Fazer por merecer
––––CAPITULO VINTE E SEIS––––
Fazer por merecer
–Kyo!!! –exclamaram Lilian, Nanda e Sarah em uníssono.
O garoto tentou sorrir, mas seu rosto parecia petrificado. Seu ombro doía muito, mas mesmo assim ele ergueu o braço e mexeu os cabelos, para bagunça-los, não sabia porque fizera aquilo.
–Você tá legal? –perguntou Nanda.
–Alguma coisa dói? –perguntou Sarah.
–Você ainda pode jogar quadribol? –perguntou Lilian.
As três outras garotas olharam para ela, inconformadas.
–Isso não é hora de se pensar em quadribol! –exclamou Nanda, indignada.
–Foi mal... –se desculpou Lilian, com a voz chorosa. –vocês já tinham feito as duas perguntas que eu tinha pensado...
–Há quanto tempo eu tô aqui..? –perguntou Kyo, que parecia ter se esquecido como se falava.
–Duas semanas. –respondeu Sarah, com um sorriso amarelo.
–Tu... –tentou falar ele, mas sua garganta doía muito. –Tudo isso?
–É, flechas de centauro tem um veneno mortal. –disse Lilian, parecia extremamente preocupada, mas também aliviada.
–Veneno mortal..? –sibilou Kyo, maquinando. –E como eu ainda estou vivo?!?
Ele se arrependeu amargamente de ter falado naquele tom de voz, sua garganta doeu como se ele tivesse engolido milhares de cacos de vidro e acho em brasa.
–Só ela sabe... –disse Lilian, amargamente, indicando Uandalini, com o nariz. –Mas não quer falar pra ninguém.
–Como só ela sabe..? –perguntou ele, quase num sussurro. –E o que aconteceu para eu estar aqui?
–Nós também não sabemos disso. –disse Nanda. –A Uanda também não quer comentar, –e baixando a voz até um sussurro que Kyo não acreditou ser inaudível para Uanda –e ela não quer falar pra ninguém, vive resmungando que foi culpa dela...
Kyo olhou para Uandalini, a garota estava muito ocupada olhando para os próprios sapatos para se preocupar com o fato de estar sendo observada por todos, Kyo sentiu uma forte pinicada no braço que estava machucado, não se lembrava do que acontecera, não conseguia acreditar que estava naquela cama há duas semanas, nem se lembrava do sonho que acabara de ter, só sabia que era muito estranho.
Uandalini ergueu os olhos para olhar para o garoto, seu rosto estava um tanto vermelho e seus olhos marejavam, mas ela sustentou o olhar quando seus olhos encontraram os do garoto. “Pelo amor de deus, tira esses olhos azuis de cima de mim...” ele escutou uma vozinha em sua cabeça e, coincidência ou não, a voz era muito parecida com a da garota, se não idêntica.
–E então, você pode me contar o que aconteceu? –ele disse com tanta gentileza que ele mesmo não se reconheceu, um sorriso amável nos lábios.
“E esse sorriso agora... meu deus, podia ser mais lindo..? É quase... não, é irresistível...”, mais uma vez a vozinha falou em sua cabeça, ele pensou em desviar seu olhar do da garota, mas não conseguia, alguma coisa dentro dele o impedia.
–Er... eu... bem, eu... –gaguejou a garota, tremula –Eu... hum... é que... não, não vou contar.
Ninguém pareceu ficar surpreso com a resposta da garota, nem mesmo Kyo, que por alguma razão achava conhecer a garota incrivelmente bem para saber qual seria sua reação. Ele manteve seu olhar fixo nos olhos dela, castanhos, redondos, grandes, brilhantes e chorosos, sentiu um pouco de pena dela. Com o braço bom, ele bagunçou seus cabelos, ainda não entendia porque fazia aquilo, mas sentia bem ao faze-lo. “E com esse cabelo bagunçado fica ainda mais lindo... se ele não parar eu não vou me conter”.
–Quem vai acabar não se contendo sou eu... –cochichou Kyo, sem querer.
–Que?!? –perguntaram as quatro garotas em uníssono.
Kyo pôs a mão sobre a boca, mas isso também o fez se arrepender, ergueu o braço dolorido o que o fez urrar de dor, ou pelo menos quase, já que a dor acabou com suas forças. Uandalini estava muito vermelha, Kyo não entendeu porque, será que ela ouvia as vozes estranhas na sua cabeça?
–Que foi? –perguntou ele, ainda com a voz fraca de quem acabara de sentir muita dor.
–Você deu pra falar coisas nem nexo, agora? –perguntou Lilian, com uma cara não muito boa.
–Por que? –perguntou ele com uma inocência tão falsa que nem mesmo um bebe acreditaria.
–Por que? –zombou Lilian –Você viu o que acabou de falar? Não tem nada com bulhufas nenhuma, pô!
–Ah, eu só tô pensando alto, –se desculpou ele, mas as garotas, com a exceção de Uandalini, não pareceram acreditar –conversando comigo mesmo... ou talvez ouvindo vozes.
–Ouvindo vozes? –perguntou Sarah, preocupada. –Como assim, vozes?
–Sabe, vozes, aquilo que as pessoas emitem quando falam... –disse ele em tom brincalhão.
Por alguns instantes Kyo esqueceu-se completamente que acabara de acordar depois de um sono e que seu braço ainda se recuperava de um ferimento feito por uma flecha de centauro que, de alguma maneira, ele sabia ser mortal para qualquer um que fosse atingido por ela.
–Isso não teve graça, Ka, literalmente sem graça! –protestou a garota com a voz aguda, se levantando.
Mas Kyo fora mais rápido e a puxou em sua direção, segurando com toda a sua força de vontade um gemido de dor que lhe veio até os dentes e os fez doer como se tivessem sido martelados.
–Isso realmente dói... –murmurou ele –acho que vou morrer...
Ele se largou de volta na cama, soltando Sarah, que pareceu ficar desapontada com aquilo, mas voltou depressa para seu lugar, com um ar preocupado e carinhoso
–Putz, Ka, foi mal –se desculpou Sarah, passando os dedos pelo rosto dele –foi mal mesmo, eu não queria te machucar...
–Pode ficar tranqüila... –disse o garoto, com a voz fraca –quem me machucou foi minha própria estupidez...
As garotas todas riram da cara que ele fez, com a exceção de Uandalini, que permanecia seria e com os olhos fixos em seus sapatos. Ele olhou para ela mais uma vez, serio.
–E então? –perguntou Nanda de repente. –Quer saber as novidades?
–O que pode ter acontecido de interessante? –perguntou Kyo, sem emoção, mas sem tirar os olhos de Uanda. –Só se o Malfoy foi expulso...
–Eu poderia dizer expulsa. –disse Nanda, em sua melhor voz.
–Como assim, a Carla foi expulsa da escola? –perguntou ele, num tom de voz demasiado alto.
–Que intimidade é essa pra chamar ela de Carla? –perguntou Sarah, em um tom inquisitorial.
–Não é intimidade é que... –ele não sabia porque, mas sentia uma enorme simpatia pela garota, e tinha a impressão que isso era graças a Hagrid. –é que eu simpatizei com ela, só isso...
–Tá bom... –disseram nada e Sarah em uníssono, e Sarah ainda completou: –e eu sou a rainha da Inglaterra.
–Mas é serio, ela foi expulsa da escola? –insistiu Kyo, tentando mudar de assunto rapidamente.
–Não, da escola não, só do time. –explicou Lilian, como quem contava a melhor das novidades para uma amiga desinformada.
–Do time... –a principio Kyo não entendeu, mas então o quadribol voou para sua mente, como um pomo de ouro –o de quadribol?!?
–Isso ai. –disseram as três, quase ao mesmo tempo, elas estavam lembrando muito os trigêmeos Weasley falando as coisas ao mesmo tempo.
–Mas por que? –Kyo quis saber, talvez Carla não fosse uma adversária muito leal, mas era realmente uma boa jogadora.
–Pensei que só o sobrenome dela fosse um bom motivo. –disse Nanda, num tom de voz displicente.
–É serio, Nanda! –disse Kyo, com mais severidade do que achou ser necessário.
–Ela se meteu numa briga para defender o irmãozinho e os capangas dele, –Sarah fez uma careta de desgosto, imaginando que seria melhor se Willian e seus gorilas de estimação se ferrassem –mas acabou se ferrando e perdendo duzentos pontos da Sonserina alem da vaga no time.
–Então quer dizer que ela se ferrou por causa do nojento do Malfoy? –perguntou Kyo, num tom de voz de quem estava planejando algo nada bom.
–Que é que você tá pensando em fazer? –perguntou Lilian, em tom severo.
–Eu? –perguntou o garoto em tom teatral, as garotas foram forcadas, tão cômica fora a cena. –Eu não vou fazer nada.
–E que cara é essa? –perguntou Nanda, num tom ligeiramente agressivo.
–Desculpa, mas eu nasci com ela. –disse o garoto, em seu tom mais arrogante. –E, modéstia a parte, conquistou mais da metade das garotas de Hogwarts.
Ele bagunçou mais um pouco os cabelos, ainda sem entender o porque de estar fazendo aquilo.
–Para de bagunçar esses cabelos! –disse Sarah, rispidamente.
–Por que? –perguntou ele, com cara de inocente. –Mas não tem nada de mais em bagunçar os cabelos.
–Isso irrita, você a toda hora com essas mãos neles! –disse ela, num tom irritado e ao mesmo tempo brincalhão.
–Fica parecendo que acabou de desmontar a vassoura. –disse Lilian, lembrando do garoto no ultimo jogo de quadribol. –É um charme...
As outras três garotas olharam para ela, fora a segunda bola fora dela em menos de meia-hora, mas ela pareceu não ligar muito, pois continuou:
–Mas é a pura verdade, –e olhou bem para a cara de Nanda –quantas vezes eu não te peguei alisando os cabelos dele, dizendo como ele ficava lindo daquele jeito largado.
Sarah ficou muito vermelha, enquanto Nanda ria discretamente, não poderia negar se Lilian fizesse a mesma pergunta para, o que sempre atraiu em Kyo, fora aquele jeito de garoto de rua, sem ligar para a aparência nem para combinações ou se alguém achava estranho o fato dele não ir de um lado para o outro com as vestes da escola, a gravata com o nó frouxo no meio do peito e para fora do suéter e a capa no meio das costas, presas ao cotovelos levemente flexionados, isso só o deixava ainda mais charmoso, um charme infantil como ela gostava de chamar, quase como o encanto que uma criança consegue causar nos mais velhos, só que muito mais intenso e precisamente direcionado as garotas.
–Sinceramente eu ficaria lindo de qualquer jeito... –disse o garoto, num tom de voz com tanto charme embutido que conquistaria até a prof ª Minerva. Mais uma vez bagunçou os cabelos, sem ligar para a cara estranha que Sarah fez.
–Sinceramente, eu não posso negar. –disse Lilian¸Kyo achou que se ela fosse um pouco mais direta o teria agarrado. –Você ficaria lindo até fantasiado de trasgo.
–Eu concordo plenamente, –disse Nanda, Kyo reparou que a mão dela segurava a mão de seu braço ferido –esses olhos azuis me encantam alem de não me serem desconhecidos.
–Tiago Potter. –disse Sarah, baixinho, mas todos escutaram, até mesmo Uandalini.
–Como? –perguntou Kyo, sem entender muita coisa.
–Seus olhos, seu cabelo, –dizia Sarah –seu físico, até o seu sorriso são idênticos aos dele.
–Tiago Potter... –Kyo pensou um pouco e então se lembrou daquele nome. –O pai de Harry?
–O próprio. –Ela pegou um livro que estava sobre a mesa de cabeceira e o abriu numa pagina bem no meio, Kyo reconheceu o livro. –Esse aqui.
Ela indicou a foto para que todos pudessem ver, Uandalini sorriu ao ver aquele garoto da foto piscando em sua direção. Os olhos de azul intenso, os cabelos totalmente despenteados, como se tivesse acabado de sair de uma partida de quadribol muito disputada e o sorriso de um garoto de cinco anos que descobrira que o natal fora adiantado. Era Kyo na foto.
–Nossa, quando eu vi esse cara na foto achei que era parecido, –disse Kyo, surpreendido –mas agora poderia jurar que ele é meu irmão gêmeo...
–A não ser por isso... –Sarah apontou para a fina cicatriz em forma de raio na testa do garoto.
Kyo sentiu-se extremamente estranho, como se uma repentina onda de calor invadisse seu corpo, olhou para as garotas, sempre as achara muito bonitas, em especial Uandalini, mas agora, não entendia porque, elas pareciam mil vezes mais bonitas e atraentes. Sentiu uma súbita vontade de possuir todas, de tê-las só para si.
Os olhos do garoto se estreitaram inconscientemente, como os de um predador ao avistar uma presa fácil, ele avaliou qual seria a mais fácil de cair nas suas garras, Nanda e Lilian estavam praticamente no papo, mas ele não as queria, queria sedução, um jogo, ou melhor um desafio. Sempre achara que quanto mais difícil melhor, ou melhor, nunca achara isso antes, sempre gostara de moleza, mas neste caso ele queria sentir o prazer da conquista, nesse momento as seguintes palavras vieram a sua cabeça, mas na voz de uma garota: Fique sabendo que eu não sou a Ananda e não vou deixar você me beijar, e alem do mais, ele ainda nutria um sentimento pela garota em questão.
–Vocês podem nos deixar a sós? –perguntou ele de repente, assustando as garotas.
Todas as quatro garotas olharam para ele com expressões de incompreensão. Uandalini, Sarah e Lilian se ergueram, as duas ultimas com expressões de desapontamento, deixando Kyo e Nanda sentados. Ele sorriu e Nanda ficou ligeiramente vermelha, mas a esperança estava estampada em sua face, Kyo passou a mão pelos cabelos dela.
–Foi mal, –disse ele, ligeiramente alto –mas acho que vocês não me entenderam direito.
As três garotas que estavam em pé estacaram no mesmo lugar, ele pode ver a esperança voar de encontro as faces delas, menos a de Uandalini, que ainda estava muito seria, Kyo riu ad cara dela, que pareceu não gostar muito da brincadeira.
–Ei, Longbotton, –disse ele, em seu tom mais cortês –pode desamarrar essa carinha linda que eu quero falar contigo.
–Sobre? –perguntou ela, displicentemente.
–Daqui a pouco a gente resolve. –disse ele, lançando um olhar muito significativo em direção as demais garotas.
Ele viu que nem Sarah, nem Lilian pareceram se preocupar, mas Nanda demonstrou aflição, somente ela sabia dos sentimentos que um dia ele nutrira por Uandalini, ou que ainda podia nutrir. Sem saber porque olhou diretamente nos olhos dela e pode ouvir claramente em sua cabeça: “Ai! Mas que droga!” era a voz de Nanda, “Ele me enche de esperanças e depois e mete um balde de água fria na cabeça! O que ele pensa que tá fazendo comigo? Me excitando? Pois se ele pensa pode crer que está e se continuar desse jeito eu não vou me conter e vou pegar ele de jeito...”, de repente ele se viu deitado numa cama de colunas como a dos dormitórios, havia alguém em cima dele, esse alguém o beijava.
–Eu esperaria, sabe Nanda, –comentou ele, num tom de voz aparentemente calmo –eu posso ficar cansado.
–Hã? –a garota não entendera nada.
Ele sorriu galanteador, mais uma vez bagunçou os cabelos, percebeu que nada fechou os olhos demoradamente. As garotas saíram, deixando Kyo e Uandalini sozinhos, a garota pareceu enrubescer ligeiramente, o que fez Kyo se sentir ainda mais garanhão. Ela, timidamente se sentou na ponta da cama mais distante do garoto.
–E então, o que você quer comigo? –perguntou ela, abruptamente.
–Detalhes. –disse ele, ainda sorrindo.
–Sobre?
–O que aconteceu na floresta?
A garota ficou ligeiramente envergonhada, quando Kyo ele olhou em seus olhos, ele pode ver que o rosto dela ficou ainda mais vermelho, e, de alguma maneira que ele não poderia explicar, ele já sabia de tudo o que acontecera.
–E então? –disse ele, displicente. –Creio que tenho o direito de saber o que aconteceu na floresta.
–Você não precisava dispensar as outras garotas para isso, precisava?
–Você não ia falar na frente delas, se bem te conheço, acharia melhor isso ficar só entre a gente.
Ele realmente estava ficando bom em arrumar desculpas convincentes, talvez fosse a necessidade de estar mentindo constantemente, desde que entrara na escola. Uandalini riu pelo nariz, sabia que o ele estava mentindo e ele sabia disso, a garota, de alguma maneira, conseguia perceber quando ele mentia para ela.
–Você venceu, –disse ela, com um sorriso discreto –está ficando realmente bom em mentir.
–Mas eu não estou mentindo! –protestou ele, com falsa indignação.
–Você quer saber o que aconteceu, ou está só me enrolando?
–Um pouco de cada, se quiser realmente saber...
A garota amarrou a cara, o que fez Kyo rir, mas não de sua maneira habitual, mas de um modo extravagante e, de qualquer modo, charmoso.
–Vou resumir tudo, seguimos o Filch, o Filch desapareceu, fomos seguidos por dois Comensais, você me deu suas vestes porque eu estava com frio, os Comensais fugiram quando um centauro apareceu e atirou uma flecha e você não esquivou porque provavelmente sabia que ela me pegaria.
Kyo riu, a garota estava certa em achar que ele não esquivara por sua causa, depois que tudo voltou a sua mente ele lembrou da sensação de saber que se ele não se ferisse outra pessoa se feriria em seu lugar e do sentimento, que ele pensara ter sido substituído por Nanda, que voltava com tanta força que, mesmo sabendo que não tinha forças nem para falar, tentara convencer a garota a admitir que sentia o mesmo por ele.
–Se e só isso que você queria, –disse Uandalini, se levantando –eu já vou indo.
–Êpa, Longbotton, quem foi que te liberou? –disse ele, num tom de voz mais alto do que o necessário.
–Eu preciso ser liberada agora? Sou sua escrava ou coisa do tipo?
–Eu diria que você é minha elfa domestica, minha flor.
–Elfa domestica? Flor? Você está me saindo um perfeito doente.
–Se você não parar de me elogiar eu gamo.
–Gamado eu acho que você já está.
–Recíproco.
O clima na sala ficou tão tenso que poderia ser cortado com uma faca. Eles se encaravam, olho no olho, Kyo sabia que não conseguiria sustentar aquele olhar por muito mais tempo, aqueles olhos castanhos o deixava fraco. Então escutou a vozinha em sua cabeça: “você vai ficar me olhando ou vai me beijar logo? Não adianta se fazer de desentendido, eu sei que você pode me escutar... eu espero realmente que possa...”.
Ele se ajeitou na cama, ele um fez sinal com a cabeça para que ela se aproximasse. Ela obedeceu prontamente, sem conseguir disfarçar a ansiedade, ele pode reparar na constância com que ela olhava para seus lábios, vez ou outra mordiscando os próprios. Ela se sentou ao lado dele, que mais que rapidamente pousou a mão no ombro dela.
–E então? Já resolveu admitir? –perguntou ele, ao ouvido dela.
–Admitir o que? –perguntou ela, com uma voz que fez o garoto agradecer por estar debaixo dos lençóis. –Não estou entendendo.
–Nossa, como ela é inocente.
–Sou um anjinho, bem.
–E eu sou o... é melhor deixar pra lá.
–Você tem alguma coisa interessante que queira falar comigo?
–Só dizer que você é uma gata.
–Eu estou saindo, tchau.
Ela se levantou deixando ele sozinho na cama, com um sorriso triunfante nos lábios. Ele se virou, mas não sorria, parecia ligeiramente decepcionada.
–Se você sair não vai ouvir o que vem esperando para ouvir a cinco meses. –comentou Kyo, com um voz de um criança que da um conselho idiota a um adulto sábio e experimentado.
Ele olhou para os olhos dela castanhos dela. “Será que ele finalmente vai admitir?” a vozinha veio em sua cabeça.
–E o que viria ser que isto? –perguntou ela, tão inocentemente que parecia não ter idéia do que ele iria falar.
–Pense bem, quais as palavras que você mais gostaria de me ouvir dizendo? –a pergunta foi um tanto indireta.
–Boa noite?
–Isso não teve a mínima graça...
–Ah, mas pra mim foi muito engraçado.
–Você deveria ser palhaça.
–Há, há, há!
O garoto aproveitou a distração da garota para puxa-la para cima da cama, esta, por sua vez, perdeu completamente o equilíbrio e caiu, deitada, no colo do garoto, que ignorou a dor que sentiu no braço e sorriu, apesar de amarelamente. Os olhos dela saíram dos dele e recaíram sobre os lábios ligeiramente úmidos arroxeados dele.
–Eu... eu pre... preciso... –balbuciava ela, sem tirar os olhos dos lábios dele –eu preciso... preciso me... me levantar...
–Por que..? –perguntou ele, num sussurro quase inaudível.
–Por... porque.... porque eu... eu quero...
–E porque você quer se levantar..?
–Eu... tenho... tenho que ir... ir embora...
–Você não vai a lugar algum.
Eles olhavam um para os lábios dos outros, Kyo refreava com todas as forças que tinha e não tinha o impulso de beija-la, queria aqueles lábios só para si, colados nos seus para sempre e nunca mais deixa-la. Os olhos dos dois se encontraram, os dela brilhavam com tanta intensidade que pareciam dois faróis. “Droga! Eu nunca vi um cara tão lento! Ele fica com essa cara de bobo apaixonado e não aproveita, será que ele não vê que eu tô praticamente pedindo pra ele me beijar?”.
–Será que você não tá vendo que eu tô praticamente pedindo pra você me beijar? –perguntou ele, aproximando seu rosto do dela.
–Será que eu você não tá vendo que eu tô praticamente te pedindo pra me beijar? –desta vez quem perguntou foi ela, aproximando seu rosto do dela.
–Eu não quero te machucar... –disse ele recuando seu rosto um pouco, sentiu-se extremamente culpado por estar fazendo aquilo com ela. –Eu não quero que você sofra por minha causa.
–Não vou sofrer, você não faria isso comigo...
–Eu nunca disse que te amo.
–Mas também não disse que não me quer.
–Você provavelmente fez tantos planos.
–E aposto como você quer saber.
–Pode crer...
Os rostos deles estavam tão próximos agora que era possível um sentir a respiração do outro, o calor do ar que saia lentamente da boca deles, ele podia sentir o arfar do peito dela encostado ao seu e o calor dos lábios dela a pouco mais de um centímetro do seu.
–Eu acho que acabei de descobrir porque você foi ao baile com o Malfoy... –sussurrou ele.
–Você só acha que descobriu...
Os lábios deles se encostaram de leve mas logo se separaram, se olhando nos olhos. “Ah, meu deus! O que ele vai fazer agora? Estava quase lá... espero realmente que ele tenha um bom motivo”.
–E então? –perguntou ele, se segurando com todas as forças para não puxa-la e beija-la com todo o ardor que desejava. –Já descobriu o que eu poderia te dizer e que você deseja com toda a sua vontade que eu diga?
–Ainda não. –respondeu ela. –Mas isso que você fez não teve muita graça.
–Não era pra ter graça, era pra te deixar com essa carinha de por favor continua.
–Te garanto que não é só a carinha que quer você continue...
Ela o agarrou pelo pescoço e o puxou, para beija-lo, mas ele, com toda a sua força de vontade a empurrou com um sorriso de derreter iceberg.
–O que é que você quer? –perguntou ela, com frustração.
–Que você admita.
–O que?
–O que eu poderia querer que você admitisse?
–Eu é que sei? Sei lá! Você poderia querer que eu admitisse que eu...
Ela fez cara de quem estava entendendo e fechou os olhos demoradamente. Kyo aproveitou aquele momento para respirar, pois não estava conseguindo nos momentos anteriores. A garota abriu os olhos e olhou bem nos olhos dele, como se estivesse perguntando se tinha mesmo que dizer aquilo.
–Se você não quiser dizer já pode ir. –disse ele secamente, já se preparando para ser deixado sozinho.
Ela se mexeu no colo dele, provavelmente incomodada com o comentário dele, mas não se intimidou olhou bem nos olhos dela.
–Você quer que eu admita que te amo porque vai ser mais divertido me ver sofrer quando você me trocar por outra? –perguntou ela, com a voz ligeiramente tremula.
–Você realmente acredita que eu vou te trocar por outra? –perguntou ele, serio.
–Você jogou a Nanda fora, por que não me jogaria?
–Eu não joguei a Nanda fora, só disse que não dava pra gente ficar junto, eu não gosto dela e não queria que ela ficasse magoada quando percebesse que isso era uma falha no que poderia vir a ser um relacionamento serio.
–Então você realmente gosta de mim?
–Preciso jurar?
–Precisa.
Kyo suspirou, Uandalini tinha as mãos tremulas de esperança, um brilho diferente nos olhos castanhos dela.
–Então eu acho que essa duvida vai te consumir um pouco. –disse ele, com a voz seca.
A garota teve que fazer um enorme esforço para não bater nele e um ainda maior para não chorar. Se levantou, sem olhar para ele, pegou sua mochila que estava no chão e seguiu em direção a porta. Mas logo em seguida parou, olhou para ele decidida.
–Você realmente quer que acabe assim? –perguntou ela, a voz muito fraca, o rosto de alguém prestes a desabar no choro. –Antes mesmo de começar?
–Não quero, mas se eu preciso jurar sobre a veracidade de um sentimento é porque minha palavra não vale muita coisa pra você.
–Como eu já disse, você é muito bom em mentir.
–E você nunca teve problemas em perceber quando eu tô ou não mentindo, por que agora passou a se preocupar com isso?
–Porque eu não quero sofrer como a Nanda.
–A Nanda não sofreu por minha causa, ela mesma já disse que se iludiu quanto a mim e continua se iludindo, mas talvez ela seja mais digna de ter o meu amor que você.
–Você está me julgando indigna de ter o seu amor?
–Não, só estou dizendo que a Nanda sempre fez mais por merecer.
–Ah, mas isso foi demais para mim!
Ela foi na direção do garoto, uma mão erguida, como se estivesse preste a dar um tapa bem servido nas fuças.
–Vai me bater? –perguntou ele, com voz de criança indefesa, mas ainda assim nervosamente.
–Não, eu vou...
Ela o agarrou pelo pescoço puxando o rosto dele de encontro ao seu, seus lábios entreabertos e os olhos fechados. Kyo deixou rolar.
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