Memórias roubadas



––––CAPITULO VINTE E CINCO––––

Memórias roubadas

Nanda sentia suas pálpebras pesadas, não estava mais agüentando de sono, já fazia nove noites que ficava ali, sentada naquela mesma poltrona, observando o sono calmo e tranqüilo de Kyo, só saia dali para assistir as aulas, a comida era levada por Tiago e Sarah, que se sentiam penalizados pela garota.

–E ai? –disse ela, ao ouvido dele, numa noite depois de Madame Pomfrey dar a poção sonífera do garoto. –Vai demorar mesmo para acordar? Já tô com saudade.

O garoto se mexeu inquieto na cama, ela se encolheu, temendo que ele acordasse. Ela pode ver que no ombro direito dele havia uma cicatriz redonda e pequena e uma enorme marca roxa em volta. A garota passou a mão de leve no ferimento, sentindo pena dele, a área do ferimento estava gelada, dando a ele um aspecto mortiço. “Será que dói muito”, pensava ela, “será que ele sente a minha mão”.

Nesse instante a porta da se abriu e por ela entrou Lilian Potter, a garota estava com a mesma expressão de quem não sabe o que fazer a oito dias, andou diretamente até a cama de Kyo e se sentou ao lado dele, passando a mão nos cabelos dele, uma expressão indecifrável no rosto.

–Nada? –perguntou Lilian, a voz estranhamente abafada.

–Ele chamou um nome, –disse a Nanda, evitando o olhar da outra –mas foi só isso.

–Que nome?

–Isso não importa, o que importa é que ele tá melhorando.

–Que nome? –insistiu Lilian, alterando o tom de voz.

–Uandalini, ele chamou ela.

Era visível, apesar da escuridão da ala hospitalar, que Lilian se chateara ao ouvir a noticia e que Nanda também não gostara muito de lembrar daquilo.

–Ele só disso o nome dela? –continuou Lilian.

–Se você não se importa, eu não estou afim de lembrar disso. –a voz de Nanda soou nervosa e cansada.

–Mas eu me importo, se você não reparou eu me importo com ele e quero saber o que aconteceu.

–Eu não quero falar nisso, dê um jeito de saber.

–Da pra falar logo?!

–Ahn... tá legal... “Uandalini? Você tá legal? Ainda tá com frio? Não adianta dizer que não, pode pegar... eu não estou com frio... você é mais importante... dá para esquecer a Nanda um momento..?” e ai ele parou de falar e a febre ficou muito forte.

–Ele teve febre? E você não me falou?

–Foi febre baixa... Madame Pomfrey falou que é efeito da poção inibidora...

–Poção inibidora? Pra que isso?

–Pra inibir o efeito do veneno.

–Ahn...

Depois disso, elas ficaram no mais absoluto silencio, se olhando, Lilian passando os dedos entre os cabelos de Kyo, enquanto Nanda apertava a mão dele, fazendo uma espécie de carinho nas costas da mesma. Mal sabiam elas que ele estava tendo um sonho agitado e estranho.


Ele se encontrava na orla da floresta proibida, estava atrás da cabana de Hagrid, de frente para uma garota de cabelos lanzudos e olhos cor de mel, ela era muito bonita, mais ou menos um palmo mais baixa que ele, ela sorria marotamente enquanto afagava os cabelos negros e rebeldes dele, que lhe caiam até os olhos, ele, tirando as mãos dos bolsos, as pôs na cintura da garota.

–Sabe, Mione, não sei direito o que fazer... –disse ele, não reconheceu a própria voz.

–Como não sabe, Harry, e a... a Cho..? –disse a garota, corando um pouco.

–Que tem a Cho?

–Você não já beijou ela?

–Beijei... peraí! Você tá achando que eu vou..?

–É! Eu achei que você ia me beijar! –disse a garota, corando mais ainda, mas decididamente mais encorajada.

–Não, Mione, eu vim aqui pra saber sobre o... o seboso do Snape.

–Que é que você quer saber do Severo?

–É verdade que você e ele..?

–Nós o que?

–Vocês estão juntos?

–Do que é que você está falando, Harry Potter?

–É que eu e o Rony vimos que vocês andam tão íntimos... tá na cara que está rolando alguma coisa!

–Para a sua informação, Harry, não está rolando nada, eu e o Severo somos apenas amigos, mais nada!

–Mas é que...

–Sem mas, Harry! Eu esperava mais de você!

–Eu também esperava mais de mim...

–Do que você está falando?

–Será que você não reparou que eu vim aqui na intenção de me declarar?

–De-declarar..?

–É, me declarar, mas eu perdi a coragem na hora H.

–Por isso falou do Severo...

–É, eu gosto de você, Mione, desde a hora em que eu beijei a Cho pela primeira vez...

–Agora eu fiquei confusa, Harry.

–Hermione Granger confusa é novidade para mim.

–Então eu surpreendi o famoso Harry Potter?

–É, você surpreendeu.

–Mas eu ainda estou confusa, Harry.

–É que no momento em que beijei a Cho, ela estava chorando, por causa do Cedrico, mas naquele momento, não sei porque, eu desejei mais que tudo no universo que fosse você ali, eu queria você, e... e ainda quero.

–Harry... você...

–Eu estou apaixonado por você, sabe-tudo-Granger.

Ela se jogou no pescoço do garoto, chorando, mas sorrindo emocionada.

–Ah, Harry, você não sabe como eu sonhei em ouvir isso, eu também te amo, desde aquele dia no trem, eu sempre quis ficar com você!

Ele empurrou a garota bruscamente, olhando serio para ela, para os olhos dela e a beijou ardente e apaixonadamente, a garota pareceu se assustar com aquilo, mas logo em seguida se entregou dando sua alma e corpo para que ele fizesse tudo o que quisesse ao seu bel prazer.

Ele começou a deitar seu corpo contra a parede da cabana, trazendo consigo Hermione, que por vezes dava gemidos ao sentir a mão dele passando de suas coxas para entre suas pernas e então para seus seios. Ele enfiou a mão dentro da camisa da garota acariciou os seios dela devagar, carinhosamente, com a mão livre começou a desabotoar a camisa dela, enquanto esta deixava sua capa cair. Ele tirou a camisa dela bem devagar depois abaixou-se para retirar os sapatos da garota, subiu e desabotoou a saia dela, deixando a garota apenas com suas meias-calças e sua calcinha de algodão. Com os dentes ele tirou a calcinha dela depois passou a esfregar as pernas dela, para retirar as meias-calças o mais devagar que conseguisse.

Com a força que ganhara ensinando os irmãos Creewey a rebater de modo descente os balaços ele abriu sua camisa, fazendo muitos botões estourarem. Ele se deitou em cima do corpo dela, passando as mãos pela cintura fina, pelas pernas bem definidas e pelos seios perfeitos da garota.

–Você quer continuar com isso? –perguntou ele, num tom de voz calmo e ao mesmo tempo tão sensual que nenhuma garota conseguiria dizer não.

–Eu nunca quis tanto terminar uma coisa... –disse ela, com um risinho maroto, passando a ponta dos dedos de unhas bem feitas pelas costas de músculos bem definidos dele.

Ele beijou ela mais ardentemente do que antes, agora com bem mais que segundas intenções, com um desejo profundo, algo que ele nutria desde a terceira serie, algo que queria mais do que tudo neste universo....


Ele estava no salão principal, estava sozinho á mesa da Grifinória, comia em silencio, uma enorme raiva o consumia por dentro, sentia vontade de fazer um feitiço de explosão e destruir tudo a sua volta. Comia rapidamente e nem mesmo sentia o gosto ou via o que entrava por sua boca, desejava ardentemente comer algo venenoso ou que tivesse alergia, quem sabe ele não dava a sorte de morrer. Viu entrar pela porta do salão a ultima coisa que queria no mundo, Severo Snape e Lilian Evans, estavam de mãos dadas e sorriam alegremente, os cabelos ruivos de Lilian esvoaçando e contraste com a capa negra que Snape tinha de estimação.

–Esse seboso não podia morrer? –se perguntou ele, baixando os olhos para o prato a sua frente.

–Poder ele bem que poderia, –disse Jéssica Valley sentando a frente dele –mas não creio que ele vá gostar muito da idéia, sabe?

Jéssica era a melhor amiga de Lilian e a intercessora no caso de Tiago com a outra, ela era declaradamente apaixonada pelo garoto, mas sempre dissera que preferia vê-lo feliz nos braços de outra a força-lo a ficar com ela. Tiago sempre sorria quando olhava para aqueles olhos verde-azulado, e desta vez não foi diferente.

–Oi, Jé, como foi seu dia? –perguntou ele, com desanimo.

–Não muito melhor que o seu, eu garanto. –respondeu a garota, não muito mais animada.

–Por que? Aconteceu alguma coisa ruim

–É meio difícil ficar alegre vendo o cara que a gente gosta na fossa, né?

–Você adora jogar isso não minha cara.

–Não, eu só adoro o jeito que esse seus olhinhos azuis brilham quando você me escuta dizer que te amo, é um tipo de tristeza misturada com a alegria de saber que alguém gosta do Tiago que não é um garanhão nem é capitão do time de quadribol e nem aquele cara que faz todo mundo rir quando pendura um calouro num castiçal.

–Às vezes é bom saber que alguém gosta do cara por trás da mascara.

–Às vezes é bom ser a garota que ama o cara atrás da mascara.

–Jé, você quer me namorar?

A garota pareceu engasgar com aquela pergunta, olhou para ele, perplexa, a alegria estampada em seu rosto e a esperança brilhando naqueles lindos olhinhos.

–Vo-você tá brincando, né? –perguntou ela, rezando para estar errada.

–Os Marotos não brincam, Jé. –respondeu ele, com uma seriedade nunca antes vista em seu rosto. –Você sabe disso como ninguém... ou quase ninguém...

Neste momento Lilian e o seboso sentaram a mesa da Grifinória, era visível que Lilian não parava de olhar para os dois, Tiago evitava tirar os olhos de Jéssica.

–E então? –insistiu Tiago. –Você quer me namorar?

–Tiago, você sabe que eu te amo mais do que nunca nesse mundo...

–É isso ficou bem claro quando você se jogou na frente daquele balaço para me proteger, quando estávamos espionando o time da Sonserina.

–Então, eu te amo muito, mas... meu deus, não acredito que estou dizendo isso... mas eu não posso ficar com você sabendo que você gosta de outra, principalmente quando esta outra é minha melhor amiga.

–Eu devia saber, você é muito fiel as suas amizades.

–E gostaria de ser amada também.

–Mais de uma vez eu me peguei me perguntando porque eu me apaixonei pela Lilian e não por você... quero dizer, você é linda, companheira, amiga, engraçada, descontraída e me adora, já a Lilian.

–Eu sei porque você se apaixonou por ela.

–Ah, isso eu quero ouvir.

–Você ficou afim dela porque ela não cedeu aos seu encantos, não quis saber se você era lindo ou bonito, se era capitão do time da Grifinória, se era engraçado, se era o líder do grupo de arruaceiros mais famoso da historia de Hogwarts e nem mesmo se você se tornou um animago aos treze anos.

–Como ela pode ser tão dura na queda?

–Porque ela acha que vai conseguir fazer você desistir dele.

–Eu nunca vou desistir dela, eu até fiz isso... faz quaro anos, mas fiz, olha.

Ele meteu a mão no bolso da capa e tirou um porta jóias de veludo verde vivo rodeado uma faixa de tecido de fios de ouro com as letras L e T bordadas em linha prata, Jé soltou um gritinho agido quando viu a caixa e mais um gritinho, um pouco mais baixo, quando viu os dois anéis de ouro branco, cada um com uma pedra de diamante e os nomes dos dois gravado.

–Tiago! –exclamou a garota, os olhos brilhando. –Isso deve ter custado uma fortuna! Você realmente gosta dela, né?

–E como, foram trezentos Galeões no par, –disse o garoto, com um sorriso bobo –mas eu sinceramente não ligo para dinheiro.

–Também, a família Potter e uma das mais ricas da Grã-bretanha. Nem que fosse a mais pobre, dinheiro não é nada ao lado do amor.

–Apaixonado, Potter? –perguntou alguém as costas dele, ele se virou e se viu encarando o Snape, seus cabelos sebosos e seu nariz de gancho.

–Algo contra, seboso? –zombou ele, já com a varinha na mão.

–Nada, só achei bonitinho um vagabundo feito você estar amando. –continuou Snape, que também tinha a varinha na mão, Lilian parecia não estar escutando o que eles diziam.

–Eu amo a mais tempo do que você imagina, seboso, mas eu não tive tanta sorte quanto você.

–Você gosta da Lily? –Snape parecia surpreso, mas não tanto quanto triunfante, pela primeira vez tinha algo que Tiago jamais pudera ter.

–Não mais, seboso, algumas pessoas percebem que uma hora é necessário partir para outra.

–Então desistiu da minha Lily?

–Nem quero mais sonhar com a sua Evans.

–Não me chama mais de Lily? –Lilian mostrou estar atenta a conversa deles –Nem de Lilian vai me chamar?

–Nunca fui seu amigo para ter essas intimidades Evans, –explicou ele, secamente –não sei onde estava minha cabeça quando sonhei em um dia te ter pra mim.

–Você sabe que eu nunca me apaixonaria por um galinha feito você, não é? –indagou a outra, com orgulho, mas uma nota de decepção na voz.

–Seis anos e não aprendeu nada sobre mim? –ele parecia um tanto tristonho, mas sua voz soara divertida.

–Do que você está falando? –perguntaram Snape e Lilian, em uníssono.

–Você deve ter reparado que neste seis anos de Hogwarts eu namorei apenas duas garotas, então, neste período eu não fiquei com ninguém, para te mostrar que eu sou fiel, mesmo quando não gosto da garota. Se você não acredita pode perguntar para a irmã gêmea do Harold Patil, a Helena, ou para Narciza Black.

–Você fiel, Tiago? –zombou Lilian. –Não me faça rir.

–Você é quem sabe, Evans, eu tomaria cuidado com essa sua mania de julgar um livro pela capa, nem tudo que reluz é ouro, nem todo assassino é cruel, um sábio pode ser tolo e um tolo o maior dos sábios.

–Virou filosofo? –zombou Snape. –Quem sabe você poderia usar essa sua filosofia e reparar que eu não sou tão mal.

–Não seboso, –disse Tiago calmamente –eu te conheço e sei que tudo o que você quer é poder e não liga para os meios que vai utilizar para consegui-lo.

Snape fez um barulho de muxoxo, olhando rispidamente para ele, Lilian parecia completamente confusa com as palavras sabias e sinceras dele, as quais ela juraria que nunca ninguém ouviria. Ele aproveitou esse momento de distração para sacudir sua varinha na direção do porta-jóias nas mãos de Jéssica, que sentiu o feitiço e mexeu a mão de leve, deixando a caixinha a mostra para Lilian, sem querer.

–Que é isso Jé? –perguntou Lilian, fingindo esquecer o que acabara de ouvir.

–N-nada, Lily. –se apressou em dizer a garota, tentando esconder, mas Lilian foi mais rápida:

Accio porta-jóias!

A caixinha voou direto para a mão de Lilian, que a pegou e tratou de olhar rapidamente.

–Eu conheço essa caixinha... –disse Lilian, em um tom de triunfo –você já me ofereceu ela milhares de vezes.

–Pode ser... –disse Tiago, apenas.

Mas o choque ficou estampado na face de Lilian quando ela viu o que estava escrito e mostrou para Snape que esticava o pescoço para bisbilhotar também. Um J e um T estavam bordados em prata na faixa de ouro que circulava a caixinha, assim como nos anéis, Lilian pegou um deles e analisou minuciosamente.

–Ouro branco com um tijolo de diamantes cada... –sibilou ela, a voz meio arrastada –tem certeza de que são só anéis de compromisso? Parecem de noivado, se não de casamento.

–São apenas para compromisso, sim. –respondeu Tiago, a voz orgulhosa de um apanhador que acaba de tirar o time da lama com a mais espetacular das pegadas. –Quando eu ficar noivo o anel vai ser todo em diamante e quando me casar vai ser em ouro negro de dragão.

Ele olhou para Jéssica e piscou, a garota ficou muito vermelha. Lilian ficou pasma e Snape parecia ter engolido um sapo grande verde e muito nojento.

–Você vai ficar gastando assim o dinheiro de seu pai, Potter? –perguntou Snape, sua voz voltando a ter a malicia já conhecida.

–Não, meu caro seboso, –disse ele, com um largo sorriso –quando eu capturar e matar Voldemort o ministério vai me tornar o homem mais rico da mundo.

Ele sabia que todos ali tremeriam quando escutassem o nome Voldemort, principalmente Lilian, já que o seu pai fora morto pelo bruxo das trevas. Sentiu vontade de abraça-la e protege-la de tudo e todo o mal, mas não podia deixar essa brecha surgir mais uma vez.

–E você se acha capaz de derrotar o Lord das Trevas? –perguntou Snape, sorrindo.

–Pra mim ele não passa de um babaca que acha que pode fazer o que bem entender com tudo e com todos, –respondeu Tiago –mas a festa dele já vai acabar.

–Vamos Lily, esse idiota não tem mais o que falar. –disse Snape puxando Lilian pelo braço, mas a garota se desvencilhou.

–Vo-vocês estão mesmo namorando? –perguntou ela.

Jéssica abriu a boca para falar, mas Tiago foi mais rápido:

–Estamos, por que? Posso saber?

–Nada... –respondeu Lilian, baixinho –nada mesmo, eu só... eu só quero lhes desejar felicidade.

E se virou e seguiu com Snape, arrastando os pés e com a cabeça baixa, Tiago fingiu não notar, mas Jéssica com certeza notou, pois disse:

–Acho que ela percebeu que gosta de você.

–Percebesse antes. –disse ele, secamente.

–Nossa Tiago, você nunca foi tão frigido assim.

–Não estou sendo frigido, só cansei de correr atrás de uma garota que sempre que me via se virava e saía do aposento e quando falava comigo só fazia me xingar.

–Talvez porque você foi o único vivia enchendo o saco dela, desde o primeiro dia de aulas.

–Ou talvez porque eu fui o único que quis ser amigo da garotinha trouxa, que não sabia como atravessar o portal da plataforma nove e meio, o único que se dispôs a ensinar poções e transfiguração para ela, o único que apoiou ela quando o Malfoy tentou impedir os nascidos trouxas de serem monitores, o único que esqueceu do meu mundo para cuidar do mundo desmoronado dela, quando Voldemort matou o pai dela, ou até mesmo porque eu fui o único, até mesmo na família dela, que defendeu ela dos ataques preconceituosos da irmã doida e completamente trouxa dela!

–Nossa, você fez mais parte da vida dela do que sua própria!

–Há cinco anos e meio, desde que eu vi aquela garotinha ruiva de saia rodada vermelha e suéter azul marinho sem saber o que fazer para chegar a plataforma eu sempre fiz de tudo para fazer parte do universo dela.

–Isso é que amor.

–No começo não foi por amor, eu só queria ser amigo dela, todos achavam que eu era como o Malfoy, rico e se achando o todo poderoso, foi uma briga fazer amizade com ela e depois fazer ela e o Sirius ficarem amigos.

–Então parece que a sua briga ainda não acabou, você ainda não é amigo dela e ela detesta o Sirius só porque ele a chamou de sangue-ruim no segundo dia de aula.

–Nem quero mais saber, foi ela quem decidiu preferir o seboso.

Ela ficou em silencio, encarando os olhos muito azuis do garoto, os cabelos como sempre bagunçados e rebeldes. Ele passou a mão pelos próprios cabelos, bagunçando-os ainda mais.

–Por que você gosta de desarrumar os cabelos? –Perguntou Jéssica.

–Da a impressão de que eu acabei de desmontar da vassoura. –disse o garoto com um sorriso. –As garotas adoram.

Eles ficaram em silencio de novo, se olhando nos olhos, Jéssica parecia um tanto envergonhada, mas Tiago não ligou para isso, tomou a mão dela entre as suas, beijou-as de leve, pegou a caixinha de anéis e tirou um dos anéis de lá, sorriu para Jéssica e piscou por detrás dos óculos em forma de casco de tartaruga, então pôs o anel no dedo anelar direito dela, a garota abafou um gritinho e uma exclamação de surpresa.

–Tiago... eu... –começou ela –eu nem... nem sei o que dizer...

–Não diga nada, –sibilou ele –não é preciso...



Tiago já estava enfiado naquele quarto a seis dias, faltara a todas as aulas da semana, e nem os professores, nem os Marotos pareciam ligar para aquilo, estavam apreensivos e evasivos quanto ao garoto, apesar de demonstrarem tristeza toda vez que Tiago era citado nas rodas de conversa.

–Vai, Pedro, desembucha! –dizia Lilian, que pela terceira vez pegara o garoto sozinho num corredor.

–Eu não sei de nada, Lily. –Era tudo o que o gorducho dizia. –Eu te juro.

–Lógico que sabe, Pedro! Você o Sirius e o Remo são os melhores amigos dele! Têm de saber de algo!

–Pergunta pro Aluado ou pro Almofadinhas, então! Eles não saem daquele quarto!

–Eles são ainda mais evasivos que você!

–Então pergunta você mesma pro Pontas, ele te adora, não mentiria pra você.

–Não, o Tiago não gosta mais de mim, tá mais pra ódio.

–Também, depois de ser trocado pelo seboso até mesmo eu sentiria ódio.

Lilian sentiu uma vontade enorme de dizer que qualquer garota minimamente normal trocaria ele pelo Snape, apesar de saber que poderia ser um grande erro, Pedro sempre fora um grande amigo, e também muito fiel. Se virou e subiu na direção da torre, correndo o mais que suas pernas podiam impulsiona-la.

A sala comunal estava cheia, como era costume em todo sábado à tarde, ninguém usava as vestes de Hogwarts, alguns talvez a capa. Um estalo logo lhe avisou onde estavam os dois garotos que procurava. Sirius Black e Remo Lupin estavam sentado próximos a lareira grande, Remo lustrava seu distintivo e Sirius brincava de fazer coisas explodirem na lareira, algumas cinzas, que espirraram, estavam pelas suas vestes azuis marinho, ela pode ver o que um dia fora um foto da família Black, queimando em meios as chamas azuis-avermelhadas.

–Vocês vão me falar o que tá acontecendo com o Tiago, ou eu vou ter que descobrir sozinha? –perguntou Lilian, os garotos apenas olharam para ela.

–Como é que você faz pro seu distintivo ficar sempre tão brilhante, Lily? –perguntou Remo, inocentemente.

–Ah, vão se danar! –exclamou ela, se virando e rumando em direção ao dormitório masculino.

A porta do dormitório de Tiago estava entreaberta, mas ela entrou cautelosamente, não sabia qual era a cama do garoto. Não podia ser a primeira, pois estava arrumada, apesar de estar encoberta por cortinas de veludo, as outras duas estavam fechadas também, mas podia-se ver a bagunça e também que estavam vazias. A ultima cama estava ligeiramente bagunçada, mas podia-se ver alguém através das cortinas, este parecia usar pijama e um hobbie por cima. Ela abriu as cortinas e se sentou na ponta da cama, olhou para os olhos vermelhos e inchados de Tiago, que parecia ter chorado muito.

–Ti, que aconteceu? –perguntou ela, com a voz carinhosa.

–Nada, Evans, não aconteceu nada. –disse tentando manter a voz chorosa, firme.

–Fala, Ti, você não tá legal.

–Eu terminei com a Jé, tá bom?

–Não e isso, você nem gostava dela!

–Como é que você sabe? Você nem me conhece, nunca se preocupou comigo... falando nisso, por que a preocupação?

–Se você saísse dessa cama, saberia que nós terminamos no primeiro dia que você desapareceu.

–Por que?

–Porque... er... nada, só achamos melhor terminar.

–Hm...

–E então, por que você está assim?

–Não é nada, Evans!

–Fala, senão eu nunca mais falo contigo!

–Sinceramente, não ia fazer muita diferença, já que quem falava com você era eu.

–Fala logo!

–Da pra você deixar que eu remoa as minhas memórias amargas sozinho?

Ela se levantou da cama, por um instante ele pensou que ela fosse embora, sentiu-se aliviado, mas então pensou que queria que ela ficasse e, como se ela lesse seus pensamentos se aproximou e se sentou ao seu lado, com um sorriso largo e desconhecido por ele.

–Me conta o que está acontecendo. –disse ela, com uma voz tão doce, tão gentil... tão sedutora, a mesma voz com que ela falara com ele, na noite em que o pai dela havia morrido e o fizera perceber que estava apaixonado.

–Meus pais... foram... forma mortos... –disse ele, baixando os olhos.

–Você-Sabe-Quem?

–É, o desgraçado do Voldemort.

–Eu sei como dói, mas por que você não disse antes?

–Porque você nunca escuta o que eu digo.

–Do que você tá falando?

–Eu não vou falar disso... tô de luto.

–Ti, não adianta ficar se martirizando pela morte de seus pais, você não pôde fazer nada.

–Eu devia estar lá com eles, eles me chamaram para o natal... mas... mas eu tava na casa da Jé.

–Foi por isso que vocês terminaram?

–Não, ela disse que tava de saco cheio de me ouvir falar de você.

–Falar de mim? Como assim?

–Humpf... o que eu vou dizer agora, eu tô tentando dizer há quatro anos, você nunca sorriu pra mim, nunca andou na minha direção, já tentaram te roubar de mim e você já tentou até me roubar de mim mesmo, o Sirius e o Remo me falaram pra desencanar, mas por você eu quis até tentar, eu que vão tentar tirar você de mim...

–Ti, do que você tá falando?

–Deus do céu! Eu só quero te perguntar o que fazer pra você dizer que gosta ao menos um pouco de mim? O que dizer pra você fazer de conta que gosta um pouco de mim?

Ela ficou em silencio encarando aquele garoto de olhos azuis, os olhos que ela sempre evitara, com medo de que reaflorassem os mesmos sentimentos que nasceram naquela manha de primeiro de setembro, na estação King Cross, quando ela os viu pela primeira vez, depois daquilo aprendeu que teria que odiar aquele garoto para não ama-lo, jurara para si mesma que se dedicaria apenas aos estudos para não ser como na escola trouxa, o motivo de chacota da sala, a garota burra como diziam as outras meninas, mas agora, tudo o que queria era beija-lo, e era o que faria, se ele desviasse aqueles olhos que a deixava hipnotizada.


Kyo abriu os olhos devagar, estava numa sala muito branca, embora escura, biombos da mesma cor o rodeavam, estava deitado numa cama macia, embora pequena, havia varias cadeiras a sua volta, mas apenas quatro estavam ocupadas, numa delas podia-se ver uma garota de cabelos muito vermelhos e espessos, numa outra um de cabelos negros e lanzudos, numa terceira uma de cabelos negros e lisos que lhe caiam até a cintura e na quarta, a única visão que o reconfortou, ele não sabia porque, uma garota de cabelos lanzudos e castanhos-escuro.

Ele se levantou, uma forte dor no ombro que, ele pensou, estava inchado, sem querer ele soltou um gemidinho baixo, o que foi o bastante para fazer com que as quatro garotas acordassem de repente. Elas ergueram os rostos na direção de Kyo, estes se iluminaram, com exceção de um. Uandalini tinha as feições duras e parecia nervosa.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.