A Prisioneira de Azkaban
Capítulo 6 – A prisioneira de Azkaban
Hermione cobriu-se com o lençol sujo e esfarrapado na inútil tentativa de amenizar o frio. Aquilo era a pior coisa depois das averiguações freqüentes dos Dementadores. De qualquer forma, o desespero de Hermione era para que pudesse, enfim, dormir. Quanto tempo uma pessoa poderia passar sem dormir? Já fazia oito dias que estava em Azkaban. Oito dias sem dormir um só segundo. Não precisava ter um espelho para imaginar sua condição: olheiras profundas e escuras, os lábios secos, os cabelos despenteados, os ossos saltando a flor da pele com a magreza. Só precisava dormir um pouco, um pouquinho só... ah, se não fizesse tanto frio. Deus... permita que eu durma apenas alguns segundos.
O desespero tomava conta dela a cada minuto que passava. Será que a insônia era algum efeito da proximidade dos Dementadores. Sentia-se fraca, cansada, fragilizada. Não era o tipo de coisa que gostava de sentir. Também pudera, quem gostaria? Mas Hermione havia acostumado a ser um auror, uma lutadora, uma mulher de opinião, uma mulher forte. Agora encolhia-se naquele catre fétido, implorando a Deus para que simplesmente a deixasse dormir por alguns segundos.
Escutou um barulho metálico. Um tilintar estranho e viu a sua porta se abrir. Seu frio era tanto que nem se mexeu. Quando viu a figura de Harry Potter aparecer a sua frente, pensou que, enfim, as alucinações, por estar tanto tempo sem dormir haviam começado.
- Como você está? – ele perguntou, num tom distante.
- Está falando comigo? – perguntou ela, imaginando se tudo era na sua cabeça. A figura e a voz de Harry Potter eram verossimilhantes demais para serem apenas alucinações.
- Há alguém mais nessa cela, Hermione? – perguntou Potter, passando um dos dedos pelas paredes da cela. – Sabia que nunca estive aqui, antes? Nunca. Todos esses anos. Sirius foi valente por ter agüentado treze anos nessa condição.
Hermione se sentou, ainda trêmula de frio, lembrando-se do motivo pelo qual Harry Potter poderia estar ali.
- O júri chegou a um veredicto, não é? – perguntou Hermione, temendo o pior depois de um julgamento em que tudo apontava contra ela.
- Sim, chegou, ontem à tarde. Mas não é por isso que estou aqui.
- Qual foi o veredicto? – perguntou Hermione, sentindo um aperto forte no coração. – Fale, logo, Potter...
- Perpétua!!!
Hermione levou a mão a boca. As lágrimas brotaram instantaneamente. Não conseguia respirar direito. Parecia ainda mais frio agora.
- Mas você não precisa se preocupar com isso, agora! – falou Harry, com um tom ameaçador. – O seu comparsa deu um jeito em livrar você daqui...
- Como é? – perguntou Hermione, sem entender direito o que acontecia, enxugando as lágrimas com as costas das mãos – Meu comparsa???
- Malfoy mandou uma carta pública ao Profeta Diário, exigindo a sua libertação ou irá parar de prover a poção de cura contra a Praga de Dracon... o Ministério se reuniu e deliberaram a sua libertação. Ele está lá fora, esperando por você. Finalmente, o plano de vocês parece se realizar perfeitamente...
- Ah, Harry... o que eu posso fazer para provar a você que sou inocente? Eu não tenho nada a ver com isso tudo! Sou uma vítima. Draco me obrigou...ele me obrigou a beijá-lo para...
- Cale-se, Hermione... não fale mais nada... já cansei das suas mentiras... – falou Harry, parecendo abatido. – E pensar... e pensar que...
Harry abaixou a cabeça. Hermione queria tanto poder abraçá-lo, queria tanto poder explicar-lhe tudo...
- Venha, seu amante a espera.
Harry a segurou pelo braço e fez com que ela se levantasse. O pijama de Azkaban que vestia estava sujo e era esfarrapado. Sua condição parecia ainda pior agora que havia levantado. Estava trôpega. Tinha dificuldades em andar, mas Harry a ajudava, apesar de tudo.
Harry a conduziu por um longo corredor. Passou pela recepção que era guardada por bruxos e Dementadores e saiu para fora. O sol ali era tão forte para Hermione que havia se acostumado a escuridão que teve que cobrir os olhos até se acostumar. Quando finalmente acostumou-se à claridade, divisou a figura de Malfoy a sua frente.
- Aqui está ela! – Harry guiou Hermione para Draco que a segurou pelos braços.
- Você está bem, querida... espero que eles não a tenham maltratado demais... – disse Malfoy, de forma bastante dissimulada, tentando abraçar Hermione. Ela, no entanto, procurou se afastar. Tencionava procurar a proteção de Harry, mas este já caminhava para dentro da prisão.
- Harry! – chamou ela, pelo amigo, sentindo-se completamente abandonada a sorte.
- Espero que sejam felizes, desgraçados... – xingou Harry, fechando a porta da entrada da prisão, depois de entrar nela.
Hermione ficou ali, olhando para a porta, sentindo o olhar de Malfoy nas suas costas. Tremia de frio e agora, de medo. O que poderia fazer se o próprio Harry a havia abandonado. Depois de alguns segundos, resolveu se virar. Malfoy a encarava com um sorriso cínico no rosto.
- Eu realmente te odeio, Draco... – disse ela, tentando resistir ao frio e ao medo.
- Eu falei que a teria de qualquer jeito, Granger... você deveria parar de resistir a mim. Não vê que tudo o que fiz foi planejado para acontecer como aconteceu? Só não imaginei que Harry a colocaria assim em Azkaban. Com certeza, a raiva dele foi maior do que eu pensei. O que me leva a crer que ele tem sentimentos ocultos por você, querida. – explicou ele, com uma voz grave, suave. – Venha comigo... você está cansada, doente, abalada. Venha comigo... eu cuidarei de você.
Malfoy estendeu uma de suas mãos para ela. Hermione hesitou. Se estivesse bem, cuspiria na face de Draco e sairia correndo dali, mas não estava bem. Não sabia para onde correr, o que fazer. Seu inimigo era o único que lhe oferecia abrigo, agora. E estava tão cansada, com tanto frio... seus olhos pesavam tanto...
- Eu tenho medo de você... – disse ela, sentindo as lágrimas brotarem quentes no seu rosto gelado. Era a única coisa quente que sentia a dias. – Eu tenho muito medo de você, Draco... mas estou cansada demais para resistir...
Hermione deu dois passos e afundou-se no peito de Malfoy que a abraçou, esfregando suas costas delicadamente para que ela se aquecesse.
- Não me machuque, Draco, eu imploro... – disse ela, entregando-se ao choro e ao desespero. Nunca imaginou que encontraria nos braços de seu pior inimigo, algum carinho e proteção.
- O mundo inteiro tem medo de mim, Hermione. E deve ser assim. Mas não você... eu jamais a machucaria. Eu jamais a colocaria em Azkaban. Não vê? Não percebe? Sou um homem cruel, sou o próprio Diabo agora. Mas você é meu anjo, querida... Estará a salvo comigo.
Draco a ergueu nos seus braços e como se ela fosse uma boneca, colocou-a sobre o hipogrifo que o esperava e depois subiu no animal, aconchegando Hermione melhor em seus braços. Enquanto levantava um vôo ameno e bem conduzido, Hermione fechou os olhos e finalmente conseguiu adormecer.
Harry olhou pela janela a cena que parecia um verdadeiro soco no seu estômago. Hermione protegida nos braços que Malfoy que parecia genuinamente preocupado com ela. Será que Harry a havia perdido para o lado do mal? Será que depois de tantos anos lutando pelo bem e pela justiça, Hermione se deixara levar para o lado das trevas? Ela havia se apaixonado por Draco... só podia ser isso. A paixão nos faz fazer coisas.
Harry fechou a persiana quando o hipogrifo de Malfoy desapareceu no horizonte. Harry sentia-se frustrado. Não conseguira protegê-la contra os encantos das trevas. Mas justo Hermione? Poderia pensar em qualquer um ao seu lado, mas não ela. Hermione sempre fora especial para ele. Mais especial do que queria admitir. Os momentos que passaram na Rússia não tinham saído de sua cabeça desde que voltaram. E quando Hermione disse-lhe no hospital que ela sempre o amara, Harry havia sentido uma estranha sensação. Apesar de ser errado, afinal, Hermione era a mulher de seu amigo Rony, e ele mesmo ser casado com sua querida Gina, apesar de ser completamente errado, Harry sentiu algo que nunca pensou que iria sentir: uma genuína afeição por sua amiga. Uma afeição que iria além da amizade. Naquele momento em que achou que iria morrer, a presença de Hermione tornara –se para ele, mais importante do que qualquer outra presença. Mas depois, quando Quim lhe mostrou a foto do Profeta Diário. Quando tudo finalmente se encaixava, sentiu-se traído, possuído por uma raiva que nunca imaginou que sentiria. Ela o traíra. Havia mentido para ele, falseado um amor... mas para que? Para ludibriá-lo. Hermione teve a chance de matá-lo e não matou? Nada fazia sentido. E como aquela foto fora parar nas mãos de Rita Skeeter? Alguém havia flagrado Malfoy e Hermione, mas quem? Teria sido a própria Rita? Ela não admitia. Dizia que não revelaria sua fonte por nada nesse mundo. Era tudo muito irreal para Harry. Mas, e se Hermione falava a verdade? E se Malfoy a obrigara. Se ele havia tirado a foto sem que Hermione percebesse. Se Hermione era apenas mais uma vítima de Malfoy? Se fosse assim, Harry havia acabado de jogar sua querida Hermione nas garras do verdadeiro vilão. Não, não poderia ser isso. Estava confuso. Ela o confundira ao dizer no Hospital que o amava. Maldita Hermione...
Um dor no peito lembrou Harry de sua condição. Tirou do paletó um pequeno frasco com uma substância azul brilhante e tomou em segundos. Maldita poção. Todo o mundo estava entregue nas mãos de Draco e Hermione agora. A infecção era geral. Mesmo quem estava tomando a poção se tornava um infectante em potencial. Em breve, todo o mundo bruxo, os nascidos bruxos pelo menos, estariam à mercê da poção.
E o pior não era isso. Aquilo pelo qual Hermione tanto lutara na vida: pela igualdade dos nascidos trouxas e os nascidos bruxos estava longe de acontecer. Os primeiros aqueles aos chamados “sangue-ruins” começavam a acontecer por toda a Europa. Os infectados culpavam os sangue-ruins pelo que acontecia. Harry previa que uma guerra poderia acontecer em breve. Alguns comensais haviam cometido ataques surpresas em Hogsmeade. Uma foto com a temida marca negra aparecia numa das páginas do último Profeta Diário. Era difícil para Harry imaginar que Hermione, uma “sangue-ruim”, estava por trás de tudo aquilo.
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