Lagrimas e trovões



––––CAPITULO DEZOITO––––

Lagrimas e trovões

Eles saíram para a estação King Cross, que estava apinhada de gente, Kyo, que, desde que saíra do trem, sentia alguma coisa o incomodando, se lembrou o que era e sentiu uma onda de ódio e tristeza invadir seu corpo, Harry sentiu que um estranho morno atravessara a estação e a chuva, que havia parado a mais ou menos duas horas, voltou do nada e com intensidade dobrada.

Harry esperou por Neville, que voltou com um tom meio esverdeado no rosto, e chamou um táxi, as pessoas que passavam ficavam olhando para Kyo, ele imaginou que por causa de suas vestes. Kyo ficou olhando algumas revistas numa banca em frente à estação, Bruxaria: verdade ou ilusão?, Kyo se perguntou se eram muitos os trouxas que sabiam da existência do mundo mágico.

Após alguns minutos o táxi apareceu e eles embarcaram, um tanto apertados, no banco de trás, o malão de Kyo com posto no porta-malas do carro. O caminho para casa pareceu incrivelmente curto, num momento Kyo olhava para o Big-Bang, no outro para a placa que dizia: Rua dos Alfeneiros, 1-42, rua privada. Harry o ajudou a desembarcar o malão eles correram, para evitar se molharem muito com a chuva que não parara, até a porta da casa do garoto, que estava muito silenciosa.

–Você quer que eu fique? –perguntou Harry.

–Não, valeu, acho que prefiro passar por isso sozinho. –disse o garoto, sem olhar para Harry.

–Tem certeza? Talvez seja melhor eu ficar com você.

–Não precisa, mesmo.

–Tá certo, se cuida então.

–Falo.

Harry correu até o táxi e, com Neville, enfiaram a cabeça para fora para dizer um ultimo tchau para Kyo, que retribuiu com desanimo, sabia o que o esperava dentro de casa, ele se virou, puxou a varinha e apontou para a porta:

Alorromora!

A porta se abriu com tudo, deu uma olhada para dentro, mas não viu sinal de ninguém, por um instante pensou estar sozinho, o que seria um alivio, mas ele se enganara, ouviu uma voz esganiçada e irritante vindo da sala:

–O imprestável chegou!

–Desgraça pouca é bobagem... –resmungou Kyo, indo em direção a sala.

No local estavam varias pessoas, a maioria amigos da família, muitos tomando café ou chá, outro apenas conversando, quase todos de pé e com caras fechadas, mas o que realmente fez o garoto sentir vontade de vomitar foi a visão de duas pessoas sentadas no sofá predileto dos pais dele. Um homem alto e corpulento, com cabelos louros bem penteados e um terno perfeitamente na linha, quase não tinha pescoço, mas sua barba era bonita e bem-feita, a mulher era baixa e magrela, seu pescoço era quase duas vezes mais comprido do que o normal, seus cabelos eram vermelhos e compridas , usava um vestido negro, mas cheio de babados, parecia mais um vestido de noite do que uma roupa para ser usada num enterro.

–Boa tarde tio Duncan, tia Valéria. –disse o garoto com a voz mortificada.

–Venha cá, seu imprestável! –exclamou tia Valéria, entre os dentes.

Kyo largou o malão e obedeceu, mesmo a contragosto, em toda a família as duas pessoas de quem o garoto menos gostava eram esses dois, para falar a verdade, eram os dois únicos, exceto pelos avós, tio Duncan era irmão da mão do garoto. Ele parou ao lado deles, tia Valéria se levantou e olhou para ele:

–Cabelo bagunçado! Sem postura! E essas roupas então? O que é isso?

–São as vestes da minha escola, tia Valéria... –disse o garoto, com desanimo.

–Ah, não fale daquele lugar na frente das pessoas! –exclamou ele, entre os dentes. –Não quero que os outros saibam que temos um... alguém como você na família!

Kyo não disse nada, apenas o a olhou com amargura.

–Depois conversamos, –disse tio Duncan, se levantando também –agora vamos nos preocupar com os convidados.

–E o enterro dos meus pai? –perguntou Kyo, em tom de protesto.

–Eles já foram enterrados, –disse tio Duncan –inicio da tarde.

–Como assim? –protestou Kyo –Não dava pra me esperar chegar?

–Não, não dava! –disse tia Valéria –Eles estavam mortos, não podíamos deixa-los aqui, não é mesmo? Seria um desrespeito!

Kyo sacudiu a cabeça furioso, “como se eles entendessem de respeito!”, pensou Kyo. Ele pensou em se esconder na cozinha, mas antes precisava guardar o malão em seu quarto, com demasiado esforço ele pegou seu malão e subiu as escadas em direção ao seu quarto. Por mais de duas vezes ele perdeu o equilíbrio e quase caiu, mas finalmente ele conseguiu chegar ao andar de cima. Ele deu uma bela olhada naquele corredor, seguiu e entrou na primeira porta a esquerda, em frente ao banheiro.

Seu quarto continuava do jeito que ele deixara, as roupas largadas no chão, os pôsteres de super-heróis, os cartuchos de vídeo game espalhados sobre a escrivaninha e o garoto largado em cima de sua cama... mas ele nunca deixara nenhum garoto deitar em sua cama, ele nunca nem deixara um garoto entrar em seu quarto.

–Ei, Doug, da pra sair da minha cama? –exclamou Kyo.

–Hum... –murmurou o garoto –Ah, deixa eu dormir um pouco, tá bom?

–Não, vai pra sua casa e dorme.

–Tá legal, tá legal.

O garoto levantou. Doug era filho de tio Duncan e tia Valéria, era gordo como um filhote de orca, tinha cabelos louros e espessos como os do pai, mas os olhos eram azuis como os da mãe. O garoto era duas vezes maior que Kyo, isso em largura, pois tinham a mesma altura, seu passatempo predileto, pelo menos quando vinham a casa de Kyo, era bater nele, mais de uma vez Kyo caíra da escada correndo de Duncan. Tia Valéria dizia constantemente que Doug parecia um anjinho. Kyo dizia constantemente que Doug parecia um porco de peruca.

–Ei, eu tô chateado, –disse Doug, com um sorriso malicioso –vamos brincar?

–Num tô afim. –disse Kyo, secamente.

–Ah, mas eu quero e você vai brincar comigo! –exclamou Doug, como um bebezão.

–É o seguinte cara, meus pais morreram por minha causa eu tenho que aturar você e seus pais, por isso eu acho que já estou cheio o bastante, beleza?

Kyo falara com tanta fúria que até mesmo Doug se encolheu de medo, ele recuou uns dois passos, procurando alguma coisa para se defender, caso Kyo resolvesse partir para a agressão.

–T-tá legal, depois a gente brinca... –disse Doug, tentando manter a coragem, que já estava bem distante.

Doug saiu do quarto a passos rápidos, enquanto isso, Kyo se largou na cama, e, mesmo contra sua vontade, uma lagrima correu pelo seu rosto. Ele tentou secar essa lagrima, mas seguida dela veio outra e mais outra, e outra, as quais ele não quis secar, talvez por saber que não adiantaria ou talvez ele saiba sabia que aquilo lhe faria bem.

O resto da tarde o garoto passou a tarde chorando, pensando nos pais, “por que logo agora? Logo agora que eu descobri que ele gostava de mim... que só queria me proteger...”. Queria poder abraçar sua mãe, ouvir seu pai reclamando, qualquer coisa.

O barulho da chuva castigando a janela embalava o sono de Kyo, que estava tendo um sonho estranho, estavam em Hogwarts, no salão principal, estava parado a mesa da Grifinória, e Malfoy a mesa da Sonserina, estava sorrindo, de repente Uandalini entrou no salão, ela olhou para ele, mas o ignorou, se dirigiu a mesa da Sonserina, sentou ao lado de Malfoy, se inclinou, seus lábios se aproximaram dos de Malfoy, eles iam se...

Um batido muito forte na porta acordou o garoto, tia Valéria batia e gritava por ele:

–O imprestável? Você tá ai dentro?

–Tô sim, tia Valéria... –disse o garoto, ainda acordando.

–Então desça, eu e seu tio queremos conversar com você!

–Já vou...

O garoto se ergueu, havia dormido de óculos e com as vestes de Hogwarts, desamarrou e amarrou novamente os cadarços de seus sapatos, deu uma alisada em seus cabelos e foi até o banheiro para lavar seu rosto.

–Droga! –exclamou ele olhando para espelho. –Que será que aqueles dois doidos querem comigo?

Ele secou seu rosto e desceu, pela janela ao lado da escada ele pode ver que já anoitecera, entrou na sala e avistou seus tios sentados novamente no sofá predileto de seus pais e Doug na poltrona. Ao verem o garoto eles fizeram sinal para que Doug se levantasse.

–Sente-se. –disse tio Duncan, com fingida educação.

Ele se largou na poltrona, tia Valéria fez um barulho esquisito de esquilo sendo esmagado.

–Bem, os precisamos falar sobre sua situação. –disse ti Duncan, tentando parecer passivo. –O problema é que... não, na verdade não há problema, é que é o seguinte, onde você vai ficar.

–O que é que tem? –disse Kyo, ele não pensara nisso ainda.

–Não sei se você sabe seus pais deixaram a casa em seu nome, –continuou tio Duncan –caso lhes acontecesse alguma coisa.

–Tá, mas e ai? –insistiu Kyo.

–E então, –prosseguiu ele –como você ainda é menor de idade e também não possui idade para ser emancipado eles nos nomearam seus tutores, por um ano ao menos.

–Vocês? –perguntou Kyo –Mas e o Harry?

–Eles acharam melhor ser alguém da família. –explicou tio Duncan –Mas nós precisamos lhe perguntar uma coisa.

–O que? –perguntou Kyo, entediado.

–Se você nos permite morar aqui com você nesse tempo. –disse ele. –Quero dizer, até o final das próximas férias de verão, para que cuidemos de você.

–Tenho outra opção? –perguntou Kyo, sarcasticamente.

–Infelizmente não. –disse tia Valéria, parecendo detestar a idéia tanto quanto Kyo.

–Tá certo, –concordou Kyo a contragosto –mas e a Aline e o Junior, não vão morar aqui também?

–Não, –disse tio Duncan –eles ficarão com seus avos, em Londres.

–Ah, algo de bom em meio a desgraça. –suspirou Kyo.

–Mas uma coisa, sobre a sua escola. –disse tia Valéria. –Não queremos menção dela enquanto estivermos aqui, entendeu?

–E um doce, você não quer também? –perguntou Kyo.

–Que doce? –perguntou Doug, que estava tentando irritar os peixinho dentro do aquário. –Eu quero?

–Não tem doce, Doug... –disse Kyo, aborrecido.

–Ah,então tá... –disse o outro tão aborrecido quanto Kyo.

–Você me ouviu, sem menção aquela escola estranha aqui.

–Tá certo. –concordou Kyo.

–E nada de assustar meu anjinho com essas suas esquisitices. –ela adicionou.

–E eu não quero o porco de peruca no meu quarto. –disse Kyo, apontando para Doug.

–Não diga isso do meu queridinho!! –guinchou tia Valéria ofendida.

Kyo deixou-os sozinhos e subiu para seu quarto, novamente tomado pela tristeza, queria que seus pais tivessem ali, com ele, para dizer-lhe o que fazer, queria tudo como era antes. Bem, talvez nem tudo, quem sabe ele não poderia ser filho único. Ele deitou em sua cama e ficou olhando para o teto, deu uma olhada em seu relógio de pulso, já eram quinze para as onze. Ele se virou, de repente lhe dera um sono, isso porque ele já havia passado pelo menos três horas dormindo.



–Letícia os trigêmeos disseram que te viram falar com o papai e o papai saiu com o Kyo, fala onde ele foi? –perguntava Uanda para sua irmã, na sala comunal, após uma longa aula com Severo Snape.

A chuva castigava as janelas de Hogwarts enquanto passava o que deveria ser o por do sol. As duas estavam há uma semana travando uma guerra secreta, Uanda queria saber onde o Kyo estava e Letícia não só não queria como não podia contar, pois prometera a seu pai. Já era a sétima vez que Letícia fora abordada por Uanda, que insistia em investidas sorrateiras.

–Eu já disse, uns parentes dele ficaram doentes ou coisa assim! –insistia Letícia Longbotton, mas sua irmã não engolia.

–Tá certo, e eu sou um manticore, fala logo, onde é que ele foi?

–Se eu te falar, você promete não contar pro papai que eu te contei?

–Prometo, mas fala, onde é que ele foi?

–Os pais do coitado morreram, três Comensais de Você-Sabe-Quem apareceram na casa dele e os mataram, ele foi para casa pois Dumbleodore disse que ele não estaria em condições de estudar por um tempo, acho que ele já está para voltar.

–Serio? Os pais dele morreram?

–Não, foram visitar o inferno, mas voltam semana que vem.

–Isso não tem graça, Lê.

–Mas é serio, quando ele voltar não fala nada, tá certo?

–Tá, eu tenho sensibilidade, num vou dar uma mancada dessas!

–Então vai com sua turma, e não comenta nada.

–Tá, tá bom.

Uandalini se aproximou de Tiago, Sarah, Ananda e Archie, que estavam esperando por ela, ao vê-la se aproximar Tiago apertou com força o braço da poltrona onde estava.

–E ai? –perguntou Tiago. –Conseguiu alguma coisa?

–Hm... –murmurou ela.

–Nada?!? –exclamou Ananda.

–Ele tá em casa. –respondeu Uandalini.

–Bem, –disse Tiago, meio irônico –isso explica muita coisa.

–Vocês sabem qual é o osso mais fedido do corpo? –perguntou Archie, fazendo com que todos olhassem de um modo estranho para ele.

–Archie, não é hora. –explicou Uanda.

–Ah, respondam, vai... –choramingou o garoto.

–Depois, tá bom, Archie? –disse Sarah, dando um tapinha nas costas do garoto.

–Por favor... –implorou.

–Tá legal, Archie, –disse Tiago –você venceu, qual é?

–É ossovaco! –disse o garoto como se tivesse falando a coisa mais engraça do mundo.

–Archie, –disse Sarah, que estava com uma cara de quem comeu repolho podre –vai trocar umas idéias com a Pubia e a Nancy, vai amigo.

–Vocês são muito sem graça...

O garoto se levantou e foi em direção a Pubia e Nancy, que estavam sentadas com uns garotos do segundo ano.

–Como será que ele consegue? –perguntou Ananda. –Ser tão estranho assim não é coisa pra qualquer um...

–Não liga para ele, a prioridade agora é o Kyo. –disse Tiago, se voltando para Uandalini.

–Assim a Sarah fica com ciúmes. –riu Uandalini.

Sarah ficou muito vermelha, o que foi ajudado por sua pele muito pálida, ela evitou o olhar de Tiago olhando fixamente para o chão.

–Como assim? –perguntou Tiago, que não entendera.

–Deixa para lá... –disse Uanda e ela e Ananda começaram a rir juntas, sem se controlar, o que era muito raro, já que as duas não se davam de jeito nenhum.

Mas se Sarah ficara vermelha não era nada em comparação com Tiago, que simplesmente desaparecera entre os cabelos muito vermelhos, era possível fritar um ovo na testa do garoto, de tão quente que esta estava.

–Mas e o Kyo? –Sarah tentou mudar de assunto.

–É meio chato, gente. –explicou Uandalini.

–Por que? –perguntou Tiago, em tom de preocupação.

–A gente vai ter que ser bem sensível com o que fala e evitar tocar no assunto. –continuou a garota.

–Do que é que você tá falando, Uanda? –perguntou Tiago.

–É que tipo assim... –a garota procurou um modo de falar – os pais dele morreram.

–Que? –exclamaram todos.

–É fogo, né? –disse ela baixando a cabeça. –Coitado.

–Mas como? –perguntou Tiago, inconformado. –O que é que aconteceu?

–Eu não, –suspirou Uanda –mas é melhor não tocarmos no assunto quando ele chegar, deve ser chato.

–Pode crer, é chato! –afirmou Ananda.

–Como você sabe? –perguntou Sarah.

–É que há dois anos meu pai morreu, –respondeu a garota –todo mundo ficou perguntando como eu tava, se eu queria ajuda, isso e aquilo, sabe, só faz a gente se sentir pior.

–Nossa eu não sabia, –disse Sarah, apreensiva –que chato...

–Mas eu já superei, –disse a garota, erguendo a cabeça –o Kyo é que deve precisar de ajuda.

–Mas você não acabou de dizer que e chato, que isso e aquilo? –perguntou Tiago.

–Mas seria bom dar uma pequena disfarçada não é, –respondeu a garota, com a mesma ignorância –tipo assim, fingir que não sabe, só dar um apoio moral, não deixar ele cair, entendeu?

–Ah, sim, se for assim, sim! –exclamou o garoto, mexendo nos cabelos.


Kyo desembarcou na estaca de Hogsmead, estava muito escuro, ele olhou a volta se perguntando como chegaria em Hogwarts, talvez ele pudesse montar em sua Thunderbolt e ir voando até o castelo, seguindo as luzes do local. Ele ergueu seu malão e já ia começar a andar quando escutou a voz da prof ª Minerva McGonagall, enérgica como sempre, vinda do outro lado da estação. Ela vinha em sua direção a passos largos, tinha em punho a varinha, que emitia uma luz fraca, mas forte o suficiente para iluminar o caminho.

–Ah, Sr. Hunter, –disse ela, ofegante –esperava que chegasse daqui a dez minutos.

–Eu também, –respondeu Kyo –mas eu acho que o Juan colocou um pouco de lenha a mais na fornalha, a senhora quer ajuda?

–Ah, não, não, obrigada, Sr. Hunter, vamos andando, temos que falar com Dumbleodore ainda.

–Então tá, vamos.

A professora fez o malão do garoto flutuar um pouco mais de um metro no ar e seguiu com o garoto em direção as luzes que brilhavam nas janelas do castelo. A grama estava úmida e o chão fofo, eles caminharam a debaixo de nuvens cor de chumbo e sob o cheiro de grama molhada, a professora sorria levemente.

–Há uma semana que chove sem parar, –comentou ela –ninguém tinha coragem de sair do castelo.

–Lá em Little Winnging também não parava de chover, –concordou Kyo –meio estranho, não é?

–Talvez, pode até ser...

Depois disso não trocaram mais nem uma palavra, s professora Minerva nadava cada vez mais rápido, Kyo quase corria para seguir os passos dela. Estava ficando frio e o garoto desejava mais que tudo que chegassem logo no castelo, não para que se esquentasse, nem para rever seus amigos, apesar de isso também ser algo muito bom, mas o que ele realmente queria era deitar numa cama.

Eles estavam próximos ao castelo, Kyo podia vislumbrar duas figuras paradas a porta do castelo, uma delas era cinco vezes maior que um ser humano normal, ou até mesmo que um anormal, já a outra era alta, também, e muito magra, tinha uma longa barba prateada e seus olhos refletiram a luz da ponta da varinha da professora Minerva.

–Boa noite Alvo, Rúbeo. –disse a professora Minerva quando eles se aproximaram.

–Boa noite professora. –respondeu o gigante.

–Boa noite Minerva, e como vai o nosso amigo? –Dumbleodore se dirigiu a Kyo.

–Bem, eu acho. –respondeu Kyo.

–Isso já é um começo, –riu Dumbleodore –achar que está bem faz os outros acreditarem nisso, também.

–A professora Minerva disse que o senhor gostaria de falar comigo. –disse Kyo, que já não sentia os dedos das mãos.

–Ah, sim, claro, vamos entrar, –convidou Dumbleodore –conversaremos na sala dos professores, onde é quente.

Eles entraram, atravessaram o saguão de entrada, Kyo sentiu o calor do castelo invadir seu corpo e se sentiu reconfortado. Eles subiram pela escadaria de Hagrid, Kyo percebeu que o gigante Hagrid olhava muito para ele.

–Sabe, você me lembra muito o Harry. –comentou ele.

–É, eu também acho, mas creio que não. –respondeu Kyo, tristemente.

–Por que?

–Sei lá, acho que nunca vou ser tão bom quanto ele.

–Igualzinho ao Harry, ele também vivia se subestimando.

Eles haviam chegado, Dumbleodore abriu a porta para que eles entrassem, Kyo foi o ultimo, Dumbleodore o olhou sorrindo calorosamente, assim como Hagrid o fez, o garoto se sentiu bem, talvez um sorriso amigo fosse tudo o que ele precisasse.

–Ah, Kyo, pobre Kyo, acho que você gostaria de saber uma coisa.

–O que? –perguntou o garoto, sem entender.

–Aonde você vai ficar, creio que essa seja uma duvida sua. –prosseguiu Dumbleodore.

–Ah, vou ficar na minha casa. –respondeu Kyo, normalmente.

–Sozinho? –perguntou a prof ª Minerva.

–Não, os meus tios, Duncan e Valéria Osborn.

–Mas vão se mudar para a sua casa? –perguntou Hagrid.

–Não, só vão passar um tempo lá, –respondeu Kyo– até eu completar dezesseis.

–E ai? O que acontece?

–De acordo com a lei dos trouxas os pais podem deixar os filhos viverem sozinhos a partir dos dezesseis, –explicou Dumbleodore –mas ele vão te emancipar, Kyo?

–Vão, eles disseram que não querem ficar comigo. –respondeu o garoto.

–Mas e seus irmãos? –perguntou a prof ª Minerva.

–Vão ficar com meus avos. –disse o garoto e se virou para Dumbleodore: –Tudo resolvido, não é?

–Acho que sim, depois conversamos, –respondeu o outro –se houver necessidade, agora suba, creio que queira descansar.

–Seria uma boa idéia...

Kyo pegou seu malão, mas Dumbleodore chamou sua atenção:

–Deixe a mala, depois os elfos a levam.

–Beleza, então. –ele se virou, mas voltou, se dirigindo ao malão. –Tenho que pegar uma coisa no malão.

Ele abriu a mala e pegou sua capa de invisibilidade, Dumbleodore, Minerva e Hagrid ficaram apenas olhando.

–Pra que isso, Sr. Hunter? –perguntou a prof ª Minerva.

–Não quero que ninguém me veja chegar. –respondeu Kyo, dando de ombros.

–Essa capa era de Harry, se não me falha a memória. –comentou Dumbleodore.

–Como o senhor sabe? –perguntou Kyo.

–Porque eu a dei a Harry, foi do pai dele.

Kyo sorriu e saiu. Subiu o mais silenciosamente que pode, para que ninguém reparasse que ele estava subindo. Era divertido andar pelo castelo com aquela capa. Ele viu Pirraça rabiscando palavrões na parede do nono andar e não resistiu a tentação de dar-lhe um bom pontapé na bunda.

–Há-há, peguei-lhe pela bicanca! –zombou Kyo.

–Quem está ai? –perguntou Pirraça, se virando assustado.

Kyo não respondeu, ficou apenas olhando Pirraça a distancia, se segurando para não rir.

–Para sua informação, ser boçal, bicanca e o nariz!

E ele saiu zunindo, fazendo retinir as armaduras e escudos que estavam em seu caminho. Kyo não segurou e caiu na gargalhada, subindo o ultimo lance de degraus antes da entrada para a torre da Grifinória. Ele atravessou o patamar onde estava e parou defronta ao retrato da mulher gorda. De repente se dera conta de que não sabia a senha para entrar. “como você pode ser tão estúpido? Estava com a prof ª Minerva”. Ele ficou parado olhando para o retrato, esperando inutilmente que alguém aparecesse.

Já haviam se passado mais ou menos uma hora e Kyo já sentia que sua bunda estava ficando quadrada de tanto tempo que estava sentado naquele chão frio, alem de mal conseguir resistir ao sono. Quando finalmente alguém apareceu, uma não, três. Ele não conseguiu reconhece-los na escuridão, mas logo reconheceu as vozes:

–Vamos, temos que chegar a cozinha antes que o Filch comece a ronda noturna. –era a voz de Ciro Weasley, um dos trigêmeos.

–Calma ai, meu, eu me enrosquei no quadro! –agora quem falara fora Renan.

–As duas vão ficar brigando ou vão vir logo? –cochichou Felipe, o mais alo que pode, mas o suficiente para que os outros escutassem.

Kyo aproveitou que o buraco no quadro estava aberto e se esgueirou para dentro, mas não conseguiu desviar de Renan, que estava se desenroscando do quadro.

–Que foi isso? –perguntou Renan.

Kyo prendeu a respiração.

–Isso o que, doente? –zombou Ciro.

–Tenho certeza de que alguma coisa bateu em mim! –exclamou Renan.

–Deve ser imaginação sua, sabe, –se apressou em dizer Felipe– treze cervejas amanteigadas é forte até para um humano!

–Vamos andando! –apressou Ciro.

Kyo esperou até que eles fechassem o buraco do retrato para voltar a respirar aliviado, olhou para a sala comunal, estava do mesmo jeito do que quando ele saiu, apesar da bagunça parecer um pouco maior devido a excitação do começo de dezembro e do inverno. Ele atravessou o salão devagar, tomando o cuidado de não esbarrar em mais ninguém, já que poderia causar uma bela confusão.

Ele ia começar a subir as escadas em direção aos dormitórios quando ouviu uma coisa que chamou sua atenção:

–E então Ananda, você ainda gosta dele? –quem perguntava era Sarah, Kyo parou para escutar a conversa.

–Gosto... quer dizer, não sei bem, –se corrigiu Ananda –eu gosto muito dele, mas sei lá, meu coração diz que eu não posso ficar assim para alguém que não gosta de mim.

–Eu sei como, eu gosto de um cara, –suspirou Sarah –mas ele nem me da bola...

–O Tiago?

–É, mas já reparou como ele parece estar apaixonado pelo Kyo?

–Eles são muito amigos, ainda não estão muito interessados em garotas...

–É, você tá certa, eu ainda não conheci nenhum outro garoto que te beijaria, sabendo que você gosta dele, e não te pediria em namoro.

–Foi só um beijo.

–O seu primeiro, não foi?

–Foi, e você? Já rolou?

–Ainda não...

Elas ficaram em silencio por alguns instantes, Kyo apenas fitando, ele ia recomeçar seu caminho, mas Ananda falou novamente:

–Coitado...

–Que? –perguntou Sarah, surpresa e sem entender.

–O Kyo, coitado dele, não é? Perder os pais, assim, ao mesmo tempo...

–É um belo de um choque...

–Espero que ele esteja legal...

Aquilo fora a gota d’água, Kyo sem se importar se esbarraria em alguém, subiu correndo em direção ao seu dormitório, quase trombou com Tiago, mas este desviou no ultimo segundo, indo em direção ao dormitório dos trigêmeos. Kyo foi em direção ao seu dormitório. Ao entrar viu seu malão aberto, ao lado de sua cama.

Trocou-se rapidamente, largando as vestes da escola de qualquer jeito em cima do malão, sentia o coração apertado, largou-se em cima da cama e fechou as cortinas, sentiu mais uma vez as lagrimas rolarem por seu rosto.

Não demorou muito Tiago voltou, e percebeu que Kyo estava de volta ao castelo, deu uma risada de leve.

–E ai, beleza, cara? –perguntou Tiago.

Kyo deu um muxoxo em resposta, Tiago continuou:

–Levanta da, vamos lá embaixo.

Kyo continuou em silencio.

–Daqui a pouco os trigêmeos aparecem pra gente fazer uma festa.

Kyo se mexeu na cama e secou as lagrimas que corriam por seu rosto.

–Vamos vai, eles vão trazer um monte de coisas pra gente comer.

–Tô sem fome. –respondeu Kyo, finalmente.

–E eu sou guitarrista das Esquisitonas.

–Num tô afim de descer...

–Vamos lá, cara! Por que não?

–Você sabe porque.

–Como assim.

–Meus pais, você sabe, num tô com animo pra festa.

–Fica assim não, cara, depois passa.

Nesse momento Kyo abriu as cortinas, a chuva já castigava as janelas, ele olhou para Tiago com fúria e tristeza no olhar.

–ELES ESTAO MORTOS!!!! –gritou Kyo, como um trovão.

Mas não fora imaginação do garoto, um trovão realmente caíra do lado de fora do castelo

–E você vivo, em vez de ficar triste, você deveria pensar em como vai ser sua vida daqui por diante.

Tiago se levantou, e já ia sair.

–Eu já sei como vai ser.

–E como é?

–Uma merda.

–Se você quiser que seja assim.

–Eu nem sei quem eu sou direito.

–Mas eu sei, você é Kyo Hunter o menino que sobreviveu, o melhor apanhador que eu já vi, o cara mais inteligente e esperto que eu conheço, o amor de duas das garotas mais legais de Hogwarts e o meu melhor amigo.

–Eu ou tudo isso?mas não tenho motivos para continuar vivo.

–Você tem muitos motivos para viver, mas também devia pensar no fato de que você também pode ser o motivo para alguém viver.

Kyo ficou em silencio, baixou seu rosto para evitar o olhar de Tiago, mas este não ligou e prosseguiu:

–Antes de destruir um coração pense bem, você pode estar dentro dele.

E com isso saiu, Kyo ficou olhando para a porta fechada do dormitório, sentiu uma grande raiva crescer dentro de si.

–DROGA!!! –gritou Kyo mais uma vez.

Mas agora não fora apenas um trovão que caíra, mas as cortinas de todas as camas, inclusive a de Kyo também sofreram e começaram a arder em chamas negras.

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