O primeiro floco de neve
––––CAPITULO DEZENOVE––––
O primeiro floco de neve
Kyo acordou com uma tremenda dor de cabeça, não sabia porque, mas se sentia mal, como se tivesse feito alguma coisa da qual se arrependeria, demorou a se acostumar com a luz do nascer do sol e com o quarto onde estava, não conseguia se lembrar do que tinha acontecido na manha anterior, portanto não se lembrava de ter vindo para Hogwarts.
Ele se vestiu e se dirigiu a cama de Tiago para conversar com o amigo, mas esta estava vazia, ele resolveu descer para ver se o encontrava na sala comunal. A descida pela escadaria do dormitório pareceu demorar uma eternidade, Kyo pensava numa maneira de fingir que não lhe acontecera nada. Não sabia porque, mas não se sentia mais triste, apenas tinha raiva, raiva de si mesmo por não poder ter feito nada para evitar que seus pais tivessem morrido.
Na sala comunal encontrou Sarah sentada sozinha, a garota era exatamente a pessoa com a qual ele precisava conversar, ao contrario de Kyo, que era só emoções, a garota era a razão por trás dele e Tiago. Ele se sentou ao lado dela, mas esta não parou de ler seu livro, parecia não tomar consciência da presença dele.
–Oi. –disse Kyo, meio sem jeito.
–Oi, você tá legal? –ela se apressou em dizer, largando o livro no chão.
–É, tô, e você, como está.
–Tô indo, mas fala ai, você tá legal mesmo? Disse ram que você saiu porque tava com uns problemas em casa.
–Ah, não foi nada, coisa boba. –mentiu o garoto, sem nem mesmo corar.
–Ah, Kyo, não precisa esconder seus problemas, eu só quero te ajudar.
–Eu sei, mas eu não quero ajuda.
–Nossa! Desculpa.
–Não, eu não quis ser ignorante, é que algumas coisas eu prefiro resolver sozinho.
–Tudo bem, mas eu tô aqui, se você precisar de ajuda.
–Valeu...
Ouve um longo silencio em que, nem Kyo, nem Sarah falou nada, eles ficaram olhando a sala comunal se encher de gente que acabava de acordar e, depois, esvaziar porque as mesmas pessoas desciam para tomar café da manha. Kyo se perguntou se realmente ouve uma farra ali na noite anterior, pois estava tudo tão limpo e organizado.
–Tô com um pouco de fome, –comentou Sarah –vamos descer para comer alguma coisa?
–Claro, claro, –concordou Kyo, de pronto –só espera eu pegar minha mochila, hoje tem historia da magia e herbologia antes do almoço, não é?
Kyo subiu correndo até o dormitório, sem querer tropeçou no ultimo degrau e quase desceu a escada rolando. Entrou no dormitório e escutou os roncos de John, o que era estranho, já que o rapaz nunca roncara antes. Pegou sua mochila, intocada desde a semana anterior e desceu para a sala comunal. Sarah o esperava, sentada na mesma poltrona, mas agora tinha sua mochila no colo.
–Como você fez isso? –perguntou Kyo, quando chegou ao lado dela.
–O que? –perguntou ela, inocentemente.
–Como você trouxe sua mochila até aqui?
–Um feiticinho convocatório. –disse ela com um sorriso.
–Você podia me ensinar isso, sabia? Ia ser bem útil.
–Depois, quando tivermos uma aula vaga.
Kyo perdeu completamente a esperança de aprender aquele feitiço, já que, nos três meses que passara em Hogwarts não tivera nem ao menos uma aula vaga. Eles saíram da sala comunal e sara já ia em direção as escadas quando Kyo resolveu lhe ensinar alguns truques novos, por exemplo, que não se precisava de escadas quando se podia usar um tobogã.
–Que é isso, Kyo, onde você tá me levando? –perguntou ela, enquanto o garoto a puxava de volta
–Tô te levando prum atalho. –explicou o garoto.
–Mas que atalho? Não te vendo nenhum outro caminho!
–Daí o nome passagem secreta, sabe?
Ele parou em frente ao quadro da mulher gorda, mas de costas para ela, que fungou aborrecida, puxou a varinha e encostou-a na parede:
–Dissendium!
A parede tremeu de leve e começou se mover para o lado, Sarah deu um gritinho abafado. No lugar onde antes havia uma parede, agora havia uma passagem estreita, mas grande o suficiente para os dois passarem.
–Como você sabia disso? –perguntou Sarah, abismada.
–Eu tenho os meus truques. –respondeu Kyo, com um estranho sorriso.
–E isso leva aonde? –prosseguiu Sarah insegura.
–Ao hall de entrada.
–Você tá dizendo que vamos descer dez andares escorregando?
–Tem essa escada, só que é muito cansativa.
–Eu vou de escada.
–Então me espera lá embaixo, tá bom?
–Do que é que você tá falando? Escorregar é muito mais rápido!
–Só que a escada deve ter um tipo de feitiço de transporte, porque é muito menor do que uma escada de dez andares comum.
–Só que não da para aparatar em Hogwarts, já te disse um milhão de vezes, li em...
–Hogwarts: uma historia, você já falou tanto desse livro que até eu já devo ter decorado.
–Então você sabe que é impossível aparatar, mesmo porque somos menores de idade e não temos permissão.
–Mas quem falou em aparatar? Eu disse transporte, aparatar não é o único modo de se transportar magicamente, é?
Sarah parou pensativa, depois de mais ou menos um minuto ela olhou para o garoto com um sorriso envergonhado.
–É, da para se teletransportar.
–Tá, tá certo, agora desce logo, tá legal? Ninguém pode nos ver aqui.
Kyo deu um passo a frente e começou a descer os degraus.
–Ei, você não ia descer pelo escorrega?
–Perdi a vontade, agora eu vou descer pela escada, é mais rápido.
–Você é meio doido, não é?
–Por que?
–Nada, joga a chave...
Eles desceram as escadas calmamente, conversando sobre as aulas que Kyo perdera, não muita coisa de diferente naquela semana, a não ser o fato de Snape ter se esforçado para passar o máximo de matéria nova possível.
–Ele aproveitou que eu estava fora, –disse Kyo, cerrando os punhos –quer me ferrar alegando que eu não conheço a matéria.
–Ah, não é bem assim, ele deve querer adiantar a turma...
–Isso ai, bem na semana em que eu saí, você sabe que ele me detesta, e, nada contra você, mas o sentimento é recíproco.
–Por que ele te odiaria? Não vi nenhum motivo para isso.
–Talvez não tenha ido com a minha cara, ou simplesmente não suporte que o melhor aluno de poções da nossa turma seja da Grifinória, por isso tenta me ferrar.
–Faz sentido, meu pai sempre odiou a Grifinória, e o mais irônico é que ele casou com a garota mais “sabe-tudo da Grifinória”, como ele mesmo diz.
–Os sentimentos mudam.
–Eu acho que seja o destino.
–Não acredito em destino.
–Por que não?
A essa altura eles já haviam saído da passagem secreta, se assegurando de que ninguém a vira, e entravam no salão principal. Kyo pode ver Tiago sentado com Ananda e Uandalini, os três conversavam animados.
–Sei lá, só não gosto da idéia de não controlar a minha vida.
–E quando eu falo que você é doido...
–Não é doideira, se você gosta de ser controlada a vida é sua, você sabe o que faz dela, já comigo eu gosto de planejar, não de achar que planejaram comigo.
–É, até que é sensato, legalzinha sua idéia.
Eles se sentaram ao lado dos outro, que olharam de um modo estranho para Kyo, que sabia o porque daquilo.
–Eu tô legal. –disse o garoto antes que alguém disse alguma coisa.
–Certeza? –perguntou Ananda.
–Hu-hum, me viro sozinho com os meus problemas.
–Mas os amigos são para te ajudar a passar por isso. –disse Uandalini, Kyo estranhou aquele comportamento dela, que sempre evitara falar com ele.
–Valeu, –agradeceu Kyo –mas eu ainda tenho que me acostumar com essa idéia de ter amigos para me ajudar nessas coisas.
–Beleza, –disse Tiago –Você parece tá melhor.
–É, o meu melhor amigo me ensinou que enquanto existir alguém que goste da gente, temos o dever de prosseguir.
Kyo se inclinou por trás de Sarah para dar um tapinha nas costas de Tiago, este sorriu. Todos os outros não entenderam direito.
–Que é que você quis dizer? –perguntou Uanda.
–Que antes de magoarmos um coração, –disse Kyo –temos que primeiro pensar bem, pois podemos estar dentro dele.
–Nossa, que filosófico... –comentou Sarah, entre risinhos que dava com Ananda.
–As duas se tornaram muito amigas na minha ausência. –disse Kyo, olhando para as garotas.
–Nem tanto, –cochichou Tiago –é só que elas adoram rir sem ter motivos, mesmo.
–Eu ouvi, Tiago Weasley! –rugiu Sarah, e Tiago se encolheu na cadeira.
O dia corria normalmente, Kyo dormiu na aula de historia da magia e acordou gritando que Grinwald Gilless foi quem realmente pôs a espada Escalibur na pedra da perdição, o que rendeu quinze pontos para a Grifinória, o garoto ainda não entendei porque.
–Mas por que o Binns me deu aqueles pontos? –perguntou ele durante o almoço.
–Porque você acertou o nome do feiticeiro que pôs a Escalibur na pedra da perdição. –respondeu Sarah, seca.
–E foi o primeiro a responder essa pergunta nos longos e numerosos anos que Binns trabalha aqui em Hogwarts. –disse Tiago, quase pulando de excitação.
–Mas foi sem querer, –explicou Kyo –do nada eu acordei pensando naquele nome e gritei, nem me dei conta de que estava na sala do Binns.
–Você é um belo de um sortudo. –disse Sarah, recuperando a maciez da voz.
–Bote sortudo nisso, nunca mais eu dou uma dessas!
Depois do almoço teriam dois tempos de poções, o que significava cinco horas enfiados na masmorra de Snape, com a Sonserina, o que não agradava Kyo nem um pouco.
Eles desceram para as masmorras, desanimados, Tiago parecia que tinha engolido um sapo, Sarah mantinha o rosto erguido apenas o suficiente para enxergar o caminho, Archie olhava para todos os lados, o terror estampado em seu rosto, ele não pudera ver Ananda, que estava muito a frente. Ele estranhou não ver Uandalini, mas ignorou.
–Eu posso saber o por que desse desanimo? –perguntou Kyo, descontraído –Tudo bem que a aula do Snape é ruim, mas não é pra tudo isso!
–É porque você não assistiu a ultima aula dele... –comentou Tiago.
–Mesmo sendo meu pai, eu tenho que admitir, –concordou Sarah –foi o inferno na terra...
–Nossa, o que o sebo... –começou Kyo –desculpe Sarah, o que o Snape fez?
–Descontou cem pontos da Grifinória. –suspirou Tiago.
–Cem pontos?!? –exclamou Kyo. –Mas o que é que vocês aprontaram?
–O Archie derreteu o caldeirão. –disse Sarah, desanimada.
–Mas só por isso? –insistiu Kyo.
–Na mesa dele... –continuou Tiago.
–Mas ainda não é motivo, –insistia Kyo –talvez cinqüenta pontos, sei lá..
–Pensa num caldeirão de ouro maciço. –disse Archie, que parecia voltar a consciência.
–Que é que tem?
–Eu derreti esse caldeirão do Snape em cima dos documentos do Snape... –choramingou Archie.
Kyo teve vontade de rir, imaginou o que Archie fizera para derreter um caldeirão de ouro maciço, já que derreter um de estanho já era difícil.
Eles haviam chegado as masmorras, o pessoal da Sonserina já esperava a porta, ao avista-lo, Malfoy deu um largo sorriso, Kyo não entendeu o porque, talvez fosse pelos pontos que Snape descontara da Grifinória. Kyo ignorou, mas fora em vão.
–Boa tarde, Hunter. –disse Malfoy pomposamente. Susan Bastard ria, com Crabbe e Goyle, que pareciam dois gorilas.
–O que é, Malfoy? –disse Kyo, asperamente.
–Calma, Hunter, não seja mal-educado. –o sorriso de Malfoy se alargou.
–Olha aqui, Malfoy, eu não estou de muito bom humor, sabe? –disse Kyo, quase encostando o seu nariz no de Malfoy.
–Calma, eu só queria saber se os boatos que eu ouvi são verdadeiros.
–Que boatos?
–Seus pais estão mortos?
Kyo não respondeu, apenas fitou o rosto pálido do outro, aqueles olhos cinzentos, havia alguma coisa de diferente neles, Kyo não sabia dizer o que.
–É. –disse Kyo, com amargura.
Os dois se encararam sérios, Kyo não sabia o que dizer. De repente Malfoy sorriu.
–E é verdade que você passou a noite chorando? –o tom na voz de Malfoy de deboche era insuportável, mas Kyo não mentiria:
–É verdade, sim, por quê?
–Sabe, Hunter, em qualquer outra ocasião eu zoaria você, mas eu sei o que é perder um ente querido para Voldemort, –quase todos a volta tremeram a menção daquele nome –e pode crer que eu tenho idéia do que é perder dois entes para ele.
Kyo não podia acreditar, Malfoy estava sendo compreensivo, sentiu vontade de enfiar a cara em algum buraco.
–Maus pêsames, Hunter. –terminou Malfoy, esticando a mão para Kyo.
–Valeu. –disse Kyo, apertando a mão de Malfoy.
–Mal chegou e já está arrumando confusões, Sr. Hunter? –perguntou uma voz fria e letal as costas de Kyo.
–Não, senhor, professor Snape. –Kyo se apressou em dizer.
–Espero que sim, não é mesmo, senhor Malfoy? –Snape sorriu para Malfoy, que encolheu sob aquele olhar gelado. –Odiaria ter que descontar pontos da Sonserina.
Snape parou e olhou para a turma, seu rosto se torcendo num sorriso maldoso.
–E agora? –perguntou Snape, se virando para entrar na sala –Por que estão parados ai fora?
Todos correram para dentro da sala, Snape teve que desviar de John Croosed, que pulava num pé só, de alguma maneira muito estranha ele conseguira enroscar a perna na alça da mochila.Kyo, se sentou numa bancada ao fundo da sala, como sempre, ajeitou seu caldeirão, e olhou a volta, faltava...
–Cadê a Uanda? –perguntou Kyo para Tiago, que estava sentado logo a sua frente.
–Sei lá, não a vejo desde a aula de historia da magia. –disse Tiago sem se virar.
–Eu vi ela indo para... –começou Sarah –Olha ela vindo ali.
Uandalini entrou correndo na sala, ofegante, os livros pendentes no braço, a mochila pendurada num só ombro e a gravata com o nó frouxo.
–Ah, Srta. Longbotton, que prazer em saber que veio se juntar a nós. –disse Snape, sarcasticamente.
–Desculpe, professor, eu estava falando com a prof ª McGonagall. –explicou a garota.
–Tem como provar? Algum bilhete, ou coisa do tipo.
–Não, mas...
–Então são menos dez pontos para a Grifinória, Srta. Longbotton, agora sente-se, sim.
Uandalini foi arrastando os pés até o lugar ao lado de Kyo, que era o único vazio na sala. Kyo viu Malfoy rindo da cara da garota, do outro lado da sala e o respeito que Malfoy havia conquistado murchou dentro do garoto.
–E ai, você tá legal? –perguntou Uandalini, arrumando os materiais.
–Eu gostaria de não comentar isso, tá legal... –disse Kyo, amargamente.
–Tudo bem, eu só achei que você precisasse de um apoio.
–Apoio, sim, lembranças, não.
–Beleza, então, você é quem sabe...
–O que é? Eu não só quero ficar lembrando, dói, tá?
–Mas um verdadeiro homem sabe enfrentar seus medos e dores.
–Eu não estou com...
–Sr. Hunter! Srta. Longbotton! Os senhores poderiam prestar atenção na minha aula?!?
Era Snape, que explicava alguma coisa sobre a poção do morto vivo, Kyo se ajeitou na cadeira e olhou diretamente naquelas cavernas vazias que Snape chamava de olhos.
–O senhor passou uma semana fora, perdeu matéria e ainda me faz o favor de conversar na minha aula Sr. Hunter? –perguntou Snape, a ironia estampada naquele rosto macilento e cheio de rugas.
–Desculpe professor, não reparei que estava passando matéria nova... –tentou se desculpar Kyo.
–O senhor sabe que desculpas não adiantam comigo, Sr. Hunter, –rosnou Snape, Kyo reparou que as pessoas da frente fizeram cara de nojo, Snape devia ter babado –mas só para averiguar, me responda, onde eu posso encontrar bezoar? E para que ele serve?
–No estomago da cabra e pode me salvar da maioria dos venenos conhecidos... –respondeu Kyo, devagar.
–E qual é a diferença entre acônito licognito e acônito lapêlo? –continuou Snape.
–Não há diferença, os dois ervas do mesmo do mesmo gênero e tem as mesmas características mágicas e químicas.
–E para que é utilizada a pele de araramboia na poção polissuco, que alias só deveria se aprendida na sétima serie?
–Porque a araramboia é uma cobra que pode assumir as características físicas de outras cobras quando troca de pele, assim sendo a pele de araramboia faz com que o efeito de transformação seja mais perfeito e completo.
–Muito bem, Sr. Hunter, recuperou os dez pontos que sua amiga perdeu no começo da aula– disse Snape com um sorriso, não para ele, mas para Uanda –e ainda levou mais dez pontos de brinde.
Kyo perdeu o fôlego, Snape estava lhe dando pontos? Pensou em perguntar o porque, mas não queria arriscar o bom humor de Snape, ou o que quer que seja.
Eles tiveram que preparar uma poção para adormecer, o que era complicado, já que os ingredientes tinham os minutos exatos para serem depositados, Kyo teve que lembrar Uandalini varias vezes de que ela precisava por os ingredientes. Ao final da aula a única poção que realmente fazia a pessoa que a tomasse adormecer era a de Kyo, que ganhou mais dez pontos, a de Sarah deixava a pessoa muito sonolenta, mas ninguém caiu dormindo quando a tomou, as outras davam um cansaço e até mesmo exaustão, mas nenhuma fez o que a poção de Archie fez, Malfoy, que foi quem experimentou a poção, ficou tão agitado que Snape foi obrigado a estupora-lo, Snape escreveu alguma coisa em seu diário que lembrou horrivelmente um zero.
–Sarah, que é que deu no seu pai? –perguntou Kyo, enquanto eles subiam para o salão principal.
–É mesmo, sexta passada ele descontou cem pontos por causa de um caldeirão derretido –dizia Tiago –hoje não aproveitou a chance de a turma estar amontoada para descontar pontos do Kyo e ainda deu trinta pontos para ele, numa aula.
–É, –concordou a garota –isso ele não faz nem com a Sonserina, ele devia estar de muito bom humor.
–Ou bravo porque o Malfoy não me zoou. –disse Kyo, pensando em voz alta.
–Não fala merda! –exclamou Tiago. –Se fosse por isso ele iria querer descontar de você o máximo de pontos possíveis.
Eles entraram no salão principal, que como de costume estava meio vazio, Malfoy vinha atrás deles, mas desta vez não fez brincadeiras nem zombou da cara de nenhum deles, apenas encarou Kyo. Eles se sentaram a mesa da Grifinória, ao lado de Letícia, que comia solitária.
–Por que você tá aqui, sozinha? –perguntou Kyo, quando se sentou.
–Sei lá, minha turma ainda tá na sala, levando bronca da Minerva. –respondeu ela.
–Meu Deus! –exclamou Sarah –O dever de casa de transfiguração!
–Você não fez Sarah? –zombou Tiago. –Pensei que você fosse uma boa aluna!
–Eu me esqueci por completo! –disse ela, remexendo na mochila –Tava preocupada com o Kyo ai me deu branco.
–Isso ai, joga confete em mim! –exclamou Kyo.
–Não, Ka, não é que seja sua culpa, –se desculpou a garota –é que eu estava preocupada, sabe gosto de você...
Kyo ficou vermelho mas tentou disfarçar, Sarah continuava revirando a mochila, Tiago se matava de rir.
–Calma, você tem até amanha as sete pra fazer. –disse o garoto.
–Eu sei, mas não quero fazer as pressas, e você bem que podia ter me avisado, hein Ti!
–Eu pensei que você já tinha feito, –se defendeu o garoto –nós saímos da aula e você já correu para a biblioteca!
–É muito coisa, Sarah? –perguntou Kyo.
–Vinte centímetro sobre transformações primarias. –respondeu ela, pegando o livro de transfiguração.
–Então da tempo tranqüilo, –disse Kyo, animado –nós fazemos juntos.
–Então vamos logo, –disse a garota, puxando Kyo –não gosto de fazer as coisas às pressas.
–Calma Sarah, ainda temos a noite inteira, e nós podemos passar a noite juntos fazendo...
Kyo de repente parou de falar, o olhar de Tiago dizia que o que acabara de falar não caíra muito bem, Sarah ficou muito e Letícia não parava de rir.
–Sabe, –comentou Letícia, em meio a risos –você devia tomar cuidado com o que fala...
–Como eu dizia, –disse Kyo, bem alto –nós podemos passar a noite fazendo a lição.
–E dormir na aula de transfiguração? –disse Sarah, em seu habitual tom mandão de voz.
–É, as mesas parecem travesseiros. –disse Kyo, dando soquinhos na mesa.
–Nada disso, vamos, eu quero fazer a lição! –exclamou a garota, puxando Kyo.
–Será que eu posso pelo menos comer primeiro?
–Não!
Kyo foi arrastado por Sarah do salão principal, quase não conseguiu pegar sua mochila no chão, Sarah parecia um tanto aborrecida. Quando chegaram ao saguão de entrada Kyo tentou ir em direção ao pilar onde ficava a passagem secreta por onde eles vieram pela manha, mas Sarah o segurou.
–Que foi? –perguntou Kyo, sem entender.
–Nós temos que passar na biblioteca! –disse Sarah, Kyo adorava aquele tom de voz mandão.
–Para que?
–Vamos buscar uma poção... –zombou Sarah, mas seu rosto continuava duro –pra pegar um livro, não é mesmo, o gênio?
–Ah, não precisava ser ignorante...
Eles subiram até a biblioteca, onde Madame Pince tentou enxota-los, dizendo que eles estariam ali para aprontar, mas Sarah, puxando Kyo, a despistou se infiltrando em meio aos corredores.
–Nossa! –exclamou Kyo, quando perderam Madame Pince de vista –Nunca pensei isso de você!
–Você mal sabe os truques que eu tenho na manga. –se gabou a garota.
Eles subiram para a torre da Grifinória, encontraram os trigêmeos Weasley tentando conversar com uma estatua de gárgula no terceiro andar, eles ameaçavam pixar a estatua se ela não falasse nada, Felipe tinha nas mãos latas de tintas de todos os tipos e cores.
Quando entraram na sala comunal viram que havia um novo bilhete no quadro de avisos, Kyo correu para lê-lo, apesar das reclamações de Sarah:
Como acontece todos os anos no período do natal a escola e seus colaboradores organizará um baile na data de vinte e quatro de dezembro, todos os alunos e alunas de todas as series estão convidados, onde deverão comparecer usando trajes de gala. O baile acontecera na já referida noite às vinte horas no salão principal e conta com as presenças de todos.
Atenciosamente,
Minerva McGonagall.
Sarah correu para cima de duas poltronas e uma mesinha que estavam próximas a uma lareira acesa, ela ajeitou os materiais e livros organizadamente sobre a mesinha, enquanto Kyo se largava em cima de uma poltrona, ele pegou seu rolo de pergaminho e seu habitual tinteiro de tinta negra.
–Por onde começamos? –perguntou Kyo, que já até molhara sua pena no tinteiro.
–Calma, temos primeiro que dar uma lida, fazer um rascunho e... –a garota parou de falar de repente –Que é que você tá fazendo?
–O meu dever, por quê?
Kyo já fazia seu trabalho, já fizera cabeçalho, titulo e já estava no conteúdo.
–Nada, mas você podia ter um pouco de organização, não é? –criticava Sarah –Sei lá, que tal fazer primeiro um rascunho com o resumo?
–Nah, que é isso? Vai direto, eu pulo uma linha do livro aqui, outra ali, é só manter a coerência do texto.
–Que relaxo, Kyo, eu esperava mais de você!
–Sarah, é o seguinte, se eu ficar fazendo resumo, depois rascunho e essas coisas eu só vou terminar umas duas horas.
–E daí? Pelo menos você vai ter um trabalho apresentável.
–Vamos fazer o seguinte, eu faço do meu jeito e você do seu, tá bom? Ai qualquer coisa eu te dou um apoio moral, enquanto você termina o seu.
–Nossa, se essa é a sua idéia de fazer o trabalho juntos, eu não quero ver como é fazer separado.
–Você está me desconcentrando...
–Ah, desculpe então...
Eles foram fazendo seu trabalho, Kyo resolveu tentar fazer do modo de Sarah, mas sem rascunho, tivera que rasgar o pergaminho três vezes. Eles não estavam se divertindo muito fazendo o trabalho, pelo menos Kyo não estava, Sarah parecia ficar a cada minuto mais excitada com aquilo tudo, Kyo se perguntava que graça ela via naquilo, pois ficar escrevendo sobre a historia da transformação de agulhas em palitos de fósforo não era lá muito interessante.
Quando eles finalmente terminaram o trabalho já era mais de meia-noite, pelo menos quando Sarah terminara, pois Kyo já havia terminado há duas horas, mas insistira em ficar lá com ela, mesmo quando Tiago, Uanda e Ananda o chamaram para jogar xadrez de bruxo.
–Kyo... ei, Kyo, acorda...
Kyo abriu os olhos devagar, olhou a volta, estava muito escuro, se perguntou onde estava, se em casa ou na rua, até que reconheceu Sarah e se lembrou que ficara com a garota para fazer o trabalho, se ergueu da poltrona, massageando o pescoço dolorido.
–Ai, droga... foi mal, eu dormi... –se desculpou o garoto.
–Tudo bem.
–Que horas são?
–Quinze para as três.
Kyo despertou por completo.
–Como? –perguntou ele –Mas já?
–Pois é, você cochilou ai, –caçoou a garota –só reparei agora.
–Ai... meu pescoço... droga, eu devia ter subido...
–O Tiago também, mas eu disse pra ele te deixar ai.
–Mas você não disse que só reparou agora?
–Er... mas eu só reparei agora mesmo... é que... é que...
–Você adorou a idéia de me ver todo dolorido...
O garoto mexia o pescoço incessantemente, tentando aliviar a dor.
–Ah, Ka, não é isso.
–Ah, é isso sim, ou será que é simplesmente isso?
–Que? Você é meio doidinho, não é não?
–Não muda de assunto...
–Vamos subir, amanha a gente discute sobre isso...
Bocejou Sarah, arrumando as suas coisas.
–Já é amanha, Sarah, vamos discutir agora!
–Você quer saber por que eu te deixei dormir?
–De preferência.
–É que eu adorei de ver dormindo, achei que você ficou uma gracinha.
–Ah, sim, e o Merlin é meu tio.
–É serio, olha eu nem terminei o dever!
Ela esticou o pergaminho na cara de Kyo, o garoto viu que ela parou no meio da frase: e desde então a transfiguração se tornou uma matéria permanente em Hogwa.
–Nossa você tá falando serio.
–É, e sabe eu não fui a única, umas garotas do terceiro ano ficaram uns quinze minutos te olhando e dizendo “que gracinha...” ou “olha como ele é lindo...”.
–Puxa, tô arrasando corações. –disse Kyo, ajeitando o no da gravata, de modo que ficasse um pouco menos frouxa.
–Também não precisa se achar, vai...
De repente ocorreu uma coisa a Kyo, mas ele achou melhor não comentar, talvez fosse besteira. Desejou boa noite para Sarah e subiu para seu dormitório. Tiago e John roncavam, enquanto Archie brincava com uma tarântula verde-musgo. Jogou-se em sua cama, pôs os óculos na mesinha de cabeceira e, para variar, praticamente desmaiou.
Como toda sexta feira o primeiro ano da Grifinória tinha as manhas livres, nas quais Kyo costumava treinar quadribol, mas como estava dispensado dos treinos estava andando pelos terrenos à volta do castelo com Sarah e Tiago, eles comiam torradas e, apesar das muitas reclamações de Sarah, tomavam suco de abóbora duma jarra que Tiago surrupiara da mesa do café da manha.
–Será que o que a Sheeba está certo? –perguntou Tiago, de repente, enfiando uma torrada na boca.
–O que? –perguntaram Kyo e Sarah em uníssono.
–Aquebe negofio de que hove cai o pirimeiro floco de neve... –respondeu o garoto, a boca cheia de torrada.
–Não sei, a Sheeba nunca errou. –disse Sarah, pensativa.
–Os trouxas cultivam uma mania de que pegar o primeiro floco de neve da estação da sorte. –disse Kyo, se servindo de suco.
Eles se sentaram a uma arvore próxima ao castelo que tinha uma bela visão do lago, cor de chumbo.
–Mas por que os trouxas acreditam nesse negocio de pegar o primeiro floco de neve? –perguntou Tiago, pegando mais algumas torradas na bandeja que Sarah trouxera.
–Sei lá, os trouxas tem umas manias estranhas, –comentou Sarah –minha mãe, por exemplo, todo reveillon ela passa toda vestida de branco, mania besta.
–Meus pais tem mania de deixar uma vassoura atrás da porta, para espantar visita indesejada... –a voz de Kyo, morreu, ele se lembrou dos pais e as lagrimas lhe vieram rapidamente.
–Ka, esquece isso, não fica assim... –tentou consola-lo Sarah.
–É meio complicado, toda vez que eu penso...
Kyo secou as lagrimas em seus olhos.
–Faz o seguinte, tenta pensar só na Awdrey do sexto amo da Lufa-Lufa que você não vai ficar assim! –disse Tiago animadíssimo.
–Ti! Isso não é hora! –exclamou Sarah, indignada.
–Eu só tô tentando animar ele! –se defendeu Tiago.
–Ah, mas isso não é jeito de se animar um amigo! –reclamava Sarah, enfurecida.
–deixa ele, Sarah, é o jeito dele, –riu-se Kyo –ele é um tanto mulherengo...
Kyo sabia que tinha cutucado a ferida de Sarah, apesar de ter sido sem querer, na semana passada ele descobrira que a garota gostava de Tiago, também tinha quase certeza que o sentimento fosse recíproco, mas Sarah não sabia por isso fechara a cara.
–Mas que você tem que admitir que a Awdrey é uma gata! –insistiu Tiago, cutucando Sarah.
–Não tem graça, Tiago Weasley! –disse Sarah num tom letal muito parecido com o de Snape.
–Ei, olha ali, –Kyo olhava para o céu, não sabia se estava certo, mas tinha a impressão de que era um floco de neve que caia graciosamente –é um...
Mas ele não terminou a frase, saiu correndo, como fazia toda vez que via um floco de neve caindo, para que pudesse pegar, mesmo sabendo que não conseguiria, pois nunca conseguira antes. Ele calculou em sua cabeça onde seria que o floco cairia, apertou o passo para ver se conseguiria chegar. Ele passou por um grupo de alunas da segunda serie Lufa-Lufa, que ficaram olhando para a cara dele enquanto passava.
Estava quase chegando, mas o floquinho já estava mais ou menos na linha de sua cabeça, tentou apertar o passo o mais que pode, não iria alcançar a tempo, se jogou no chão para pegá-lo antes que ele encostasse no chão, e fechou sua mãe sobre ele. Mas o que pegou não era gelado como a neve deveria ser, nem tampouco pequeno. Estava segurando uma mão, uma mão pequena e macia, uma mão de garota.
–Er... desculpa, –disse Kyo erguendo o rosto –eu tava...
Mas ele parou de falar ao ver o rosto da dona da mão, os cabelos negros e lisos lhe caiam até o meio das costas, esvoaçavam ao vento, brilhando levemente, os olhos castanhos muito escuros meio escondidos pelos cabelos, as vestes de Hogwarts quase tão relaxadas quanto as de Kyo, ela sorria levemente.
–Você tá legal? –perguntou a garota, se Kyo achou que ela era linda não era nada em comparação com aquela voz.
–Eu? Legal? –perguntou Kyo, abobado –E por que não estaria?
–Porque você acabou de cair?
–Ah, isso. Não, eu me joguei, queria pegar o...
–O primeiro floco de neve.
–É, como você sabe?
–Eu também sou de família trouxa.
Nesse momento eles repararam que estavam de mãos dadas e se soltaram rapidamente, Kyo sentiu o seu rosto corar, junto com seu coração que acelerara, e a garota baixou o rosto vermelho.
–Você... –gaguejou ela –Você é Kyo Hunter, não é?
–Ahn é, eu acho que sou... –sibilou Kyo.
–Acha? Como assim? Você não sabe quem é?
–Ah, é, é... eu sou Kyo Hunter... eu sou ele... quer dizer, eu!
A garota riu, Kyo sentiu seu rosto esquentar mais um pouco.
–Você é o apanhador da Grifinória, né?
–É... se o apanhador é o cara que voa na vassoura e pega a bolinha dourada...
Se a garota perguntasse: “macaco, quer banana?” era capaz de Kyo imitar um chipanzé para tentar impressionar a garota.
–É, é você mesmo, –riu a garota –só que você não me parece um cara muito esperto, principalmente ai, deitado no chão.
Kyo se levantou mais do que rapidamente, se ajeitou, e até pensou em ajeitar o nó da gravata , mas achou que iria parecer patético demais.
–E você, quem é? –perguntou Kyo, tentado manter a conversa cordial e parecer mais esperto.
–Eu sou Tathiane Priscila, sou...
–A apanhadora da Corvinal. –completou Kyo, se antes parecera um garotinho enamorado, agora estava serio e encarava a garota nos olhos.
–É, como sabe?
–Julian, a capitã da Grifinória.
A garota vacilou sob o olhar de Kyo.
–Eu vou indo, –disse ela sem olhar para Kyo –quem sabe a gente se tromba por ai...
A garota se virou e seguiu em direção a um grupo de garotas risonhas, sentadas numa arvore próxima. Kyo voltou na direção de Tiago e Sarah, que riam abertamente da expressão dele.
–Mais uma? –perguntou Tiago.
–Mais uma o que? –perguntou Kyo, sem entender.
–Coitado, né Sarah? –zombou Tiago –Não sabe o que tá acontecendo...
–Do que é que você tá falando?
–Mas ele não sabe mesmo, Ti. –disse Sarah, mal segurando o riso.
–Eu posso saber do que é que vocês estão falando? –perguntava Kyo.
–Deixa pra lá... –disseram Sarah e Tiago em uníssono.
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