rita que no fim, você teria a mim e a Malfoy? Eu devo ser mesmo muito idiota se você pensa que pode me enganar depois de ter escutado o que escutei dos seus próprios lábios, Gina Weasley!
Gina esboçou um sorriso sarcástico. Seus olhos verdes, marejados de lágrimas, que Harry sabia serem falsas, agora brilhavam ardentemente.
- A culpa é só sua, Harry. – disse ela, num tom grave. - Malfoy pode ser um homem cruel, mas pelo menos ele dá atenção a mim mais do que você. Todos esses anos eu venho me dedicando a você, Harry e você? É só Hermione isso, Hermione aquilo. Como Hermione é inteligente. Como Hermione resolveu o caso. Como eu preciso da Hermione. Como é ela a minha melhor amiga... não vê...?Não me viu sofrendo todos esses anos com a sua negligência?
- Meu Deus, Gina... eu sempre te amei, sempre fui fiel a você... Hermione era minha melhor amiga... achei que você compreendesse... Diga que não foi você quem deu a informação a Malfoy que eu e a Hermione estávamos indo a Rússia de avião, como trouxas, Gina. Só me diga que não... – perguntou Harry, magoado. Sua esposa. Era sua esposa quem estava por trás daquela trama nojenta e sem precedentes.
- Não, Harry... realmente eu não disse a Malfoy. – disse Gina, com um estranho brilho no olhar. – Eu disse a Paschenko. Malfoy não queria machucar Hermione. Eu queria. Nem que para isso matasse você junto. Eu queria que ela morresse... Malfoy me torturou quando soube... o maldito... você e ele apaixonados por aquela sonsa... eu os quero só para mim. Eu amo você, Harry... Amo vocês dois...
- E quanto a foto? – perguntou Harry, abalado. Nunca pensou que Gina pudesse ser tão má. - É verdade que Hermione foi obrigada por Malfoy a tirar aquela foto?
Como Gina permaneceu calada, esboçando um estranho sorriso, Harry gritou:
- RESPONDA, MALDITA, RESPONDA!!! – Disse Harry, descontrolado. Skeeter tremeu assustada, mas Gina permaneceu a mesma. Um estranho brilho no olhar, o sorriso mais largo e sombrio.
- Sim... é verdade. Draco obrigou Hermione a dormir com ele. Malfoy conseguiu ter Hermione primeiro do que você, viu só? Hermione transou com Malfoy. Ela é dele agora...
- Harry, é mentira! – falou Skeeter, ainda trêmula com tudo o que havia passado.
- Cale a boca, vaca suja!!! – gritou Gina, partindo para Skeeter, mas antes que ela conseguisse agredi-la, caiu desmaiada no chão. Harry a havia estuporado.
- Meu Deus... meu Deus! – dizia Skeeter, a mão no peito, tentando controlar seus batimentos. – Se você não estivesse aqui, Harry, acho que ela me mataria. Eu sinto muito por tudo... eu sinto muito...
- Diga o que você sabe sobre Hermione... – disse Harry, sentindo uma pesada lágrima escorrer pelo rosto. Sua própria mulher... a mãe de seus filhos... não podia acreditar...
- Draco realmente obrigou Hermione a beijá-lo, mas a própria Gina me falou que Malfoy não conseguiu dormir com Hermione porque ficou com pena.
- Por que Hermione iria dormir com ele, como ele a ameaçou?
- Por sua causa, Harry. Ela queria uma cura para você. Então foi até Malfoy para te salvar... Hermione é inocente. Até onde sei, Hermione é inocente de tudo, Harry. Uma parte de mim queria se vingar dela por ela ter me capturado em Hogwarts aquela vez. Mas a verdade é que nunca quis que ela saísse machucada. Juro por Deus Harry... por favor, me perdoe..
Tudo fazia sentido agora. Hermione havia se entregado a Draco para que ele lhe desse a cura. A cura que o havia salvado da morte certa. Quando Hermione disse no hospital que ela o amava, era verdade. Seu amor por ele foi grande o suficiente para que ela se entregasse a seu pior inimigo. E o que Harry havia feito: ele a havia prendido. Ele a fragilizara o sufiente e depois a entregara nos braços de Malfoy. Pobre Hermione, pensou Harry, sentindo um aperto no coração. Se Draco não tivesse dormido com Hermione antes, tinha a certeza que a essa hora, Hermione já deveria ter sucumbido às investidas de Draco. Malfoy manipulara a ambos, com a ajuda de Gina e Skeeter. Mas agora não havia nada a fazer. Todos estavam nas mãos de Malfoy, por conta da maldita poção. A não ser que houvesse alguma coisa que pudesse ser feita....
- Eu nunca poderei perdoá-la, Skeeter. Mas se não quiser terminar seus dias em Azkaban, você terá que trabalhar para mim, agora...
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