O Despertar de um Pesadelo



- Como vim parar em Ottery St. Catchpole? – Perguntou Harry, confuso – E meu carro?
- Bom, seu carro está na garagem. Mas vamos pensar nele mais tarde, está bem? O importante é saber como você está. – Retrucou Molly.
- Eu estou bem. – Disse Harry, olhando por seu corpo, a procura de algum ferimento – Apesar de não acreditar nisso ainda.
- Também ficamos surpresos. Todos pensamos que havia se ferido bastante, mas quando meus filhos chegaram lá, viram que estava bem e acabaram por trazê-lo para dentro de casa.
- Muito obrigado, senhora... Weasley. – Agradeceu ele.
- Por nada, meu jovem. Qual é o seu nome?
- Harry Riddle. – E enquanto falava, Harry pensou em levantar-se da cama, mas percebeu a tempo que estava apenas de cuecas e parou – Onde estão minhas roupas?
- Oh! Ali, querido. Em cima da cadeira. – Respondeu a mulher, sem se abater.
- Certo. – Anuiu ele, completando – Só por curiosidade... Quem as tirou?
- Sou mãe de seis meninos, meu jovem. Estou acostumada com essas bobagens. Mas eu entendo que isso possa te incomodar, por isso vou deixá-lo sozinho. Estamos lhe esperando lá embaixo para o café.
- Obrigado! – Agradeceu Harry envergonhado, ao pensar que havia sido despido por aquela senhora.



Enquanto se vestia, Harry observou pela primeira vez o local onde estava. Era um quarto pequeno e simples, onde havia duas camas, uma pequena cômoda entre elas e um guarda-roupa em um dos cantos. A roupa de cama era velha, um tanto puída, mas extremamente limpa e cheirosa. Certamente era uma casa simples, de pessoas humildes, mas era uma casa aconchegante.

Minutos depois de ser deixado sozinho, ele estava pronto. Saiu do quarto e desceu pelas escadas que encontrou ao final do corredor, seguindo o som das conversas no andar de baixo. Quando chegou ao pé da escada, estava em uma pequena sala de estar, entulhada de móveis e quinquilharias. Vários sofás, num número muito maior do que o normal, uma TV velha, uma estante e outras coisas espalhadas pelo chão. Atravessou o pequeno ambiente e atravessou uma porta, onde ficava a cozinha. Lá, numa mesa que ocupava praticamente todo o espaço, várias cabeças ruivas se viraram para olhá-lo, com um misto de curiosidade, preocupação e até raiva.


- Você chegou! – Observou Molly, indo a seu encontro e puxando-o para dentro, fazendo com que se sentasse ao lado de um rapaz que devia ter a sua idade, porém mais alto e aparentemente, um tanto desengonçado, que o olhava com curiosidade – Sente-se aqui ao lado de Rony, vou servir-lhe o café. Deve estar morrendo de fome.
- Eu não estou com fome, sra. Muito obrigado, não quero dar mais trabalho do que já dei. – Respondeu ele rapidamente.
- Não é trabalho nenhum, espero só um pouquinho e já lhe sirvo. Você parece estar faminto, e está tão magrinho que parece que não faz uma boa refeição há muito tempo. – Insistiu ela, virando-se para o fogão e mexendo em suas panelas.


Harry resolveu não insistir. Afinal, ele realmente estava faminto, e não conseguiu disfarçar quando seu estômago roncou alto. Além disso, o aroma de salsichas e bacon estava maravilhoso. Sentou-se e olhou para o jovem a seu lado, que agora lhe sorria.


- Olá! Meu nome é Ronald... Rony. – Apertaram as mãos, e Rony continuou, indicando os gêmeos que estavam sentados diretamente à frente deles – Estes São Fred e Jorge. E este – E agora ele indicou o jovem de cabelos compridos que estava sentado do outro lado de Harry – É o Gui. Espero que tenha descansado bem... Eu ronco um pouco às vezes, sabe?
- Muito prazer. Sou Harry. – Harry cumprimentou a todos, tentando esboçar um sorriso. Mas era difícil, pois os gêmeos o encaravam com olhos de poucos amigos – E dormi muito bem, obrigado por dividir seu quarto comigo.
- Quer dizer que você é o cara que acabou com nossa cerca? – Disse um dos gêmeos.
- E matou a Gertrudes? – Completou o outro.
- Matei? Eu matei alguém? Meu Deus, juro que foi acidente, eu perdi a direção...
- Calma, Harry. – Interrompeu-o Gui, dando um olhar significativo aos irmãos – Gertrudes era uma galinha. E já estava velha, deve ter morrido de causas naturais.
- Ela não era apenas uma galinha, era a NOSSA galinha. – Retrucou Fred.
- E ela morreu de ataque cardíaco, quando o carro desse aí arrebentou a cerca e quase destruiu nosso galinheiro. – Emendou Jorge.
- Parem com isso, vocês dois. – Ralhou Molly, voltando para a mesa e trazendo um prato, que colocou na frente de Harry – Coma, querido. Não ligue para esses dois, só estão implicando com você porque terão que consertar a cerca.
- É, tem essa também. – Começou Fred, mas parou imediatamente diante o olhar feroz da mãe.
- Eu juro que não tive culpa. – Tentou justifica-se Harry, enquanto começava a comer. Realmente estava delicioso – Eu sou muito cuidadoso enquanto dirijo à noite. Muito mais do que sou nas pistas...
- Hei! Eu estava reconhecendo você, mas não sabia de onde. Você é Harry Riddle, não é? Assistimos a corrida ontem, você pilota muito bem. – Disse Rony, entusiasmado.
- Gertrudes discorda disso. – Grunhiu Fred, baixinho.
- Tem razão, eu também assisti a corrida. – Disse Gui – Você pilota muito bem. Rony também pilota, sabia?
- Sério? Já disputou alguma prova? – Interessou-se Harry, ao perceber que o clima estava amenizando um pouco.
- Na verdade não. Sou amador, sabe? Não tenho dinheiro para disputar um grande campeonato, como o que você corre. – Justificou Rony, corando imediatamente – Mas acho que até que eu dirijo bem, apesar de tudo.
- Gostaria de ver você dirigindo, qualquer hora destas. – Respondeu Harry, deixando Rony ainda mais encabulado.
- Espere aí. – Interrompeu Jorge, pensativo – Então foi isso? Você correu ontem, saiu à noite para comemorar e encheu a cara. Daí saiu voando por aí com seu lindo carro, encontrou nossa cerca e achou que era um ótimo lugar para estacionar.
- Eu não bebi. Pelo menos, não ontem. – Harry estava começando a ficar irritado com aqueles dois – Eu saí para pensar. Penso melhor enquanto estou dirigindo. Peguei a estrada e dirigia sem rumo, quando um animal... Ou sei lá o que, entrou na minha frente. Tentei desviar, mas não consegui. Atropelei aquilo, perdi a direção e a última coisa da qual me lembro é ver a cerca de vocês. Mais nada.
- Não havia animal nenhum na estrada. Eu e Carlinhos, nosso outro irmão fomos os primeiros a chegar. Encontramos o carro, com a porta aberta e você deitado na grama, sem um arranhão sequer. Parece que foi jogado para fora. Eu ainda procurei na estrada por mais alguém, mas não havia ninguém. Absolutamente nada. – Contou Gui.
- Foi muito estranho. – Harry franziu a testa e continuou – Como eu disse, não tenho certeza se era um animal. Pode parecer loucura, mas parecia um fantasma. Um animal-fantasma, todo prateado. Mas eu tenho certeza de que ele olhou para mim, diretamente para os meus olhos. E quando eu não consegui desviar e o atravessei, ele simplesmente se dissolveu no ar. Mas aí eu já tinha perdido a direção e não pude fazer mais nada.
- Animal-fantasma? – Perguntou Fred, incrédulo – Cara, seu problema é muito pior do que imaginamos. O que é que você curte? Uma ervinha, um pó, pedrinhas...
- Eu não uso drogas. – Harry praticamente gritou – Sei que parece loucura, mas eu sei perfeitamente o que vi.
- Calma, Harry. – Intercedeu novamente Gui – Você pode ter tido algum tipo de alucinação, causada pelo sono e cansaço. Foi um dia bem estressante, seu corpo deve ter apenas reagido desta maneira à fadiga.
- Não sei. Pode ser. – Concordou ele a contragosto. Sabia que era uma possibilidade, mas tinha certeza de que não alucinara coisa alguma.
- Por mim todos andavam a pé. É muito mais seguro. – Balbuciou Molly, em voz baixa – Pelo menos não era uma daquelas horríveis motocicletas. Quando penso nisso, sinto até arrepios.
- Não ligue, ela tem certo problema com motos. – Sussurrou Gui, mostrando o próprio rosto, onde profundas cicatrizes deformavam o que outrora havia sido um belo rosto – Atravessei uma janela a pouco mais de um ano e ela não se recuperou totalmente até hoje.
- Ok. – Concordou o moreno, e apesar da curiosidade, achou melhor não insistir no assunto – Aliás, onde está meu carro? Meu tio vai me matar quando descobrir que bati.
- Tio? Você não mora com seus pais? – Molly voltava à cena, curiosa, enquanto lavava a louça na pia.
- Não senhora. Não tenho pais. Morreram em um acidente de carro também, quando eu era bem pequeno. A única herança que eu tenho da época é esta cicatriz. – Disse ele, mostrando a mesma, em forma de raio, em sua testa.
- Pobrezinho. Sinto muito, não queria fazê-lo se lembrar de coisas tão tristes. – Desculpou-se a matriarca.
- Tudo bem, não me lembro de nada. E vivo desde então com meu tio, que me criou muito bem. Mas ele vai arrancar minha pele quando descobrir que bati o Lamborguini.
- Bom, talvez não. – Disse Rony, sorrindo – Sabe, temos uma oficina. E assim que amanheceu nosso pai correu para lá, e deve estar trabalhando em seu carro neste exato momento. Quer ir vê-lo?
- Com certeza! – E Harry se levantou, acompanhando Rony para fora da casa. Fred e Jorge também saíram, e Gui se despediu, dizendo que tinha que ir trabalhar.



Estava uma bela manhã, um belo sol brilhava no horizonte, no ápice do verão. Primeiro os rapazes foram até o lugar do acidente, onde Harry constatou os estragos que fizera. Ele se comprometeu a pagar pelos prejuizos e os serviços dos gêmeos, e percebeu rapidamente o quanto isso foi capaz de causar uma mudança na forma como os dois o tratavam. Conversaram rapidamente, e enquanto ele e Rony se afastavam, viu os dois tirarem as camisas e começarem a trabalhar. Circundaram a casa, onde encontraram um galpão velho. De fora já dava para ver o carro, que mesmo amassado contrastava com tudo a sua volta. Partes de carros antigos, carcaças enferrujadas, calotas díspares penduradas pelas paredes, ferramentas e uma moto destruída ao fundo, semi-coberta por uma lona rasgada.

No meio de tudo isso, a Lamborguini dourada reluzia como ouro, ofuscando a todos conforme o sol refletia em suas formas. A seu lado estava um homem com uma calvice avançada, mas que ainda mantinha um pouco de sua cabeleira ruiva. Abaixado, outro rapaz ruivo. Este era mais baixo que os outros, porém mais forte e encorpado. Quando viram os dois se aproximando, pararam de conversar e esperaram pelo encontro.


- Ora, vejam só. Já de pé, meu jovem? – Cumprimentou o senhor, estendendo-lhe a mão.
- Este é meu pai, Arthur Weasley. E este é meu outro irmão, Carlinhos. – Apresentou Rony.
- Muito prazer. – Cumprimentou Harry, apertando a mão de ambos – Eu já dei muito trabalho a sua esposa, senhor. Não podia ficar ocupando ainda mais uma de suas camas também.
- Não foi trabalho nenhum... Harry, não é? – Respondeu Arthur, confirmando o nome atravéz de um aceno de cabeça de Rony – Tenho certeza de que Molly adorou mimá-lo. Ela faz isso com todos.
- Você precisava ver como ela tratou Gui depois que ele se esborrachou com a moto. – Completou Carlinhos, apontando o monte de metal retorcido às suas costas – Pensei que nunca mais ela ía deixá-lo andar por aí sozinho.



Todos riram e conversaram um pouco sobre amenidades. Harry tentou se explicar novamente pelo acidente, comprometendo-se a pagar todos os prejuízos, até que Arthur olhou para o carro, sorriu e disse.


- Rapaz, você realmente tem um belo carro aqui.
- Está muito ruim? – Perguntou Harry, finalmente se aproximando e avaliando os estragos.
- Na verdade não. – Carlinhos respondeu, antecipando a resposta do pai – Bom, quebrou a suspenção dianteira, amassou o parachoque, o capô e o paralama direito, mas podia ser pior.
- Hum! – Fez Harry, calculando mentalmente o tamanho do prejuízo – Será que dá para arrumar?
- Claro, sem problemas. – Garantiu Arthur – Só precisaremos buscar as peças na cidade vizinha, pois não costumamos ter carros como este por aqui.
- Maravilhoso! – Exultou Harry – E quando o senhor acha que pode terminar?
- Até o final da semana, com certeza. – Sorriu ele.
- Perfeito. Vou deixar-lhe dinheiro para comprar as peças então.


Finalmente terminando de resolver sobre o conserto do carro, Harry disse que precisava ir para casa. Enquanto ele e Ronald retornavam para a casa, de onde ele chamaria um táxi, continuaram conversando.


- Ronald, quantos irmãos você tem? Até agora já contei cinco de vocês. – Perguntou o moreno, curioso.
- Somos sete. – Disse Rony, rindo um tanto sem graça.
- Sete? – Assustou-se Harry.
- É. Você não conheceu e acho que nem vai conhecer o Percy. Ele está em Londres, estudando. Quer ser advogado. Mas não perdeu grande coisa, sabe? Ele é um porre. Não gosta daqui, não suporta a idéia de sermos pobres. É metido pacas.
- Sei. Sinto muito. E...
- Temos uma irmã. Nossa única irmã, Gina. – Dizia Rony enquanto entravam pela porta da casa. Do andar superior, podiam ouvir vozes que discutiam, vozes femininas. Envergonhado, o ruivo continuou – Mas ela não anda muito bem da saúde, sabe? Anda com uns problemas... Delicados.



Harry arrependeu-se imediatamente em ter feito a pergunta. Era claro que o assunto era extremamente constrangedor para a família, e ele não tinha direito algum em invadir-lhes a privacidade. Sentiu-se ainda mais constrangido ao ouvir o que as vozes falavam. Uma delas ele reconheceu claramente como da sra Weasley. A outra, muito mais jovem, parecia transtornada, desequilibrada.


- Vocês não podem me manter aqui. Eu quero sair do quarto, quero sair de casa. – Gritava a voz jovem.
- Minha filha, acho melhor você ficar no quarto. Não tem estado bem ultimamente. Teve uma melhora, mas desde ontem teve outra recaída. Seu pai e eu achamos melhor levá-la ao médico novamente... O que me diz disso?
- Não mãe! Eu estou bem, não estou doente. Será que vocês não podem ver? Está tudo errado, tudo. Esta não é nossa casa, esta não é nossa vida. Eu sei que não, mas não consigo me lembrar claramente do que aconteceu, como tudo mudou.
- Gina... – E a voz de Molly mostrava desespero – Não há nada de errado, você está imaginando coisas. Vou ligar para a Dra Carrow e marcar uma consulta, está bem?
- Não! Não quero voltar àquele lugar. Eles me machucaram lá, eu sei.
- Ninguém te machucou, filha. As pessoas trataram de você lá. Depois que saiu, estava normal de novo. Alegre, sorridente... Isso de terem te machucado é só mais uma ilusão sua.
- Não. Não volto para lá de jeito algum!



Uma série de coisas aconteceram então, ao mesmo tempo. Molly gritou – “Fred! Jorge! Detenham sua irmã! – Harry olhou para fora, para onde estavam os gêmeos, que imediatamente largaram o que estavam fazendo e começaram a correr de volta para a casa. O som de passos correndo pelo andar de cima e descendo as escadas velozmente, e antes que conseguisse virar o pescoço para ver o que acontecia, sentiu o baque de um corpo se chocando contra o seu, que lhe tirou o ar dos pulmões e quase lhe fez cair ao chão. Agarrou-se à jovem, para que esta também não caísse, enquanto Molly descia as escadas o mais rápido que podia.


Mas Gina não parecia mais com vontade de fugir. Harry percebeu que ela tremia. Mas ele não sabia se era pura adrenalina, a ânsia de estar fugindo e ser pêga em flagrante por um estranho ou medo de ser levada de volta, para onde quer que fosse. Seu rosto estava afundado em seu tórax. Harry não conseguiu reprimir a vontade de protegê-la, de confortá-la, e a abraçou, carinhosamente. Ela não resistiu, muito pelo contrário. Aproximou-se ainda mais, apertando-se contra ele de maneira desesperada. Ninguém se moveu, olhando a cena, boquiabertos. Fred e Jorge entravam no recinto, extremamente preocupados e tensos. Mas nada fizeram tampouco. Passado um momento, que Harry não soube calcular se foi um segundo ou vários minutos, finalmente ele se deu conta de todos a sua volta. Com voz rouca e insegura, perguntou.



- Você está bem? Se machucou? – E começou a afastá-la delicadamente de seu abraço.
- Estou bem... E não, não me machuquei... – Respondeu ela, um tanto cabisbaixa. Seus longos cabelos ruivos estavam desarrumados e cobriam seu rosto. Ela levantou a cabeça e fitou Harry por entre as mechas, continuando – É mesmo você? Não estou sonhando desta vez?


Harry mergulhou fundo naqueles belos e profundos olhos cor-de-mel. E mais uma coisa atingiu-o, confundindo ainda mais seus sentidos. O perfume que ela usava. Ou exalava, ele não sabia distinguir. Era delicioso. Leve, delicado, lembrava flores do campo. E por mais que sua mente racional lhe informasse que ele nunca havia sentido tal fragrância, seu subconsciente lhe informava que ele já conhecia tal perfume. Ele sabia que era loucura, que nunca havia visto aquela jovem na vida, mas mesmo assim ele sentia, no fundo de sua alma, que já a conhecia.


- Como? – Perguntou ele, confuso – Desculpe, não entendi.
- Você é mesmo real, Harry? Não estou sonhando outra vez? – Ela repetiu a pergunta, enquanto tocava com sua mão, o peito de Harry, como se estivesse verificando se o que via era real. Subiu delicadamente e tocou seu rosto, acariciando-o, e um sorriso surgiu sob a cabeleira, que ainda lhe escondia a face – É você mesmo, não é? Você veio...
- Gina... – Disse delicadamente sua mãe – Você não pode conhecer este rapaz, acabamos de conhecê-lo. Ele sofreu um acidente na estrada, nunca havia estado por aqui antes.
- Claro que eu conheço. É o Harry. Harry Potter, o amor da minha vida. E veio por mim, não veio, Harry?
- Me desculpe, moça. Mas eu não conheço você. E não me chamo Harry Potter, e sim Riddle. – Respondeu o moreno, com pesar no coração ao ver o semblante da jovem mudar novamente e demosntrar desespero.
- Você também, Harry? Não se lembra de nada? Não se lembra de Hogwarts? Nem da Câmara Secreta? Da Serpente que havia lá, o Basilisco que você matou? Não se lembra de mim? De nós?
- Gina, nada disso é verdade e você sabe disso. – Disse Fred com pesar, finalmente tomando uma atitude e, junto com Jorge, adiantando-se e pegando a irmã pelos braços.
- Vou ligar para a clínica imediatamente. – Disse Molly, em prantos – Precisamos levá-la de volta urgentemente, agora ela está fantasiando até com estranhos, meu Deus.
- Não! Não! Harry, me ajude. Não deixe me mandarem de volta para aquele lugar, eles me torturam lá. Eu não estou louca, será que ninguém vai acreditar em mim? – Gritava Gina desesperada, tentando se livrar das mãos dos irmãos.
- Me desculpe, não posso fazer nada. –Disse Harry, consternado – Sua família deve saber o que é melhor para você, eles a amam. Só querem o seu bem.
- Harry, por favor. Você precisa se lembrar. Por favor, não me abandone ... – E Gina desistiu de lutar, caindo em prantos.
- Harry, peço desculpas por esta cena. – Disse Molly enquanto pegava o telefone e discava um número – Você não precisava ter passado por isto.
- Não, tudo bem. – Respondeu ele, de pronto – Sinto muito. Se eu puder fazer algo para ajudar...
- Tudo bem, cara. A gente cuida dela. – Respondeu um Rony que mal conseguia controlar a vontade de chorar, ao ver o estado da irmã que tanto adorava.
- Claro. Bom, acho melhor ir embora. – Harry sacou o celular do bolso enquanto seguia para a porta – Entro em contato mais tarde, para ver como anda o conserto do carro.
- OK! – Respondeu Rony, acompanhando-o.


Antes de sair, porém, o moreno parou e olhou para o pequeno sofá, onde Gina se encolhera e continuava chorando. Ela o fitava de maneira dolorosa, o que lhe cortou o coração.


- Vai dar tudo certo. Você vai ficar boa logo, tenho certeza. – Disse ele, o que arrancou uma nova onda de choro de Gina. Ele finalmente saiu, discando para uma companhia de táxi em Londres.



*****


A manhã ainda não terminara quando o táxi deixou Harry em frente a sua casa. Ele nem reparou quanto foi a corrida. Pagou, pegou o troco e guardou-o mecanicamente na carteira. Abriu o portão e entrou cuidadosamente, certificando-se de que ninguém o via. Não queria que ninguém o pegasse chegando em casa àquela hora e ainda mais de táxi. Sabia que teria que contar ao tio o ocorrido, mas tinha a intenção de adiar isso o máximo possível, e se alguém o visse chegando, certamente comunicaria seu tio imediatamente.


Conseguiu cruzar o extenso jardim e chegar com sucesso até a porta da frente. Abriu-a com cuidado e entrou. Agora só faltava despistar Helga, mas ele não a via em lugar algum. Atravessou a sala de estar e estava quase chegando nas escadas, quando seus olhos foram atraídos para a porta do escritório do seu tio, do outro lado da sala. Parou. Ele não tinha permissão de entrar no escritório, e nunca fizera questão. Mas era ali que ele guaradava seu melhor Wisky. E, definitivamente, ele precisava de uma boa dose de malte, um daqueles envelhecido em barril de carvalho por vinte e cinco anos. Isso lhe ajudaria a pensar, e só ele sabia o quento ele tinha para pensar. E afinal, seu tio estava viajando, ele não corria risco de ser pego, e ele sequer notaria a falta de uma pequena dose.

Com este pensamento, ele desistiu de subir as escadas e rumou para a porta do escritório. Não estava trancada, e ele entrou com facilidade. Ele já conhecia o escritório, obviamente. Já entrara ali com o tio poucas vezes, quando pequeno. Mas estranhamente, era como se ele estivesse entrando pela primeira vez agora. Conhecia tudo e ao mesmo tempo não conhecia nada. Lá estava tudo como deveria ser. As paredes ocupadas por estantes, repletas de livros dos mais diversos assuntos, em várias línguas. Uma escrivaninha, feita em madeira maciça, da era vitoriana. Um belo sofá de couro, bem no centro, sobre um tapete persa. Em um dos cantos, um pequeno bar. E no outro, o lado que dava para a parte de trás da casa, uma pequena porta. Um lavabo.


Harry caminhou diretamente para o bar. Escolheu uma garrafa que já estava aberta e serviu uma dose generosa, num copo com gelo. Ele sabia que estava um pouco cedo demais para beber, mas esta era mais uma herança de sua “amizade”com Draco. Ele costumava beber a qualquer hora, e acabara passando este costume a Harry. Ele foi até o sofá e sentou-se, afundando imediatamente no macio estofado de couro. Sorveu um gole da bebida, e imediatamente sentiu um imenso prazer, e seu corpo relaxou um pouco. E isso também o preocupou. Nunca havia pensado muito nisto, mas após a briga com Draco, ele chegava à conclusão de que deveria rever alguns de seus conceitos e, principalmente, hábitos. O fato dele, aos dezoito anos, estar bebendo às dez da manhã e sentir-se tão bem com isto era preocupante. Não havia pensado nisto ainda, mas o risco de tornar-se alcoólatra era evidente, e isto certamente acabaria com sua carreira, com seu futuro. Continuou segurando o copo frouchamente na mão, mas não voltou a levá-lo a boca. Concentrou-se, então, em problemas mais importantes e urgentes.


Só depois de ter embarcado no táxi de volta para casa é que havia parado para pensar no que havia acontecido há pouco na casa dos Weasleys. Ele ficara com tanta pena da jovem Gina e da família, que não se atentara de imediato ao que ela lhe dissera. Mas depois, dentro do táxi, ele começou a se lembrar, e ficou muito assustado. Pela segunda vez, em dois dias seguidos, alguém lhe dissera a mesma frase – “ Lembre-se de quem você é”- e o chamara pelo mesmo nome – “Harry Potter”- Seria coincidência? Duas pessoas, que ele não conhecia e que obviamente não se conheciam também, chamarem-no pelo mesmo nome e dizerem praticamente a mesma coisa, quase as mesmas palavras? E quanto aos sonhos? Claro que ele não fazia a menor idéia sobre o que era Hogwarts, ou de qualquer contato com Gina antes... Mas a cobra... Ele já sonhara com uma cobra gigantesca mesmo, e fora num ambiente fechado. Seria a tal Câmara? Isso era total loucura, ele não podia estar sonhando os mesmos sonhos que Gina Weasley. Ou poderia? E o que isso poderia significar? Que ele também estaria perdendo a razão? Que logo não saberia mais distinguir a fantasia da realidade? Será que em breve ele também estaria sendo internado em uma clínica psquiátrica?


Ele não sabia há quanto tempo estava sentado ali pensando. O gelo em seu copo derretera por completo, e o Whisky vinte e cinco anos agora estava aguado. Mas ele nâo sabia o gosto que tinha, pois não bebera mais nenhum gole. De repente, ouviu sons vindos da sala. Vozes. E reconheceu imediatamente a voz de seu tio, e percebeu que ele não estava feliz. Levantou-se de um pulo, olhando ao redor. Se fosse pego ali, invadindo a privacidade de seu tio e com um copo na mão, estaria encrencado. Não havia como sair do aposento agora, pois era óbvio que as vozes vinham em sua direção. Sua única chance era esconder-se e esperar até que ele saísse. Ainda com o copo na mão, atravessou o escritório e entrou no pequeno lavabo, fechando a porta no exato momento em que a outra foi aberta e deu passagem a dois homens. Fechou a porta cuidadosamente e abaixou-se, para olhar pelo buraco da fechadura. Eram seu tio, obviamente, e Lucius Malfoy, pai de Draco.

- Explique-me então, Lucius. Como você pode permitir que tal fato ocorresse?
- Peço-lhe clemência, mestre. – Respondeu Lucius, num tom de submissão que Harry nunca vira antes – Ele não fez por mal, não sabia que isso prejudicaria seus planos.
- Seu filho é um idiota. Nunca foi páreo para Potter, sempre viveu a sua sombra. E mesmo agora, não suporta a derrota. Foi uma atitude idiota e infantil ter roubado a equipe de Potter. – Harry sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha. Obviamente estavam falando dele, porém o estavam chamando de Potter. E não Riddle.
- Meu senhor, meu filho sempre foi um fiel servidor. Se ele soubesse da verdade, se o senhor o liberasse do feitiço... Se ele pudesse se lembrar quem é na verdade, tenho certeza de que seria de maior ajuda.
- Seu filho é um imcopetente, Malfoy. Assim como você. Eu lhe dei uma tarefa simples, e o que aconteceu? Ele falhou. Só precisava matar o velho, e nem isso ele conseguiu.
- Mas ele conseguiu abrir caminho para que os outros invadissem Hogwarts, meu senhor. – Justificou Lucius, esfregando as mãos. Em seu lugar, Harry recebia outro golpe. Hogwarts, o que quer que fosse, não era fruto da imaginação de Gina.
- Isso é irrelevante. – Respondeu o homem chamado Tom Riddle, tirando um objeto fino e comprido de dentro de um bolso interno de seu terno, mirando-a para o próprio rosto, murmurando algo. Harry quase gritou, teve que tapar a boca com sua mão ao ver o rosto de seu tio se desvanecer, dando lugar a um rosto pálido, com olhos vermelhos e fendas no lugar do nariz. Ele conhecia aquele rosto, já o vira em seus pesadelos. Pensava que era um demônio, e agora o demônio tomava a forma de seu tio – Ningúem trai as órdens de Lord Voldemort e sai ileso. Você deveria agradecer que encontrei alguma utilidade para o imprestável de seu filho.
- E eu agradeço, meu senhor. Agradeço do fundo do meu coração. Só estou querendo dizer, que ele serviria melhor ao senhor se lembrasse de tudo. Se voltasse a se lembrar que é um bruxo. Poderia vigiar Potter muito melhor.
- Ele só me é útil enquanto se manter ao lado de Potter, como seu amigo. Se tiver seus poderes novamente, paspalho como é, vai acabar se revelando. Então eu o matarei. Quer correr este risco, Lucius?
- Não, mestre. Tenho certeza de que sabe o que é melhor para todos nós.
- Ótimo. Então convença o retardado a desfazer o que fez e reconquistar a amizade e confiança de Harry, senão eu o matarei. Estamos entendidos?
- Perfeitamente, mestre. – Consentiu Lucius, fazendo uma reverência.


Harry sentia seu coração bater descompassadamente. Sua cabeça girava, mas antes que pudesse assimilar direito o que via e ouvira, um celular tocou no escritório. Ele voltou sua atenção para lá novamente, e viu seu “tio”atender uma ligação.



- Eu realmente espero que seja algo importante, Aleto. – Sua voz saiu num tom baixo e perigoso. A pessoa do outro lado da linha parecia estar falando, e conforme ele recebia as informações, seus olhos se estreitavam ainda mais, tornando-se ainda mais ameaçadores – Mantenham-na isolada. Não façam nada, resolverei este problema pessoalmente amanhã pela manhã.



O telefone foi desligado, e Riddle ficou pensativo por alguns instantes. Então gritou.


- Rabicho!


Instantes depois o motorista da casa, Pettigrew, entrou correndo no escritório. Ao ver as feições de seu patrão, tropeçou e quase caiu, na pressa em fazer uma reverência.


- Meu Lorde.
- Rabicho, onde está o moleque?
- Potter?
- E quem mais poderia ser seu imprestável? – Urrou Riddle.
- Sim, claro. Ele saiu ontem à noite, acho que para comemorar, mestre. E ainda não voltou.
- Algum problema, mestre? – Perguntou Lucius, ansioso em poder ajudar seu mestre.
- Não sei ainda... – Sussurrou o outro, ainda pensativo – Aleto acaba de me informar que Molly Weasley ligou, dizendo que a filha estava tendo outra crise.
- A menina Weasley está rompendo o feitiço novamente? – Surpreendeu-se Rabicho.
- Da outra vez que isto ocorreu, aconteceu algo semelhante, ao mesmo tempo com Potter. Será que voltou a acontecer com ele desta vez? – Continuava a sussurrar Riddle, mais para si mesmo do que para os presentes. Em seu esconderijo, Harry suava frio.
- O que pretende fazer, mestre? Será que o feitiço está perdendo a força? – Perguntou Malfoy, e sua pergunta despertou a atenção de seu mestre.
- Não seja ridículo, Malfoy. A única maneira de quebrar o feitiço é destruindo o “artefato”, e este está muito bem escondido. Mas é realmente preocupante o fato da jovem estar resistindo. E se Potter também estiver... Bom, não importa. Amanhã resolvo este problema, pois hoje tenho compromissos inadiáveis no Ministério da Magia.
- Vai apagar a memória dela novamente, como fez antes, mestre? – Perguntou Rabicho, exultante.
- Não, Rabicho. Estou cansado deste incômodo. Liquidarei a menina, ninguém vai desconfiar de nada. Ela está desequilibrada, diremos que se suicidou no quarto.
- E quanto aos outros? – Continuou Rabicho.
- Se Potter também estiver rompendo meu controle, terá o mesmo fim. Assim como toda aquela família. Não posso correr o risco de acontecer algo de errado. Não importa mais se conheço ou não o teor da profecia, terei que me livrar do moleque de qualquer jeito.
- E o que faremos com os amigos dele? O jovem Ronald Weasley e a sangue ruim, Hermione Granger? – Perguntou Lucius.
- O Weasley, sabemos que está sob controle. Mesmo assim, mande Crable vigiar a casa dele, caso Harry resolva encontrar o amigo. Quanto à garota, Granger, quero que você mesmo a vigie, Rabicho. Se vir qualquer sinal de aproximação de Potter, mate-a. Mate toda a família dela.
- Imediatamente, mestre. – Anuiu Pettigrew, deixando a sala.
- Sábia decisão, mestre. – Interveio Malfoy - Separados eles não oferecem risco. Mas, quando aqueles três se juntam, podem ser realmente incômodos. Potter é destemido, corajoso, curioso. Granger, inteligente e perspicaz. E quanto a Weasley... Apesar de não possuir qualquer diferencial, é fiel e dedicado aos outros. Quando estão juntos são potencialmente perigosos.



Harry respirava com extrema dificuldade. Aquelas pessoas, que ele julgava conhecer, decidiam matar outras, com a maior naturalidade do mundo. Inclusive ele, se necessário. Mas o mais urgente, no momento, era Gina Weasley. A jovem estava condenada a morrer no dia seguinte, e ele não podia permitir isso. Ele precisava impedir, mas não sabia como. E se desconfiassem que ele estava ali ouvindo tudo que diziam, o matariam também e ele não teria chance alguma de avisar alguém. Precisava sair sem ser visto, mas não tinha como atravessar o escritório. Olhou a sua volta, desesperado, e viu uma janela. Pequena, mas como ele era magro, conseguiria se espremer e passar. Olhou para o copo de bebida em sua mão, e teve uma idéia.

Com muito cuidado para não fazer nenhum barulho que o denunciasse, Escalou a pequena pia que havia ali, abriu a janela o olhou para fora, certificando-se de que não havia ninguém. Colocou cuidadosamente o copo sobre o estreito parapeito, e guindou seu corpo para o alto. Era realmente muito apertado, mas com um pouco de esforço ele conseguiu atravessar. Antes de pular para o chão, pegou o copo e cobriu-o com a mão, para proteger seu conteúdo. Então pulou, caindo suavemente no gramado. Esticou-se e fechou a janela, então correu, abaixado, até o muro da propriedade. Ali, molhou um dedo no líquido, e passou pelo rosto, na ponta da língua e lábios. Um pouco mais pelo pescoço, e derramou também na roupa. Quando se certificou de que exalava fortemente o cheiro da bebida, voltou para o portão principal e entrou novamente em casa. Assim que abriu a porta do Hall, ouviu uma voz lhe chamar.


- Harry! Chegando agora?


Seu “tio”saía do escritório, acompanhado do Sr Malfoy.


- Bom dia tio. – Respondeu ele, tropeçando em sua direção – Pensei que só voltaria da viagem esta tarde.
- Tive que antecipar meu retorno, devido alguns problemas. Soube que se saiu muito bem na corrida, meus parabéns. – Cumprimentou ele, mal disfarçando uma careta ao sentir o cheiro de álcool que o rapaz exalava.
- Eh. Obrigado, tio. Pena que o senhor não estava lá, a corrida foi ótima. Se não fosse pelo ocorrido após a corrida, teria sido um dia perfeito. – E Harry olhou para Lucius, que pigarreou e falou.
- Harry, quero que saiba que abomino totalmente a atitude de Draco. Conversei com ele, e exigi que ele desfizesse a proposta que fez à sua equipe. Ele realmente foi um crápula, não foi assim que eduquei meu filho.
- Tudo bem, Sr Malfoy. Já deixei bem clara a minha opinião sobre este assunto, ontem mesmo.
- Harry, eu não gostaria que esse pequeno desentendimento acabasse com a bela amizade de vocês. – E Lucius apertou seu ombro, carinhosamente.



Harry sentia vontade de xingar aqueles dois mentirosos, mas sabia que não podia. Sua única opção era fazer o jogo deles, o da mentira e enganação.


- Tudo bem, Sr Malfoy. Draco é meu único amigo, não estava nada feliz em perdê-lo. Diga a ele que precisamos conversar. Mas não quero mais a equipe. Se eles fossem fiéis, não teriam aceitado proposta alguma, de ninguém. Vou procurar outra, tenho algum tempo antes da próxima corrida.
- Ótimo! Draco ficará muito feliz em saber que o perdoa. – Sorriu Lucius, trocando um olhar rápido com Riddle, mas que não passou despercebido a Harry.
- E por onde andou, meu sobrinho? Comemorando sozinho? Não ouvi o barulho do carro, aconteceu algo que queira me contar? – Inquiriu Riddle, e Harry sabia que não podia mentir muito a respeito.
- Bom, tio... Saí para pensar um pouco, estava muito chateado. Acho que exagerei um pouco no whisky, e acabei batendo o carro. Não foi grande coisa, só derrubei uma cerca qualquer. O carro já está na oficina.
- Que bom que não se feriu. E Harry, como você está? Andou tendo algum pesadelo, coisas assim? – Continuou seu tio, inocentemente.
- Pesadelos? Eu nem dormi ainda, tio. Mas que motivos eu teria para ter pesadelos? Estou ótimo. Ainda mais agora que vou resolver esse problema com Draco. Era a única coisa que estava me incomodando.
- Claro. Isso é ótimo. – Sorriu Tom Riddle, satisfeito.
- Agora se me dão licença, preciso de um bom banho e da minha cama. – Finalizou Harry, subindo as escadas rapidamente e deixando os dois homens com semblantes tranqüilos e seguros atrás de si.


Subiu o mais displecentemente que conseguiu, não se esquecendo de cambalear um pouco. Entrou no quarto, pegou uma toalha e correu para o banheiro. Tomou um banho rápido e voltou para o quarto. Resolveu deitar-se enquanto pensava, caso alguém viesse conferir. Estirou-se na cama e se cobriu, inclusive a cabeça, com um lençol.


Ele ainda não podia acreditar em como sua vida mudara tanto em apenas vinte e quatro horas. Ele acreditava viver, no máximo, uma vida um tanto rotineira, monótona, mas nunca uma farsa. Era difícil para ele acreditar que o homem que considerava sua única família, na verdade não era sequer seu parente. Que ele era um prisioneiro, muito bem vigiado e controlado. Isto o revoltava, e a vontade que tinha era de fugir, abandonar tudo e desaparecer no mundo. Mas ele não podia. Sabia que mais pessoas estavam envolvidas naquele pesadelo, e corriam risco de vida. Lembrou-se da jovem que conhecera ainda naquela mesma manhã, tão confusa e apavorada. E agora ele sabia que repleta de razão. Se eles diziam a verdade e eram realmente bruxos, feiticeiros ou qualquer coisa do gênero, poderiam facilmente alterar a memória das pessoas. Parecia uma loucura, mas diante de tanta sandice até que era perfeitamente cabível.


A pergunta que matelava sua cabeça voltou, procurando uma resposta. Afinal, o que ele poderia fazer? Não se lembrava de quem era, e estava evidente que aquelas pessoas poderiam dominá-lo e matá-lo facilmente. Sozinho, ele não teria a mínima chance. Lembrou-se da frase dita por Lucius Malfoy – “Separados eles não oferecem risco. Mas, quando aqueles três se juntam, podem ser realmente incômodos.” – Era uma idéia. Afinal, Ronald era irmão de Gina e se soubesse que a vida da irmã corria perigo, faria qualquer coisa para ajudá-la. E quanto à Hermione? Ele se lembrava da garota que Draco quase atropelara, dias atrás. Por que ela o ajudaria? Será que conseguiria convencê-la?

Enquanto pensava nisto, Harry sentiu uma corrente de ar atravessar o quarto. Ele estava deitado de costas para a porta, mas sentiu que alguém entrara sorrateiramente em seus aposentos e se aproximava de sua cama, sem fazer som algum. Sentiu seu sangue gelar nas veias, e esforçou-se ao máximo para fingir que estava dormindo, mantendo seus olhos semicerrados. Logo percebeu sobre ele a sombra de uma pessoa, que o observava de muito perto, sua respiração roçando o lençol. Helga. Ela ficou ali, parada por alguns instantes, depois se ergueu novamente e deixou o quarto, sem fazer som algum. Quando sentiu que a porta se fechara, finalmente soltou a respiração, aliviado. Harry nunca ligara para o jeito de ser de Helga, mas agora isto também o incomodava, e muito. Mas não queria se preocupar com isto naquele momento. Precisava manter o foco.


Acabou decidindo que o mais sensato seria permanecer mais algum tempo fingindo que dormia, para não levantar suspeitas, e então ir ao encontro de Ronald e Hermione. Depois que os reunisse pensaria no que falar, no que fazer. Assim, permaneceu em seu quarto por mais três horas. Quando não agüentava mais, levantou-se, trocou de roupa e desceu. Como esperado, seu tio já não se encontrava mais em casa. Encontrou Helga, que obviamente o esperava. Sorriu, disse que tinha que sair e não lhe deu tempo para reação alguma, saindo imediatamente pela porta. Foi até a garagem e pegou outro carro, um que não era muito conhecido. Um Bentley Zagatto preto, com vidros também escuros. Pegou a estrada e seguiu para a pequena Ottery St. Catchpole.


Quando chegou, resolveu não entrar na propriedade Weasley de carro. Estava bem claro para ele que a casa estava sendo vigiada. Saiu da estrada um pouco antes do início da propriedade, tomando o cuidado de ocultar o carro entre algumas árvores. Com muito cuidado, acabou de chegar a pé, passou pela cerca, e continuou seguindo em direção da casa. Quando chegou atrás do galpão, ouviu a conversa entre o Sr Weasley e Carlinhos, extremamente desanimada. Falavam de Gina. Olhou por uma fresta e notou que os dois estavam sozinhos. Deu a volta, tomando o cuidado de seguir pelo lado que não era visível da estrada. Viu que os gêmeos ainda consertavam os estragos da batida. Não podia ir até onde estavam, pois era campo aberto. Então, entrou na casa pela porta dos fundos. Parecia vazia. Começou a procurar por Ronald ou por sua mãe, mas eles não estavam em casa. Subiu as escadas, indo ao quarto de Rony, onde sentou e esperou.


Não precisou esperar muito. Pouco depois ouviu o som de um motor. Olhou discretamente pela janela e viu Rony encostando uma velha camionete, que ele sequer conhecia a marca. Dele desceram ele e sua mãe, que se dirigiu para a oficina, ao encontro do marido. Rony entrou direto em casa, e pouco depois abria a porta de seu quarto, tomando um grande susto ao ver que este na se encontrava vazio.



- Mas que merda! Cara, o que é que você está fazendo aqui? Quase me matou de susto! – Disse o ruivo, colocando a mão sobre o peito.
- Desculpe Rony. Não queria assustá-lo, mas ninguém podia ver que eu estava vindo.
- Por que? Foi tão ruim assim, quando contou a seu tio?
- Rony, onde está sua irmã? Onde está Gina?


Rony fez uma careta, e respondeu de mau humor.


- Está internada. Depois do que aconteceu esta manhã, ligamos para os médicos dela e eles disseram que era melhor levá-la. Cara, me cortou o coração deixá-la naquele lugar.
- Vocês disseram algo sobre mim?
- Claro. Dissemos que ela começou a imaginar coisas com um estranho, alguém que nunca tínhamos visto. Daí perguntaram quem era este estranho, mas Gina começou a gritar e espernear tanto, que acabaram levando-a embora e não perguntaram mais nada. – Explicou o ruivo, e então virou o rosto para Harry, curioso – Por que? Você tem algo a esconder?
- Então ninguém falou meu nome? – Insistiu Harry, e finalmente sorriu quando Rony negou com a cabeça – Ótimo.
- Escuta aqui, Harry. Dá pra me explicar o que está acontecendo? Por que você está escondido no meu quarto? E por que está perguntando sobre a Gina?
- Rony, eu preciso da sua ajuda. Não dá para explicar agora, mas tem a ver com sua irmã. Ela pode estar correndo perigo, e eu só quero ajudar.
- Como é? – Rony literalmente saltou sobre Harry, prensando-o contra a parede e segurando-o pelo colarinho – O que foi que você disse? Como assim a Gina corre algum perigo? Desembucha, Riddle.
- Rony, o perigo não sou eu. Já disse, não posso explicar agora. Antes, precisamos encontrar outra pessoa, mas ninguém pode nos ver juntos, entendeu?
- Mas qual é o problema de sermos vistos?


Harry ignorou a pergunta e fez outra em seguida.

- Rony, você notou algum estranho por perto? Além de mim, é claro.

Rony pensou por um instante, então soltou Harry.


- Para ser bem sincero, vi sim. Tem um cara na estrada, bem em frente da entrada. Está parado embaixo de uma árvore, no campo em frente. Achei meio esquisito alguém ali, a esta hora do dia, mas assim que ele viu nosso carro se aproximando, deu a volta no tronco da árvore e o perdi de vista. Mas depois que entrei pelo portão, vi pelo espelho retrovisor ele voltando para o mesmo lugar.
- Acho que este cara está vigiando a sua casa, a minha espera. Meu tio o enviou.
- E como é que seu tio sabe onde nós moramos? E o que isso tem a ver com a Gina?
- Não posso te explicar agora. Primeiro precisamos encontrar outra pessoa, daí explico tudo, ou pelo menos o que eu puder aos dois. Você vai ter que confiar em mim. – O término da frase foi praticamente uma súplica, e deu certo. Ele parecia realmente sincero e desesperado.
- Tudo bem. Se é tão importante assim, eu vou com você. Mas espero que a explicação seja muito boa, e que você não esteja brincando comigo. Senão eu não me responsabilizo por meus atos, entendeu?
- Claro. Perfeitamente. – Anuiu Harry, sorrindo aliviado – Agora vamos, precisamos sair sem que nos vejam.


Mesmo um tanto contrariado, Rony concordou. Assim, ambos fizeram o caminho de volta ao carro de Harry, tomando cuidado redobrado para não serem vistos. Harry manobrou o Bentley e voltou, o mais rápido que pôde, para Londres. Não sabia onde a garota morava, mas tinha a esperança de encontrá-la na biblioteca. Quando se aproximou, freou bruscamente, assustando Rony, que permanecera calado até então, inicialmente admirando o carro e depois observando seu dono, que realmente parecia preocupado e tenso.


- Hei! Por que essa freada? – Gritou Rony, quase batendo a cabeça no painel.
- Ali. – Apontou Harry – Aquele é o meu motorista. Ela deve estar dentro da biblioteca. Precisamos encontrar outra entrada.
- Ela? Não me disse que estávamos atrás de uma garota. – Resmungou o ruivo, enquanto o outro manobrava novamente o carro e seguia por uma rua lateral, a procura de outra entrada.


Encontraram uma pequena porta lateral, então estacionaram o carro e entraram. A biblioteca era imensa, e demoraram algum tempo percorrendo os vários andares e corredores, até que Harry a encontrou. Hermione estava sentada em uma mesa, sozinha, com uma pilha de livros em volta. Concentrada, não percebeu a chegada dos dois, até que Harry tocou seu braço. Então ela olhou para cima, um misto de surpresa e imcompreensão nos olhos.


- Você? – Disse ela, o mais baixo que pode – O que é que está fazendo aqui? O que quer?
- Hermione Granger, precisamos falar com você. – Disse Harry, pegando a jovem pelo braço – É urgente.
- Mas eu não tenho nada para falar com você. – Respondeu ela, surpresa por ele se lembrar de seu nome completo – E quem é seu novo amigo? Arrumou outra pessoa para me atropelar agora?
- Este é Ronald Weasley, e nós precisamos da sua ajuda. É um caso de vida ou morte.
- Você não disse nada sobre vida ou morte. – Rony interrompeu, falando alto e chamando a atenção das pessoas nas mesas próximas. Recebeu um olhar recriminador de Hermione e baixou a voz ao continuar – Quem está correndo este risco? Gina?
- Quem é Gina? – Perguntou Hermione, e em seguida balançou a cabeça – Ah! Não quero saber. Não me importa. Sumam, vocês dois. Estou tentando estudar.
- Na verdade, Rony... – Harry começou – Não só Gina, mas todos nós estamos correndo risco de vida. E Gina é a irmã de Rony.
- Mas que loucura é esta? – Hermione finalmente fechou o livro que estava lendo e se levantou – Você é louco ou algo assim?
- Venha até aqui um instante. – Pediu o moreno, puxando-a até a janela e apontando o local onde estava Rabicho –Vê aquele homem? Ele está seguindo você.


Hermione ficou olhando para Rabicho, que alisava carinhosamente uma mão enluvada, enquanto observava a porta da biblioteca, registrando com um olhar ferino quem entrava e quem saía. Depois virou-se para Harry.


- Eu já vi este homem. Ele estava perto da minha casa esta manhã, o vi quando saí para vir estudar. Mas por que ele estaria me seguindo? – Perguntou.
- Tem um na frente da minha casa também. – Disse Rony, aproximando-se – Segundo o Harry, estão procurando por ele.
- Como assim procurando por você?
- Aquele homem é o motorista do meu tio. Ele o mandou ficar vigiando você, e caso nós nos encontremos, ele tem ordens para matá-la. E a toda a sua família também.
- Isso é um absurdo! Por que alguém me mataria, só por conversar com você? E se você sabia disso, como ousa colocar a minha vida em risco, deliberadamente? – Hermione ainda falava baixo, mas estava prestes a perder o controle. Começou a andar de um lado para o outro, com a mão na cabeça.
- Sua família só estará em perigo se nos virem juntos. Por isso entrei pela porta dos fundos. – Justificou Harry – E na verdade, nós três já nos conhecemos. Mas não nos lembramos disto.
- Absurdo! Eu me lembraria se conhecesse algum de vocês. – Disse ela.
- Também acho. – Emendou Rony, apontando para Mione – Não dá para esquecer alguém tão estressado assim.
- Escutem, eu tenho muito a contar. E Gina, corre perigo, precisamos da sua ajuda para salvá-la. Será que pode nos dar alguns minutos? Se eu não convencê-la, tudo bem. Te trago de volta para a biblioteca e voce pode se afundar em seus livros e nunca mais lembrar da gente. Mas por favor, me dê dez minutos do seu tempo.


Hermione parou de andar e olhou para os dois rapazes. O ruivo parecia tão ou até mais confuso do que ela. E o moreno parecia desesperado. E não parecia estar mentindo. Ela sabia que não devia, mas acabou concordando.


- Tudo bem. Dez minutos. Pode começar a falar. – Disse ela, cruzando os braços sobre o peito e batendo um dos pés, esperando.
- Não aqui. Precisamos de privacidade. Pettigrew pode entrar a qualquer momento. Vamos. – E Harry dirigiu-se para a saída, a mesma porta pela qual eles haviam entrado na biblioteca.



Entraram no carro e arrancaram. Não trocaram palavra alguma, cada qual absorto em seus pensamentos enquanto o veículo singrava o asfalto. Minutos depois, Harry estacionava o carro e descia, chamando-os para que o acompanhassem.


- Onde estamos? - Perguntou Hermione, preocupada.
- Como assim onde estamos? – Perguntou Rony, incrédulo – Estamos em Silverstone, o berço das corridas de automóveis. Não acredito que não conheça...
- Claro que conheço. De nome, pelo menos. Nunca estive aqui, não gosto de corridas. – Respondeu ela, enquanto seguiam o moreno.
- Não gosta de corridas? Isto é um absurdo, só pode ser coisa de mulher mesmo. Só falta me dizer que não gosta de futebol também. – Ele não precisou aguardar a resposta, a cara de Mione deixou óbvio que não – Humpft!
- Entrem. – Disse Harry, quando chegaram no Box onde estava guardado seu carro.
- Muito maneiro. – Sorriu Rony, enquanto passava a mão sobre o capô do carro – É um belo carro, Harry.
- Obrigado! – Agradeceu o outro – Boa parte do resultado da corrida devo a ele. Trabalhou direitinho.
- Se viemos aqui para apreciar carros de corrida, acho melhor eu ir embora, por que tenho mais o que fazer. – Interrompeu Hermione.
- Você está certa. – Anuiu Harry, virando-se para ela, encostando-se no carro e continuando – Algum de vocês já ouviram o nome Harry Potter?
- Não, nunca. – Respondeu Mione, dando de ombros.
- Eu já. Foi assim que Gina te chamou esta manhã, não foi? – Disse Rony.
- Foi. E ela não foi a única pessoa a se referir a mim por este nome nas ultimas horas.
- Mas seu nome não é Riddle? – Lembrou Rony, alisando o nome pintado na lateral do carro.
- É. Ou pelo menos eu achava que era. Mas não acho mais, Rony. Tenho fortes motivos para acreditar que sou, na verdade, este tal Harry Potter.
- Mas como assim? Isso é impossível... – Mione, incrédula, falou sem pensar – Você não pode ser duas pessoas, ou é uma ou a outra.


Harry não respondeu de imediato. Olhou para Rony, e então continuou.


- Acho que sua irmã não está doente, Rony. Ela tem razão. Há algo muito estranho acontecendo, estamos vivendo uma vida que não é a nossa. Estamos sendo manipulados.
- Você tem idéia do tamanho absurdo que está dizendo? – Hermione praticamente gritou essas palavras – Ninguém pode fazer isso, não posso aceitar tal possibilidade.
- Eu também pensava assim. Realmente achei que Gina estava doente, até escutar uma conversa de meu tio esta manhã. Vou contá-la a vocês.


Harry então narrou a conversa que ouvira no escritório de Tom Riddle, sem ocultar parte alguma. Ao final, os dois o olhavam ainda mais assombrados.


- Cara, não sabia que a doença da Gina era contagiosa. – Disse Rony – Você pirou como ela, Harry.
- Eu não estou louco. Na verdade, nunca estive tão lúcido. – Rebateu ele.
- Olha, nada disso faz sentido. Não existem bruxos, isso não passa de lenda.
- Então por que meu tio resolveria matar Gina, só por ter essas tais alucinações? – Insistiu Harry – E tem mais... Eu também tenho tido alguns sonhos ou pesadelos, assim como Gina.
- Mais um sinal de que não está bem. – Disse Rony, mas Hermione nada disse, permanecendo pensativa.
- Em um desses pesadelos, eu estou em um cemitério. E Pettigrew também está lá, ele mata uma pessoa que está ao meu lado. Tem algo nos braços, que joga num tipo de caldeirão gigante e começa a proferir um tipo de feitiço, sei lá. Então arranca um pouco de sangue do meu braço, e de dentro do caldeirão surge uma criatura pálida, horrível. Praticamente sem nariz e olhos vermelhos.
- Belo pesadelo, mas o que tem isso a ver? – Indagou Rony, impaciente.
- Quando estava na biblioteca, meu tio tirou um tipo de varinha de condão do bolso e a movimentou em frente a seu rosto. E seu rosto se transformou no da criatura de meu pesadelo. Ele não é meu tio, é aquela criatura.
- E como você pode saber que seu pesadelo não era apenas isso, um pesadelo? – Perguntou Hermione.
- Por isso. – E Harry arregaçou a manga de sua blusa, mostrando uma cicatriz em seu antebraço – Foi bem aqui que me cortaram para tirar o sangue.


Os dois olharam, e não tiveram argumento contra. Harry continuou.


- Escutem, eu também não me lembro de quase nada. Mas me lembro da cobra gigante que a Gina disse, na tal câmara.
- O tal de Brasilio?Barsílio? Ou sei lá o nome...
- É Basilisco. – Corrigiu Hermione, pálida.


Foi a vez dos rapazes olharem para ela, surpresos.


- Isso mesmo. Como sabe? – Perguntou Harry.
- Bom... Eu também tive um pesadelo, uns dias atrás. Nele, eu estava numa biblioteca muito estranha. Era bem mais nova, e estava assustada. Num livro muito antigo, encontrei o que procurava, um artigo sobre uma cobra gigantesca, chamada Basilisco, que podia matar apenas com o olhar. Arranquei a página do livro, alertei uma outra garota que estava comigo na biblioteca e saí. Queria contar minha descoberta a alguém, mas logo que virei um corredor, ouvi um som horrível. A garota estava comigo. Tirei um espelho da minha bolsa para ver o que havia, e lá estava. Uma cobra enorme, horrível, com olhos amarelos. Depois não havia mais nada, apenas escuridão. Então acordei.
- Você tinha o que, uns doze anos? – Perguntou Harry, ao que Mione assentiu – No meu sonho eu tinha a mesma idade. Você tem idéia de que é totalmente impossível, três pessoas sonharem quase a mesma coisa, ou pelo menos com a mesma criatura, sendo que ela não existiu? E na mesma época? Não percebe que estes sonhos são lembranças, tão traumáticas, que nosso subconsciente traz à superfície enquanto dormimos?
- Se éramos amigos, como é que eu não sonho com essa cobra? – Perguntou Rony –Eu devo tê-la visto também, não é?
- Não sei Rony. Estou tão confuso quanto vocês, mas por enquanto a única coisa que consigo pensar é manter as famílias de vocês a salvo. Não preciso me preocupar comigo, já que não tenho ninguém. Mas a família de vocês é um alvo em potencial. Ficou bem claro para mim que ele não se importa com a vida de ninguém, que vai matar todos ao menor sinal de problemas. Está apenas brincando conosco.
- Certo! – Disse Mione, recompondo-se – Ainda não acredito nesta coisa toda, mas não quero que minha família corra risco algum. Então, o que faremos?


Harry caminhou até a entrada do Box, olhando o sol que começava a baixar no horizonte. Então se virou e disse.


- Na conversa que ouvi entre “meu tio” e o Sr. Malfoy, eles diziam que nós três, juntos, somos potencialmente perigosos. Vamos provar que estavam certos. Vamos tirar todos daqui e escondê-los. Mas primeiro... Vamos invadir a clínica e resgatar Gina. Esta noite.




N:A: Espero que este cap tenha deixado as coisas um pouco mais claras, pessoal. Aos poucos, vou dando maiores informações. Espero que este cap não tenha ficado massante, prometo que no próximo teremos um pouco mais de ação( ficou na cara com este final, não ficou?)

Queria agradecer a todos que estão acompanhando a fic, realmente espero que gostem. Algumas respostas aos coments, agora:



MarciaM – Acho que o Harry perdeu a confiança no “titio” dele, pode ficar tranquila. E a Luna não tarda a aparecer novamente. E... Bom, a Gina sofreu um pouquinho, mas talvez isso acabe no próximo. Vamos ver.

Mérope ( Minha querida Nati) – Que bom que você gostou. E melhor ainda que te inspirou, isso me deixa muito feliz. Grande beijo.

Niny – Muito obrigado. Não lembro de ter lido comentário seu anteriormente, e fico muito feliz que tenha comentado nesta. Continue conosco.


Tonks Butterfly – Mamãe linda, como está minha afilhada? Causando muitos enjoos? Espero que sim. Fica assim não, no próximo você comenta primeiro. Bom, você vai ter que esperar mais um pouquinho pra saber se o Draco será do bem ou do mau. Ainda tá cedo. E como você viu neste cap, os Comensais estão com a memória em ordem. E tam mais algumas pessoas, que logo aparecerão também. Beijos.


Lana – Bom, o bicho ainda não pegou, mas vai pegar. Pode ter certeza. Mas deu pra ter um gostinho nesse, não deu? Beijos.


Ingrid – Também acho que você não havia comentado ainda, e fico feliz que tenha gostado da idéia. Seja muitíssimo bem vinda, espero que tenha gostado deste cap.


Kenia – Muito obrigado, estou esperando. Sei que só vai ler a fic depois de concluída, mas agradeço muito o comentário e o apoio. Beijos.


Deusiane – Pra ser sincero, eu também esperava ficar um tempo maior sem postar. Mas não resisti quando tive a idéia para esta fic. E não se preocupe, eu entendi sim. Tá meio confuso, mas logo as coisas se ajeitam. Começando por este. Beijos, espero que goste deste capítulo.


Pedro Ivo – Bom te ver por aqui, camarada. Belo soco, não? No próximo tem mais, não se esqueça que o Harry não lembra como usar magia, portanto vai ter que apelar para a força bruta quando for resgatar a Gina. Grande abraço.



Deby – Era a Luna sim, mas ela não foi a única que apareceu e que estava livre do feitiço. Mas esta pessoa vai voltar já no próximo cap, fica tranquila. Que bom que gostou da idéia, espero que continue gostando. Beijos.


Danielle ( Dani ) – Mais uma luminosa me prestigiando, muito obrigado. Por que será que ninguém gosta da Cho? Incrível isso. Rsrsrsrsrsrs. Mas nesta fic, realmente ela não vai ter nada a ver com a que eu descrevi na trilogia. Aguarde e verás. Gostou do encontro com os Weasleys? Espero que sim. Beijos, e obrigado por comentar.



Prika – Segura a tua ansiedade, menina. Tái o cap. Rsrsrsrsrs. Espero que goste.



Eric – Valeu companheiro.


Naty ( Pichi ) – Oi Dimenor. Que bom que gostou da idéia. Era a Luna sim, mas como já disse numa resposta acima, ela não era a única personagem fora da influência que apareceu. Quem será a/o outro? E, atendendo a pedidos, o tri está junto novamente. Ah! E eu vou ler a fic sim, pode deixar. Logo posto meu coment lá. Beijos, meu anjo.


Mizita – Muito obrigado por toda a sua confiança. Espero estar a altura e que você tenha gostado deste segundo cap. O próximo também será bem movimentado. Beijos.


Anny – Outras leitoras que gostam das minhas fics? Fiquei curioso sobre quem seriam. Rsrsrsrsrs. Pois é, ninguém gosta da Cho. E vão gostar menos ainda, pode ter certeza. Muito obrigado por estar acompanhando. Ah! É, tudo pode acontecer. Só posso dizer que é um bom palpite sobre a Helga. Beijos.


Priscila Louredo – Priiiiiiiiiiiiiiii. Oi Bisssscoito, tudo bem? Aprendeu a comer pizza como se deve? Rsrsrsrsrs. É, tá meio confuso mesmo, né? Mas acho que neste cap já esclareci algumas coisas, ou pelo menos dei algumas dicas. Sei que você é muito ocupada, então agradeço mesmo por estar acompanhando. Beijos luminosos.



Thiago – Mais uma vez, muito obrigado por suas palavras, meu caro. Quanto ao projeto, pode ficar tranquilo. Está em andamento sim, e com certeza avisarei quando estiver pronto. Grande abraço.


Ginny – Tá confuso, mas aos poucos as explicações vão surgir. Pena da Cho? É a primeira... Neste cap apareceram mais alguns personagens, e mais virão nos seguintes. Aguarde. Beijos.


Gente, pra finalizar, informo que o próximo capítulo deve demorar um pouco, devido alguns compromissos e falta de tempo para escrever. Peço um pouco de paciência e compreensão de vocês.

Beijos e abraços e até o próximo capítulo, que nem preciso dizer que será o resgate ( ou tentativa) da Gina.

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