Um inverno particular



Capítulo 2 - Um inverno particular




Harry nadou para leste. Isso custou-lhe pelo menos uns dez minutos, mas afinal, foi a melhor coisa a se fazer. Quem insistiu para que desviassem da rota mais rápida para chegar à praia foi Hermione que agora parecia completamente esgotada de suas forças. A razão era óbvia. Com a explosão do avião, ambulâncias, carros de bombeiros e curiosos invadiram a praia. E os barcos e navios de resgate pareciam nascer do nada invadindo todo o espaço entre a praia e o acidente. Por fim, Harry e Hermione conseguiram passar despercebidos e chegaram a praia, exaustos, mas vivos. Ele precisou ajudar Hermione que perdia as forças. Ela estava lívida. Sua brancura na pele havia se acentuado ainda mais. Por fim, Harry a abraçou e ergueu-a nos braços para sair o mais rápido possível da praia antes que alguém os visse.


- Eu posso andar, Harry, você também está cansado. – dizia ela, tentando relutar, mas encostando-se ao peito de Harry.


- É melhor que saiamos daqui rápido, Hermione – explicou ele.


A praia não era muito comprida, então ele logo chegou a uma rua calçada. Havia algumas casas que pareciam todas desabitadas. Resolveu entrar numa. Não teve dificuldade para abrir a porta. Era um casebre com uma sala-cozinha, um quarto e um banheiro, mas para Harry servia, afinal, tinha uma lareira e, o melhor, havia lenha nela. Harry colocou Hermione sobre o tapete em frente a janela e acendeu o fogo.


Hermione havia desmaiado.


- Mione? – perguntou ele, tocando o seu rosto. Ela estava gelada. E o calor da lareira iria demorar a aquecê-la. Voou para o quarto. Por sorte, havia uma coberta velha sobre a cama e uma toalha no banheiro. Pegou os dois e retornou a sala, onde Hermione ainda estava desacordada. 


- Que Rony não saiba nunca, Mione, mas vou ter que tirar sua roupa. – disse Harry antes de começar a despi-la. Sabia o quão ciumento era seu amigo e, especialmente, com ele, porque Mione e ele sempre trabalhavam juntos nas missões. Bobagem. Mione era sua amiga, e só.


Tirou a camisete e a calça jeans expondo o corpo de Hermione com a calcinha e sutiã brancos. Nunca imaginou que Hermione possuísse um corpo tão perfeito, afinal, via a amiga sempre de camisetes largas e calças ou saias compridas. Tirou por fim toda a roupa, deixando-a nua. Secou-lhe o corpo com cuidado e quando certificou-se de que todo o corpo dela estava seco, enrolou-a com o cobertor. Depois passou a secar-lhe os cabelos fartos.  Quando terminou, Harry percebeu que Hermione ainda estava gelada. Era um estado de hipotermia. Gostaria de ter feito aquele curso de medibruxo anos atrás quando teve a oportunidade. Com certeza, saberia agora o que fazer.


Resolveu despir-se também. Havia visto uma vez um programa na televisão sobre alguns sobreviventes que caíram de avião em alguma cordilheira gelada e que usavam o calor do corpo para se esquentarem mutuamente. Depois de estar completamente nu, desenrolou Hermione e abraçou-se, cobrindo a ambos com a coberta. Sentiu uma estranha correnteza de energia percorrer seu corpo. Aquela proximidade com Hermione era algo inusitado. Deitou a cabeça de Hermione em seu braço e passou a velar o seu sono.


- Você vai ficar bem, Hermione. Vai ficar tudo bem.










Hermione escutou o barulho dos passarinhos e abriu os olhos devagar. A primeira coisa que divisou foi o rosto de Harry. Ela sorriu. Seu corpo doía, mas ela sorria. Sentia aquele calor emanando do corpo de seu amigo e percebeu logo que ambos estavam nus. Ele dormia mansamente. Ela dormia em seus braços, enquanto ele a mantinha firme.


Por alguns segundos, Hermione permaneceu num êxtase inocente, como se sua vida não podia ser mais perfeita do que aquele momento, mas com a sua consciência restabelecendo e ela lembrando-se da sua situação, passou a ver a cena com maior preocupação. Rony e seus filhos vieram a sua mente. Afastou-se então dos braços de seu amigo.


Enquanto ele acordava, Hermione vestiu rapidamente as suas roupas que Harry havia deixado perto da lareira e que agora estavam secas.


- Hermione? – perguntou Harry ainda sonolento. Ele sentou-se e a coberta deslizou por seu corpo, deixando-o parcialmente nu. – Você está bem?


Harry apertava os olhos ao olhar para ela e ela agradeceu por ele ainda estar meio-dormindo. Com certeza não via como ela enrubescera ao divisar o corpo bem torneado e sensual do amigo.


- Estou bem, Harry! – falou ela, desviando o olhar. – É melhor vestir-se.


E dizendo isso, saiu da sala-cozinha para banheiro. Quando retornou Harry já havia se vestido e preparava o café da manhã.


- Achei umas torradas. Estou fazendo uma omelete, você precisa comer. Ainda está pálida. Sente-se ali.


Hermione sentou-se na cadeira que Harry indicara. Só havia duas. Imaginou que também só duas pessoas costumava morar naquela casa.


- Harry serviu-a com torradas e omelete e ainda um café que ele havia improvisado. Ou estava muito bom ou Hermione estava com muita fome, pois comeu rapidamente seu lanche.


- Hermione... acho que eu preciso explicar porque você acordou esta manhã sem as suas roupas e nos meus braços...


- Não precisa...


- Precisa, sim. Você estava com hipotermia. Estava gelada... muito mal. Só tirei as nossas roupas para nos aquecermos. Eu juro que não fiz nada com você.


- Harry, claro que não. Nunca imaginei que tivesse feito algo. Além de cuidar de mim, como sempre. – disse ela, parecendo meio sem graça – Mas seria bom que Rony não soubesse o que aconteceu. Isso precisa ficar entre nós Harry. Tenho certeza que Gina também não gostaria de saber o que aconteceu.


- Mas não aconteceu nada.


- Dormimos juntos e sem roupa. Isso é o que aconteceu! – falou Hermione. – Você conhece Rony.


- Tudo bem, Hermione. Não contarei a ninguém. Mas...


- Mas...? – Hermione perguntou, sentindo que Harry escondia alguma coisa dela.


- Você precisa saber que Rony não quer mais que você trabalhe comigo. Na verdade, Rony não quer mais que você trabalhe como auror.


- Vocês andaram combinando coisas nas minhas costas? – Hermione perguntou, sentindo seu sangue ferver.


- Eu não queria mais brigar com ele. Assenti em demitir você. Essa é supostamente a nossa última missão juntos.


Hermione levantou-se irritada.


- Uma ova, Sr. Potter! Eu sou a sua melhor auror. Sabe que você precisa de mim, não vou deixar que você me afaste de você.


- Hermione. Não estou dizendo o contrário: eu sei muito bem que você é minha melhor Auror, meu braço direito e o esquerdo juntos. Mas eu não quero destruir o seu casamento com Rony e ele deixou muito claro que isso iria acontecer se você continuasse trabalhando comigo. Talvez eu não precise demitir você. Eu posso colocar você num trabalho mais burocrático.


- Não! – declarou Hermione. - Eu gosto do meu trabalho. Minha vida com Rony não têm sido fácil. Tenho agüentado ao longo dos anos o seu ciúme, os seus rompantes. Eu amo meu marido, mas não tem sido fácil continuar assim. Eu disse a ele uma vez que se ele me fizesse escolher, eu escolheria o meu trabalho. Se ele não conseguir compreender que isso é importante pra mim, então talvez não me mereça.


- Hermione... o que você está dizendo?


- Vou me separar de Rony... já devia ter feito isso antes.


Hermione sentou-se novamente e cobriu o rosto com as mãos. Não queria que Harry a visse chorando. Era humilhante demais.


- Vamos, Mione, acalme-se. Você está exausta. Passamos por maus bocados ontem a noite. Você só está cansada. Tenho certeza que irá reconsiderar tudo isso. Vocês são um casal lindo. Não quero estragar isso.


“Ah, se você soubesse, Harry!”, Hermione pensou. Rony tinha razão de ser tão ciumento. Ele sabia. Sabia o que Hermione sentia. Hermione achou que podia esquecer Harry. Os anos foram passando. Hermione acostumou-se a idéia de compartilhar uma vida com Rony. E ele era um bom marido, um bom amigo, um bom companheiro. Mas o ciúme de Harry o corroera. Tornara-o um homem obcecado, ciumento. No fim, Hermione destruíra não somente a sua vida, mas também a de Rony, e talvez a de seus filhos que eram testemunhas freqüentes de suas brigas.


- Vamos, Hermione... prometa que vai pensar melhor sobre isso tudo.


- Você está certo,Harry. Disse Hermione, enxugando as lágrimas com as costas das mãos. Agora precisamos nos concentrar em Abramovich e no ataque de ontem.


- Sim. Acho que ficou claro que há alguém de nosso departamento que está trabalhando como agente duplo.


- Um traidor? Quem? – Hermione perguntou, passando a ver o rosto de todos os agentes que pudessem ter um contrato duplo.


- Não sei, mas precisamos manter todas as informações restritas. Você, eu, Quim e Rony são os únicos que devem ter acesso.


- Certo. Você está certo. Havia mais de dez agentes que sabiam que iríamos entrar na Rússia como trouxas.  Alguém nos delatou.


- Agora estou perdido, Hermione. O que fazemos daqui para frente? Você planejou a missão. Mas eu não li o relatório e agora todas as informações estão no fundo do oceano. O que fazemos?


- Tenho um contato. Há um mercado de bruxos no centro. É perto do aeroporto, mas acho que teremos que ir a pé. Minha bolsa ficou no avião. Mas eu tenho essa chave. – Hermione mostrou uma minúscula chave na correntinha. Harry havia visto aquela chave na noite passada quando a despira. Imediatamente, divisou o corpo nu de Hermione em seus braços. Balançou a cabeça como que para espantar aquele pensamento.


- O que é essa chave?


- Eu tenho uma conta no Gringotes daqui. Teremos dinheiro e alguns artefatos importantes para essa missão. Mandei pelo banco um mapa com algumas localizações. Vamos invadir alguns laboratórios mágicos. Precisamos de apenas uma poção para que eu possa analisar. E fotos mágicas. Se ligarmos Paschenko a esses laboratórios clandestinos, forçaremos o Ministério da Rússia a abrir uma investigação contra Amikail Paschenko.


- Mas você disse que Paschenko controla o Ministério da Rússia.


- Sei disso, mas quando expusermos as falcatruas de Amikail Paschenko para o público, o ministro será obrigado a prendê-lo. Se não o fizer, os demais Ministérios do Mundo podem forçá-lo a fazê-lo. Seria importante pegar todos os contatos de Paschenko no Ministério, mas se pegarmos Paschenko já será uma vitória. Não pegaremos todos os peixes do mar, mas teremos o tubarão nas mãos.  – explicou Hermione. - E uma vez tendo Paschenko em custódia, podemos fazê-lo falar em troca de uma redução de pena. Poderemos pegar Draco, de uma vez por todas.


- Isso parece ótimo!


- Para mim, não! – falou uma voz conhecida.


Harry e Hermione viraram-se para onde a voz vinha. Draco Malfoy e uma dezena de bruxos invadiam rapidamente o casebre.


Harry levantou-se rapidamente e jogou um feitiço contra Malfoy que conseguiu repelir. Em seguida, um raio, atirado de um dos homens atingiu Harry no peito, jogando-o contra a parede.


Hermione tremeu ao ver Harry caído e pensou em ir até ele, mas Draco segurou-a pelo pulso e a puxou para si.


- Olá, Granger!


- Largue-me ! – disse Hermione, arrependendo-se por não ter enfiado a varinha em seus bolsos. Sua varinha deveria estar em algum lugar no chão da sala.


- Nunca... jamais... – disse Draco, envolvendo-a em seus braços. Quanto mais Hermione tentava se afastar, mas sentia os braços de seu inimigo em suas costas, tornando o espaço entre eles cada vez mais diminuto. – Não agora que finalmente a tenho em meus braços...


















 

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