Sonhos Numa Noite de Verão
Ele acordou, sobressaltado. Outro sonho estranho, cheio de imagens confusas e absurdas, dele em situações tão improváveis que seria cômico se não fosse trágico. A maioria dos sonhos eram violentos, cenas de lutas ou de mortes. A do cemitério era uma das piores, sem dúvida nenhuma. Mas eram apenas sonhos, nada mais do que isto. O chato era que estavam se tornando cada vez mais frequentes. De manhã falaria com seu tio. Ele saberia o que fazer. Talvez marcar uma consulta médica. Virou-se para o lado e tentou dormir novamente.
Quando os raios solares entraram pela janela aquecendo sua face, o calor acabou despertando-o. Sabia que não voltaria a dormir, e o pouco sono o deixara com dor de cabeça. Colocou seu óculos, levantou-se e pegou seu roupão que estava pendurado ao lado da cama, dirigiu-se ao toilette e depois desceu para a sala de jantar, onde seu padrinho encontrava-se à mesa, tomando seu café e lendo o jornal do dia. A seu lado, como sempre, a governanta Helga.
- Bom dia, tio. Bom dia, Helga. – Cumprimentou ele, ao se sentar.
- Bom dia Harry. Chegou tarde esta noite, não? – Perguntou o homem, dobrando o jornal e olhando para o rapaz – Boa festa?
- Ótima. Mas estou com uma ressaca horrível. E para piorar, tive pesadelos essa noite, outra vez. – Respondeu Harry, apertando a mão contra sua cabeça, na tentativa de conter a dor.
- Pesadelos? Que tipo de pesadelos? – Perguntou o homem, preocupado, olhando de soslaio para sua empregada.
- Bem estranhos e confusos. Me vejo fazendo coisas impossíveis, que nunca aconteceram.
- Que tipo de coisas, Harry? – Insistiu o homem.
- São besteiras, tio. Do tipo estar lutando com uma cobra gigantesca, apenas com uma velha espada nas mãos. Ou enfrentando um Lobisomen. Coisas assim.
- Entendo. – E com um sinal discreto, ordenou que Helga fizesse algo. Esta, imediatamente deixou o ambiente.
- Mas sabe o que é engraçado, tio?- Perguntou Harry, olhado então para o tio e continuando a seguir – É que em todos os meus sonhos, eu era criança. Em várias fases, sabe, mas sempre mais novo do que sou hoje.
- Curioso, realmente curioso, meu sobrinho. Mas agora tome seu café. Deve estar faminto.
Harry obedeceu, servindo-se de suco de laranja e torradas. Pouco depois, ouviu-se o som da campainha. Mais alguns momentos, e um jovem loiro entrou na sala, trajando uma roupa esporte, própria para um dia no clube. Sem a menor cerimônia, puxou uma cadeira e sentou-se à mesa.
- Ainda nestes trajes, Harry? – E virando-se para o dono da casa – Bom dia, Sr Ridle.
- Bom dia, Draco. – Respondeu este, indiferente.
- O que tem meus trajes, Draco? – Perguntou Harry – Acabei de acordar.
- Você se esqueceu que combinou de encontrar a Cho no clube? – Riu Draco – Cara, você devia estar bem altinho mesmo.
- Como é? Prometi? – Perguntou Harry, e ao sinal de consentimento do outro, soltou uma imprecação, suspirou e continuou – Mas que droga. Não estou a fim de ficar na beira da piscina hoje. Tempo perdido, só tempo perdido.
- Mas você prometeu e agora tem que cumprir sua palavra. Ela já me ligou duas vezes, perguntando por que você ainda não chegou. – Disse o loiro.
- Por que essa revolta com a jovem, Harry? – Perguntou seu tio – Vocês não estão namorando?
- Ela diz que sim. Não larga do meu pé. – Respondeu o moreno, engolindo sua torrada e bebericando rapidamente seu chá – Mas eu estou apenas ficando, e para ser bem sincero, já estou cansado desta história. Não gosto dela, é muito pegajosa, qualquer hora termino de vez.
- Pense bem, meu jovem. É uma moça de boa família e parece gostar muito de você. – Observou Tom Ridle.
- Mas eu não a amo, tio. Sinto que ela não é a mulher da minha vida. De qualquer forma preciso ir, já que prometi encontrá-la. – E Harry levantou-se da mesa, acompanhado de Draco.
- Claro. Mas antes, tome este chá que Helga está lhe servindo. Ajudará na dor de cabeça e o ajudará a dormir sem pesadelos à noite.
Harry não desejava tomar mais chá, mas era muito mais fácil e rápido tomá-lo do que discutir com o tio. E ele tinha certeza de que Helga só sairia da sua frente após ele fazê-lo. Então pegou a xícara e sorveu seu conteúdo, fazendo uma careta. Depois subiu para seu quarto, onde trocou de roupa, vestindo uma calça esporte e uma camisa polo. Pouco depois, ambos saiam de casa, uma linda mansão localizada em Chelsea, um bairro nobre de Londres. Entraram no carro de Draco, um Audi 7, e seguiram em direção ao clube, conversando animadamente.
Ambos gostavam muito de velocidade, e agora que haviam terminado seus estudos, podiam se dedicar em tempo quase que integral a seus hobbies, ou seja, corrida de carros. Ambos participariam do campeonato de fórmula Gran Turismo naquele ano, e a temporada estava prestes a se iniciar. Como pilotos, entrando num carro como aquele, era difícil resistir a tentação e pisar fundo no acelerador. Assim, enquanto discutiam os ajustes que fariam em seus carros de corrida no dia seguinte, Draco não percebeu que aumentava a velocidade acima dos limites permitidos. Quando viraram uma esquina, nas proximidades da biblioteca municipal, atravessou um farol vermelho e quase atropelou uma jovem que atravessava a rua. Harry viu o que ia acontecer e puxou o volante, desviando o carro bem a tempo e jogando-o sobre a calçada, onde este atingiu uma cabine telefônica e parou bruscamente. Draco pulou para fora do carro, inconformado, seguido por Harry, que correu para ver como a jovem, que caíra no chão, estava.
- Mas que droga! – Gritou Draco, ao ver seu capô amassado e o paralamas idem – Olha só isso, garota. E a culpa é sua.
- Culpa minha? – Surpreendeu-se a jovem, que tinha cabelos castanhos e avolumados, e neste momento extremamente bagunçados – Você está louco ou o quê? Vocês estavam acima do limite de velocidade, passaram no sinal vermelho e quase me atropelaram. E a culpa é minha? Francamente!
- Ela está certa, Draco. A culpa foi nossa. Estávamos distraídos conversando e quase causamos um desastre. – Disse Harry, enquanto recolhia os livros espalhados pelo chão.
- Mas se ela tivesse largado esse monte de livros, teria conseguido sair da frente a tempo e eu não teria batido meu carro novo. – Acusou Draco.
- E você acha que eu largaria meus preciosos livros, para que você os atropelasse? Vai sonhando, sua Doninha Albina. – Retrucou a jovem.
Harry não aguentou e caiu na gargalhada. Uma visão, muito nítida, de Draco se transformando em uma doninha extremamente alva veio a sua mente. Foi apenas um flash, mas foi extremamente nítido, como em seus sonhos. Parou imediatamente de rir, sem jeito, e perguntou para a jovem, na intenção de tirar aquela visão de sua memória.
- Onde você vai com tantos livros?
- O que acha? Para a biblioteca, é óbvio. – Respondeu ela secamente – Preciso estudar.
- Mas você não está de férias? O que é que tem para estudar na biblioteca? – Draco esqueceu por um momento a raiva que estava sentindo da moça, diante a curiosiodade – E ainda por cima, hoje é sábado.
- Eu estou sim, de férias. Porém, prefiro aproveitar meu tempo em atividades mais úteis como estudar, do que ficar atropelando os outros por aí. Quero conseguir uma bolsa de estudos no curso de odontologia, e para isso preciso estudar muito. E, caso não saiba, a biblioteca também funciona aos sábados.
- Claro. – Concordou Harry, estendendo a pilha de livros nos braços da jovem – E como você está? Está ferida, srta...
- Hermione Granger. – Respondeu ela, pegando os livros – E estou ótima, obrigada por perguntar. Devia ensinar um pouco de educação a seu amigo.
Sem mais nada dizer, a jovem girou nos calcanhares e seguiu seu caminho, rumo a biblioteca. Enquanto isso, os dois amigos entraram novamente no carro e seguiram mais algumas quadras, até o Country Club. Entraram e foram direto para as piscinas. De longe identificaram suas companhias e seguiram até onde estavam.
Deitadas na beira da piscina estavam Cho Chang e Pansy Parkinson. Esta, assim que viu os rapazes chegando, cutucou a amiga, que estava deitada de bruços sobre uma espreguiçadeira, num biquini mínimo e ainda por cima de top less. Ela ergueu a cabeça avistando Harry, e imediatamente ergueu-se, não se importando muito em cobrir os seios. Harry, que já estava perto, fez uma careta de desaprovação. Pegou uma toalha pelo caminho e jogou sobre o colo da jovem.
- Você quer fazer o favor de se cobrir? – Disse ele.
- Deixa de ser bobo, Harry. O que tem demais? Vai dizer que você não gosta... – Disse Cho maliciosa, demorando-se para se cobrir e colando seu corpo ao dele, lacivamente.
- Se gosto ou não, não vem ao caso. Acho de extremo mau gosto se expor desta maneira em público. – Retrucou ele.
- Harry, às vezes tenho a impressão de que você não me acha bonita. Faço de tudo para agradá-lo, para ficar linda para você e é assim que me trata? – Choramingou Cho.
- Claro que acho você linda, mas você força demais a barra, Cho. As coisas têm que acontecer naturalmente, a seu devido tempo. Estou cansado de suas tentativas de sedução. Da maneira que está fazendo, fica vulgar. E eu não gosto de mulheres vulgares.
Cho sentou-se, ofendida, e enquanto vestia novamente a parte de cima de seu biquini, Harry se sentava a seu lado e Draco beijava Pansy. Pouco depois, o evento parecia ter sido esquecido, pois Harry contara às moças o acidente ocorrido no caminho, e ambas riram do apelido dado a Draco pela jovem. Passaram o resto da manhã e almoçaram no clube.
*****
Faziam poucos minutos que Harry havia saído quando o celular, que carregava no bolso do terno tocou. Ele atendeu imediatamente e perguntou, rispidamente, quem era. Aguardou enquanto a pessoa do outro lado se identificava e depois tomou a palavra.
- Não faça nada por enquanto. Isole-a e aguarde, estarei indo até aí agora mesmo.
Desligou o telefone e contemplou o aparelho, ainda em suas mãos. Ele tinha que admitir que os trouchas tinham alguns itens bem úteis e interessantes. Em seguida, seu pensamento fluiu para o assunto da conversa. Ele precisava interceder imediatamente, não podia correr o risco de perder o controle da situação. Levantou-se, girou no ar e desapareceu, ressurgindo logo após atrás de um prédio, na periferia de Londres. Já era esperado e foi conduzido por uma porta para o interior do prédio, até uma sala de confinamento. Entrou e trancou a porta. Saiu meia hora depois, e agora haviam duas pessoas a sua espera.
- O que foi que a família informou? – Perguntou ele.
- Trouxeram-na logo que o sol nasceu. Parece que teve pesadelos durante a noite e acordou dizendo que tudo estava errado, que a vida que eles viviam estava errada. Sem saber o que fazer, acabaram trazendo a garota até nós. – Informou uma mulher baixa e de aparência atarracada.
- Muito curioso... – Pensou Ridle em voz alta – Muito curioso que tenha acontecido esta noite, ao memso tempo que ele...
- Mestre, não seria mais sensato liquidarmos a garota? – Perguntou o homem, chamado Amico.
- Não, seu imbecil. A menina demonstra possuir grande poder mágico, ao resistir ao encantamento lançado. E preciso avaliar melhor se existe alguma ligação entre ela e o rapaz.
- E o que deseja que façamos, mestre? – Desta vez foi Aleto quem perguntou – O que dizemos parta a família? Estão esperando um diagnóstico.
- Digam que ela sofre de algum tipo de esquizofrenia, e que precisará passar alguns dias internada em tratamento. Eu reforcei meu feitiço e ela deve voltar ao normal em breve, mas deixem-na aqui por uma semana. Depois mandem de volta para casa, mas orientem que fique em observação. Se ela continuar resistindo, não teremos outra opção a não ser eliminá-la. – Ele dizia enquanto caminhava até a porta, onde parou e completou – Torturem-na um pouco, para parecer que ela sofreu com o tratamento. Mas não muito. E apaguem tudo de sua memória depois.
Dito isto, Tom Ridle deixou a clínica e foi para o centro de Londres, para o prédio de onde controlava seu império financeiro.
*****
Já era sábado a noite, e apesar das jovens insistirem que preferiam uma festa, Harry não insistiu em não sair de casa. Na manhã seguinte, ele e Draco tinham treino, por isso preferiu alugar um filme, pedir uma pizza e ficar por ali mesmo. Quando o filme terminou e os créditos começaram a ser exibidos na tela, ele não se conteve mais e perguntou.
- Vocês não têm a impressão, às vezes, que nossas vidas parecem um filme?
- Eu, tenho certeza. Um belo romance, onde você é o galã e eu, uma donzela indefesa. – Respondeu Cho, agarrando Harry e beijando-o – Meu herói!
- Para com isso, Cho. Estou falando sério. Vocês se lembram, realmente, do que fizeram com doze, sete ou quinze anos? – Perguntou Harry, e vendo que todos se calaram, continuou – Minhas lembranças passadas reais, as que sinto que realmente vivi, são de um ano para cá. Antes disso, é como um filme. Parecem cenas que vão sumindo com o tempo, desbotando.
- Cara, você realmente anda estranho. – Respondeu Draco, finalmente caindo na risada e sendo acompanhado pelas outras – Isso é normal, Harry. Com o passar do tempo, nossas lembranças vão ficando cada vez mais fracas e parecem estar se esmaecendo.
- Concordo com o Draco, amor. Eu me lembro perfeitamente do dia que te conheci, ainda na escola. E de todos os momentos que passamos juntos desde então. Para mim são muito reais e calientes... – Insinuou Cho.
- Acho que o Harry está mais cansado do que pensa. Já está começando a falar bobagens. – Foi a vez de Pansy dar sua opinião – Acho melhor irmos embora e deixarmos que ele descanse.
- Tem razão, acho melhor eu ir dormir. – Respondeu o moreno contrariado, levantando-se.
Sem que ninguém percebesse, neste momento Helga entrava na sala de estar, trazendo uma xícara de chá numa bandeja. Os jovens, ao se levantarem, deram de cara com ela, e Cho deu um pulo e gritou.
- Helga! Que susto. Mas que porcaria de mania que você tem, de entrar sem fazer barulho. Quase me mata do coração.
- Ela não tem culpa de não fazer nenhum som. É muda, você esqueceu? – Ralhou Harry, pegando a xícara – Tenho mesmo que tomar este chá horrível novamente?
Helga apenas balançou a cabeça positivamente. Harry deu de ombros e sorveu o líquido, enquanto Cho ainda reclamava.
- Eu sei que ela é surda. Mas ela podia ao menos fazer barulho com os pés, sei lá. Esse jeito dela me dá calafrios.
- Chega de frescura e vamos embora, Cho. Deixo vocês duas em casa. – Interrompeu Draco, virando-se para Harry em seguida – Nos vemos amanhã na pista, certo?
- Certo! – Anuiu Harry.
Pouco depois, Harry já se encontrava em seu quarto e sequer se lembrava da manhã que tivera, de sonhos ou da comparação que fizera há pouco. Tomou seu banho, deitou-se e dormiu profundamente. Quando acordou, na manhã seguinte, estava super bem disposto. Desceu para o café, onde saudou seu tio que já o esperava. Enquanto o rapaz comia vorazmente, este perguntou, em tom de indiferença.
- Como passou esta noite? E as dores de cabeça?
- Estou ótimo, tio. E que dor de cabeça? Se estava, nem me lembro. – E levantou-se da mesa com urgência, ainda mastigando – Preciso ir para a pista, testar meu carro. Até mais tarde, tio.
- Até mais tarde, Harry. E tome muito cuidado, está bem? – Despediu-se Tom Ridle, com um sorriso triunfante nos lábios e um brilho maligno no olhar.
Harry saiu pela porta, onde um Rolls Royce já o esperava. O motorista encontrava-se lustrando o veículo. Harry não gostava do motorista, mas este já trabalhava para a família há anos. Segundo seu tio, Pedro Pettigrew fora motorista de seus pais, e sentia-se culpado desde o acidente que os matara, em seu dia de folga. O rapaz não sabia se era este fato que lhe causava repúdio toda vez que via o homenzinho gordo, lhe parecia estar vendo um rato. Sem nada falar, entrou no carro e ficou calado durante todo o caminho até o campo de testes. Quando chegou, dispensou o motorista, que foi estacionar o carro no lugar de sempre. Assim que o carro saiu e Harry estava se dirigindo para o portão de entrada, sentiu uma bola bater em suas pernas. Abaixou-se e pegou a bola nas mãos e procurou seu dono.
Há poucos metros, havia um garoto magro, de uns dez anos, olhando para ele.
- A bola é sua? – Perguntou Harry.
- E aí. Beleza? – Cumprimentou o garoto, piscando um olho - É sim, pode me devolver?
Harry jogou a bola, e o garoto começou a batê-la no chão, como se fosse uma bola de basquete. O rapaz sorriu, e enquanto atravessava o portão, disse.
- Isso é uma bola de futebol. Vai acabar estragando, se continuar batendo ela no chão deste jeito.
- Ah é? – Respondeu o garoto, sem jeito, mas Harry não viu isso, já que estava de costas – Valeu, Harry.
Harry estacou. Ele tinha certeza de que não conhecia o garoto. Então como ele podia saber seu nome? Girou nos calcanhares para perguntar, mas o garoto já não se encontrava ali. Havia desaparecido. Harry correu de volta, procurando pelo menino por toda parte, mas não havia nem sinal dele. Procurou por mais dez minutos, até que teve certeza absoluta de que o menino não se encontrava em lugar nenhum por ali. O que era mais misterioso ainda, já que ele não podia simplesmente ter evaporado no ar. Foi para seu boxe, vestiu seu macacão e finalmente encontrou-se com Draco, que parecia irritado.
- Está atrasado, Ridlle. Sabia que estamos pagando a pista por hora?
- Eu sei, Malfoy. Estava resolvendo um problema, mas agora estou aqui. Pronto para comer poeira?
- E desde quando você me faz comer poeira, Harry? – Riu o loiro, colocando seu capacete.
- Desde sempre, meu caro. Sempre fui melhor e mais rápido que você.
- Só se for em sonhos, meu caro.
- Lá também, Malfoy. Lá também. – E Harry também colocou seu capacete e ambos entraram em seus carros.
Apesar de amigos, ambos possuíam um censo de competição muito acirrado, o que inviabilizava estarem na mesma equipe. Nas pistas, a disputa era ferrenha e, às vezes, desleal. Cada um criara sua própria equipe. A de Draco chamava-se Snake Road. Seu carro, um Porche Spyder , era verde e prata, com serpentes pintadas nas laterais e capô, onde um número nove se mesclava com a língua do réptil. A de Harry, Thunder Power. Seu carro era um Aston Martin DBR-9, vermelho e dourado, com leões pintados nas laterais e no capô, com um belo número sete pintado. Partiram para a pista, e por mais de duas horas alternaram-se em baixar os tempos, mas ao final do treino, Harry se mostrara o melhor piloto.
- Tudo bem, você foi o melhor hoje. Mas vamos ver na corrida, daqui um mês. – Disse Draco, quando deixavam o treino.
- Claro. Vamos ver. – Riu Harry, confiante.
O mês passou rapidamente. Quando perceberam, já era o final de semana da corrida. Durante este tempo, não houve mais nenhuma noite com sonhos absurdos ou mal dormida. Tão pouco Harry teve tempo de se lembrar do menino estranho. Sua única preocupação era a corrida e principalmente, se conseguiria se classificar para ela.
Na sexta e no sábado que antecediam a corrida, finalmente os treinos classificatórios. Apesar de concorridos, tanto Harry quanto Draco conseguiram se classificar. Então, finalmente chegou o domingo. Harry foi sozinho ao autódromo, dirigindo seu próprio carro, um belo Lamborghini Gallardo verde. Seu tio havia viajado e levado o motorista com ele. Não que Harry fizesse questão do motorista, ele até preferia ir sozinho. Chegou ao autódromo três horas antes da corrida, tamanha sua euforia.
Domingo de corrida no autódromo de Silverstone é algo completamente fora da realidade. Uma miríade de pessoas, culturas e raças. Muitas mulheres bonitas, o que deixava Cho Chang extremamente irritada e ciumenta. Ela não saiu de perto do namorado um instante sequer, enquanto este se preparava para entrar no carro. Finalmente chegou a hora, e o grid se formou. Harry estava satisfeito com sua posição, largaria em sexto lugar. Draco largaria em nono. Em seu cokpit, Harry estava completamente concentrado e focado em seu objetivo. Nada mais existia naquele momento, a não ser ele, seu carro e a pista à sua frente. Foi dada a largada para a volta de apresentação, e a adrenalina atingiu seu ápice. A largada seria em movimento, o que significa que, após a volta de apresentação, assim que os carros cruzassem a linha de chegada, a corrida se iniciaria. Quando isto ocorreu, Harry já não estava mais nervoso. Estava tranquilo e sereno. Puxou seu carro para a direita, tirando do carro que ia à frente e ao mesmo tempo fechando a porta para quem vinha atrás e pisou fundo no acelerador, fazendo o potente motor de seu carro roncar alto. Para ele, pareceu que o rugido saia da boca do leão sobre o capô.
Com uma manobra ousada, já na largada ele ultrapassou um adversário, tendo que frear forte no final da reta para contornar a primeira curva. Atrasou a freada, e com isso conseguiu garantir sua posição, impedindo que outros competidores o ultrapassassem e assumindo a quinta posição na corrida. Aos poucos, os carros foram se distanciando, formando pequenos pelotões, e Harry conseguiu se manter no primeiro, pouco atrás dos líderes. Draco não teve tanta sorte, e vinha mais atrás, em sétimo lugar e com grande dificuldade de manter a posição.
Quando a corrida já estava na metade, chegou a hora do pit stop. Neste momento, Harry estava colado ao quarto colocado, e aproveitou o momento em que este entrou no boxe para assumir a quarta colocação e pisar ainda mais fundo no acelerador. Ele teria que parar em breve, mas se conseguisse aproveitar o fato de estar com tanque quase vazio e, portanto, com o carro leve, poderia conseguir voltas mais rápidas, o que poderia lhe garantir a terceira colocação em seu pit. Com efeito, as duas voltas seguintes foram as mais rápidas da prova até aquele momento. Não podendo mais aguardar, sob o risco de abandonar a corrida por uma pane seca, finalmente ele entrou para sua troca de pneus e reabastecimento. Para sua alegria, os poucos segundos que conseguira naquelas duas voltas foram o suficiente para lhe garantir a quarta colocação, e ele seguiu firme na prova.
Aos poucos, os líderes começaram a ultrapassar os retardatários, pilotos que estavam nas últimas colocações. Numa das retas, enquanto o terceiro colocado aproximava-se de um destes retardatários para ultrapassá-lo, este sofreu uma grande explosão. Seu motor não agüentou o calor forte do verão e explodiu, jogando uma camada de óleo na pista ao mesmo tempo em que seu capô voava e caia na pista, bem à sua frente, que não teve tempo de desviar e acertou em cheio a peça, perdendo a direção e chocando-se contra a proteção lateral da pista. Harry desviou por pouco do acidente, evitou o óleo e continuou em frente. Mas atrás, outro carro não teve a mesma sorte, passou sobre o óleo, derrapou e também bateu. Imediatamente foi dada bandeira amarela, o carro de segurança entrou e todos acabaram se agrupando novamente, impedidos de ultrapassar. Neste momento, Draco vinha em oitavo lugar.
Depois de três voltas atrás do carro de segurança, houve a relargada. Harry estava colado ao segundo colocado e sentia que podia exigir ainda mais de seu carro. Faltando poucas voltas para o final, ele conseguiu pegar o vácuo do adversário no início da reta de chegada. Este ainda tentou se proteger, mas com um atrito menor e mais velocidade, ao chegar no meio da reta Harry tirou seu carro do vácuo e pisou fundo no acelerador, emparelhando com o outro. A reta estava chegando ao fim e a curva favorecia Harry. Seu adversário tentou manter-se, mas sem a preferência da curva não teve alternativa senão tirar o pé e permitir a ultrapassagem. Harry assumiu a segunda colocação, mas o tempo que perdera para chegar e ultrapassar o segundo colocado fora o suficiente para o líder se distanciar. Agora faltavam oito voltas para o final da prova, e mesmo que ele alcançasse o primeiro colocado, não haveria tempo suficiente para uma ultrapassagem. Mesmo assim, ele acelerou, com a intenção de se distanciar do terceiro colocado e garantir sua posição. E foi o que aconteceu. Oito voltas depois, Harry recebia a bandeirada em segundo lugar, uma posição espetacular para um piloto novato.
Ao descer do carro, o moreno tirou seu capacete vermelho, com um leão dourado pintado na parte traseira, exultante. Sabia que seu tio não estaria ali, mas sua equipe o recebeu com muita festa. Cho também estava, e pulou em seu pescoço, cobrindo-o de beijos, gritando histericamente. Olhou para o painel de resultados e viu que Draco chegara em sétimo. Lamentou pelo amigo, mas estranhou que este não estivesse ali para cumprimentá-lo. Foi conduzido ao pódio, onde recebeu seu primeiro troféu. Estourou sua champagne, comemorou com os outros pilotos e posou para fotografias. Porém, ao retornar para seu boxe, teve uma péssima surpresa. Nem parecia que ele havia conseguido uma façanha como aquela. Todos da equipe estavam quietos e pensativos, não pareciam em nada as pessoas que o receberam aos descer do carro. Seu chefe de equipe veio a seu encontro.
- O que aconteceu, Frank? – Perguntou o rapaz.
- Harry... – Começou este, sem jeito – Nós sentimos muito, Harry. Mas não pudemos recusar.
- Sentem o quê? Recusar o quê? – Harry sentiu que algo de ruim vinha pela frente, mas não sabia o que. Tinha medo de que fosse algo na prova, algo que o desclassificasse.
-Assim que terminou a corrida, seu amigo Draco Malfoy esteve aqui. Ele estava muito nervoso pelo resultado e culpava sua equipe por isto. Demitiu toda a equipe, veio até aqui e fez uma proposta irrecusável para que fôssemos trabalhar para ele.
- Isso é um absurdo. Draco não faria uma coisa dessas comigo. – Disse Harry, incrédulo. Mas viu, nos olhares de todos, que era verdade – Vocês não aceitaram, não é mesmo?
- Não tinha como não aceitar, rapaz. Ele está nos oferecendo o dobro do salário. Garante que é melhor do que você e que só precisa de uma equipe competente para vencer a próxima corrida. - Respondeu Frank.
- Isso é ridículo! – Bradou Harry, saindo de seu boxe e indo até o de Draco, que já se encontrava sendo desmontado pela equipe - Draco!
- Harry... – Cumprimentou o outro, com desdém – Eu poderia lhe dar meus parabéns pelo resultado, mas ambos sabemos que foi pura sorte. Eu sou e sempre serei melhor que você, e se não fosse a incompetência destes idiotas, eu seria o vencedor.
- Não seja ridículo, Malfoy. Não adianta nada ter a melhor equipe do mundo, se você não tiver talento. E você não tem. Nunca teve nem nunca terá. Que merda de amigo é você, que no momento que devia estar ao meu lado, feliz pelo que eu consegui, vem e me dá uma rasteira dessas? – Gritou Harry.
- Do tipo que gosta de vencer. – Respondeu Malfoy.
Harry não pensou duas vezes. Desferiu um forte soco no queixo de Draco, derrubando-o no chão. Os mecânicos correram a segurar os dois, acreditando que Harry continuaria a briga, mas este apenas olhou para o loiro no chão e disse.
- Roubar minha equipe não torna você um vencedor, Malfoy. Pode ficar com ela. Arrumo outra para mim. Nos encontraremos de novo e vou provar que sou melhor que você. – E deixou o local.
O moreno voltou para o local reservado para sua equipe. Ordenou que arrumassem tudo, trocou-se e quando estava saindo, reencontrou Cho.
- Meu campeão! – Gritou ela, novamente agarrando-o pelo pescoço. Ela estava usando uma micro-saia e uma camisa, a qual fazia questão de deixar os botões abertos e a barriga a mostra – Onde vamos comemorar sua vitória?
- Não estou com ânimo para festas, Cho. Quero ir embora para casa e ficar sossegado. – Respondeu ele, mal humorado.
- Acho que comemorar em casa pode ser uma ótima idéia. Afinal, seu tio está viajando e só volta amanhã, não é? – Disse ela, sedutora.
- Se quer vir comigo, tudo bem. Mas já vou avisando que não sou boa companhia hoje. – Respondeu ele, indiferente.
Cho não reclamou. Há meses procurava uma oportunidade de pegar Harry de jeito, e faria o possível e o impossível para que fosse naquele dia. O desejava ardentemente e tinha certeza de que conseguiria mudar o humor dele com um belo streap tease. Não podia perder a oportunidade de seduzi-lo de maneira alguma.
Como era de se esperar, quando chegaram no local onde estava estacionado o carro, havia uma multidão de pessoas, fotografando e pedindo autógrafos a Harry. Ele deu atenção por algum tempo, tentando sorrir e sendo o mais educado possível. Quando finalmente entrou no carro e estava prestes a manobrá-lo, sentiu alguém segurar seu braço, que estava apoiado sobre a janela. Uma jovem loira, olhos azuis e sonhadores, vestindo uma roupa estranha, com brincos absurdos, em formato de cenouras.
- Harry! Harry Potter, você precisa se livrar desta mentira. – Disse ela.
- Desculpe moça, mas você deve ter me confundido. Meu nome não é Harry Potter, É Harry Ridle. – Respondeu ele, tentando ser gentil.
- Nós éramos amigos, Harry. Não se lembra de mim? Por Merlin, precisamos de você. – Os olhos azuis encheram-se de lágrimas e desespero – Você precisa se lembrar de quem são seus verdadeiros amigos, Harry. E de quem você é realmente. É a nossa única salvação.
- Eu não sei do que você está falando, menina. – Harry insistiu, mas sentia pena da moça. Não queria magoá-la e nem sabia o porquê. Mas não pode fazer muito mais, pois a jovem foi puxada de perto dele por Cho.
- Largue já meu namorado, sua louca. Quem você pensa que é para agarrá-lo assim? Harry é meu, entendeu? Meu!
Com a força do puxão, a jovem caiu ao chão. Harry saiu do carro imediatamente e segurou Cho, que pretendia continuar a agressão, na frente de todos.
- Cho! Quem parece estar louca é você. Como é que faz uma coisa dessas? A garota só estava conversando comigo. – Gritou ele, segurando-a com firmeza por alguns momentos. Quando ela parou de resistir, ele foi até a jovem, ainda caída e a ajudou a se levantar – Você está bem?
- Lembre-se de quem é, Harry Potter. E lembre-se dos seus verdadeiros amigos. – Respondeu a loira, que saiu correndo no meio da multidão.
Harry correu atrás dela, mas ao virar a esquina de um prédio a jovem desaparecera. Extremamente intrigado, voltou para seu carro, onde Cho o aguardava.
- Harry, me desculpe. Eu não queria ser violenta com a garota, mas pensei que ela estivesse dando em cima de você, daí fiquei com ciúmes do meu namorado.
- Cho, você não é, nunca foi ou será minha namorada. Nunca lhe dei o direito de fazer algo tão absurdo quanto isso com ninguém. Você não é minha dona, não tem o direito de me controlar dessa maneira.
- Harry, eu sei que errei. Mas já pedi desculpas, isso nunca mais vai acontecer, eu juro.
- Ah, mas não vai acontecer mesmo. Por que nós não vamos mais continuar juntos, entendeu? Se quiser uma carona para casa, é bom procurar com outra pessoa, por que comigo você não vai.
Dizendo isto, o moreno entrou no carro e arrancou. Estava com a cabeça a mil. Queria conversar com alguém, mas com seu tio viajando a casa estaria vazia. Poderia lhe telefonar, mas certamente isso faria seu tio voltar da viajem mais cedo, interrompendo seu negócios para ver como ele estava, e ele já não era mais uma criança. Não podia deixar que seus problemas pessoais atrapalhassem seu ocupado tio. Chegou em casa, tomou um banho e ficou andando, de um lado para outro, pensativo. A noite chegou e nada do rapaz se acalmar. Os fatos do dia, somados às palavras daquela estranha o estavam deixando louco. “Lembre-se de seus verdadeiros amigos”. O que queria dizer? E por que aqueles olhos azuis lhe pareciam tão familiares, se ele nunca tinha visto aquela pessoa? De repente a imagem dela, um pouco mais jovem lhe surgiu nitidamente na memória, como se fosse uma das imagens que ele via em seus sonhos. Os mesmos olhos azuis e sonhadores, brincos estranhos e, na visão, um colar igualmente estranho, feito de algum tipo de rolha de garrafa. Só então Harry se lembrou dos sonhos. Que sonhara, e o mais estranho. Que os esquecera e até mesmo esquecera que os tivera. Sentiu-se sufocado, enclausurado naquela grande casa. Pegou a chave de seu carro e resolveu dirigir um pouco, para refrescar a cabeça.
Entrou novamente em seu Lamborghini e pegou uma estrada qualquer. Não importava qual estrada nem para onde ela o levava. Mal reparava no caminho, só queria pensar. Já estava rodando a horas, e não fazia a menor idéia sobre onde estava. O sono começou a pesar, e ele chegou a achar graça da situação. Afinal, ele não tinha um bom relacionamento com carros e estradas, afinal já se envolvera em um acidente quando pequeno, que lhe rendera a cicatriz na testa e a perda dos pais. Não seria poético se ele se envolvesse em outro, justo naquela noite?
Como em resposta a este pensamento, de repente surgiu no meio da estrada um vulto de um animal. Por puro reflexo, Harry girou o volante para a direita, saindo da estrada. Ainda teve tempo de pensar “O boca!”, antes de surgir uma cerca a sua frente e então, inconsciência.
*****
Ele sentia-se bem como há muito não sentia. Se é que já se sentira daquela maneira na vida. Tão confortável, seguro, aconchegante. Será que estava morto? Por que, depois de uma batida como aquela, sentir-se bem estava completamente fora de cogitação. Onde estavam as dores pelo corpo? Ele deveria estar ainda dentro do carro, não num lugar tão gostoso. Assustado, abriu os olhos. Não, não estava morto. Estava em uma cama, num quarto simples mas confortável. Alguém lhe estandia seus óculos, que ele pegou e colocou no rosto.
- Mas o que... Como... Onde... Quem...
- Bom dia, querido. – Respondeu a bonachona mulher que entrava em foco do outro lado das lentes – Você deve ter um belo anjo da guarda. Meu Deus, ainda não acredito que escapou daquele acidente sem um arranhão sequer. Meus filhos ouviram a batida no meio da madrugada... Você acabou com a nossa cerca, mas felizmente está bem. Você é de Londres, não é? Bem vindo a Ottery St. Catchpole, criança. E meu nome é Molly. Molly Weasley.
N:A: Olá. Tive a idéia para esta fic a pouco tempo, pouco antes de terminar a Herdeiro. As coisas podem parecer um tanto confusas, mas podem ter certeza de que vão piorar bastante. E a partir do próximo capítulo.
Comentem, votem, dêm suas opiniões. É muito importante.
Beijos e abraços e até o próximo capítulo.
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